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sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Logunan

 Logunan

    O culto a Logunan na Umbanda surgiu com a revelação das sete linhas de umbanda sagrada dada a Rubens Saraceni através de seus guias. Para polarizar na linha da fé com Oxalá, um guia de Rubens teria dito que existia um Orixá que se encaixava perfeitamente nessa função, mas que era muito desconhecido e pouco cultuado. Tomando conhecimento disso os fundadores da umbanda sagrada aceitaram a revelação de Logunan e a partir de então esse Orixá ficou conhecido como o orixá absorvedor feminino do trono da fé.  

    Logunan atua na linha da fé com Oxalá, ela é o próprio espaço-tempo onde tudo se manifesta, é uma força atemporal, é em si o próprio tempo, não estando sujeita a ele e sim o regendo. Logunam é considerada na Umbanda como o Orixá que rege o tempo e o espaço, por isso foi inicialmente apresentada como Oyá Tempo. Esse nome foi modificado depois devido a ter causado confusão com outros dois Orixás, sendo eles Iansã (que também é conhecida como Oyá) e Tempo ou Iroko (Orixá masculino cultuado no candomblé). 

    Logunan e Oxalá representam a polaridade do campo religioso. Oxalá é o deus responsável pela irradiação da fé para todos os seres, a todo momento. Assim como o sol irradia sua luz e calor para o mundo, Oxalá emana uma força religiosa que anima tudo que toca. Ele é como se fosse um pai amoroso, capaz de fortalecer o íntimo das pessoas com a sua fé. A força contagiante de Oxalá precisa de uma presença ativa que a absorva e a controle, impedindo que as pessoas se desviem para o fanatismo e para o descontrole emocional. É nesse momento que Logunan aparece como uma força neutra, atuando sobre o ser para equilibrar a sua relação com a fé. Ela encarna o rigor necessário para que as pessoas não se desvirtuem em sua jornada religiosa, de forma a absorver os excessos do campo da fé.

    Sendo Logunan o espaço tempo, ela é quem rege o sincronismo do universo. Desta forma, rege o passado, o presente e o futuro, sendo fundamental pra a manifestação de tudo na nossa dimensão. Logunan controla esse campo, no qual ela isola no infinito cósmico os espíritos que atacam a fé e religiosidade, para que todos possam manter através da crença no divino a esperança e o sustento para a realização dos objetivos da vida. Portanto, quando buscamos pelo equilíbrio da fé, pedimos o auxílio de Logunan juntamente com o pai Oxalá, porque assim encontraremos a harmonia perfeita desta energia e seremos capazes de evoluirmos espiritualmente para entendermos a passagem da vida e os mistérios da fé.

    Dentre todos os Orixás, é graças a Logunan que podemos existir, pois ela quem deu movimento ao processo de passagem de período, antes de sua atuação tudo era estático e não possuía uma sequência de fatos onde se pudesse construir ou evoluir. Assim sendo, Oyá fez o tempo se mover, o mundo girar e soprou o caminho da continuidade e da existência de tudo. O Tempo é a chave do mistério da fé regido por Logunan e Oxalá, porque é na eternidade do tempo e na infinitude de Deus que todas as evoluções acontecem.

MITO DE LOGUNAN E A CRIAÇÃO DO TEMPO

    Olorum criou o mundo e percebeu que as coisas não aconteciam, permaneciam inalteráveis e estáticas, como se a vida não existisse. Portanto, tudo tinha a visão de uma grande tela de pintura, onde se encontrava tudo que era belo, rico em detalhes, mas não havia a magia do existir. Assim, nada era divido no conceito de passado, presente e futuro e simplesmente nada acontecia, nada alterava nem evoluía. Foi então que Olorum decidiu criar Logunan para que ela pudesse aplicar com a sua energia o movimento para todas as coisas, com esse Orixá finalmente surgiu o tempo e a existência enfim se manifestou, onde através do passado alimentamos o presente e projetamos o futuro de forma que tudo gire em sincronia na roda da vida.

CARACTERÍSTICAS DOS FILHOS DE LOGUNAN 

    Os filhos e filhas de LogunaN são introspectivos e até um pouco tímidos. São simpáticos, discretos, silenciosos, amigos e conselheiros, emotivos (mas guardam suas emoções para eles), lutadores e muito sinceros. Podem ser retraídos, ciumentos, possessivos, evasivos, descrentes e desconfiados. Apreciam as coisas religiosas, o estudo, um pouco de isolamento, conversas construtivas, a companhia de pessoas discretas, maduras, reservadas e amorosas. Apesar da falta de jeito para se relacionarem e de seu ar discreto, eles são pessoas muito educadas, capazes de surpreenderem com seus conselhos pois são muito observadores e intuitivos. Entretanto, costumam sofrer em silêncio, não gostam de entristecer ou preocupar os outros com seus problemas, mas encontram em seu refúgio forças para esclarecimentos e enfrentam as situações como ninguém, o que faz deles grandes vencedores na vida. 

    Os filhos de Logunan são sábios e religiosos, facilmente você os reconhece como pessoas maduras e amorosas, capazes de amenizar as dores espirituais mais profundas. Nunca ofenda um filho de Logunan, o tempo não apaga de sua memória o que o fez sofrer e isso ficará ressentido e guardado por toda sua vida. 

    A data de comemoração de Logunan é 11 de agosto, seu dia da semana são todos os dias, pois todos eles pertencem ao tempo. Suas cores são o Azul escuro, o preto e o branco. A oferenda de Logunan na nossa doutrina é feita com velas brancas, pratas ou azul bem escuro; uvas verdes, coco verde, flores brancas e vinho branco. É despachada em um campo aberto, assim que o sol nasce pois Logunan é representada também pelo orvalho da manhã. Seu sincretismo é com a Santa Clara, que detentora de uma imensa religiosidade, enfrentou a todos que a impediam de exercer a caridade e pregar a fé. 

    A saudação de Logunan é: Olha o tempo! A espiral é o símbolo de Logunan. Devido ao seu magnetismo ativo sobre a fé de todos os seres, Logunan emite uma onda espiral capaz de esgotar e controlar a intensidade espiritual dos seres emocionados, fanáticos ou desequilibrados. Seu metal é o estanho, um metal de cor prateada extremamente brilhante, utilizado na conservação de alimentos enlatados. Sua magia está associada ao equilíbrio e à cura, devido à sua natureza maleável, que o permite ser incorporado com outros metais, compensando seus defeitos. Seu cristal é o quartzo fumê ou esfumaçado, este cristal possui uma variação de cores entre o castanho e o preto, e seu nome é derivado da crença de que existia fumaça em seu interior. O quartzo fumê cumpre com importantes funções ligadas à proteção, abertura de caminhos e concretização de objetivos. 

    Suas ervas são o eucalipto, alecrim e anis estrelado. O uso do eucalipto em banhos, defumações ou limpezas pode trazer proteção, bênçãos e positividade. O alecrim, por sua vez, é uma erva que pode ser utilizada em chás, banhos e pratos para trazer purificação, banimento e prosperidade. Já o anis estrelado é uma especiaria que pode servir para estimular nossa intuição, criatividade e nos proteger de energias negativas. Como se nota, todas as três ervas associadas à orixá Logunan atuam em nossa vida para nos livrar do mau agouro e nos proporcionar a cura.

    A saudação de Logunan é "Olha o tempo, minha mãe!", tal saudação pede que você aponte o dedo indicador de uma das mãos para o alto, fazendo movimentos circulares, como se estivesse mostrando o tempo.

ORAÇÃO

 "Amada e divina mãe Logunan! Aceite o despertar consciente de nossa religiosidade e de nossa fé no divino criador Olorum e beneficie-nos com vossa ação positiva e ordenadora, atuando em nossas mentes, ideias, criações e religiosidade. Livre-nos, ó mãe de fanatismos e excessos emocionais, ordenando e direcionando positivamente nossa religiosidade, para que jamais desvirtuemos nossa fé. Pedimos que nos receba em vosso amor e nos ampare em todos os sentidos, durante esta nossa jornada evolucionista no plano material, e que nos livre das tentações, cobrindo-nos com vosso véu cristalino da fé em Olorum conduzindo-nos pelo caminho reto, que leva todos os vossos filhos na direção da luz de nosso pai eterno. Mãe benevolente que nos auxilia em nossa caminhada, para obtermos o nosso progresso, tende piedade de vossos filhos que estão iludidos e desconhecem a verdadeira fé. Tende piedade daqueles que se deixam abater em cada provação pela qual tem de passar. Mãe Logunan que vossa luz ilumine a nossa umbanda, nos abençoando e nos trazendo fé, humildade e união, para que possamos trabalhar em prol da caridade e assim sermos merecedores do vosso amparo. Nós filhos de umbanda, pedimos a vós que clareie a nossa fé, fortalecendo-a para que não nos enganemos com falsas verdades. Pedimos o vosso perdão, mãe Logunan, se falharmos em nossa missão deixando o egoísmo e a vaidade tomar conta de nós, esquecendo o nosso próximo e nosso bondoso Deus supremo. Traga-nos, mãe Logunan, a vossa benção para termos segurança e coragem para seguirmos sem desistir, quando os momentos se tornarem difíceis. Que passamos continuar nossa luta sem perder a fé e sermos conduzidos pela vossa luz que nos levará ao encontro de deus. Apresentamo-nos a vós e solicitamos vosso amparo e vossa guia luminosa para nos conduzir tanto nos campos luminosos quanto nos campos escuros, sempre iluminados por nossa luz cristalina e amparados por nossa fé no nosso divino criador. Proteja-nos com vossa luz e com vossa força mágica, dando-nos o amparo necessário para cessar as atuações de forças malignas sobre nós. Alimente nossa alma, mãe divina, com vossa energia e irradiação de fé, nutrindo-nos com vibrações de religiosidade, para que trilhemos os caminhos retos do amor, da justiça divina e da fé, para acelerarmos nossa evolução. Salve amada mãe Logunan que nos traz o tempo da fé! Olha o tempo minha mãe."

Layla de Omolu.


terça-feira, 1 de agosto de 2023

Congá e Tronqueira

Congá e Tronqueira

    O texto de hoje aborda dois pontos de força de grande importância para qualquer terreiro, sendo eles o congá e a tronqueira.

    O congá é o altar dentro do terreiro de umbanda, é o maior ponto de força, de firmeza dentro do terreiro, responsável pela recepção e irradiação de energia. Nele estão presentes as imagens de Orixás e de guias de umbanda, como caboclo, preto velho, malandro, possui também velas e pode ter flores e outros objetos conforme a necessidade e o fundamento daquele terreiro. Todo o trabalho gira em torno dele, então não se deve colocar elementos sem propósito em um congá, tudo deve ter um porquê. Alguns terreiros têm no seu congá imagens de santos católicos, geralmente esses terreiros utilizam o sincretismo e tem forte influência do catolicismo. Nenhum congá vai ser igual porque geralmente eles tem influência direta da coroa do pai ou mãe de santo (de quais Orixás que regem a coroa do pai ou mãe de santo) e do fundamento daquele terreiro .

    Todos os objetos presentes em um congá são consagrados e imantados de energia positiva, vindas dos Orixás e dos guias que aquelas imagens representam. Como eu disse, o congá é um dos maiores pontos de força dentro de um terreiro, é ele que recebe a energia que vem do alto, de  Deus, e é ele que emana essa energia para todo o restante do terreiro, pra que essa energia possa ser utilizada pelos guias, médiuns e pelos consulentes durante os trabalhos da cerimônia. Além de emanar a energia, o congá também vai atrair para si os pensamentos que pairam no ambiente, vai reduzir os miasmas e cargas negativas e condensar essa energia. É importante sabermos que um congá é diferente de um altar, como o que temos em casa. O congá tem firmezas e assentamentos, o que faz com que ele receba e movimente energias muito maiores do que um altar comum.

    A tronqueira é outro ponto de força muito importante dentro do terreiro. É nela que está firmada e assentada a força dos Orixás da esquerda e de seus falangeiros, que são os guias que trabalham dentro do terreiro. É na tronqueira que são feitas as firmezas e oferendas para os Exus, Pombogiras, Exus mirins e Pombogiras mirins. Geralmente ela fica de frente pro congá e a função da tronqueira dentro do terreiro é de receber toda a energia negativa e a energia que utilizada durante os trabalhos, transformar essa energia e devolvê-la para a espiritualidade. Funciona como se fosse um filtro, filtrando e parando as sujeiras, digamos assim.

    A Tronqueira exerce diversas funções dentro de um terreiro, mas tem como principal objetivo a proteção do espaço e das pessoas que nele estão. Ela é um ponto de força firmado no terreiro, ou seja, toda essa energia que emana dela é usada para os trabalhos dos guias da esquerda, que utilizam para os trabalhos de limpeza e proteção da casa e das pessoas. Essa energia tem também como finalidade ser a fonte que alimenta um campo de força energético no mundo espiritual, numa vasta área em torno do terreiro. 

    Sendo  a energia que os Exus e Pombagiras manipulam mais densa, a tronqueira também é utilizada como uma espécie de para-raios, evitando que energias negativas entrem na casa para prejudicar o andamento dos trabalhos. Nesta mesma função a tronqueira serve como uma área de retenção, criando um portal para que sejam levados à espiritualidade alguns dos espíritos negativos que possam estar acompanhando os consulentes até o terreiro, e até mesmo algum destes seres que foram capturados durante os ataques espirituais que a casa sofre perante os trabalhos. Esses espíritos ficam retidos durante os trabalhos e depois serão socorridos, esclarecidos e encaminhados pela espiritualidade. Por este e outros motivos, o espaço da tronqueira é sagrado, permanece trancado, sendo permitido a entrada apenas de pessoas autorizadas.

    Há uma história Nagô que conta sobre a origem da tronqueira, da seguinte forma:
Havia um grande comerciante de bom caráter que muito ajudava a comunidade. Ele era justo e até doava quiabo e inhame aos que não tinham dinheiro para pagar. Por seu sucesso, era invejado por muitos dos seus pares, que rogavam à Morte e à Doença que batessem em sua porta. Ao saber disso, o comerciante consultou um Babalaô e o Oráculo de Orunmilá, ele queria saber o que fazer para afastar um possível mal à sua integridade física. O Senhor do Destino, aquele que tudo viu e vê, confirmou que ele seria atacado pela doença e pela morte, que seus inimigos estariam, pela inveja e mau olhar, liberando os Ajoguns, forças espirituais destrutivas, que bateriam à sua porta. Para manter-se equilibrado e protegido contra estas forças, ele deveria realizar uma determinada reza com uma oferenda para Exu, na entrada de frente da sua casa e outra também na entrada dos fundos, que deveriam ser renovadas periodicamente. Assim o fez, conforme orientado pelo Babalaô. Passados alguns dias, a doença foi à casa do comerciante e, ao chegar na porta de entrada, deparou-se com Exu. A doença disse: “Me dê licença Exu, pois quero entrar”. Exu, que havia sido invocado e recebido as oferendas do comerciante, disse à doença que não permitiria a sua entrada; ela que desse meia volta e seguisse o seu caminho. A doença, no entanto, não se deu por contente e se une a morte e tentam entrar pela porta dos fundos. Mas lá também estava Exu, que não deixou ambos entrarem, dizendo-lhes que o destino do comerciante não previa ele voltar para Orun naquele momento e que ele teria vida longa e próspera, isso se mantivesse o seu caráter intacto como vinha fazendo. Desde este dia, Exu está na tronqueira (porteira) dos Terreiros, evitando que coisas negativas entrem.

    Sendo assim, o congá e a tronqueira trabalham juntos, gerando o equilíbrio e segurança dentro do terreiro, para que os trabalhos ocorram da melhor maneira possível. Espero que esse texto tenha sanado suas dúvidas e agregado conhecimento para você, axé!

 Layla de Omolu.