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quinta-feira, 25 de abril de 2024

Ancestralidade

 Ancestralidade

        A ancestralidade é trabalhada em diversos contextos nos dias de hoje. Remetendo-nos ao sentido de herança, fazendo lembrar nossos antepassados. A Umbanda, assim como diversas religiões, trazem este conceito, cultuando aquilo que nos antecede. Ao trabalhar a incorporação, não se traz apenas o arquétipo do Caboclo, do Preto Velho, do Marinheiro... Traz também a incorporação dos valores atribuídos a essas linhas de trabalho. A maioria de nossos antepassados foram índios ou escravos. Mas hoje, gostaria de trazer uma reflexão. 
    Quando pensamos em nossos antepassados o senso comum nos engana e nos faz pensar nos nossos antepassados desencarnados, mas você já honrou e agradeceu seus antecessores nesta vida, encarnados. Aqueles que vieram antes de você no seu trabalho ou em sua casa, seus familiares. Aqueles que andaram e abriram o caminho para que hoje você pudesse caminhar.
    Temos a tendência em diminuir a importância destas pessoas nas nossas vidas. Muitas vezes somos arrebatados pelo sentimento de que se alguém não faz mais parte de seu círculo, aquilo que ela fez deverá ser esquecido. No trabalho aqueles que vieram antes de você e não fazem mais parte da empresa, muitos colegas vão falar mal, vão apontar apenas os defeitos. Em nossas famílias, acontece da mesma forma. Devemos nos lembrar que eles também foram e continuam sendo importantes, sem eles você provavelmente não estaria ali. Cada planta de nosso jardim foi plantada por alguém, cada pedra de nossa casa foi colocada por alguém.
       E podemos ir mais além, nos aprofundando em nosso interior. Quem você foi ontem, na última semana, no último mês, último, ano na última década? Nada mais que um antepassado do que você é hoje. Hoje você se orgulha daquilo que foi ontem? E amanhã? Irá se orgulhar do que fez por você mesmo no passado?
    Em um Terreiro de Umbanda funciona da mesma forma. Nossa Tenda de Umbanda completa 8 anos de atividade em 2024, diversos membros já passaram por nossa casa, alguns continuam conosco desde a fundação, outros acabaram se desligando. Mas todos, sem dúvida nenhuma, foram extremamente importantes para os trabalhos que desenvolvemos hoje.
        Hoje gostaria de convidá-los a recordar aqueles que trilharam o caminho antes de você, lembrando das coisas que eles fizeram pelo todo e de suas contribuições para o seu presente. E também, para refletir sobre quem você foi ontem, quem é hoje e quem deseja ser amanhã
Axé
Pedro Maciel.’. de Xangô

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Controle dos Pensamentos

 Controle dos Pensamentos


Quem de nós amantes da religião Umbanda, nunca tiveram a honra em receber o compartilhamento desse aprendizado tão maravilhoso dos guias espirituais que é, sejam sábios em silenciar nos momentos de certeza e mais sábios ainda em controlar os pensamentos nos momentos de dúvida.
Na nossa caminhada terrena passamos por vários ciclos, onde a dúvida se torna morada de nosso subconsciente a todo momento, uma inquilina oportuna diante de certas situações, mas de grande valia para o crescimento espiritual e moral de cada um de nós, Onde devemos ter o discernimento necessário para controlar os nossos pensamentos.
Por mais que demonstramos fortes diante dos caminhos da vida, nos deparamos com momentos que nos mostram a nossa principal identidade e fragilidade diante de tudo e de todos. Somos um todo, onde estamos a todo instante aprendendo a ser pessoas melhores, para que juntos possamos deixar algum legado importante para aqueles que um dia irão ver e sentir a nossa presença como seus ancestrais.
Que saibamos lapidar a fé, o amor, a humildade, a paciência, a caridade, a temperança, a benevolência no coração e no pensamento de cada um de nós. Que possamos sempre acreditar na espiritualidade maior, que sempre tenhamos em nossos pensamentos que somos e sempre seremos o tudo, que temos dentro de nós a força de cada orixá que rege e movimenta o tudo diante do nosso GRANDIOSO universo. Que sejamos fortes e que tenhamos o total controle de tudo que nos faz bem.

Axé!

Renato de Ogum Sete Espadas



quinta-feira, 18 de abril de 2024

LogunEdé

 LogunEdé, o príncipe guerreiro

    Conhecido em terras iorubanas como grande guerreiro caçador, LogunEdé é filho de Oxum, e tem sua paternidade variada de acordo com a região em que é cultuado, aqui, o consideramos filho de Oxóssi. 
    Os cultos religiosos trazidos com escravos africanos, sofreram diversas modificações, e o desse Orixá, foi um deles. Vários arquétipos são empregados ao pequeno caçador, que ele é meio homem e meio mulher, que é metade Oxóssi e metade Oxum, mas Logun é ele por si só. Itans contam que este passava 6 meses com o pai e 6 meses com a mãe, absorvendo todo conhecimento de cada um. 


   Orixá masculino, guerreiro, estrategista, caçador e envolto de misticidade, é um adulto de baixa estatura, por isso muitas vezes é confundido com um menino. O menor dos Odés, clã de sagazes caçadores, como seu pai Oxóssi e Ogum, Logun foi o último deles, tendo oportunidade de aprender tudo com seus antepassados, sendo respeitado e admirado por sua destreza na caça, que foi desacreditada muitas vezes pelo seu tamanho. 
    Considerado o príncipe dos Orixás, LogunEdé significa “senhor guerreiro da cidade de Edé” (cidade no estado de Osun), e em outras traduções, “o grande guerreiro feiticeiro”. Sua mãe o ensinou tudo, encantamentos, feitiçaria e o segredo das águas doces, comportamentos, como a benevolência e doçura, opostos dos ensinamentos de seu pai, crescendo ele assim, dual. Nele, os opostos se alternam; como uma armadilha, ele encanta seu alvo com sua beleza, surpreende, é belo, imponente, enfeitiça e aí sim, ataca letalmente. Representa o encontro de naturezas distintas, sem que ambas percam sua essência, tendo, apesar de influência de ambas, uma identidade própria. Diferente dos outros Odés, é reconhecido por sua formosura, mas se assemelha aos seus por ser sanguinário.
    Toda sua indumentária, assim como a de Oxóssi, é repleta de magia, que era usada pra caminhar na mata de forma sorrateira e ter sucesso em suas lutas e caçadas sem correr perigo (magia esta vinda dos conhecimentos repassados por Ossain, senhor das folhas, á seu pai, e dos encantamentos aprendidos com sua mãe). LogunEdé possui o conhecimento dos elementos da natureza onde reinam seus pais, como florestas, matas, cachoeiras etc. e também do seu próprio, que fica nas margens dos rios, cursos d’água em geral, desde que tenham vegetação, sendo ali o encontro dos dois reinados dominantes por ele. 
   Na Nigéria, a cidade de LogunEdé se chama Ilexá, e é uma das mais prósperas da África. Anualmente se fazem encontros com devotos de todo continente pra celebrá-lo, cultuando seus ensinamentos, a mudança e a presença dele na vida de cada um, e também no território. Logun é o Orixá da prosperidade, abundância, do progresso. É acolhedor, mas muito metódico. Traz muitas vitórias e alegrias, mas também nos ensina que a vida é uma guerra, lutando todos os dias contra nosso pior inimigo: nós mesmos. A impaciência, arrogância, dúvida, atrapalha o nosso caminhar, e se não forem cuidadas, se expandem, passando a afetar nosso externo. O grande guerreiro feiticeiro, nos ensina a olhar pra dentro do caos, silenciar tudo pra sermos capazes de equilibrar mente, coração, ações e palavras; para que ajamos de forma correta, proferindo palavras adequadas, no momento conveniente.
    Em sua representação, LogunEdé traz em uma das mãos o Abebé (espelho de Oxum) e o Ofá (arco e flecha de Oxóssi) na outra. Suas cores são amarelo e verde, variando o verde com azul turquesa em terreiros que cultuam Oxóssi com essa cor. Traz em suas indumentárias pele de leopardo, remetendo a sua elegância enquanto caça e penas de pavão, animal em que se transmuta, assim como sua mãe. Tem como símbolo o cavalo-marinho, animal dado por sua avó (Iemanjá). Seu dia é quinta-feira, tendo como data comemorativa 19/04 e sendo sincretizado com Santo Expedito, o santo das causas impossíveis. Eles se assemelham pela devoção do povo ao clamar por ambos diante situações extremas. Sua saudação é “Logun ô akofá!” ou “Loci Loci Logun!”, que significa “brada príncipe guerreiro!”


    Os filhos desse Orixá, são corajosos, com sentidos aguçados, perceptivos e protetores. Apesar da dualidade do pai, que é o equilíbrio perfeito, tem tendência a desviar dos caminhos, pois são intensos e não sabem reconhecer que a estabilidade é algo positivo; tem momentos de doçura e leveza, outros de seriedade e solidão, isso faz com que passem a vida a buscar essa harmonia das energias, já que sempre vão transitar entre os polos de Oxum e Oxóssi, carregando também características desses Orixás, além das suas próprias. Costumam ser bem críticos, orgulhosos, prósperos e ter boa sorte. Tem uma beleza exótica, e um magnetismo grande, chamando atenção por onde passam, sendo bem sociais, tendo dons artísticos e manuais. Confiantes e indecisos, demoram a tomar uma decisão, pois analisam muito antes de jogar sua flecha, mas depois de determinada a rota, não voltam atrás. Se entrarem no polo negativo, podem se tornar preguiçosos, críticos para com os outros, sendo necessário usar seus instrumentos para melhora; com o abebé (espelho) olhar pra dentro de si, e se reorganizar. Com o ofá (arco e flecha), buscar o conhecimento pessoal e se guiar interna e externamente.
    Encerramos parafraseando o tropicalista Gilberto Gil: 
“LogunEdé é demais 
Sabido, puxou aos pais 
Astúcia de caçador 
Paciência de pescador 
LogunEdé é demais” 

Que LogunEdé nos abençoe, salve suas forças. Logun ô akofá!

Laura de LogunEdé

segunda-feira, 15 de abril de 2024

As Raízes do Angico

 As Raízes do Angico


O angico é uma árvore sagrada desde da época de Salomão, aqui no Brasil, temos o privilégio do angico ser uma árvore nativa. Do angico tudo se aproveita desde, suas raízes, madeira, folhas e até mesmo sua casca.
As raízes, folhas e cascas são utilizadas no meio medicinal em forma de chá. Elas possuem propriedades adstringentes, depurativas e hemostáticas, ou seja, são indicadas para reduzir sangramentos, combater diarreias e ajudar na cicatrização da pele. De sua raiz é feito o xarope, que é utilizado para inflamações pulmonares e nas vias respiratórias, como bronquite, tosses, faringites e asma. 
Não podemos deixar de falar sobre a grande força do Angico no mundo espiritual, um dos instrumentos feito com sua madeira é o cachimbo de Angico, que tem suas raízes na cultura do Nordeste brasileiro e é muito utilizado no nas práticas do Catimbó de Jurema, Umbanda e Candomblé. Os cachimbos de angico são utilizados pelos Mestres Juremeiros e Caboclos, para estabelecer uma conexão espiritual de cura e também é utilizado para firmar os médiuns (cavalos) que estejam em desenvolvimento mediúnico. 
O Reino do Angico trabalha com a cura e o descarrego, local de onde vem os Mestres Juremeiros, fortemente com a cura de nós encarnados. 
“ A Cidade do Angico é uma cidade de paz, onde os espíritos vivem em paz, mas tem regras severas, com o Angico não se brinca. Bonito para quem se ver é forte para quem vive.”

Emily de Oxumarê


quinta-feira, 11 de abril de 2024

Tribos Brasileiras

 Tribos Brasileiras - Aimorés

A Umbanda cultua os nossos ancestrais brasileiros, sendo um deles os Caboclos, que são arquétipos dos índios brasileiros que habitavam nossas terras, com isso, vemos a importância do estudo de algumas tribos que viviam em nosso país, hoje vamos escrever sobre a Tribo dos Aimorés.
Os Aimorés, Aimbires, Aimborés ou Botocudos foram uma tribo indígena brasileira que habitavam nos séculos XVI e XVII o norte do Espírito Santo, o sul da Bahia e Minas Gerais. Ao contrário da maioria das tribos brasileiras que habitavam o litoral brasileiro, eles não falavam a língua tupi. Eram nômades e se abrigavam em cabanas temporárias que eram cobertas por folhas de palmeiras, sobreviviam principalmente da caça e do consumo de carne humana. Em alguns estudos essa tribo era descrita como diferente das outras, onde ninguém os entendia, os índios eram muito altos e largos, quase gigantes e não se pareciam com os índios da Terra. “Aimoré” é um termo tupi que se refere a uma espécie de macaco.
Os Aimorés, assim como outras tribos, haviam sido expulsos do litoral pelos Tupis, antes da chegada dos portugueses na região, porém, mais tarde, eles tentaram retomar o território. Com a expansão dos colonizadores, os Aimorés se deslocaram para o sul, passando assim a ser conhecido como Botocudos, esse nome foi utilizado pelos portugueses, pois esses índios utilizavam adornos labiais e auriculares.


        Em relação a vida espiritual, mantinham contato constante com o mundo dos espíritos. Acreditavam que através dos sonhos eles visitavam o mundo dos Maret (herói cultural que vivia no céu) e esse mundo era repleto de fartura e riquezas e por intermédio desse contato, estabeleciam previsões futuras relacionadas a tribo ou até segmentos das suas vidas humanas. Eles acreditavam que o herói atendia aos pedidos da tribo, mas também enviava castigos em formas de tempestades e morte, que era provocada por uma flecha invisível que atingia o coração dos índios. Eles acreditam que as brigas que Maret tinha com sua mulher era responsável por diferentes fases da lua. Os rituais religiosos eram realizados pelos mais velhos ou pelo pajé e tinham como costume acender fogueiras e realizar oferendas aos mortos para que não voltassem para buscar alguém da tribo. 
Através desse estudo, podemos observar que todos os rituais, crenças e oferendas, eram pautadas em conhecimentos repassados através dos ensinamentos advindos dos mais velhos e do mundo espiritual, o que não é diferente quando estudamos sobre a Umbanda nos dias de hoje. 
Sendo assim, podemos ver a importância de estudar a história dos nossos ancestrais para entender a importância do trabalho que as entidades denominadas Caboclos nos trazem com toda essa bagagem de conhecimento histórico e de cura para os dias de hoje dentro dos terreiros de Umbanda.

Marina de Nanã Buruquê


segunda-feira, 8 de abril de 2024

Pontos Riscados dos Atabaques

 Pontos Riscados dos Atabaques 

Pontos riscados são desenhos, símbolos feitos pela entidade incorporada. Assim como a mediunidade, o ponto riscado vai se desenvolvendo ao longo do tempo e podem aparecer em sonhos, imagens em sua mente, entre outras formas. Ele funciona como um portal, trazendo consigo uma história, uma energia e sua finalidade vai de acordo com o que o guia deseja atrair, no caso do atabaque, a finalidade é assentar e irradiar a energia da entidade a qual o atabaque foi consagrado.
Na Curimba da Tenda de Umbanda Caboclo 7 Flechas e Jurema temos três atabaques consagrados aos Orixás da direita, consequentemente 3 pontos riscados referentes a esses Orixás, que devem ser feitos em sentido horário e apagados em sentido anti-horário. Adicionalmente, é feito um ponto riscado para Orixá Exu, para auxiliar na proteção da Curimba, que é feito no sentido anti-horário e apagado em sentido horário. Para apagar os pontos sempre devemos utilizar bucha vegetal ou outro material da natureza.
Os atabaques e seus respectivos pontos riscados são:
O primeiro atabaque é o Lé: o menor (com som mais agudo) é consagrado ao Orixá Oxóssi, seu ponto riscado consiste em um círculo e dentro dele do lado esquerdo um arco e flecha e do lado direito uma árvore.
O segundo atabaque é o Rumpi: o atabaque do meio (com som mediano), consagrado ao Orixá Oxalá e seu ponto riscado consiste em um círculo, dentro dele no meio tem um monte com uma cruz, ao lado esquerdo desse monte um sol e do lado direito uma lua.
Por fim, o terceiro atabaque é o Run: o maior atabaque (com som mais grave), consagrado a Orixá Oxum e seu ponto riscado é um círculo e em seu interior tem uma cachoeira do lado direito, um espelho do lado esquerdo e no meio alguns pontos simbolizando gotas de ouro.
Além desses pontos dos atabaques também temos o ponto do Orixá Exu, como citado anteriormente, que normalmente é feito na "entrada" da Curimba. Trata-se de um círculo e em seu interior um tridente e é usado para proteção da Curimba, para impedir que energias negativas intefiram no trabalho de dissipação de energias positivas que são emanadas pela Curimba. 
É importante lembrar que os pontos riscados dos atabaques foram desenvolvidos pelo guia chefe do Terreiro, mas são desenhados por alguém da Curimba sempre que necessário, mas eles não podem simplesmente serem desenhados, a pessoa responsável em realizar esse trabalho deve concentrar seus pensamentos e sua energia naquele momento, podendo até  cantar pontos do respectivo orixá para auxiliar nessa energia.

Alice de Xangô


quinta-feira, 4 de abril de 2024

Ossain

 O senhor das folhas - Ossain

Ossain é o pai das plantas. Ele possui o poder sobre qualquer tipo de vegetação e delas consegue extrair as energias para curar todos os males. Esse Orixá é o único que possui total domínio sobre as plantas, considerado o senhor das folhas e detentor dos segredos de suas propriedades medicinais. Assim, possui um grande poder em suas mãos, outros Orixás necessitam que as intervenções de Ossain sejam feitas para que os problemas sejam resolvidos.

Segundo conta uma velha lenda, a rainha dos ventos, Iansã, provocou uma forte tempestade que dividiu o poder de várias plantas entre os Orixás. Mesmo assim, Ossain continuou sendo considerado guardião dos segredos das folhas. Pois só ele sabe como despertar o poder e a força de cada uma delas.



Ossain é geralmente associado a outras figuras da mitologia indígena como a Caipora e o Saci-Pererê. Sua saudação é "Ewé Ó" que significa "salve o senhor das folhas". Sua data comemorativa é o dia 5 de Outubro e seu dia da semana é às quintas-feiras. Suas cores são o verde e o branco e nas suas oferendas vai folha de fumo, mel, cachaça e inhame. Em oferendas para Ossain, as ervas devem estar frescas, e de preferência colhidas nas matas, onde não há nenhum tipo de intervenção do homem.


Rebeca de Ossain


segunda-feira, 1 de abril de 2024

Somos responsáveis por aquilo que atraímos

 Somos responsáveis por aquilo que atraímos


Quando estamos passando por dificuldades é comum acharmos que nossos problemas não têm solução. Isso porque focamos em nos livrar da responsabilidade, como uma forma de escape para nosso sofrimento. E na verdade nos colocamos no papel de vítima e perdemos a oportunidade de enxergar a situação como uma alerta para que possamos mudar nossos hábitos e consequentemente nossa vibração. Mas como saber o que precisa ser mudado? 
Analise sua vida, observe quais sentimentos têm sido mais presentes, por onde andam  seus pensamentos, o que você faz durante seu dia, lugares que frequenta, pessoas que convive e principalmente quais frutos tem colhido. Somos responsáveis por grande parte do que nos acontece,  nossa vibração é como um imã para nos aproximar do semelhante. Evite palavras negativas, fofocas, vícios, reclamações, discussões e julgamentos. Crie novos hábitos como perdoar, ser grato e caridoso (a). 
Quando mudamos, passamos a vigiar nossas ações e como consequência percebemos que tudo ao nosso redor melhora. Não porque as pessoas mudaram, mas na verdade nós mudamos nossa forma de agir diante das situações da vida. Então imagine que a vida é um barco que navega em alto mar, em alguns momentos esse mar está calmo e em outros turbulento, mas quem comanda esse barco é você!

Bruna de Obá

 

quinta-feira, 28 de março de 2024

Insegurança no Desenvolvimento Mediúnico

 INSEGURANÇA NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO MEDIÚNICO

    Muitas pessoas ao irem pela primeira vez em uma gira de Umbanda sentem-se admirados com a energia que esse momento proporciona e frequentemente saem das sessões renovados e gratos, aos guias e médiuns, pelo auxílio prestado. Com o passar do tempo algumas pessoas vão buscando mais informações sobre o culto, visando compreender as experiências pessoais e também as rotinas do Terreiro, neste momento não é incomum se perguntarem sobre a sua própria mediunidade. Em alguns momentos os recém-chegados em um Terreiro podem criar muita expectativa sobre a incorporação, vendo-a como o ápice do desenvolvimento mediúnico, este texto tem como objetivo desmistificar essa ideia. 
    Somos seres espirituais vivendo uma experiência material, a encarnação. Desta forma, podemos ter contato com o plano espiritual através de diversas formas de mediunidade. No entanto, para que este contato ocorra de forma equilibrada, ele deve ser realizado com seriedade e preparo. Como o Caboclo Sete Flechas nos alerta: “Umbanda é coisa séria para gente seria”. 
    Uma vez que decidimos trabalhar a nossa mediunidade devemos nos lembrar de manter constante a busca pelo conhecimento. Um bom médium, frequentemente, é uma pessoa curiosa, é importante perguntar sobre aquilo que não se conhece e procurar compreender o fundamento de cada ação dentro do Terreiro. Também vale lembrar que as ações fora do Terreiro refletirão no desenvolvimento mediúnico, “orai e vigiai”. A prática do amor e caridade devem ser constantes, não somente em dias de gira, mas sim em todos os dias na vida do umbandista.
    Lembrando sempre da humildade, não existe tarefa mais importante que outra, todas as tarefas dentro do Terreiro são fundamentais para que o trabalho aconteça de forma correta. Muitos se comparam com os outros e por vezes acreditam que estão atrasados de alguma forma, mas não é possível estar atrasado na sua própria vida. Outros podem acreditar que já aprenderam tudo, mas se já soubéssemos de tudo não estaríamos neste plano em busca de aprendizado e evolução. Sendo assim, quando nos sentimos inferiores ou superiores a alguém deixamos de olhar para nós mesmos e é nestes momentos em que as dúvidas se instauram. Então se você está chegando agora ou já está nesta caminhada há anos busque se recordar do momento em que seu coração disse “é aqui que eu quero estar”, pois assim se sua função hoje é: limpar as cadeiras dos consulentes, lavar os banheiros, limpar o jardim, organizar a comida, auxiliar no sistema de consulentes, tocar atabaque, bater palmas durante a gira, manter os materiais de trabalho dos guias limpos, fazer a defumação, limpar a tronqueira, acender as velas do congar, fazer o café dos pretos velhos, cuidar as vendas, cambonar, incorporar, fazer um estudo ou seja qual for a tarefa que precisa fazer hoje, quando for realizá-la você a fará com amor.
    Lembre-se que todo pensamento emanado refletirá no trabalho daquele dia, então evite reclamar ou fazer comparações. Saiba que seu trabalho é útil e importante, mas mantenha em sua mente que todos seus Irmãos e Pais também têm um importante trabalho a ser feito. Somos todos iguais perante a espiritualidade, porém quanto mais sabemos mais seremos cobrados. Desta forma, agora que você lê estas palavras você toma ciência de que deve fazer seu melhor o tempo todo. Agora você pode estar se perguntando, como fazer sempre o melhor se nem sempre estou bem para isto? Pois bem, ninguém está nesse plano por ser perfeito, não é mesmo?! Se aqui estamos é para nossa evolução e nosso crescimento, desta forma não há outra alternativa para nós… É preciso buscar pelo autoconhecimento, submergir em si mesmo, olhar para nosso lado sombra e abraçá-lo, mas também compreender sua potência e admirar a si mesmo.
    Talvez vocês que estão aqui, em um Terreiro, precisem muito mais de aprender do que outras pessoas que não estão”, me disse o Exu das Sete Encruzilhadas em uma conversa sobre para onde caminharia a Umbanda. Ainda nesse mesmo dia ele me ensinou que quando não confiamos em nós mesmos o nosso processo de desenvolvimento mediúnico pode demorar mais que esperamos, ou seja, precisamos ter equilíbrio para que possamos viver o terreiro, precisamos nos conhecer e reconhecer quem somos.  Tudo isto que foi dito para alguns pode até ser um processo tranquilo, mas a grande maioria relata momentos de dúvidas e dificuldades, afinal esse caminho que nós abrimos para o desenvolvimento vai nos “testar” muitas vezes. 
    Quando nos propomos a entrar em um Terreiro o fazemos de livre vontade, e a permanência nele também ocorre da mesma forma. Os desafios que nós enfrentamos são puramente humanos e reflexo de nós mesmos, ou seja, quanto mais lutamos contra a mudança mais dolorosa ela pode ser. Então, você que está lendo este texto, não importa em qual momento do seu caminho esteja, saiba que a insegurança é comum o que fará a diferença, para cada um, é o emprego que se dá a este momento. Busque se tornar alguém melhor a cada dia, nunca deixe de buscar conhecimento, esclareça suas dúvidas com os guias que ali se manifestam, com os irmãos mais velhos e com os Pais e Mães da casa.
       O desenvolvimento mediúnico é um caminho de várias etapas e quando você passa por diversas destas etapas não significa que está mais evoluído que um irmão que ainda não teve as mesmas experiências. Não significa que, caso um dia você seja desafiado a deixar uma função que a muito tempo estava exercendo, você esteja sendo punido pela espiritualidade. Muito pelo contrário, a espiritualidade trabalha de diversas formas em nossas vidas, é preciso ficar atento para não se deixar levar pela vaidade, o caminho para isto muitas vezes será individual, mas lembrem-se que estamos ali pelo mesmo propósito, que deve ser a máxima para nós “Amor e Caridade”.
Axé

Jéssica de Obaluaê

segunda-feira, 25 de março de 2024

O Legado do Sr Caboclo 7 Flechas

 O LEGADO DO SR CABOCLO 7 FLECHAS

Ao conhecermos o universo umbandista nos sentimos animados com as novas descobertas e com o vasto conhecimento a ser explorado. Queremos saber nossos Orixás, nossos guias, entender fundamentos, aprender magia, etc. Depois disso, passamos a aprender cada vez mais e a observar mudanças em nossas vidas, reparamos na transformação que as verdades trazidas pelos guias nos trazem. Nos tornamos melhores filhos, melhores pais, melhores irmãos, melhores amigos, melhores profissionais enfim vamos nos tornando melhores pessoas nos mais variados sentidos. Vemos cada dia mais que a grande magia da vida está nas escolhas que se faz e não simplesmente em velas e oferendas. A consciência adquirida cada vez mais nos prepara para tomar melhores decisões e para mudar a realidade que vivemos. 

    Em breve nos aproximaremos de completar uma década de nosso amado Terreirinho, e temos aprendido muito através do significado por trás de cada situação. Tenho o privilégio de ser filho da casa em quase todo seu tempo de existência. Temos e tivemos grandes alegrias, várias decepções, muito trabalho e mudanças. Muitos passaram pela casa, aprenderam e seguiram o caminho enquanto isso fez sentido para eles e agregaram na mesma medida no que os foi possível. Outros foram e voltaram, alguns vieram e nunca mais saíram, mas o que importa realmente é que o terreiro tenha agregado enquanto cada um esteve lá. E tenho certeza de que agregou, tendo cada um absorvido o que foi possível com as ferramentas que tiveram disponíveis.

Hoje não consigo ser tão frequente por morar e trabalhar em outra cidade, mas independente disso me sinto marcado por tudo que aprendi em todos esses anos e me sinto um representante desta casa em cada local que eu pise, tanto no campo profissional, pessoal, amoroso etc. Carregamos o legado do Caboclo 7 Flechas, dando conselhos aos que necessitam, compartilhando conhecimentos, tentando ajudar as pessoas a fazer boas escolhas, desejando o bem para quem está no erro, mesmo que nos tenha prejudicado. 
     Durante essa jornada algumas pessoas expressam sua gratidão pela ajuda recebida e algumas vezes posso ir aos prantos, não por vaidade, mas por gratidão, por saber que só consigo ajudar porque tive todos esses ensinamentos no Terreirinho antes. Só consigo ajudar porque fui ajudado. Isso é muito nítido. 
     Desta forma, podemos dizer que o legado do Caboclo 7 Flechas não é apenas o grande terreiro, com boa estrutura e com um belo trabalho caritativo as sextas-feiras. Na verdade, esse legado é muito mais vasto e está em cada um que por lá passou e aprendeu de verdade e usou esse conhecimento para mudar a própria vida e para mudar a vida de outras pessoas. É uma grande teia do bem, quem é ajudado, quem supera suas angústias e seus demônios internos e externos, tem a experiência necessária para ajudar muitos outros que passam por coisas similares.

Por isso tenhamos sempre a consciência que carregamos o peso desse legado e que sempre devemos procurar honrá-lo com as atitudes condizentes com verdadeiros umbandistas. Pessoas sérias, que dispõe do seu próprio tempo lazer para ajudar a si mesmos e ao próximo. Lembremos sempre das palavras do Caboclo 7 Flechas: “Umbanda é coisa séria, para gente séria”. Se você é membro dessa tão amada casa, lembre sempre que você é um guerreiro que espalha a semente da árvore que o Caboclo 7 Flechas plantou, devemos sempre plantar essas sementes em solo fértil para que tragam sempre mais e melhores frutos e para que consigamos alterar nossa realidade sempre para melhor.

Gratidão à tão amada e respeitada Tenda de Umbanda Caboclo 7 Flechas e Jurema, o Terreirinho. Gratidão a Deus em suas diversas formas. Gratidão a cada Guia que nos ajuda incorporado ou não. Gratidão ao Pai Igor por nos conduzir até aqui. Gratidão ao Pai-Pequeno Victor por mesmo distante dirigir nossos estudos online que expandem nosso conhecimento e são tão importantes para o nosso desenvolvimento pessoal. Gratidão ao Pai-Pequeno Kah e Mãe-Pequena Railany por serem as mãos do Pai Igor no dia a dia, gratidão por toda dedicação e entrega diária. E por fim e não menos importante gratidão a todos irmãos da casa, e até aos que já trilharam outros caminhos, cada um agregou no que pôde. Até quem nos prejudica, nos decepciona, também trazem valiosas lições para quem sabe absorver. “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”, dizia Fernando Pessoa.

Gratidão, Axé.


Ricardo de Ogum Matinata.



quinta-feira, 21 de março de 2024

Tribos Brasileiras

 TRIBOS BRASILEIRAS - TUPINAMBÁS

A umbanda cultua os nossos ancestrais brasileiros, sendo um deles os Caboclos, que são arquetipados dos índios brasileiros que habitavam nossas terras, com isso, vemos a importância do estudo de algumas tribos que viviam em nosso país. Hoje vamos escrever sobre a Tribo dos Tupinambás.
Esses povos indígenas habitavam originalmente a costa do Brasil, desde o Rio de Janeiro ao Maranhão. A história do Brasil é apresentada pela presença de diversas tribos indígenas, cada uma com suas particularidades e tradições. Os Tupinambás chegaram ao Brasil por volta do século XIII, vindos da região amazônica. Eles eram nômades e se deslocavam em busca de alimentos e recursos naturais.
Era uma tribo guerreira e possuíam uma complexa organização social. Eram divididos em clãs e eram liderados por caciques, onde cada clã possuía sua própria aldeia. Eles viviam de pesca, caça e agricultura e eram conhecidos também por sua habilidade na confecção de arco e flecha, que eram utilizados tanto para caça ou guerras. Em relação a religião acreditavam em vários deuses e realizavam rituais para agradá-los, sendo que o Pajé era o mediador entre o mundo invisível dos espíritos e dos homens, além dos dons de curandeiros que os mesmos possuíam.
Essa tribo praticava rituais xamânicos e acreditavam que todos os elementos naturais possuíam espíritos.  Tinham uma ligação muito forte com a natureza e sempre pediam proteção espiritual e honravam os seus ancestrais Eles também praticavam o canibalismo como parte dos seus rituais religiosos, pois, alguns estudiosos explicam que os homens canibalizados eram guerreiros capturados em guerras. O corpo desses rivais era alimentado em cerimônias com presença de vários elementos ritualísticos. O canibalismo, na maioria dos casos, possuía algum fundamento místico, como a necessidade de espantar a violência do grupo, através do sacrifício de membros de fora.


A língua que se comunicavam era o tupi-guarani e usavam gestos e sinais para se comunicar com outras tribos. Essa tribo construía suas casas de palha e madeira, que eram chamadas de oca. 
Com as chegadas dos colonizadores portugueses no país essa tribo foi extremamente afetada. A exploração dos recursos naturais e a escravização dos indígenas foram algumas das consequências dessa chegada, apesar de lutarem durante um tempo, ao passar dos anos, muitos foram escravizados e mortos. 
Por fim, podemos ver a importância de estudar a história dos nossos ancestrais para entender a importância do trabalho que as entidades denominadas Caboclos nos trazem com toda essa bagagem de conhecimento histórico e de cura para os dias de hoje dentro dos terreiros de Umbanda.

Marina de Nanã Buruquê

segunda-feira, 18 de março de 2024

Caboclo Guaracy

 O CABOCLO GUARACY

Conheci o ponto do Caboclo Guaracy em uma playlist, por algum motivo me marcou muito, não saía mais da minha cabeça. Me despertou o interesse em pesquisar a lenda da criação do mundo pelos povos indígenas, a história de Guaracy e Jacy, o sol e a lua, as duas onças.
Foi então que em uma gira de desenvolvimento no nosso “Terreirinho” o Caboclo Guaracy incorporou no Pai Igor de Oxum, me chamou para o centro de nosso terreiro e disse que minha força de pensamento o trouxe ali, e que eu seria seu aparelho mediúnico. Fiquei muito contente e emocionado. Seu Guaracy pediu para que fosse providenciado um penacho verde com penas prateadas. Nos dias seguintes, diversas penas prateadas estavam aparecendo em meu caminho, em lugares improváveis. Neste mesmo dia se manifestou também no Pai Igor a Cabocla Iara, apresentando a Médium Clara de Oxum como seu aparelho.
Seu Guaracy é caboclo de pena, guardião da Jurema, foi índio por 3 encarnações, trabalha na irradiação de Logunan, a pena de prata, o ouro do sol o raio de lua. Seu Guaracy sempre traz a força da fé em seus atendimentos. É sempre calmo, manso, sereno, com voz mansa e doce, que acolhe a todos. Sempre traz a força da espera e do tempo, ensinando que tudo tem sua hora de acontecer, que para que algo aconteça em sua vida primeiro são necessárias mudanças, e que muitas vezes o resultado não é imediato, a mudança precisa de cuidado, e continuidade. Traz a força e a importância do início das coisas, do princípio, para que a mudança seja alcançada. 
 Seu Guaracy possui uma guiada com uma presa de javali, javali este, que lhe acompanha. O Javali é um animal rústico, forte e que não gosta de confrontos, porém quando acuado mostra toda sua força derrubando tudo que estiver em sua frente. Seu Guaracy através da força do amor trouxe o javali para seu lado. O que seria a caça foi na verdade cativado pelo caboclo. Através da força desse animal, Seu Guaracy nos mostra que devemos estar no controle de nossas vidas, para não sermos encurralados, pois é possível sim derrubar tudo e começar de novo, mas é este ciclo de destruição é cansativo e doloroso. O caminho do amor nem sempre é o caminho mais fácil, para ele também não foi fácil, mas é com certeza o que traz os resultados mais gratificantes e duradouros. 

Pedro Maciel de Xangô .’.

segunda-feira, 11 de março de 2024

Ciganos

 CIGANOS NA UMBANDA

    Os ciganos sempre foram um povo rico de histórias e lendas. A maioria eram andarilhos que viveram entre os séculos XIII ao XVI. Grandes conhecedores da magia e do poder das ervas, retiravam da natureza grande parte dos materiais para sua existência e tinham pouco apego às coisas materiais. Sofrem do estereótipo de serem eternos estrangeiros e andarilhos por onde passam ou se instalam, o que os torna mais vulneráveis socialmente. Assim como outros povos subalternizados, foram escravizados, em especial na Europa Oriental (por 400 anos, na Romênia).
    Dentro de seu arquétipo na Umbanda os Ciganos chegam sempre cheios de alegria, com suas danças, palmas, cores e músicas. Agem nos campos da saúde física e espiritual, prosperidade, amor e conhecimento, trabalhando principalmente com cristais, ervas, incensos e também com a interpretação de oráculos e vibrações pessoais (leitura de mãos, leitura de tarô, etc). A interpretação dos oráculos não é mera adivinhação mas sim um sistema de orientação sobre o corpo e o espírito de quem busca auxílio.
    Os ciganos trabalham muito com as cores. Cada cigano pode ter uma cor de vibração com a qual trabalhe mais. Essas cores são representadas nas velas, roupas e outros elementos utilizados pelos guias durante os trabalhos. Suas danças evocam as forças místicas da natureza. Com as palmas, instrumentos e cantos esses espíritos lembram o bailar do vento e do fogo.

    Em geral têm seus rituais específicos e cultuam muito a natureza, os astros e ancestrais. A santa protetora do povo cigano é Santa Sara Kali, por isso a linha dos ciganos é regida pela Orixá Oroiná. Na Umbanda, atuam visando o progresso espiritual e prosperidade na vida do ser. Cheios de simpatias espirituais, os espíritos ciganos trabalham para a cura de doenças espirituais.
    O povo cigano tem muita fé em Santa Sara Kali. Existem várias versões com as lendas de Santa Sara Kali. Entre os anos 44 e 45, por causa das perseguições cristãs, pela ira do Rei Herodes Agippa, alguns discípulos de Jesus Cristo foram colocados em embarcações, entregues à própria sorte. Em uma dessas embarcações estavam Maria Madalena, Maria Jacobé, Maria Salomé, José de Arimatéia e Trofino que, junto com Sara uma cigana escrava, foram atirados ao mar. Milagrosamente a barca, sem rumo, atravessou o oceano e aportou em Petit-Rhône, hoje Saint-Marie-de-La-Mer, na França. Segundo a lenda, as três Marias, em desespero em alto mar, sem esperanças de sobreviver, choravam e rezavam o tempo todo. Sara, ao ver o sofrimento das amigas, retirou o diklô (lenço) da cabeça e chamou por Kristesko (Jesus Cristo), fazendo um juramento ao Mestre, no qual Sara tinha fervorosa fé. A cigana prometeu que, se todos se salvassem, ela seria escrava do Senhor e jamais andaria com a cabeça descoberta, em sinal de respeito.
    O diklô é um simbolismo forte entre os ciganos. Significa a aliança da mulher casada em sinal de respeito e fidelidade. Santa Sara protege as mulheres que querem ser mães e sente dificuldades em engravidar. Protege, também, os partos difíceis. Basta ter fé na sua energia. 
    O dia do ano destinado aos ciganos é 24 de maio (dia de Santa Sara Kali), seu dia da semana é a sexta-feira, sua cor é principalmente a cor laranja. Suas oferendas são feitas com flores e frutas de cores variadas, incensos, pães e vinho. Sua saudação é Optchá. Os ciganos nos ensinam, com sua alegria e com seu brilho, que o amor e a liberdade são as melhores formas de trazer luz para nossa caminhada.

Layla de Omolu



quinta-feira, 7 de março de 2024

Benzimento

 A ARTE DE BEM DIZER - BENZIMENTO

Quando penso em benzimento automaticamente minha memória remete a minha infância, lembro de acompanhar meu pai em um rezador na cidade em que vivíamos, ele dizia: “vamos lá, porque a reza dele é boa, tira todo mal-olhado”. Recordo também de visitar minha avó aqui em Bom Despacho e ela dizer: “vou levar vocês na benzedeira pra ela abençoar e proteger”. Histórias como a minha se repetem cotidianamente, principalmente no interior, onde essa tradição tão bonita e rica continua viva nos dias de hoje, mesmo com a correria do mundo moderno que muitas vezes nos afasta da sabedoria ancestral.
        No dicionário a palavra "benze" vem do verbo benzer. Significa o mesmo que abençoa, sagra. Sendo assim, o benzimento é a arte de abençoar e bem-dizer. O Benzimento é uma arte milenar ligada às mais remotas sociedades. No nosso país há relatos de que quando os jesuítas chegaram ao Brasil observaram que os povos originários e sua relação com as medicinas da floresta, com o tempo a cultura e a religiosidade indígena por meio das ervas foi associado à pratica dos benzedores, curandeiros, rezadores e praticantes das religiões de matriz africana.


Afinal, como posso ser um benzedor?

Ao contrário do que muitos pensam, para se ser benzedor não é necessário pertencer a uma religião específica, mas sim possuir uma fé verdadeira. Uma vez que compreendemos que para benzer é necessário abençoar (tornar bento algo ou alguém) fica claro que a principal ferramenta dos Benzedores é a intenção que se coloca na reza, objetos e elementos.

Alguns seguimentos acreditam que só podem vir a ser benzedores aqueles que possuem um chamado para tal ato, no entanto, é sabido que o ato de benzer nada tem a ver com dom ou predestinação e sim uma faculdade que pode ser desenvolvida. Assim, aqueles que desejam praticar o benzimento devem se lembrar de manter acessa a chama da fé e buscar, também, conhecimento especialmente sobre os elementos usados (ervas, patuás, rezas).
Além disso, é importante destacar que um verdadeiro benzedor traz consigo os princípios do amor e da caridade, desta forma os trabalhos de benzimento não devem ser cobrados por quem o oferta. Em nossa casa aqueles que estudam o benzimento devem ser autorizados pelo Caboclo das Sete Flechas para praticá-lo, visto a seriedade deste trabalho.

O benzimento funciona?

Por ser um ato de fé para que se tenha efeito além da fé do benzedor, para que se tenha melhores resultados, é necessário também que aquele que recebe o benzimento acredite que será auxiliado.

Muitos procuram os benzedores com dúvidas em seus corações e isto pode gerar uma dificuldade de alcançar o potencial que o benzimento teria, por exemplo, para alguém que não tenha dúvidas.

Então para este tópico a resposta é: Depende da sua fé.


Com o que posso benzer?

O benzimento pode ser feito a mãos livres, mas normalmente são realizadas com objetos consagrados ou abençoados, podendo estes serem os mais variados, como por exemplo: Velas, água, crucifixos, terços, rosários, e as mais diversas ervas. 
O uso de salmos e rezas também são bem comuns, existem variadas rezas/orações para diversos problemas físicos e até mesmo espirituais, mas isto é tema para um próximo estudo. Caso não haja instrumentos, o benzedor poderá se utilizar das próprias mãos através de gestos como fazer o sinal da cruz e o estalar de dedos.
    Enfim, o benzimento quando praticado com responsabilidade e fé tem grande poder de auxiliar a quem procura esta benção. É importante destacar que a prática do benzimento não exclui a medicina tradicional, o benzimento age no campo da fé e a medicina está no plano físico, assim como nós. Então jamais exclua o tratamento médico pelo benzimento. A fé verdadeira não deve ser uma fé cega.

Axé!



Jéssica Gomes de Oxalá