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segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Leis Herméticas - 2º princípio

 Princípio da Correspondência

    As leis herméticas foram trazidas pelo livro “O Caibalion” e ao contrário do que muitos pensam não consistem na base do conhecimento hermetista. Na verdade, o hermetismo é muito mais antigo que o referido livro e não era separado em leis. A proposta do livro é simplificar o hermetismo em sete leis para que fosse possível a compreensão ao grande público. É importante ressaltar que é um conhecimento raso do universo hermetista, seria mais bem classificado como uma porta de entrada para esse universo do que como sendo a base do hermetismo, como alguns dizem. Dito isso, nesse texto em específico iremos tratar da lei da correspondência, que é a segunda lei apresentada no Caibalion.

A lei da correspondência é baseada nos seguintes axiomas do hermetismo:
“O QUE ESTÁ EM CIMA É COMO O QUE ESTÁ EMBAIXO.” E
“O QUE ESTÁ DENTRO É COMO O QUE ESTÁ FORA”.
O que será que Hermes Trismegisto quis dizer através dessas frases? E existem
observações praticas que podem ser usadas como exemplo dessa tal lei?



    No primeiro axioma “O QUE ESTÁ EM CIMA É COMO O QUE ESTA EMBAIXO” o livro nos explica que quando queremos entender o funcionamento de algo além da nossa compreensão, como por exemplo a forma como Deus cria os seres e coisas, é possível chegar a uma hipótese bem mais concreta do que se teria, analisando o modo de criação de suas criaturas. Ou seja, o modo como se cria no macrocosmo é semelhante ao modo de criação no microcosmo. 
    No livro para criar uma hipótese de como Deus cria tudo, os autores analisam os modos de criação humano, para “aumentar a escala” e raciocinar se algum dos modos poderia ser atribuído também a Deus.
    Os autores observam três modos da criação humana e definem que apenas um poderia ser similar a criação divina. O primeiro modo de criação humana é o uso de materiais disponíveis para criar algo, o que não poderia ser o modo de criação de Deus, uma vez que antes dele criar os seres e as coisas, não existia nada além do próprio. O segundo modo de criação humana seria a reprodução, o que também aos olhos deles não fazia sentido. Analisaram também a possibilidade de Deus fragmentar uma parte de si para criar, mas para eles isso não faria sentido uma vez que Deus seria indivisível. Por último, foi analisada a capacidade de criação mental do ser humano e essa foi a hipótese que foi considerada possível, pois antes de qualquer criação física o homem a cria em sua mente e isso não teria nenhuma incompatibilidade com o conceito de Deus que tinham. Isso deu origem ao princípio do mentalismo que é a primeira lei hermética, que foi observada através da correspondência entre o micro e o macro. É importante observar como todas as leis se interagem uma com as outras e este é um exemplo disso, mas a frente observaremos outras situações que remetem a isso.



    Podemos citar também como exemplos desse primeiro axioma que compara o que esta em cima como o que está embaixo o ciclo de vida humana (infância, maturidade, velhice e morte) pode ser observado nos ciclos da lua. (Crescente, Cheia, Minguante, Nova). E também podemos citar os elétrons que orbitam o núcleo do átomo que se assemelham aos planetas que orbitam seus sois.
    O segundo axioma é quase idêntico ao primeiro: “O QUE ESTÁ DENTRO É COMO O QUE ESTÁ FORA”. Esse axioma apesar da grande semelhança com o primeiro, agora compara o interno com o externo, por exemplo quando uma característica de alguém nos irrita muito é porque nosso lado interior também tem que trabalhar de alguma maneira para resolver os problemas com essa energia. Quando se é bem resolvido, o jeito e escolhas do outro não importam, basta que você viva sua própria verdade. Quando observamos comportamentos e erros de outras pessoas, aquilo na verdade é um reflexo do que temos dentro. Só conseguimos identificar o que conhecemos.
    Esse axioma também nos mostra que tudo o que vibramos (dentro), atraímos para nossa realidade (fora). Isso se apresenta de diversas formas em nossas vidas. Desde o tipo de amigos que temos até o tipo de situações e dificuldades que teremos que enfrentar durante o nosso caminhar. A lei da vibração também é uma lei hermética trazida pelo Caibalion e isso reforça o que descrevi anteriormente, cada uma das leis permeia também as outras leis, outro exemplo disso que também podemos encaixar na lei da correspondência é que o que nós mentalizamos (dentro) também se materializa em nossa realidade (fora). E essa é, à grosso modo, a lei do mentalismo.
    Podemos ressaltar também que nossa percepção de mundo muda de acordo com nossos estados internos. Se você é uma pessoa bem humorada e gentil, as situações serão completamente diferentes do que quando você está sem paciência e mal humorado, mesmo que todo o resto seja similar, podendo ter nas duas situações o mesmo emprego, mesma situação financeira, família e pessoas ao redor que mesmo assim tudo seria diferente, as reações das pessoas seriam diferentes, seus sentimentos perante as situações também etc. 
    Como comentamos brevemente na introdução existem situações além da nossa compreensão, mas quando usamos o princípio da correspondência nelas, somos capazes de compreender muito mais do que seria do contrário. Como exemplo disso podemos observar que conhecendo os princípios da Geometria é possível que sentado em seu escritório o homem meça sois distantes e seus movimentos. A lei da correspondência propõe raciocinar do conhecido ao desconhecido. Conhecendo a monôda, seremos capazes de entender o arcanjo, diz O Caibalion.
    Por fim podemos concluir da lei da correspondência que tudo que se apresenta ao nosso redor só aparece porque vibramos semelhante, mentalizamos parecido. Ou seja, as situações de nossa vida são um espelho do que temos dentro de nós. Que mesmo os defeitos que mais nos incomodam nos outros, nós só conseguimos identificar porque também temos a mesma energia, caso contrário passaria despercebida. Que é possível observar várias semelhanças entre o macro e o microcosmo, isso reforça a veracidade da lei hermética da correspondência. Que tudo no universo está interligado, o micro interfere no macro e o macro no micro. E que observando uma parte do todo, facilita o entendimento do próprio todo.

    
    A lei da Correspondência é uma das leis herméticas que mais trabalham a auto lapidação, pois sempre indica que o que está errado fora tem origem em si mesmo. Esperamos que este texto tenha ajudado a introduzir o tema.
Axé!

Ricardo de Ogum Matinata e Ana Carolina de Xangô 

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Leis Herméticas - 1º princípio

 Princípio do Mentalismo


    Foi no Egito Antigo, que muitas das filosofias e ensinamentos que conhecemos hoje e, que ainda nos influenciam, surgiram. Nessa época, viveram grandes mestres que desenvolveram muitos fundamentos esotéricos e ocultos e dentre esses grandes mestres, existiu um homem que era proclamado como o Mestre dos Mestres, conhecido como Hermes Trismegisto (três vezes grande, o grande dos grandes), sendo considerado o pai da ciência oculta, fundador da astrologia e o descobridor da alquimia. Hermes, segundo a tradição, viveu 300 anos e após seu desencarne, os egípcios fizeram dele um deus, conhecido como Thoth. Muitas décadas depois, o povo grego também reconheceu Hermes como um deus, sendo conhecido como o deus da sabedoria. E, atualmente, acredita-se que, de todos os fragmentos dos conhecimentos ocultos, os Preceitos Herméticos foram os fragmentos guardados de maneira mais zelosa e profunda ao longo da história.
    Primeiramente, é importante entendermos que os preceitos herméticos estão espalhados por todas as religiões, não pertencendo a nenhuma em particular. Isso foi feito para não engessar essa doutrina secreta em um credo específico de uma religião, pois quando se misturava a teologia com a filosofia hermética, gradualmente essa filosofia iria se perdendo no meio das religiões e seus cultos. E também porque seus discípulos sempre mantiveram o princípio do segredo em seus preceitos. 
    Dito isso, os Sete Princípios em que se baseia toda a Filosofia hermética são os seguintes: 
I. O Princípio de Mentalismo. 
II. O Princípio de Correspondência. 
III. O Princípio de Vibração. 
IV. O Princípio de Polaridade. 
V. O Princípio de Ritmo. 
VI. O Princípio de Causa e Efeito. 
VII. O Princípio de Gênero. 
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    Qual é a importância de conhecer as 7 leis herméticas? O intuito de Hermes era explicar o funcionamento do universo através delas, assim o hermetismo consiste no estudo e prática da evolução e expansão da consciência humana. Dessa forma, faz-se de extrema importância entendermos e conhecermos o Hermetismo para que possamos ter um recurso valioso, entendendo as leis herméticas e sua relação com nossos pensamentos e com nossa realidade, podendo encontrar um equilíbrio nas áreas da nossa vida e fazer melhores escolhas, para buscarmos melhores caminhos para o nosso desenvolvimento espiritual. 
    E nós iremos falar um pouco sobre o Princípio de Mentalismo, que é o primeiro princípio do hermetismo, tendo tido como o início e a raiz de todas as coisas. Esse princípio se fundamenta em “o Todo é Mente; o Universo é Mental”. Nessa lei, é explicado que tudo é mente, que o Todo (que é o que conhecemos como o universo material, os fenômenos das nossas vidas, da matéria e da energia) é também o espírito, o indefinível em si mesmo, podendo ser considerado como uma mente vivente infinita e universal. Além disso, também é ensinado que todo o universo é basicamente uma criação mental do Todo, sendo sujeita às Leis das Coisas Criadas, assim o universo, em todas as suas pequenas partes, existe na mente do todo, e é nessa mente que vivemos e temos nossa existência. Então, nossa mente seria como um pincel, que iria pintando cada cor e forma do universo, tendo um papel importante em ir moldando nossa realidade. Vamos explicar melhor:

“O TODO é Mente; o Universo é Mental.” 


    O hermetismo se refere a Deus como “O TODO”. Mas não se trata de um deus pessoal, que age e se comporta de acordo com as paixões dos homens, mas de uma figura cósmica que contém tudo em si. Inclusive, nosso universo não passaria de uma criação na mente do TODO. 
    Ainda nesta linha de pensamento, os seres teriam em seu interior uma parte da essência do TODO. Ou seja, carregam parte dessa essência divina. 
    E tal como o TODO de Hermes, nós também criamos com a nossa mente. Passamos horas imaginando, compondo diálogos e criando situações que, posteriormente, se tornam palavras que se tornarão histórias. Então, não poderíamos dizer que cada um dos nossos personagens possui em si uma parte de nós?
    Portanto, podemos definir que somos o que pensamos e nossos pensamentos determinam nossa existência e a qualidade dela. 
    No Hermetismo, há três planos: o mental, o físico e o espiritual. O plano mental está relacionado ao pensamento, à intuição e mesmo à razão. E é a união dos três planos, a partir do pensamento, do mental, que podemos alavancar todos os outros princípios. 
    Essa força poderosa que é o mentalismo, a força do pensamento, nos traz a ideia de que tudo que está ao nosso redor – e até mesmo a nossa existência – existe a partir de nós, não do mundo externo. 
    É algo radical que precisamos compreender, mas é muito difícil, pois achamos que o mundo já existe independente da minha experiência. Mas não é assim, e a física quântica ajuda a explicar. Um exemplo: pega-se uma carta de baralho com a borda perfeitamente afiada e tenta-se equilibrá-la sobre a borda em cima de uma mesa. De acordo com a física quântica, a carta cairá em poucos segundos, mesmo que se faça o máximo para equilibrá-la – e cairá simultaneamente para os dois lados, direito e esquerdo. Quando se põe em prática esse experimento com uma carta verdadeira, o que se vê é que ela cai para a direita OU para a esquerda, aparentemente ao acaso, e nunca para a direita e para a esquerda ao mesmo tempo, como a física quântica quer nos fazer acreditar. 
    Mas o entendimento está nas possibilidades. Existe a chance de a carta cair para a direita BEM COMO dela cair para a esquerda. 
    O princípio do Mentalismo tem relação direta com esse raciocínio, também, da física quântica. O mundo tem várias formas de realidade em potencial, até você escolher. 

“Tudo é possibilidade subconscientemente.”

    É interessante pensarmos que, se nosso pensamento cria, tudo que conhecemos, foi criado primeiramente na nossa mente, ou também no mundo das ideias, como dizia Platão. Então a fagulha de tudo é a mente, mas não nascemos com esse poder de criação. Faz-se extremamente importante termos em mente que tudo é um processo, uma jornada individual, onde nossa mente passa por vários lugares e, principalmente, numa escola que conhecemos como tempo. Pois é só com o tempo que conseguimos conhecer nossa mente, treinar nossos pensamentos e nossa criação, pois a mente é o epicentro da nossa essência e educar e trabalhar nossa mente é um trabalho árduo, pois ao dominarmos nossas mentes, estamos também influenciando a direção das nossas vidas, atraindo coisas que estão intimamente ligadas aos nossos pensamentos. por isso é importante aprendermos nessa escola de espaço tempo, pois é o tempo que é o grande professor de como podemos trabalhar nossa mente, nossos pensamentos e conseguir aplicar a Lei do Mentalismo de forma inteligente nas nossas vidas.  
    É necessário compreender, além do Mentalismo, outras leis herméticas. O princípio da Polaridade, por exemplo, nos mostra que os opostos existem, como também a interação entre eles, entendendo essa lei, entendemos também que precisamos nos esforçar para vigiar nossos pensamentos e sempre buscar emoções e sentimentos positivos, para atrairmos vivências positivas em nossas vidas. Ou também conhecer o Ritmo, para que possamos saber nossos altos e baixos ou o próprio ritmo das nossas emoções, para que possamos saber lidar com tempos difíceis e aprender com as experiências negativas da nossa vida.
    Assim como o próprio Universo – que existe a partir de seu Criador –, é dentro de nós que encontramos as respostas e que habita a força para mudarmos comportamentos e crenças. Não significa que iremos materializar as coisas que imaginamos (por exemplo, penso numa caneta, então nosso pensamento se materializa nesse objeto), mas que o pensamento pode ser aperfeiçoado para que possamos avançar e evoluir. 
    Saindo dessa linguagem mais rebuscada encontrada no livro, própria dos iniciados, concluímos o que já havia sido dito: a existência é fruto do nosso pensamento e da nossa percepção. O simples fato de dominar esse princípio nos torna mais preparados para alcançar a evolução e o aprimoramento pessoal e, por consequência, o TODO, para então partirmos para a conquista dos outros princípios, pois, para o Hermetismo, tudo está interligado em todos os níveis.

Camila de Iemanjá e Isabela de Oxalá

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Orixá Ossain

 Ossain

    Ossain é um orixá originário da região de Iraó, na Nigéria, muito próxima com a fronteira com o antigo Daomé. Não faz parte, como muitos pensam, do panteão Jeje assimilado pelos Nagô, como Nanã, Omolú, Oxumaré e Ewá. Ossain é originário da etnia Ioruba. O Orixá Ossain é muito pouco cultuado e falado na Umbanda, isso se deve ao seu domínio, que por vezes é direcionado a Oxóssi, Orixá mais conhecido e cultuado nas casas de Umbanda. Sabe-se que o panteão africano é composto por centenas de Deuses, para nós Orixás, e que cada um deles tem o seu poder, domínio sobre alguma energia presente na natureza. Quando se fez a simplificação dos Orixás através da Umbanda Sagrada, centralizou em Oxóssi o domínio das matas, e por vezes há uma associação de que tudo que está associado ao reino vegetal está no domínio apenas de Oxóssi. 
    Sendo assim, é de suma importância estudarmos o Orixá Ossain para entendermos que nem todos os domínios vegetais estão canalizados unicamente em Oxóssi.


    O Orixá Ossain, também conhecido como Ossãe e Ossanha, é o senhor das folhas, é um Orixá muito místico, tem o arquétipo de um grande feiticeiro, um curioso alquimista, um bruxo, o senhor das folhas e das poções e ainda um mestre curandeiro. Ossain é conhecido como o médico dos orixás devido ao uso do axé das plantas para a cura, mas esse poder de cura não está associado a cura de Obaluaê (regente das doenças), Ossain realiza a cura através dos vegetais, ativando o axé contido na planta para direcionar a cura dos males físicos e espirituais.
     As lendas ou Itãs são de grande importância para que seja mais fácil compreender a força, a essência do Orixá através de uma história, em relação ao Orixá Ossain temos dois contos que nos auxiliam nesse entendimento. Uma delas explica que desde jovem ele tinha um dom muito grande para a cura e vendo isso Olorum (Deus) resolveu presenteá-lo com o domínio e o conhecimento de todos os segredos das folhas medicinais e sagradas, isso fez com que seu trabalho como curandeiro fosse facilitado através do uso dessas plantas. 
    A outra nos explica o motivo de cada Orixá ter sua planta de poder, conta essa lenda que Ossain sabia que algumas plantas traziam a calma ou o vigor. Outras, a sorte, a glória, as honras ou ainda, a miséria, as doenças e os acidentes. Os outros orixás não tinham poder sobre nenhuma planta. Eles dependiam de Ossain para manter sua saúde ou para o sucesso de suas iniciativas. Xangô, irritado por esta desvantagem, usou de um meio ardil para tentar usurpar de Ossain a propriedade das folhas. Falou dos planos à sua esposa Iansã, explicou que, em certos dias, Ossain pendurava, num galho de Irocô uma cabaça contendo suas folhas mais poderosas. Xangô então pediu a Iansã que desencadeasse uma tempestade bem forte num desses dias, ela aceitou a missão com muito gosto. O vento soprou as grandes rajadas, levando os telhados das casas, arrancando árvores, quebrando tudo por onde passava e, o fim desejado, soltando a cabaça do galho onde estava pendurada. A cabaça rolou para longe e todas as folhas voaram. Assim os orixás se apoderaram de todas. Cada um tornou-se dono de algumas delas, mas Ossain permaneceu "senhor do segredo" , continuou a reinar sobre as plantas como senhor absoluto, graças ao poder (axé) que possui sobre elas.



    Assim, cada orixá possui suas próprias folhas, mas só Ossain conhece os seus segredos, só ele sabe as palavras que despertam o poder e a força de cada planta. Existe também uma grande discussão se Ossain é um Orixá feminino ou masculino, para nós é considerado um Orixá que atua no polo masculino, é bom lembrar que ao falarmos em energias divinas não existe a divisão de sexo como para nós humanos, o que se deve associar é a polaridade, a força mais presente naquela energia divina.
    Ossain é sincretizado com São Benedito, isso se deve principalmente ao poder de cura e conhecimento associado a esse santo católico. São Benedito nasceu em 1526, na ilha da Sicília, Itália. Seus pais eram Cristovão Manasceri e de Diana Larcan, um casal de escravos vindos da Etiópia que não queriam ter filhos para não gerar mais escravos. Sabendo disso, o senhor do casal prometeu a eles a liberdade caso tivessem um filho. Assim, eles tiveram Benedito e como prometido, a família foi libertada. Educado pela fé cristã pelos pais, São Benedito teve uma vida exemplar, trabalho e oração, e ainda no mosteiro passou a se destacar como líder, mesmo sendo analfabeto. Tanto que muitos teólogos enfrentavam longas distâncias somente para encontrar, conversar e aprender um pouco mais com São Benedito. Muito milagres são atribuídos a São Benedito, entre eles a ressurreição de dois meninos, a cura de cegos e surdos e a multiplicação de pães e peixes. Hoje, São Benedito é um dos santos mais populares do Brasil, modelo de caridade e humildade.
    Ossain também é associado a uma figura do folclore brasileiro, o Saci, pois além de ser um grande conhecedor das plantas mora nas matas e em muitas imagens esse Orixá é trazido com uma perna só, existe uma explicação de que Ossain possui uma só perna porque a árvore, base de todas as folhas possui um só tronco. 
    Trataremos agora a respeito das características gerais relacionadas a esse grande Orixá, o símbolo de Ossain é um cetro de ferro de sete pontas, sendo que na ponta do meio há a imagem de um pássaro, denominado como Opere ou Avivi. Sua data comemorativa é cinco de outubro e seu dia da semana é a quinta feira. Suas cores são o verde e o branco. A saudação de Ossain é “Ewé ó”, que significa: Salve as folhas! Seu elemento é a terra e o vegetal. Tem o domínio de todas as ervas. Quantos as oferendas, são entregues nas matas virgens. Suas principais oferendas são a folha de fumo, o mel e a cachaça inhame.


    E para finalizar, traremos as características dos filhos desse Orixá, os filhos de Ossain não são tão numerosos quanto aos dos orixás mais tradicionais. São tidos como pessoas introvertidas, misteriosas e discretas. Não gostam de interferir ou opinar no que não diz respeito a eles. Falam pouco de si e de seu passado. Dão muito valor à liberdade e são pacientes. Gostam de animais. São equilibrados emocionalmente. Muito racionais. São pouco sociáveis. Independentes. Gostam de se isolar. Muito ligados à terra, às matas e à vida. São muito dedicados dentro de suas religiões. Não suportam ser enganados. São reservados, estudiosos, sinceros, obedientes, introspectivos, alegres, corajosos, cientistas de mão cheia, capazes de desvendar qualquer mistério. Dedicam-se a pesquisas, a arte de curar, têm facilidade de atuar com benzeduras, chás, banhos e encantamentos devido a sua ligação com as ervas. Como amantes são de veneta, algumas vezes insaciáveis e outras vezes ficam um grande período de tempo em abstinência. São profissionais altamente competentes e responsáveis. Não gostam de brigas. Têm grande aptidão a se tornarem feiticeiros. São extremistas. São vingativos. Traiçoeiros, enganadores, articuladores, misteriosos, capazes de grandes maldades. Podem apresentar uma tendência ao uso de drogas. Possuem muito axé. Sua energia negativa é concentrada no olhar.

Ewé ó Ossain!

Júllia de Iansã e Marina de Nanã

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Orixá Ibejis e Erês

Orixá Ibejis e Erês

    Ibeji, etimologicamente, é a junção dos termos iorubas ibi – nascimento, e eji – dois. Este orixá é sincretizado pela figura de irmãos gêmeos, sendo sincretizados aos santos católicos Cosme e Damião. Por serem gêmeos, são associados ao principio da dualidade, da contradição, os pontos que caminham juntos. Ibeji mostra que todas as coisas, em todas as circunstâncias, têm dois lados e que a justiça só pode ser feita se as duas medidas forem pesadas, se os dois lados forem ouvidos. São ligados a tudo que se inicia: a nascente de um rio, o nascimento dos seres humanos, o germinar das plantas, etc.



    
    Já os Erês; são a falange de espíritos que são regidos pelo Orixá Ibeji. Esta falange se manifesta com o arquétipo infantil, a fim de dar consultas e realizar os trabalhos que forem necessários. A palavra Erê vem do Ioruba iré, que significa “brincadeira, divertimento”, seu significado está associado a forma de trabalho da Ibejada. Erês considerados protetores das crianças e também dos animais. Assim como todas as entidades que se manifestam nos terreiros, Os Erês são seres de Luz que praticam o Amor e a Caridade. Eles brincam, pulam, cantam, dançam, choram, correm, e não fazem isso sem motivo... De forma pura e divertida eles fazem um trabalho sério, auxiliando a quem precisa, retirando amarguras que nos mesmos nutrimos, aliviam magoas e bloqueios íntimos, retiram angustias, tristezas e pensamentos negativos, e assim despertam a alegria e a doçura que existe em cada um de nós, trazendo a tona à criança interior, que às vezes, na correria do dia-a-dia escondemos de nós mesmos. Eles se manifestam para lembrar-nos que sempre há o que aprender e o que melhorar.
   
    Seu dia de comemoração é 27 de setembro (dia de Cosme e Damião), as bebidas utilizadas são: sucos, e em alguns lugares refrigerante e/ou água com mel. Suas comidas são: Caruru, bolos, doces, balas, pirulitos e frutas. Tem como ponto de força: Jardins, praias, cachoeiras e as matas. Sua saudação é: OniBejada

     Quando pensarem nas crianças, fechem seus olhos e tentem lembrar-se de um dia feliz na sua infância, de uma travessura com seus irmãos e/ou amigos, a alegria desse momento te fará sentir um pouco da energia desses seres de luz. Não esqueçam que por trás do arquétipo de criança existe uma entidade de sabedoria infinita, capas de curar e alegrar os corações mais aflitos. Por isso, aproveitem este momento para desfrutar da pureza das crianças.


Jéssica de Oxalá


sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Logunan

 Logunan

    O culto a Logunan na Umbanda surgiu com a revelação das sete linhas de umbanda sagrada dada a Rubens Saraceni através de seus guias. Para polarizar na linha da fé com Oxalá, um guia de Rubens teria dito que existia um Orixá que se encaixava perfeitamente nessa função, mas que era muito desconhecido e pouco cultuado. Tomando conhecimento disso os fundadores da umbanda sagrada aceitaram a revelação de Logunan e a partir de então esse Orixá ficou conhecido como o orixá absorvedor feminino do trono da fé.  

    Logunan atua na linha da fé com Oxalá, ela é o próprio espaço-tempo onde tudo se manifesta, é uma força atemporal, é em si o próprio tempo, não estando sujeita a ele e sim o regendo. Logunam é considerada na Umbanda como o Orixá que rege o tempo e o espaço, por isso foi inicialmente apresentada como Oyá Tempo. Esse nome foi modificado depois devido a ter causado confusão com outros dois Orixás, sendo eles Iansã (que também é conhecida como Oyá) e Tempo ou Iroko (Orixá masculino cultuado no candomblé). 

    Logunan e Oxalá representam a polaridade do campo religioso. Oxalá é o deus responsável pela irradiação da fé para todos os seres, a todo momento. Assim como o sol irradia sua luz e calor para o mundo, Oxalá emana uma força religiosa que anima tudo que toca. Ele é como se fosse um pai amoroso, capaz de fortalecer o íntimo das pessoas com a sua fé. A força contagiante de Oxalá precisa de uma presença ativa que a absorva e a controle, impedindo que as pessoas se desviem para o fanatismo e para o descontrole emocional. É nesse momento que Logunan aparece como uma força neutra, atuando sobre o ser para equilibrar a sua relação com a fé. Ela encarna o rigor necessário para que as pessoas não se desvirtuem em sua jornada religiosa, de forma a absorver os excessos do campo da fé.

    Sendo Logunan o espaço tempo, ela é quem rege o sincronismo do universo. Desta forma, rege o passado, o presente e o futuro, sendo fundamental pra a manifestação de tudo na nossa dimensão. Logunan controla esse campo, no qual ela isola no infinito cósmico os espíritos que atacam a fé e religiosidade, para que todos possam manter através da crença no divino a esperança e o sustento para a realização dos objetivos da vida. Portanto, quando buscamos pelo equilíbrio da fé, pedimos o auxílio de Logunan juntamente com o pai Oxalá, porque assim encontraremos a harmonia perfeita desta energia e seremos capazes de evoluirmos espiritualmente para entendermos a passagem da vida e os mistérios da fé.

    Dentre todos os Orixás, é graças a Logunan que podemos existir, pois ela quem deu movimento ao processo de passagem de período, antes de sua atuação tudo era estático e não possuía uma sequência de fatos onde se pudesse construir ou evoluir. Assim sendo, Oyá fez o tempo se mover, o mundo girar e soprou o caminho da continuidade e da existência de tudo. O Tempo é a chave do mistério da fé regido por Logunan e Oxalá, porque é na eternidade do tempo e na infinitude de Deus que todas as evoluções acontecem.

MITO DE LOGUNAN E A CRIAÇÃO DO TEMPO

    Olorum criou o mundo e percebeu que as coisas não aconteciam, permaneciam inalteráveis e estáticas, como se a vida não existisse. Portanto, tudo tinha a visão de uma grande tela de pintura, onde se encontrava tudo que era belo, rico em detalhes, mas não havia a magia do existir. Assim, nada era divido no conceito de passado, presente e futuro e simplesmente nada acontecia, nada alterava nem evoluía. Foi então que Olorum decidiu criar Logunan para que ela pudesse aplicar com a sua energia o movimento para todas as coisas, com esse Orixá finalmente surgiu o tempo e a existência enfim se manifestou, onde através do passado alimentamos o presente e projetamos o futuro de forma que tudo gire em sincronia na roda da vida.

CARACTERÍSTICAS DOS FILHOS DE LOGUNAN 

    Os filhos e filhas de LogunaN são introspectivos e até um pouco tímidos. São simpáticos, discretos, silenciosos, amigos e conselheiros, emotivos (mas guardam suas emoções para eles), lutadores e muito sinceros. Podem ser retraídos, ciumentos, possessivos, evasivos, descrentes e desconfiados. Apreciam as coisas religiosas, o estudo, um pouco de isolamento, conversas construtivas, a companhia de pessoas discretas, maduras, reservadas e amorosas. Apesar da falta de jeito para se relacionarem e de seu ar discreto, eles são pessoas muito educadas, capazes de surpreenderem com seus conselhos pois são muito observadores e intuitivos. Entretanto, costumam sofrer em silêncio, não gostam de entristecer ou preocupar os outros com seus problemas, mas encontram em seu refúgio forças para esclarecimentos e enfrentam as situações como ninguém, o que faz deles grandes vencedores na vida. 

    Os filhos de Logunan são sábios e religiosos, facilmente você os reconhece como pessoas maduras e amorosas, capazes de amenizar as dores espirituais mais profundas. Nunca ofenda um filho de Logunan, o tempo não apaga de sua memória o que o fez sofrer e isso ficará ressentido e guardado por toda sua vida. 

    A data de comemoração de Logunan é 11 de agosto, seu dia da semana são todos os dias, pois todos eles pertencem ao tempo. Suas cores são o Azul escuro, o preto e o branco. A oferenda de Logunan na nossa doutrina é feita com velas brancas, pratas ou azul bem escuro; uvas verdes, coco verde, flores brancas e vinho branco. É despachada em um campo aberto, assim que o sol nasce pois Logunan é representada também pelo orvalho da manhã. Seu sincretismo é com a Santa Clara, que detentora de uma imensa religiosidade, enfrentou a todos que a impediam de exercer a caridade e pregar a fé. 

    A saudação de Logunan é: Olha o tempo! A espiral é o símbolo de Logunan. Devido ao seu magnetismo ativo sobre a fé de todos os seres, Logunan emite uma onda espiral capaz de esgotar e controlar a intensidade espiritual dos seres emocionados, fanáticos ou desequilibrados. Seu metal é o estanho, um metal de cor prateada extremamente brilhante, utilizado na conservação de alimentos enlatados. Sua magia está associada ao equilíbrio e à cura, devido à sua natureza maleável, que o permite ser incorporado com outros metais, compensando seus defeitos. Seu cristal é o quartzo fumê ou esfumaçado, este cristal possui uma variação de cores entre o castanho e o preto, e seu nome é derivado da crença de que existia fumaça em seu interior. O quartzo fumê cumpre com importantes funções ligadas à proteção, abertura de caminhos e concretização de objetivos. 

    Suas ervas são o eucalipto, alecrim e anis estrelado. O uso do eucalipto em banhos, defumações ou limpezas pode trazer proteção, bênçãos e positividade. O alecrim, por sua vez, é uma erva que pode ser utilizada em chás, banhos e pratos para trazer purificação, banimento e prosperidade. Já o anis estrelado é uma especiaria que pode servir para estimular nossa intuição, criatividade e nos proteger de energias negativas. Como se nota, todas as três ervas associadas à orixá Logunan atuam em nossa vida para nos livrar do mau agouro e nos proporcionar a cura.

    A saudação de Logunan é "Olha o tempo, minha mãe!", tal saudação pede que você aponte o dedo indicador de uma das mãos para o alto, fazendo movimentos circulares, como se estivesse mostrando o tempo.

ORAÇÃO

 "Amada e divina mãe Logunan! Aceite o despertar consciente de nossa religiosidade e de nossa fé no divino criador Olorum e beneficie-nos com vossa ação positiva e ordenadora, atuando em nossas mentes, ideias, criações e religiosidade. Livre-nos, ó mãe de fanatismos e excessos emocionais, ordenando e direcionando positivamente nossa religiosidade, para que jamais desvirtuemos nossa fé. Pedimos que nos receba em vosso amor e nos ampare em todos os sentidos, durante esta nossa jornada evolucionista no plano material, e que nos livre das tentações, cobrindo-nos com vosso véu cristalino da fé em Olorum conduzindo-nos pelo caminho reto, que leva todos os vossos filhos na direção da luz de nosso pai eterno. Mãe benevolente que nos auxilia em nossa caminhada, para obtermos o nosso progresso, tende piedade de vossos filhos que estão iludidos e desconhecem a verdadeira fé. Tende piedade daqueles que se deixam abater em cada provação pela qual tem de passar. Mãe Logunan que vossa luz ilumine a nossa umbanda, nos abençoando e nos trazendo fé, humildade e união, para que possamos trabalhar em prol da caridade e assim sermos merecedores do vosso amparo. Nós filhos de umbanda, pedimos a vós que clareie a nossa fé, fortalecendo-a para que não nos enganemos com falsas verdades. Pedimos o vosso perdão, mãe Logunan, se falharmos em nossa missão deixando o egoísmo e a vaidade tomar conta de nós, esquecendo o nosso próximo e nosso bondoso Deus supremo. Traga-nos, mãe Logunan, a vossa benção para termos segurança e coragem para seguirmos sem desistir, quando os momentos se tornarem difíceis. Que passamos continuar nossa luta sem perder a fé e sermos conduzidos pela vossa luz que nos levará ao encontro de deus. Apresentamo-nos a vós e solicitamos vosso amparo e vossa guia luminosa para nos conduzir tanto nos campos luminosos quanto nos campos escuros, sempre iluminados por nossa luz cristalina e amparados por nossa fé no nosso divino criador. Proteja-nos com vossa luz e com vossa força mágica, dando-nos o amparo necessário para cessar as atuações de forças malignas sobre nós. Alimente nossa alma, mãe divina, com vossa energia e irradiação de fé, nutrindo-nos com vibrações de religiosidade, para que trilhemos os caminhos retos do amor, da justiça divina e da fé, para acelerarmos nossa evolução. Salve amada mãe Logunan que nos traz o tempo da fé! Olha o tempo minha mãe."

Layla de Omolu.


terça-feira, 1 de agosto de 2023

Congá e Tronqueira

Congá e Tronqueira

    O texto de hoje aborda dois pontos de força de grande importância para qualquer terreiro, sendo eles o congá e a tronqueira.

    O congá é o altar dentro do terreiro de umbanda, é o maior ponto de força, de firmeza dentro do terreiro, responsável pela recepção e irradiação de energia. Nele estão presentes as imagens de Orixás e de guias de umbanda, como caboclo, preto velho, malandro, possui também velas e pode ter flores e outros objetos conforme a necessidade e o fundamento daquele terreiro. Todo o trabalho gira em torno dele, então não se deve colocar elementos sem propósito em um congá, tudo deve ter um porquê. Alguns terreiros têm no seu congá imagens de santos católicos, geralmente esses terreiros utilizam o sincretismo e tem forte influência do catolicismo. Nenhum congá vai ser igual porque geralmente eles tem influência direta da coroa do pai ou mãe de santo (de quais Orixás que regem a coroa do pai ou mãe de santo) e do fundamento daquele terreiro .

    Todos os objetos presentes em um congá são consagrados e imantados de energia positiva, vindas dos Orixás e dos guias que aquelas imagens representam. Como eu disse, o congá é um dos maiores pontos de força dentro de um terreiro, é ele que recebe a energia que vem do alto, de  Deus, e é ele que emana essa energia para todo o restante do terreiro, pra que essa energia possa ser utilizada pelos guias, médiuns e pelos consulentes durante os trabalhos da cerimônia. Além de emanar a energia, o congá também vai atrair para si os pensamentos que pairam no ambiente, vai reduzir os miasmas e cargas negativas e condensar essa energia. É importante sabermos que um congá é diferente de um altar, como o que temos em casa. O congá tem firmezas e assentamentos, o que faz com que ele receba e movimente energias muito maiores do que um altar comum.

    A tronqueira é outro ponto de força muito importante dentro do terreiro. É nela que está firmada e assentada a força dos Orixás da esquerda e de seus falangeiros, que são os guias que trabalham dentro do terreiro. É na tronqueira que são feitas as firmezas e oferendas para os Exus, Pombogiras, Exus mirins e Pombogiras mirins. Geralmente ela fica de frente pro congá e a função da tronqueira dentro do terreiro é de receber toda a energia negativa e a energia que utilizada durante os trabalhos, transformar essa energia e devolvê-la para a espiritualidade. Funciona como se fosse um filtro, filtrando e parando as sujeiras, digamos assim.

    A Tronqueira exerce diversas funções dentro de um terreiro, mas tem como principal objetivo a proteção do espaço e das pessoas que nele estão. Ela é um ponto de força firmado no terreiro, ou seja, toda essa energia que emana dela é usada para os trabalhos dos guias da esquerda, que utilizam para os trabalhos de limpeza e proteção da casa e das pessoas. Essa energia tem também como finalidade ser a fonte que alimenta um campo de força energético no mundo espiritual, numa vasta área em torno do terreiro. 

    Sendo  a energia que os Exus e Pombagiras manipulam mais densa, a tronqueira também é utilizada como uma espécie de para-raios, evitando que energias negativas entrem na casa para prejudicar o andamento dos trabalhos. Nesta mesma função a tronqueira serve como uma área de retenção, criando um portal para que sejam levados à espiritualidade alguns dos espíritos negativos que possam estar acompanhando os consulentes até o terreiro, e até mesmo algum destes seres que foram capturados durante os ataques espirituais que a casa sofre perante os trabalhos. Esses espíritos ficam retidos durante os trabalhos e depois serão socorridos, esclarecidos e encaminhados pela espiritualidade. Por este e outros motivos, o espaço da tronqueira é sagrado, permanece trancado, sendo permitido a entrada apenas de pessoas autorizadas.

    Há uma história Nagô que conta sobre a origem da tronqueira, da seguinte forma:
Havia um grande comerciante de bom caráter que muito ajudava a comunidade. Ele era justo e até doava quiabo e inhame aos que não tinham dinheiro para pagar. Por seu sucesso, era invejado por muitos dos seus pares, que rogavam à Morte e à Doença que batessem em sua porta. Ao saber disso, o comerciante consultou um Babalaô e o Oráculo de Orunmilá, ele queria saber o que fazer para afastar um possível mal à sua integridade física. O Senhor do Destino, aquele que tudo viu e vê, confirmou que ele seria atacado pela doença e pela morte, que seus inimigos estariam, pela inveja e mau olhar, liberando os Ajoguns, forças espirituais destrutivas, que bateriam à sua porta. Para manter-se equilibrado e protegido contra estas forças, ele deveria realizar uma determinada reza com uma oferenda para Exu, na entrada de frente da sua casa e outra também na entrada dos fundos, que deveriam ser renovadas periodicamente. Assim o fez, conforme orientado pelo Babalaô. Passados alguns dias, a doença foi à casa do comerciante e, ao chegar na porta de entrada, deparou-se com Exu. A doença disse: “Me dê licença Exu, pois quero entrar”. Exu, que havia sido invocado e recebido as oferendas do comerciante, disse à doença que não permitiria a sua entrada; ela que desse meia volta e seguisse o seu caminho. A doença, no entanto, não se deu por contente e se une a morte e tentam entrar pela porta dos fundos. Mas lá também estava Exu, que não deixou ambos entrarem, dizendo-lhes que o destino do comerciante não previa ele voltar para Orun naquele momento e que ele teria vida longa e próspera, isso se mantivesse o seu caráter intacto como vinha fazendo. Desde este dia, Exu está na tronqueira (porteira) dos Terreiros, evitando que coisas negativas entrem.

    Sendo assim, o congá e a tronqueira trabalham juntos, gerando o equilíbrio e segurança dentro do terreiro, para que os trabalhos ocorram da melhor maneira possível. Espero que esse texto tenha sanado suas dúvidas e agregado conhecimento para você, axé!

 Layla de Omolu.

 

quarta-feira, 12 de julho de 2023

Ego, vaidade e espiritualidade

 Ego, vaidade e espiritualidade

A busca pelo equilíbrio entre ego, vaidade e espiritualidade é uma jornada complexa e desafiadora. O ego representa nossa identidade individual, o senso de eu, muitas vezes guiado por desejos e necessidades pessoais. A vaidade, por sua vez, é o apego excessivo à imagem e à aparência externa, buscando validação e reconhecimento externo. Já a espiritualidade refere-se à conexão com algo maior do que nós mesmos, à busca de significado e propósito na vida.

Quando o ego domina, a vaidade pode se manifestar como um desejo insaciável de poder, riqueza e status, levando à competição, arrogância e até mesmo à exploração dos outros. Por outro lado, a espiritualidade nos convida a transcender o ego e a vaidade, direcionando nosso foco para valores mais elevados, como compaixão, gratidão e serviço aos outros.

Ao cultivarmos uma prática espiritual, aprendemos a deixar de lado a necessidade de validação externa e a encontrar a verdadeira satisfação interna. A espiritualidade nos lembra que somos parte de um todo interconectado, e que a busca por felicidade e plenitude não deve ser baseada em conquistas materiais ou aparências superficiais.

É importante reconhecer e trabalhar nossas tendências egoístas e vaidosas, buscando um equilíbrio saudável. A espiritualidade nos ajuda a desenvolver a humildade, a aceitação e a compreensão, permitindo que nos libertemos das amarras do ego e da vaidade. Ao nutrir nossa conexão com algo maior, encontramos uma verdadeira paz interior e uma maior realização pessoal. 

Portanto, é essencial buscar uma jornada espiritual que nos ajude a transcender as limitações do ego e a vaidade, permitindo-nos viver de forma mais autêntica e significativa. Nesse caminho, encontramos um senso de propósito mais profundo e nos tornamos mais conscientes do impacto que nossas ações têm sobre nós mesmos e sobre o mundo ao nosso redor.

 Pai Igor de Oxum .’.

segunda-feira, 10 de julho de 2023

Pretos Velhos

Pretos Velhos

    A Umbanda assim como outras religiões praticam o culto aos seus ancestrais, porém na Umbanda o culto é mais nítido, pois se cultua os ancestrais daquele País. Esse culto é dividido em linhas de trabalho, como por exemplo, caboclos, pretos velhos, marinheiros, boiadeiros, baianos, ciganos entre outras. Cada uma dessas linhas vem nos trazer valores baseado na maioria das vezes em um arquétipo. Valores esses que precisam ser trabalhados para que consigamos uma ascensão na nossa evolução espiritual.

    Neste texto trataremos sobre os Pretos Velhos e para entender nossa ancestralidade é preciso conhecer a história, assim será mais fácil compreender o trabalho dessas entidades. Abordaremos alguns marcos históricos que foram importantes na formação da nossa sociedade e também do próprio arquétipo.

    Iniciaremos abordando a escravidão, que ao contrário do que muitos pensam, não ocorreu apenas com os negros africanos. A escravidão é uma das praticas mais antigas da humanidade, praticada desde os tempos do Egito Antigo. A escravidão na Africa começou com a exploração da mão de obra para trabalhos domésticos, obtinham essa mão de obra principalmente através de guerras, era comum conflitos entre os vilarejos, quando um vilarejo era vencido na guerra parte de sua população era escravizada. Com o passar do tempo essa prática se tornou uma fonte de renda para muitos africanos, fomentada pelas relações comerciais entre os europeus e os africanos que se estabeleceram com o período das grandes navegações.

    É importante salientar que essas relações comerciais incentivaram ainda mais as lutas internas no continente africano, pois alguns povos que detinham maior poder militar subjugavam outros povos a fim de revendê-los como escravos.

    Em decorrência das grandes navegações os portugueses chegaram ao território brasileiro, onde encontraram a população nativa, os índios. Com o inicio da colonização iniciou-se a escravidão no Brasil, pois os portugueses precisavam de grande mão de obra principalmente para o trabalho na lavoura. 

    A escravização foi primeiro praticada com os índios, porém estava se mostrando muito conturbada para os portugueses, pois o Índio tinha dificuldade em fazer trabalhos contínuos, além de que na cultura indígena o serviço de lavoura era caracterizado como serviço para as mulheres. Outro fator que dificultava muito a exploração dos Índios era quanto ao seu conhecimento das matas, isso facilitava muito as fugas. Além de que a população indígena foi diminuindo drasticamente, pois os Índios não estavam adaptados às doenças trazidas pelos portugueses, os jesuítas também exerceram grade pressão para que cessasse a escravidão dos índios, pois queriam catequiza lós, mas isso não garantiria a eles liberdade nem direitos.

    Diante de todas as conturbações os colonizadores resolveram trazer escravos africanos para cá, é importante mencionar que os portugueses já exploravam a mão de obra dos escravos africanos na Europa. Teve início assim o tráfico negreiro, que por séculos desembarcou milhões de negros em território brasileiro para que fossem explorados como escravos.

    Como mencionado anteriormente, os conflitos eram intensos entre as tribos lá na África, isso não acabava quando desembarcavam no Brasil. Inclusive era uma preferência dos donos de escravos que eles fossem de tribos diferentes, para dificultar a comunicação entre os escravos dificultando assim uma rebelião e também era mais fácil um negro delatar o outro sobre sua pretensão de fuga.

    A escravidão foi um período muito difícil tanto para os negros quanto para os índios, em dado momento os negros e os índios se uniram, pois compartilhavam das mesmas aflições.

    Com o passar do tempo os líderes dos escravos notaram o que poderia unir os negros seria a prática de suas religiões, através do culto aos Orixás, pois a maioria vinha dessa prática. Como é sabido esse tipo de prática era proibida e para que fosse feita tinham que se realizar durante a noite enquanto seus senhores dormiam, era aí que o negro contava com a ajuda dos donos da terra, os Índios, para sair mata a dentro em busca de cultuar seus orixás através das forças da natureza.

    No decorrer dos anos foram surgindo vários movimentos abolicionistas, colocando pressão para que a escravidão acabasse, o processo foi muito lento, iniciando com a Lei do Ventre Livre, seguida pela Lei do Sexagenário, até quem em 1888, no dia 13 de maio a abolição da escravidão ocorreu no Brasil, através da Lei Áurea. Para muitos era uma grande conquista, mas estava longe de ser uma grande vitória, pois a lei não veio acompanhada de medidas para inserir a população negra na sociedade, estima-se que com a abolição através da Lei Áurea mais de 700 mil escravos foram libertados. Essa parcela da população continuou sendo marginalizada, não tendo acesso a terras, a educação e nem a oportunidades dignas.

    Diante do novo cenário o negro ficou a própria sorte, tendo que buscar todo e qualquer meio para manter sua sobrevivência, era muito comum á época realizarem trabalhos espirituais em troca de dinheiro ou mesmo de alimento. Eram conhecedores das magias e de plantas, podendo elas serem usadas tanto para o bem quanto para o mal.

    A manifestação de espíritos que se apresentava como negros e índios já ocorria em outros cultos, e que também começou a ocorrer nas sessões kardecistas.    

    Em meados da metade do século XIX o espiritismo vem chegando no Brasil, trazido pelos membros da alta sociedade brasileira que em visitas à Europa conheciam o espiritismo e começaram a trazê-lo e difundi-lo em nosso país. As sessões eram direcionadas para os membros da Corte Brasileira, os burgueses e os escravocratas, eram eles quem financiavam os materiais espíritas. É importante esclarecer que nessa época a escravidão continuava a ser explorada.  Era óbvio pelo contexto vivido no momento que esses membros da alta sociedade não aceitariam receber espíritos que se apresentavam como sendo negro ou Índio, afinal para eles essas pessoas não tinham qualquer conhecimento ou estima para trazer mensagens, além de que para a doutrina que seguiam esses espíritos eram considerados atrasados em grau evolutivo.

    Quebrando paradigmas, a anunciação da Umbanda ocorreu na Federação Espírita de Niterói, no Rio de Janeiro, onde através do Médium Zélio Fernandino de Morais um Caboclo (Caboclo das Sete Encruzilhadas) se manifestou anunciando uma religião em que todos seriam tratados iguais, seja encarnado ou desencarnado. Onde ao contrário do espiritismo seria bem vindas as mensagens trazidas pelo amigos de luz que se apresentavam como Índios ou Negros.

 

    No dia 16 de novembro de 1908, pouco mais de 20 anos após a abolição da escravidão houve a primeira manifestação de um preto velho na Umbanda, através do médium Zélio, Pai Antônio se manifestou, dessa manifestação surgiu o primeiro ponto cantado, decorrente de uma pergunta feita a Pai Antônio sobre o que ele sentia saudade do tempo em que aqui estava encarnado, ele respondeu que sentia saudade de seu cachimbo que havia ficado no toco. Além do ponto cantado surgiu o uso de instrumentos na Umbanda, essa entidade também foi quem pediu a primeira guia, que até hoje é utilizada por nós umbandistas.

    Diante de tudo que até aqui foi falado, passaremos agora a falar sobre o trabalho dos Pretos Velhos na Umbanda, compreendendo a importância de entender todo o contexto histórico para a compreensão do quão importante foi a figura dos negros na formação do nosso país, da nossa cultura e do próprio arquétipo que os Pretos Velhos trazem.

    Muitos Pretos Velhos podem se apresentar como Tio, Tia, Pai, Mãe, Vô ou Vó. Com base no sofrimento, na dor da época da escravidão  eles vem nos trazer a sabedoria, perseverança, humildade e paciência. Virtudes essas muito difíceis de serem praticadas na atualidade. 

    Muitos subestimam a força de um preto velho tendo como base seu arquétipo, fala mansa, falam com todo o jeitinho, mas não se deve esquecer que são seres de grande conhecimento. Trazem consigo o conhecimento de magias divinas e a manipulação de ervas, muitos falam que Preto Velho é mandingueiro, exatamente por conhecerem as magias, trazidas de seus berços ancestrais.

    A manifestação dos Pretos Velhos através do seu arquétipo já nos mostra o que eles vem nos transmitir, sentados em seus banquinhos ou tocos trazem a humildade, curvados como anciãos, trazem sua sabedoria adquirida de suas vivência, através da representação dos negros que aqui tanto foram exploradas,  trazem a sua perseverança, a paciência e acima de tudo a fé. E não há exemplo maior de fé que a dessas entidades, mesmo tendo sofrido tanto nesse país, muitos desencarnados pelo açoite dos chicotes e hoje vem nesse mesmo lugar trazer sua sabedoria e amor.

    Os Pretos Velhos trabalham na linha da evolução, da transformação, são regidos pelo orixá Obaluaê. Seu dia de comemoração é o dia 13 de maio, dia em que foi abolida a escravidão no Brasil. Seu dia da semana é a segunda-feira. Tem como cor o preto e  branco. Seu ponto de força é o Cruzeiro das Almas. A saudação é Adorei as Almas!
Utilizam como elementos o cachimbo, que foi o primeiro elemento trazido para a Umbanda, como já mencionado acima, o cigarro de palha, os terços, rosários, as ervas, o café, entre outros.

    Esses são os Pretos Velhos, que com um simples estalar de dedos, uma batida de bengala no chão, o sopro de seu cachimbo tem o poder de dissipar energias negativas, afastar espíritos com baixa vibração de perto de seu consulente.

 

“Salve a força de todos os Pretos velhos de Angola, do Congo, dos Reinos de Aruanda e de todo território Africano”.

Adorei as almas!

Júllia de Iansã.


segunda-feira, 27 de março de 2023

Construa um futuro melhor deixando o passado para trás

Construa um futuro melhor deixando o passado para trás

    Deixar o passado para trás pode ser uma maneira de começar uma nova vida. Todos nós temos feridas abertas, sofrimentos, mágoas e receios do passado. Cada vez que voltamos a essas lembranças, nos sentimos mal, culpados, ansiosos e tristes. Pensamos que poderíamos ter feito algo diferente, mas a verdade é que o passado já se foi e não há como repará-lo. Tentar mudá-lo é cometer o mesmo erro de maneira diferente.

    Então, qual é a importância do passado? Ele serve para aprendizado e progresso humano. Por exemplo, se você tenta apagar uma vela com as mãos e se queima, essa experiência serve como aprendizado de que não é uma escolha inteligente. Contudo, muitas pessoas ficam presas nessa lembrança, focando apenas na dor e não na lição aprendida.

    Para evoluir, precisamos avaliar nossas escolhas no passado e aprender com elas. Aceitar, perdoar e nos libertar do passado é uma forma de dar uma chance a nós mesmos. Não devemos viver em abismos de culpa e sofrimento, mas sim seguir em frente. É importante compreender que a mudança começa em nós mesmos. Não podemos mudar o passado, mas podemos escolher um futuro diferente. Acredite que você é merecedor dessa mudança e dê a si mesmo essa oportunidade.

Pai Pequeno Kah de Oxóssi.

terça-feira, 21 de março de 2023

A diferença entre entidades e espíritos encarnados

 A diferença entre entidades e espíritos encarnados

    As Entidades sabem de tudo?

  Não são raras as vezes em que, durante uma consulta com uma entidade, ficamos impressionados com suas revelações. Muitas vezes são ditas verdades que nem a própria pessoa havia percebido antes de ter sido dito, outras tantas vezes são reveladas coisas que somente a própria pessoa sabia. As entidades fazem isso não para demonstrar poder ou impressionar, na verdade, isso é necessário em vários momentos, tais como quando a pessoa precisa compreender a raiz de um problema para poder transformar sua realidade, mas está em processo de negação que ela foi a causadora da situação da qual se encontra.

   Apesar de os guias não terem a intenção de impressionar, na prática isso ocorre muito, sendo então comum ver novos médiuns e novos consulentes (visitantes) idolatrando entidades, acreditando que elas tudo sabem e que falam e fazem acontecer. Acreditam que qualquer entidade está em um grau muito superior de evolução espiritual do que qualquer encarnado. Já outros iniciantes são como São Tomé e querem ver para crer, fazem perguntas difíceis e tentam induzir o médium/guia ao erro, para tentar provar que a incorporação é ou não real. O objetivo desse breve texto é fazer uma reflexão sobre isso e desmistificar essas meias verdades.

    Para iniciar nossa reflexão podemos afirmar que não é verdade que as entidades sabem de tudo. As entidades nada mais são do que espíritos como nós que também estão em processo evolutivo. Qual seria a lógica de tudo saberem? A partir desse questionamento o leitor pode se perguntar, mas se o guia não sabe tudo, como esse guia poderá ajudá-lo? Para compreender isso podemos fazer uma analogia que se encaixará como uma luva: quando um adulto supervisiona uma criança (ou adolescente) para não fazer algo porque é perigoso ou porque pode lhe causar males físicos, financeiros emocionais ou biológicos, não quer dizer que o adulto tem um espírito mais capacitado ou que quando fora criança nunca fez tais coisas que hoje aconselha não fazer. Pelo contrário, aquele adulto que sofreu, por exemplo, com males como diversos vícios e viu o quanto aquilo o prejudicou fará a melhor propaganda contraria a tais vícios, não importando quais vícios ou más escolhas sejam (drogas, sexo, jogos de azar, abandono dos estudos etc.). A analogia é muito boa, porque nem a vida da criança, nem do adulto e nem mesmo a do espírito tem menos desafios. Cada um encontra uma dificuldade diferente que muitas vezes é difícil para o outro entender se ele não lembra de ter passado por essas experiências. O adulto apesar de não ser necessariamente “mais evoluído” que a criança, já passou por muitos dos desafios que a criança passa e já aprendeu muito com experiências próprias e de terceiros. Da mesma forma, um espírito desencarnado, consegue observar a situação sem as amarras da matéria, focado no verdadeiro propósito da vida, sem as tentações da carne, dos bens e do dinheiro. Além disso, o espírito desencarnado pode usar de suas experiências vividas para encontrar solução para um problema similar ao que já passou. E por fim, ele não está preso ao tempo, o que facilita na visualização de possíveis resultados das ações atuais.

    Voltando as questões iniciais, o leitor pode também se questionar, se o guia não sabe tudo, como é que em algumas consultas se diz o que somente o consulente sabe ou que nem mesmo ele havia percebido? Quanto a esses acontecimentos devemos lembrar que temos nossos guias espirituais que nos acompanham em nossa jornada terrena, esses sim o conhecem profundamente e intimamente. Podemos tirar ai uma possível causa das revelações desse tipo, isso acontece quando é permitido que nossos guias espirituais revelem aquela determinada informação para o nosso bem e aprimoramento.

    Quanto aos visitantes que vem ao terreiro para testar a entidade, o que podemos dizer é que cada um encontra o que busca. A entidade não vem ao terreiro para se provar ou ser admirada, vem, sim, para executar seu trabalho de amor e caridade. Como as entidades não sabem tudo, buscar informações não reveladas pelo consulente podem demandar um grande esforço energético, que não está nos planos desses espíritos fazer para se provarem (algumas vezes essas provações acontecem, mas porque o consulente precisa daquela lição e não porque o espírito quer se provar). Se o visitante quer duvidar, que duvide. Os guias não pedem a aprovação de ninguém, deixam que duvidem ou falem mal, enquanto isso eles gastam suas energias de forma útil buscando informações e gerando oportunidade para quem precisa e merece.

    Gosto de lembrar que não existem verdades absolutas, essas são apenas reflexões que me vieram e pareceram úteis, que cada um se sinta a vontade para comentar, discordar e enriquecer nossa discussão.

Axé! 

Ricardo de Ogum Matinata

quinta-feira, 9 de março de 2023

O poder das ervas

 O poder das ervas

    A Umbanda tem fundamento, assim como todos seus rituais, não podendo ser caracterizados como segredos, mas sim mistérios. Há explicações fundamentadas nessa religião, não possuindo diferença os rituais que lidam com a Natureza, em sua especificidade, dos rituais com ervas, amplamente utilizado na Umbanda.

    Ampliando o olhar para a grandeza da Umbanda, da Mãe Natureza e seus infinitos mistérios, podemos exemplificar que a magia vivenciada em uma incorporação também se encontra presente em uma defumação ou banho de ervas, de uma maneira diferente é claro, igualando-se o clamor ao Divino e a evocação dos espíritos de luz. 

    Assim como em uma simples oração, na Umbanda e no trato com as ervas faz-se necessário a ativação, podendo ser explicada como um “depositar de crença ou fé” naquilo que se está fazendo, pedindo auxílio aos seres de luz, licença aos orixás e a graça do Pai Maior para que a energia ali existente seja transmutada àquilo que se pretende, em todas as situações, aquele que guia o trabalho é um instrumento da graça de Deus, podendo evocar as forças da Natureza, de Olorum e todos os orixás, ativando as forças ali existentes e direcionando ao objetivo, sendo o ativador da magia que ocorrerá através das ervas, do poder energético e da fé. 

    Todo ser é ritualístico, segue um ritual ao acordar ou para dormir, seja escovar dentes e tomar café ou tomar banho, trocar de roupa e dormir, a ordem dos fatos e o costume torna essa ordem de ações um ritual. Havendo pois também um ritual ao pedir licença a Mãe Natureza, retirar a erva do pé, lavá-la e prepará-la para o que será feito, ou seja, a ordem de ações para se preparar o chá, banho ou defumação.

    Em síntese, a magia com as ervas se dá na ativação delas durante o ritual, através da intervenção de diversas forças da natureza e do nosso Pai Maior, devendo o ativador, instrumento da força divina neste momento, especificar ao clamar auxílio e ao ativar as ervas o objetivo do ritual, bem como solicitar que beneficie a si mesmo e aos demais, embasando-se sempre no amor e na caridade, fundamentos da Umbanda. Tornando então um simples banho, defumação ou até mesmo um chá em um poderoso remédio astral, eliminando energias, protegendo e até mesmo curando a si mesmo e a demais pessoas. 

    Através do ritual de ativação, há o depósito de fé e energia, bem como ajuda dos seres de luz, sendo factível e tangível aos simples humanos, quaisquer sejam eles, desde que credores no que fazem, a realização de grandes objetivos através das ervas, que é um dos presentes do Pai Maior, assim como a oração, para transformação de egrégoras, energias e auras, cujo poder ainda é muito desconhecido pela maioria das pessoas.  

    Como disse o Caboclo Guajajara: “Se as pessoas soubessem o poder que uma oração tem, rezariam mil vezes mais ”, ensinamento válido também às santas ervas, cabendo a nós aprendermos a lidar através do bom senso e do conhecimento, para posteriormente ativar, aliados a fé e a ajuda da Mãe Natureza e do Pai Maior,  o poder das ervas em nosso favor e daqueles que precisam de auxílio. 

    Posto isso, que estudemos as ervas para conhecê-las e obtermos o bom senso do ritual de ativação, clamando às forças divinas, transformando então “simples” ervas, de várias formas utilizadas, em fortes magias em prol do amor e da caridade, lembrando-nos sempre de que : “Quem tem fé tem tudo, que não tem fé não tem nada..”

Mylene de Xangô.