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quarta-feira, 12 de julho de 2023

Ego, vaidade e espiritualidade

 Ego, vaidade e espiritualidade

A busca pelo equilíbrio entre ego, vaidade e espiritualidade é uma jornada complexa e desafiadora. O ego representa nossa identidade individual, o senso de eu, muitas vezes guiado por desejos e necessidades pessoais. A vaidade, por sua vez, é o apego excessivo à imagem e à aparência externa, buscando validação e reconhecimento externo. Já a espiritualidade refere-se à conexão com algo maior do que nós mesmos, à busca de significado e propósito na vida.

Quando o ego domina, a vaidade pode se manifestar como um desejo insaciável de poder, riqueza e status, levando à competição, arrogância e até mesmo à exploração dos outros. Por outro lado, a espiritualidade nos convida a transcender o ego e a vaidade, direcionando nosso foco para valores mais elevados, como compaixão, gratidão e serviço aos outros.

Ao cultivarmos uma prática espiritual, aprendemos a deixar de lado a necessidade de validação externa e a encontrar a verdadeira satisfação interna. A espiritualidade nos lembra que somos parte de um todo interconectado, e que a busca por felicidade e plenitude não deve ser baseada em conquistas materiais ou aparências superficiais.

É importante reconhecer e trabalhar nossas tendências egoístas e vaidosas, buscando um equilíbrio saudável. A espiritualidade nos ajuda a desenvolver a humildade, a aceitação e a compreensão, permitindo que nos libertemos das amarras do ego e da vaidade. Ao nutrir nossa conexão com algo maior, encontramos uma verdadeira paz interior e uma maior realização pessoal. 

Portanto, é essencial buscar uma jornada espiritual que nos ajude a transcender as limitações do ego e a vaidade, permitindo-nos viver de forma mais autêntica e significativa. Nesse caminho, encontramos um senso de propósito mais profundo e nos tornamos mais conscientes do impacto que nossas ações têm sobre nós mesmos e sobre o mundo ao nosso redor.

 Pai Igor de Oxum .’.

segunda-feira, 10 de julho de 2023

Pretos Velhos

Pretos Velhos

    A Umbanda assim como outras religiões praticam o culto aos seus ancestrais, porém na Umbanda o culto é mais nítido, pois se cultua os ancestrais daquele País. Esse culto é dividido em linhas de trabalho, como por exemplo, caboclos, pretos velhos, marinheiros, boiadeiros, baianos, ciganos entre outras. Cada uma dessas linhas vem nos trazer valores baseado na maioria das vezes em um arquétipo. Valores esses que precisam ser trabalhados para que consigamos uma ascensão na nossa evolução espiritual.

    Neste texto trataremos sobre os Pretos Velhos e para entender nossa ancestralidade é preciso conhecer a história, assim será mais fácil compreender o trabalho dessas entidades. Abordaremos alguns marcos históricos que foram importantes na formação da nossa sociedade e também do próprio arquétipo.

    Iniciaremos abordando a escravidão, que ao contrário do que muitos pensam, não ocorreu apenas com os negros africanos. A escravidão é uma das praticas mais antigas da humanidade, praticada desde os tempos do Egito Antigo. A escravidão na Africa começou com a exploração da mão de obra para trabalhos domésticos, obtinham essa mão de obra principalmente através de guerras, era comum conflitos entre os vilarejos, quando um vilarejo era vencido na guerra parte de sua população era escravizada. Com o passar do tempo essa prática se tornou uma fonte de renda para muitos africanos, fomentada pelas relações comerciais entre os europeus e os africanos que se estabeleceram com o período das grandes navegações.

    É importante salientar que essas relações comerciais incentivaram ainda mais as lutas internas no continente africano, pois alguns povos que detinham maior poder militar subjugavam outros povos a fim de revendê-los como escravos.

    Em decorrência das grandes navegações os portugueses chegaram ao território brasileiro, onde encontraram a população nativa, os índios. Com o inicio da colonização iniciou-se a escravidão no Brasil, pois os portugueses precisavam de grande mão de obra principalmente para o trabalho na lavoura. 

    A escravização foi primeiro praticada com os índios, porém estava se mostrando muito conturbada para os portugueses, pois o Índio tinha dificuldade em fazer trabalhos contínuos, além de que na cultura indígena o serviço de lavoura era caracterizado como serviço para as mulheres. Outro fator que dificultava muito a exploração dos Índios era quanto ao seu conhecimento das matas, isso facilitava muito as fugas. Além de que a população indígena foi diminuindo drasticamente, pois os Índios não estavam adaptados às doenças trazidas pelos portugueses, os jesuítas também exerceram grade pressão para que cessasse a escravidão dos índios, pois queriam catequiza lós, mas isso não garantiria a eles liberdade nem direitos.

    Diante de todas as conturbações os colonizadores resolveram trazer escravos africanos para cá, é importante mencionar que os portugueses já exploravam a mão de obra dos escravos africanos na Europa. Teve início assim o tráfico negreiro, que por séculos desembarcou milhões de negros em território brasileiro para que fossem explorados como escravos.

    Como mencionado anteriormente, os conflitos eram intensos entre as tribos lá na África, isso não acabava quando desembarcavam no Brasil. Inclusive era uma preferência dos donos de escravos que eles fossem de tribos diferentes, para dificultar a comunicação entre os escravos dificultando assim uma rebelião e também era mais fácil um negro delatar o outro sobre sua pretensão de fuga.

    A escravidão foi um período muito difícil tanto para os negros quanto para os índios, em dado momento os negros e os índios se uniram, pois compartilhavam das mesmas aflições.

    Com o passar do tempo os líderes dos escravos notaram o que poderia unir os negros seria a prática de suas religiões, através do culto aos Orixás, pois a maioria vinha dessa prática. Como é sabido esse tipo de prática era proibida e para que fosse feita tinham que se realizar durante a noite enquanto seus senhores dormiam, era aí que o negro contava com a ajuda dos donos da terra, os Índios, para sair mata a dentro em busca de cultuar seus orixás através das forças da natureza.

    No decorrer dos anos foram surgindo vários movimentos abolicionistas, colocando pressão para que a escravidão acabasse, o processo foi muito lento, iniciando com a Lei do Ventre Livre, seguida pela Lei do Sexagenário, até quem em 1888, no dia 13 de maio a abolição da escravidão ocorreu no Brasil, através da Lei Áurea. Para muitos era uma grande conquista, mas estava longe de ser uma grande vitória, pois a lei não veio acompanhada de medidas para inserir a população negra na sociedade, estima-se que com a abolição através da Lei Áurea mais de 700 mil escravos foram libertados. Essa parcela da população continuou sendo marginalizada, não tendo acesso a terras, a educação e nem a oportunidades dignas.

    Diante do novo cenário o negro ficou a própria sorte, tendo que buscar todo e qualquer meio para manter sua sobrevivência, era muito comum á época realizarem trabalhos espirituais em troca de dinheiro ou mesmo de alimento. Eram conhecedores das magias e de plantas, podendo elas serem usadas tanto para o bem quanto para o mal.

    A manifestação de espíritos que se apresentava como negros e índios já ocorria em outros cultos, e que também começou a ocorrer nas sessões kardecistas.    

    Em meados da metade do século XIX o espiritismo vem chegando no Brasil, trazido pelos membros da alta sociedade brasileira que em visitas à Europa conheciam o espiritismo e começaram a trazê-lo e difundi-lo em nosso país. As sessões eram direcionadas para os membros da Corte Brasileira, os burgueses e os escravocratas, eram eles quem financiavam os materiais espíritas. É importante esclarecer que nessa época a escravidão continuava a ser explorada.  Era óbvio pelo contexto vivido no momento que esses membros da alta sociedade não aceitariam receber espíritos que se apresentavam como sendo negro ou Índio, afinal para eles essas pessoas não tinham qualquer conhecimento ou estima para trazer mensagens, além de que para a doutrina que seguiam esses espíritos eram considerados atrasados em grau evolutivo.

    Quebrando paradigmas, a anunciação da Umbanda ocorreu na Federação Espírita de Niterói, no Rio de Janeiro, onde através do Médium Zélio Fernandino de Morais um Caboclo (Caboclo das Sete Encruzilhadas) se manifestou anunciando uma religião em que todos seriam tratados iguais, seja encarnado ou desencarnado. Onde ao contrário do espiritismo seria bem vindas as mensagens trazidas pelo amigos de luz que se apresentavam como Índios ou Negros.

 

    No dia 16 de novembro de 1908, pouco mais de 20 anos após a abolição da escravidão houve a primeira manifestação de um preto velho na Umbanda, através do médium Zélio, Pai Antônio se manifestou, dessa manifestação surgiu o primeiro ponto cantado, decorrente de uma pergunta feita a Pai Antônio sobre o que ele sentia saudade do tempo em que aqui estava encarnado, ele respondeu que sentia saudade de seu cachimbo que havia ficado no toco. Além do ponto cantado surgiu o uso de instrumentos na Umbanda, essa entidade também foi quem pediu a primeira guia, que até hoje é utilizada por nós umbandistas.

    Diante de tudo que até aqui foi falado, passaremos agora a falar sobre o trabalho dos Pretos Velhos na Umbanda, compreendendo a importância de entender todo o contexto histórico para a compreensão do quão importante foi a figura dos negros na formação do nosso país, da nossa cultura e do próprio arquétipo que os Pretos Velhos trazem.

    Muitos Pretos Velhos podem se apresentar como Tio, Tia, Pai, Mãe, Vô ou Vó. Com base no sofrimento, na dor da época da escravidão  eles vem nos trazer a sabedoria, perseverança, humildade e paciência. Virtudes essas muito difíceis de serem praticadas na atualidade. 

    Muitos subestimam a força de um preto velho tendo como base seu arquétipo, fala mansa, falam com todo o jeitinho, mas não se deve esquecer que são seres de grande conhecimento. Trazem consigo o conhecimento de magias divinas e a manipulação de ervas, muitos falam que Preto Velho é mandingueiro, exatamente por conhecerem as magias, trazidas de seus berços ancestrais.

    A manifestação dos Pretos Velhos através do seu arquétipo já nos mostra o que eles vem nos transmitir, sentados em seus banquinhos ou tocos trazem a humildade, curvados como anciãos, trazem sua sabedoria adquirida de suas vivência, através da representação dos negros que aqui tanto foram exploradas,  trazem a sua perseverança, a paciência e acima de tudo a fé. E não há exemplo maior de fé que a dessas entidades, mesmo tendo sofrido tanto nesse país, muitos desencarnados pelo açoite dos chicotes e hoje vem nesse mesmo lugar trazer sua sabedoria e amor.

    Os Pretos Velhos trabalham na linha da evolução, da transformação, são regidos pelo orixá Obaluaê. Seu dia de comemoração é o dia 13 de maio, dia em que foi abolida a escravidão no Brasil. Seu dia da semana é a segunda-feira. Tem como cor o preto e  branco. Seu ponto de força é o Cruzeiro das Almas. A saudação é Adorei as Almas!
Utilizam como elementos o cachimbo, que foi o primeiro elemento trazido para a Umbanda, como já mencionado acima, o cigarro de palha, os terços, rosários, as ervas, o café, entre outros.

    Esses são os Pretos Velhos, que com um simples estalar de dedos, uma batida de bengala no chão, o sopro de seu cachimbo tem o poder de dissipar energias negativas, afastar espíritos com baixa vibração de perto de seu consulente.

 

“Salve a força de todos os Pretos velhos de Angola, do Congo, dos Reinos de Aruanda e de todo território Africano”.

Adorei as almas!

Júllia de Iansã.