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quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

Produtividade, limpeza, organização e limites

 Produtividade, limpeza, organização e limites

O mundo moderno nos exige buscarmos pela produtividade a todo tempo. Tudo que fazemos sempre existe alguém avaliando se é um trabalho melhor ou pior do que já viu antes. Muitas vezes, as pessoas fazem isso sem se dar conta, sem a menor maldade, simplesmente aprenderam que a forma correta de encarar tudo é assim. E o pior é que nós mesmos, muitas vezes, temos o mesmo hábito e acabamos por ser muito duros com nós mesmos e com os outros. Tudo isso desmotiva e nos afasta do que realmente interessa que é a grande obra que está alinhada com nossas vocações divinas e missionárias.

Dada essa breve introdução falaremos agora do aspecto mais prático da coisa. É comum que façamos planos e metas de consumir um determinado conteúdo ou de conclusão de afazeres e que não consigamos, não porque não haja tempo hábil, mas porque muitas vezes ignoramos outras coisas que poderiam favorecer a nossa produtividade. Nossa capacidade está intimamente ligada a aspectos emocionais e muitos especialistas da área psicológica apontam que começando o dia com pequenos afazeres como arrumar a cama podem surtir um efeito impressionante. Concluindo pequenas tarefas é como se o cérebro assimilasse que você é capaz e que está pronto para um novo desafio. Dessa forma, quando mais coisas fizermos com menos preguiça e desânimo estaremos. Muitas pessoas têm por hábito deixar tudo para a última hora e outras poucas têm o costume de fazer tudo logo que recebem a tarefa. As pessoas que fazem a tarefa prontamente, muitas vezes dizem que é para ficar livre depois, mas não é o que acontece na prática, essas pessoas estão em constante movimento e evolução. Enquanto quem deixa tudo para depois, está mandando inconscientemente para seu cérebro a mensagem errada, que é preguiçosa e que não é capaz.



Pode parecer que o segundo parágrafo contradiz o primeiro, mas não é isso. O que está dito no segundo é uma forma de atitude correta e incorreta de aproveitar o próprio potencial, quanto no primeiro há uma crítica quanto a produtividade pela aprovação de terceiros, desalinhado com tudo que você acredita e que sua alma pede. 

Todos nós temos momentos de esgotamento e improdutividade, nesses momentos é sempre bom diminuir a rotação, organizar pensamentos e revisar objetivos. Uma atitude prática que pode ajudar nesses momentos é usá-los para limpar e organizar o ambiente, pois nesses afazeres além de ter tempo para refletir e não ficar focado no problema no qual está travado, nós iremos estar criando as condições ambientais favoráveis para a exploração do potencial. Se você tenta realizar uma tarefa difícil em um ambiente todo sujo e desorganizado, pode até ser que você consiga, mas se caso não conseguir o desgaste mental será muito maior e você se sentirá frustrado. É como se você dissesse a si mesmo “não consigo fazer nada, nem mesmo manter o local onde trabalho/vivo organizado e limpo”.

Além disso, nós umbandistas sabemos como um ambiente sujo atrai vibrações e espíritos negativos, o que claramente deve ser evitado. Por último, é importante lembrarmos de respeitar nossos limites. Às vezes queremos fazer algo “na marra”, mesmo que estejamos cansados e saturados daquela atividade, o que com certeza resultará em nova frustração.  É importante lembrar que muitas das grandes ideias da ciência se deram em momentos inusitados, quando o inventor não estava se forçando a encontrar a solução, muitas vezes as grandes ideias surgem naturalmente em um momento de distração. É claro que não podemos exagerar, não vamos descansar várias horas depois de uma horinha de trabalho, mas é bom ter pequenas distrações, como tirar um tempo para passear com o cachorro ao ar livre, uma brincadeira com os filhos/crianças ou outra atividade terapêutica que não tome muito tempo, como regar um jardim.

Que possamos sempre ser nossa melhor versão e que possamos fazer escolhas saudáveis para nossa evolução, pois isso é o primeiro amor. Cuidar de nós mesmos.

Axé

Ricardo de Ogum Matinata


terça-feira, 16 de dezembro de 2025

Orixá Airá

 Orixá Airá

O surgimento do culto a Airá antecede ao de Xangô, seu culto migrou de Savé para Oyó e, de Oyó, para Ketu. Airá é um Orixá da família do raio, mas pode também ser relacionado ao vento. Seu nome pode ser traduzido como “redemoinho”, pois é o fenômeno que mais se assemelha a um furacão em território africano.

Airá é um Orixá Funfun, ou seja, Orixá que veste branco. É considerado uma divindade de caráter passivo e seus fundamentos são relacionados aos elementos água e ar. No Brasil, devido à associação com Xangô, lhe atribuíram ligação ao elemento fogo, porém está associado a Oxalá, onde ambos são detentores de paz (Oxalá é a paz, e Airá explana sua luz e estabelece a paz).

Ele é quem decide o que vai ser a paz (as leis que promovem a paz) e é uma lei transformadora, uma vez que, em tudo que Airá atua, há transformação; ele sempre dá sinais dessa transformação. Esse poder de transformação é aplicado à vida de seus filhos: eles sempre percebem o que há por trás do conflito e o que precisa ser feito para cessá-lo. Ele provoca o ambiente de paz e é a paz decisiva no ambiente conflituoso.



Ele obriga a estar diante da justiça provocada por você mesmo, pois é a paz que vai ser obedecida de qualquer forma. Então, é necessário equilíbrio, podendo ser considerado também o poder de transformação que faz com que a paz chegue. Existe um ponto de Airá que diz: “A chuva de Airá apenas limpa e faz barulho como um tambor.” Airá zela pela paz e pela justiça de forma incondicional. Ao contrário de Oxalá, que representa a paz, Airá a estabelece e possui uma ação muito mais direta em sua imposição, podendo ser qualificada como uma sentinela de Oxalufã. Seria ele, Airá, quem estabelece sua vontade. Em uma das mãos, carrega uma chave que representa o domínio sobre portais espirituais e conhecimento sagrado; na outra, uma lança que simboliza o respeito.

Conta-se que, no princípio dos tempos, os céus e a terra estavam desconectados. Os homens viviam sem compreender os desígnios dos orixás, e muitos se perdiam em meio à escuridão da ignorância. Os orixás se reuniram no Orun (o mundo espiritual) para decidir quem seria digno de carregar o segredo que abriria as portas entre os mundos, permitindo que os ensinamentos celestiais chegassem aos humanos.

Xangô, rei da justiça e do trovão, desejava essa missão, pois via nela o poder de transformar os homens. Ogum, com sua força guerreira, também se apresentou, assim como Exu, o grande mensageiro. No entanto, Olorum, o Deus Supremo, escolheu Airá, o mais velho, o mais sereno, aquele que não gritava, mas ouvia os ventos e compreendia os silêncios do universo.

Como símbolo de sua missão, Olorum entregou a Airá uma chave prateada, feita do próprio brilho das estrelas. Essa chave era o único objeto capaz de abrir os portais entre o céu e a terra, permitindo que os segredos dos orixás, os ebós, os cantos, os rituais e os ensinamentos fossem transmitidos aos seres humanos.

Airá, com sua calma, não se vangloriou. Desceu à Terra em silêncio, caminhando sobre os ventos, e foi depositando em cada sacerdote o conhecimento certo no momento certo. Onde passava, deixava paz e sabedoria. Nunca usou a chave para benefício próprio. Guardou-a com reverência, pois sabia que aquilo que se abre também pode ser trancado.

Por isso, até hoje, diz-se que Airá é o orixá que detém a chave dos mistérios mais antigos. A chave que carrega em suas mãos não é apenas símbolo de abertura, mas também de responsabilidade espiritual.

As cores de Airá são o branco e o prata; seu dia da semana é a sexta-feira, e comemora-se o dia de Airá em 29 de junho, sincretizando na Igreja Católica com São Pedro, que é o detentor das chaves do céu.

Sua saudação é "Airá ponon opokodê", que significa “assim Airá fica feliz”, ou "Airá Lê", que significa “Airá está feliz”.

Segundo os itãs, Oxalá permaneceu injustamente preso durante sete anos no reino de seu filho, Xangô, sem que este soubesse do fato. Grandes calamidades ocorreram em todo o reino devido a essa injustiça e quando Xangô finalmente descobriu o que havia acontecido com o próprio pai, resgatou-o da prisão e ordenou que fossem organizadas grandes festas em todo o reino, em sua homenagem.

 No entanto, Oxalá estava muito ferido e entristecido. Apesar de toda a atenção que recebeu, a única coisa que desejava era retornar ao seu próprio reino, em Ifé, onde Iemanjá, sua esposa, o aguardava. Xangô não podia acompanhá-lo pois precisava colocar em ordem o próprio reino e pediu a Airá que fizesse isso em seu lugar.



Foi assim que Airá tornou-se o companheiro de Oxalá, pois a viagem foi muito longa já que Oxalá andava muito devagar (conta-se também que Airá carregava Oxalá nas costas) pelo fato de ainda estar se recuperando dos ferimentos que adquirira durante os sete anos de prisão. Durante o dia, eles caminhavam. À noite, Oxalá sentia frio e precisava descansar. Para aquecê-lo e distraí-lo dos próprios pensamentos, Airá mandava que acendessem uma grande fogueira no acampamento. Oxalá observava o fogo e Airá passava longas horas contando-lhe histórias do povo de Oyó.

Desse modo, tornou-se tradição acender a fogueira no dia 29 de junho de cada ano (no Brasil), em homenagem a Airá e à viagem que fez em companhia de Oxalá.

Os filhos de Airá são ciumentos, sentimentais, possessivos e sábios. Conseguem se organizar e preparar para situações futuras como se pudessem prever o que irá acontecer. São carinhosos, bondosos, com muita compaixão, autoritários, hora energética, hora calmos, são teimosos. Os filhos de Airá tem um magnetismo que atrai olhares, sua presença não deixa passar despercebido em qualquer ambiente. Altivos e desconfiados demoram a confiar nas pessoas, mas quando o cativam,  um filho de Airá é capaz de levar seu mundo nas costas até que você tem condições de caminhar sozinho novamente, mas jamais duvide da percepção de um filho de Airá, ele opta por te ajudar mas também sabe te destruir se for necessário e derrama a lava de um vulcão inteiro sobre suas soberba só pra você não esquecer que quem lhe estende a mão não deve ser traído.

Renata de Iansã


segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

Canela: Energia de prosperidade, proteção e amor

 Canela: Energia de prosperidade, proteção e amor

A canela além de ser uma especiaria aromática muito usada na cozinha, também tem seus benefícios medicinais e espirituais. Desde os tempos antigos, ela é utilizada por suas propriedades espirituais e por sua energia quente, vibrante e acolhedora. Uma especiaria considerada sagrada em diversas tradições, a canela carrega em sua essência a força da prosperidade, proteção e do amor.

Possui um aroma doce e marcante, capaz de elevar a vibração do ambiente, abrir caminhos e atrair boas energias. Por isso, é amplamente utilizada em rituais, banhos, defumações e simpatias. Queimar um pau de canela ou soprar canela na porta de entrada no primeiro dia do mês, por exemplo, são práticas populares para atrair fartura e abundância.

A canela possui uma energia que aquece o coração e renova o amor pela existência. Atua ativando o chakra do plexo solar e do coração, fortalecendo a autoestima e autoconfiança. O aroma da canela também é utilizado como fonte de energia trazendo foco para os momentos de desânimo e cansaço.



A especiaria também é utilizada para auxiliar na proteção espiritual, afastando energias que podem influenciar negativamente. Podendo ser usada em defumações, sachês e amuletos. Quando utilizamos a canela, seja em chás, banhos ou defumações, trazemos equilíbrio, calor, abundância e conexão com a sabedoria de nossos ancestrais.

E para finalizar o estudo é importante destacar que sempre antes de qualquer trabalho espiritual é importante procurar orientação dos guias, respeitar, estudar e conhecer o poder medicinal das ervas. Para que possamos sempre praticar a Umbanda com responsabilidade e fundamento.

Bruna de Obá


quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Autorresponsabilidade mediúnica no cotiadiano: um compromisso com a Umbanda e com a consciência

 Autorresponsabilidade mediúnica no cotiadiano: um compromisso com a Umbanda e com a consciência

Em uma sociedade marcada por distrações, automatismos e terceirizações de culpa, falar sobre autorresponsabilidade já é, por si só, um chamado ao despertar. Mas quando esse conceito se entrelaça à mediunidade, sobretudo no contexto da Umbanda, ele se torna ainda mais urgente e sagrado. Afinal, o médium não é apenas um canal entre planos, mas também um ser humano em processo contínuo de lapidação interior, onde cada escolha cotidiana reverbera no campo espiritual.

A Umbanda, enquanto religião essencialmente caritativa e integradora, nos convida a entender a mediunidade não como privilégio, tampouco como fardo, mas como ferramenta de serviço e expansão de consciência. Nesse caminho, a auto responsabilidade mediúnica emerge como uma bússola ética e espiritual. Não basta incorporar. É preciso se incorporar de propósito, se vestir de intenção, se alinhar com o que se fala, pensa, sente e vibra dentro e fora do terreiro. 



É no cotidiano que o verdadeiro teste mediúnico se revela. Porque é fácil manter o equilíbrio dentro da gira, sob os atabaques, diante dos guias. Difícil é sustentar o mesmo eixo no trânsito, diante da injustiça, na solidão, ou no embate com o próprio ego. E é justamente aí que mora a responsabilidade maior: compreender que a mediunidade não se liga e desliga como uma lâmpada. Ela é um campo aberto de sensibilidade e influência mútua, que exige do médium disciplina emocional, vigilância de pensamentos e humildade constante.

Ser médium na Umbanda é também ser espelho. Espelho das entidades que se manifestam, sim, mas também espelho dos ensinamentos que se recebe. A forma como um médium trata o próximo, cuida da própria saúde mental, zela pela palavra e honra os compromissos, reflete diretamente na qualidade da sua conexão espiritual. Porque guia nenhum sustenta médium que não sustenta a si mesmo.

Portanto, falar em auto responsabilidade mediúnica é romper com a infantilização da espiritualidade. É deixar de esperar que os guias resolvam tudo, enquanto se negligencia a reforma íntima. É entender que o terreiro é um espaço de trabalho, mas a vida é o verdadeiro campo de prova. Cada ação, cada silêncio, cada escolha tem peso e consequência não por punição, mas por coerência vibracional.

A Umbanda não cobra perfeição, mas exige verdade. E a autorresponsabilidade é o que nos mantém verdadeiros com aquilo que pedimos, recebemos e prometemos diante da espiritualidade. Que sejamos, então, médiuns não apenas de passagem, mas de postura; não apenas de gira, mas de vida.

Érika de Ewá


terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Pretos Velhos

 Pretos Velhos

Os Pretos Velhos são entidades espirituais profundamente respeitadas na Umbanda, representando o arquétipo de espíritos ancestrais dos africanos escravizados que, mesmo diante do sofrimento e da opressão, alcançaram elevado grau de sabedoria, amor e compaixão. Suas manifestações são marcadas pela fala mansa, os gestos calmos e a simplicidade, trazendo consigo a humildade e o acolhimento; realizando assim o trabalho com conselhos, passes energéticos, benzimentos e orações. Frequentemente se manifestam com nomes como Pai Joaquim, Vovó Maria Conga, Pai Benedito, entre outros, adotando uma postura de avós espirituais, sempre prontos para ouvir, aconselhar e curar.



A linguagem dos Pretos Velhos é simples e carrega forte sabedoria ancestral. Muitas vezes utilizam-se metáforas e histórias para transmitir ensinamentos profundos. Seu modo de falar com regionalismos como “fia”, “meu fio” e “sinhá”, cria uma atmosfera acolhedora que toca o coração de quem os procura. Os Pretos Velhos ensinam valores como perdão, paciência, fé e amor ao próximo. Sua missão é guiar os filhos de fé no caminho da evolução espiritual, resgatando a autoestima, ensinando a viver com mais equilíbrio e promovendo o bem coletivo. Em nossa casa, é muito comum essa linha de tão grande sabedoria, utilizar de instrumentos de trabalho, os quais sempre são perceptíveis e bastante notáveis:

CHAPÉU/LENÇO: são utilizados para proteger a coroa do médium;

BENGALA: não é utilizada só pela questão do arquétipo, mas sim também para auxiliar nos trabalhos de quebra de demanda, descarrego, transmutação de energias e abertura e fechamento de portais;

CAFÉ: além de sua representação histórica dos cafezais da época da escravatura, o café também é utilizado para firmar a conexão energética entre o médium e o guia, além de também trazer o cheiro que nos relembra a sensação de conforto e para o trabalho de limpeza realizado no próprio médium e no consulente. Nem todo preto velho toma café, alguns podem utilizar outra bebida como chás diversos;

CACHIMBO: além do aroma agradável do fumo junto com as ervas, o cachimbo é utilizado para o reequilíbrio energético dos chakras e para retirar as larvas astrais dos consulentes.

ERVAS: os pretos velhos possuem uma vasta sabedoria curandeira na utilização de ervas, as quais cada uma tem o seu poder de cura e atuam de diferentes formas no corpo espiritual, físico e mental: 

ROSA BRANCA: uma erva fria que traz paz e calmaria;

ALECRIM: uma erva morna que nos traz equilíbrio;

ARRUDA: uma erva quente que tem o poder de descarregar, afastar más energias e nos proteger;

GUINÉ: uma erva quente que é utilizada em banhos de descarrego e benzimentos. O Orixá regente dessa linha é Obaluaê, o senhor da cura. Suas cores são o preto e o branco e o seu dia da semana é segunda feira, sendo essas mesmas especificações para os pretos velhos.



Sua saudação é “Adorei as almas!”, o dia de comemoração a esses guias de luz é 13 de maio, pois é o dia da abolição da escravatura. Sua presença é um alívio para os que sofrem, um abraço para os que choram, um guia para os que buscam.

Eles nos convidam a caminhar com mais calma, a ouvir mais e a julgar menos. A Umbanda, com sua beleza plural, encontra nos Pretos Velhos um de seus pilares mais doces e profundos.Salve os Pretos Velhos! Adorei as almas!

Salmo de Iemanjá


segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Não para nós, toda glória para Deus!

Não para nós, toda glória para Deus!

O Título acima é uma tradução não literal de um lema templário que diz no original: "Non nobis Domine, non nobis. Sed nomini Tuo ad gloriam". Uma tradução mais literal seria: “Não por nós Senhor, não por nós. Mas pela glória do Teu nome.”

Essa frase foi retirada do livro bíblico de Salmos e se refere claramente a que, antes de nós nos envaidecemos pelas conquistas, devemos agradecer a Deus por ter nos permitido alcançar, por ter nos dado saúde e capacidade para a luta pelos objetivos. Antes de tudo a glória é de Deus.

É interessante discutirmos sobre essa frase, principalmente em contexto religioso, pois se torna cada dia mais frequente as pessoas depois da glória passarem a se sentirem o próprio Deus, acharem que não tem mais o que aprender e perderem toda a humildade e isso no meio religioso, principalmente entre as lideranças é um grande câncer.

 


Podemos ver em variadas religiões líderes que se perderam no caminho, que começaram com um trabalho bonito e que depois passaram a atribuir milagres, benção e conquistas a si mesmos, muitas vezes, cobrando altos valores por atendimentos e “objetos abençoados”. Valorizando demasiadamente sua imagem e se esquecendo que quem os fez crescer foi a própria espiritualidade e Deus.  O que aconteceu com esses senhores, que na maioria das vezes realmente já tiveram uma conexão divina, foi que passaram a colocar o próprio nome a frente do de Deus. E por isso creio eu, se perderam, em busca de fama e dinheiro. Muitos deles ao invés de serem um guerreiro para a luz, tornam-se criminosos que cometem estelionatos para tirar o dinheiro suado de quem por inocência acredita em suas picaretagens.

E quem atira a primeira pedra e acha que isso não acontecerá jamais com ele, erra. No mundo umbandista por exemplo é muito comum médiuns se envaidecerem das consultas dos “seus guias”, se acham e dizem aos quatro ventos ser médiuns fortes, muitas vezes julgando a incorporação dos outros como sendo menos legítima, e não fazem isso por serem ruins, mas simplesmente porque os próprios consulentes confundem muito isso. Ao invés de agradecer a Deus e aos guias divinos, suas bênçãos muitas vezes tem uma gratidão maior ainda ao médium. A gratidão ao médium é correta, pois ele abdicou de tempo de sua vida para prestar auxílio à espiritualidade, mas aqueles médiuns que incorporam um guia espiritual “famoso” não fazem menos nem mais do que outro que tem um guia mais discreto. É muito fácil cair na armadilha da vaidade, na armadilha do dinheiro. Espiritualidade é coisa séria para gente séria e exige responsabilidade, como diz o Caboclo Sete Flechas.  

Só com muita oração e vigilância poderemos nos ver livres das “rasteiras” da vaidade. Para isso lembremos sempre de Deus nos momentos de glória e não só para pedir nos momentos de dificuldade. Por isso acredito que a frase templária é tão poderosa que, se sempre nos lembrarmos dela, ela poderá ser um escudo quanto a vaidade, a corrupção e outros males que sempre fazem muitos religiosos caírem.

Axé

Ricardo de Ogum Matinata


quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Banho de ervas

 Banho de ervas

O banho de ervas nos leva a uma viagem profunda no tempo, porque o uso de ervas em banhos com fins espirituais, medicinais e rituais é milenar e carregada de simbologias sejam elas religiosa ou cultural dos povos ao redor do planeta. Que fazem o uso das ervas em banhos, defumações ou chás. Respeitando todas as ritualísticas próprias para ativação das energias ou propriedades que essas ervas trazem em seu âmago ou essência. Abaixo dois exemplos de povos e suas concepções sobre a utilização das ervas em banhos e ritualísticas:

Os povos originários do Brasil possuem uma rica tradição de uso de plantas medicinais, incluindo banhos terapêuticos. Essas práticas estão profundamente conectadas à cosmovisão indígena, que entende o corpo humano como parte de uma teia de relações com o ambiente, os seres espirituais e a natureza.

Nas culturas tradicionais africanas (como os povos iorubás, bantos, jejes), o uso de ervas era essencial para curas físicas, espirituais e rituais religiosos. Cada planta era conhecida por sua força espiritual (às vezes chamada de àsé/axé), e os banhos — chamados omi ero (água de limpeza, entre os iorubás) — já existiam como prática ancestral. Os sacerdotes de Ifá, os babalorixás e ialorixás detinham o conhecimento das folhas (ewé, em iorubá), e usavam-nas em banhos, defumações e unções. Algumas folhas só podiam ser usadas por pessoas iniciadas, por causa de seu poder espiritual. 

Conforme citado, os banhos de ervas trazem em si o espírito da erva, eflúvio, propriedade medicinais, energias ou àsé/axé, da erva ou ervas que estão sendo usadas no banho. Dependendo do grupo étnico ou ritualística que está fazendo uso do banho de ervas. Esses banhos podem ser para Descarrego: remover energias negativas, inveja, mau-olhado. Calmante: acalmar emoções e pensamentos.

Fortalecimento espiritual: proteger, energizar, preparar para rituais.

Atração: abrir caminhos, trazer amor, prosperidade, etc.

Para o preparo do banho deverá fazer um breve estudo sobre se a erva é quente morna ou fria, saber se podem ser usadas em conjunto, sua toxicidade verificar com um médico se tem alergia a alguma propriedade que aquela erva traz e procurar auxílio de Sacerdote ou Guia Espiritual, para auxiliar como fazer o banho, quando deve ser tomado, qual a frequência pode ser tomado, se pode ser de corpo todo ou a partir de uma parte específica do corpo, se tem a lunação correta para a colheita das folhas e ou feito e quais as ervas podem ser utilizadas para o fim desejado.

No preparo do banho de ervas o axé das ervas é manipulado com o axé da pessoa que está fazendo o preparo. Nessa troca de energética a pessoa que está fazendo o banho tem que estar concentrada no propósito que deseja atingir com aquele banho para assim poder alinhar suas energias ou vibrações com as energias da erva, potencializado e entrando em harmonia com a erva já em seu preparo. Por

isso é aconselhado sempre que possível que o banho seja feito todo pela pessoa que fará uso do banho.

Thiago Cecilio de Oxossi


terça-feira, 2 de dezembro de 2025

As entidades espirituais são do médium? Elas o acompanham a todo momento?

 As entidades espirituais são do médium? Elas o acompanham a todo momento?

O assunto deste texto é polêmico, uma vez que cada casa e doutrina costuma ter visões diferentes sobre.  Inclusive existem vários sacerdotes e personalidades dentro da umbanda que tem uma visão formada e contrária a visão de nossa doutrina.

É comum alguns umbandistas acreditarem que as entidades que trabalham em conjunto com eles por meio da incorporação têm como missão principal acompanhar sua vida, a protegendo e guiando seus passos no dia a dia. Não é atoa que existe a célebre frase “quem me protege não dorme.”. Inclusive existem aqueles que acreditam que qualquer pessoa, mesmo as de outras religiões possuem guias de umbanda como exus, caboclos e preto velhos.  Qual seria o sentido disso? Muito comumente quem tem essa visão do mundo espiritual acredita também que não só os guias são deles, como também que estão por conta deles em todos os momentos.

Na nossa doutrina de Umbanda de Jurema acreditamos que existem sim os guias que podem estar ligados às pessoas, mas isso é uma exceção. Isso normalmente está ligado a uma missão espiritual que aquela pessoa tem, dessa forma nem nesses casos o guia é do médium, mas sim ele presta um serviço a lei divina para que a importante missão espiritual que aquela pessoa tem se cumpra. Podemos citar como exemplo alguns pais de santo, ou líderes espirituais diversos.

Na nossa visão o mais comum é que os guias de umbanda estejam ligados por uma missão com determinada casa de umbanda, não sendo eternamente preso a ela também. Temos que lembrar que os guias como nós evoluem e podem ser chamados para fazer trabalhos diferentes no mundo espiritual, assim que cumprirem sua missão em determinada casa. um exemplo quanto a isso é uma entidade que presta consultas e que não é dirigente da casa, ela pode ser chamada a assumir uma nova casa. Até mesmo os dirigentes espirituais não necessariamente comandarão a casa enquanto ela existir. Tudo é movimento e tudo evolui.

Outro ponto importante é nos lembrarmos que independente se temos guias ou não, eles não estão por nossa conta. Eles mesmos nos dizem que para interferir em nossa vida esse pedido tem que partir de nós mesmos ou estariam ferindo nosso livre arbítrio e consequentemente a lei divina.

Vale lembrar que não é porque os guias não são nossos que estamos desamparados espiritualmente, temos sim quem olhe por nós, não importando como os chamamos, se é um mentor, um anjo da guarda, um guardião etc. basta lembrarmos que se queremos conectarmos com Deus haverá quem nos dê amparo em seu nome.

Ricardo de Ogum Matinata


segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Oroiná

 Oroiná

Senhora do fogo, sincretizada com Santa Sara Kali, padroeira do povo cigano. Na Umbanda praticada em nossa casa oroiná ocupa é colocada como orixá feminina, absorvedora da linha da Lei. 

Orixá do fogo e ar, seu fogo sagrado queima tudo aquilo necessário para a evolução.

Tal qual uma fênix que ressurge das cinzas temos em Orioná a capacidade da purificação, da libertação de vícios e concepções. 

Ao fazer um pedido a Oroiná, devemos estar preparados para abrir mão de tudo e lidar com a mudança que virá assim como o povo cigano, que se reunia em volta das fogueiras para fazer suas festas, mas sabiam que logo precisam seguir o caminho com seus acampamentos. Sem lástimas, sem remorso, sem olhar para trás, apenas confiando e seguindo. 

Sua saudação é kali yê, suas cores variam do laranja ao vermelho.

Pedro Maciel .’. de Xangô


quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Pretos velhos, sabedoria e intuição

 Pretos velhos, sabedoria e intuição

Devido seu culto à ancestralidade, a Umbanda carrega consigo uma vasta gama de histórias, culturas, valores e conhecimentos, os quais possuem extrema importância para sabermos e entendermos a origem, história e cultura de nosso país.

A Umbanda é formada por diversas linhas de trabalho e hoje, em especial, falaremos sobre a Linha das Almas ou a Linha dos Pretos velhos. E para conhecermos a grande força que esses espíritos trazem, precisamos conhecer sobre a história dos nossos ancestrais.

Historicamente, a prática da escravidão é antiga, existente nas civilizações do Egito Antigo e da Mesopotâmia, por exemplo. Em territórios africanos, as guerras entre povos sempre esteve presente, os povos mais fortes e vencedores dos conflitos escravizavam os mais fracos, visando, principalmente, a mão de obra para serviços braçais e domésticos. Com o passar dos anos e o início da expansão europeia, a prática da escravatura foi um grande negócio e comércio entre os próprios africanos e os europeus.

Com a chegada das grandes navegações portuguesas, os europeus aproveitaram-se dos povos originários para possuir mão de obra em abundância, principalmente para a lavoura. No entanto, os indígenas começaram a apresentar grande resistência ao processo de colonização e escravidão, o grande conhecimento deles sobre as matas, falicitava suas fugas, bem como as doenças trazidas pelos europeus dizimou um grande número de originários, pois eles não tinham um sistema imune adaptado às doenças.

Como já havia exploração de mão de obra africana na Europa, os portugueses decidiram comprar escravizados africanos e iniciar o tráfico negreiro, o qual roubou milhões de africanos de suas terras, histórias e culturas, trazendo-os para o Brasil. Assim como ocorria na África, os conflitos entre as tribos também aconteciam aqui, sabendo disso, os brancos que compravam os escravizados, preferiam africanos de tribos diferentes para dificultar a comunicação e evitar possíveis revoltas.

Posteriormente a tanto sofrimento para os indígenas e negros, ascenderam-se movimentos abolicionistas, mas como toda mobilização da parte oprimida, a abolição foi lenta e gradual, começando com a Lei do Ventre Livre, posteriormente a Lei dos Sexagenários e em 13 de maio de 1888, foi oficialmente imposta em território nacional a abolição da escravatura, por meio da Lei Áurea. Porém, por mais que tenha sido lindo no papel, a liberdade e vitória deste povo estava longe de ser real, pois a abolição não foi acompanhada de políticas públicas e sociais para que de fato houvesse mudanças e inclusão de todos. Assim, pessoas pretas ficaram à mercê e contavam com a própria sorte, buscando meios para manter-se vivo.

Quando a Umbanda foi anunciada, o Caboclo das Sete Encruzilhadas deixou claro que seria uma religião para todas as pessoas, independente de cor ou condição social, onde todos estavam com vestes brancas e descalços, para que até as pessoas mais oprimidas socialmente pudessem estar presentes e serem vistas como iguais a qualquer pessoa que viesse a frequentar e praticar a religião.

Compreendido um pouco da história de nossos ancestrais, a Linha das Almas ou Linha de Pretos Velhos na Umbanda traz justamente nossa ligação com a ancestralidade africana e, ao mesmo tempo, nos trazem memórias dolorosas dos tempos de cativeiro. 

Os vovôs, vovós, tios, pais e mães nos trazem que a pior das escravidões é o apego que temos na vida material e em nosso próprio ego. E a maior das dores é a que carregamos na nossa alma por conta de todas as histórias dessa e de outras vidas. Mas por outro lado, a sabedoria dos pretos velhos é um norte para uma vida mais plena onde a fé, a humildade e oamor são as ferramentas para superar os desafios e encontrar a paz interior. A sabedoria de preto velho acalma o coração e a alma, é expressada através de palavras calmas e pacíficas que ensinam a importância de ter paciência e de aceitar os desafios da vida com serenidade, sendo nossos mestres da humildade, da sabedoria e da fé, pois mesmo nos maiores momentos onde o desacreditar na espiritualidade e na humanidade era extremamente plausível, os nêgos velhos nos mostraram e mostram que o perdão é a verdadeira liberdade da alma e, em momentos sombrios, a fé é a luz que nos guia, pois os que têm fé também adoecem, sentem raiva, tristeza, sofrimentos diversos, mas é ela que nos auxilia a aguentar firme, mesmo quando tememos a escuridão.

Eles nos ensinam que nenhum sofrimento é em vão e todos eles podem ser transformados em conhecimento e evolução espiritual. Eles se comunicam com uma linguagem humilde e fala tranquila, nos remetendo a tranquilidade, o acalento e a paciência de saber o tempo certo das coisas. Preto velho nos ensina que ter sabedoria, não é apenas saber muito, mas sim agir com amor, acolher sem julgamentos e ter humildade sempre. São entidades guiadas pela força de Obaluaê e tendem a realizar trabalhos voltados à cura e ao equilíbrio. 

Alguns instrumentos de trabalho dos pretos velhos:

Cachimbo: limpeza astral das pessoas, médium, consulente e cambone. A fumaça pode quebrar demandas ou consagrar objetos como patuás e imagens.

Lenço/chapéu: usados para proteção do Ori do médium.

Café/chá e outras bebidas: não são todos os pretos que usam café. Depende do arquétipo do guia. As bebidas auxiliam na limpeza e na consagração também.

Bengala: pode ser usada através das batidas no chão para direcionamento de espíritos que necessitam de ajuda.

Seu dia de comemoração é 13 de maio, dia da abolição da escravatura no Brasil. Seu dia da semana é segunda-feira; suas cores são preto e braco; seu ponto de força é o cruzeiro das almas e sua saudação é “Adorei as almas!”

A intuição se denomina a capacidade de compreensão ou uma forma de conhecimento que se baseia em percepções rápidas e subconscientes. Sendo descrita como um pressentimento ou sensação, mas é uma certeza tranquila que vem de dentro de você.

Já o instinto é um comportamento muitas vezes inconsciente e automático, pode ser definida como uma resposta rápida. Por exemplo, quando estamos em uma situação de perigo, temos dois instintos: luta ou fuga.

A intuição e o instinto são ferramentas importantes no trabalho dos pretos velhos, porque eles conseguem perceber as necessidades e as dificuldades de cada pessoa, guiando-os na tomada de decisões oferecendo claridade e direcionamento.

A intuição é fundamental para a cura física e emocional ajudando a identificar as causas das dificuldades,conseguem perceber os bloqueios energéticos e as causas das doenças.

Intuição e instinto permite aos guias oferecer ajuda, conselhos e cura com base numa sabedoria que vai além do conhecimento racional.

Ana Laura de Oxum, Isabela de Iansã e Lilian de Oxaguiã


terça-feira, 25 de novembro de 2025

Os astecas, seus deuses, principais mitologias e suas relações com a Umbanda

 Os astecas, seus deuses, principais mitologias e suas relações com a Umbanda

Os Astecas pertenciam ao que chamamos hoje de mesoamérica, que consiste na fração de territórios que são associados aos Maias, Incas e Astecas. Os Astecas se autodenominavam Mexicas, o nome Astecas foi dado posteriormente por estudiosos, com base em Aztlán, segundo a mitologia asteca, os Mexicas vieram de Aztlán, uma terra mítica localizada ao norte. Guiados por seu deus Huitzilopochtli, migraram para o sul em busca de um sinal divino para fundar sua cidade.

Umas das mitologias Astecas conta que o deus Huitzilopochtli teria dito para fundarem a cidade onde vissem uma águia pousada sobre um cacto devorando uma serpente, e que viram numa pequena ilha no Lago Texcoco. Um fato curioso é que essa imagem está estampada na bandeira do México. Tenochtitlán foi fundada em 1325, tornou-se uma cidade magnífica, com engenharia impressionante (canais, aquedutos, templos). Hoje, seu local corresponde à Cidade do México.

A mitologia asteca é rica e complexa, com muitos deuses representando forças da natureza, ciclos cósmicos e aspectos da vida humana. Ela está ligada à cosmovisão dos povos nahuas (como os mexicas), com forte foco em sacrifícios, dualidades e equilíbrio entre forças. Os Astecas eram politeístas, acreditavam que o Universo era dividido em treze céus (Ilhuicatl) – habitados por deuses da luz, do conhecimento, das estrelas, a terra (Tlalticpac) – onde os humanos vivem e devem equilibrar as forças do céu e do submundo e nove submundos (Mictlán) – cada um com desafios que a alma deve superar após a morte, até chegar ao repouso eterno. Viam a morte como uma transição, a morte não era o fim, mas uma etapa na jornada da alma. O destino pós-morte dependia da forma como a pessoa morreu: mortos em batalha ou parto iam para o paraíso solar. mortos por afogamento iam para o Tlalocan (paraíso da água) e mortes comuns levavam a Mictlán (submundo).

Os principais deuses são: Quetzalcóatl –"Serpente Emplumada" Deus do vento, sabedoria, conhecimento e da vida. Um dos mais venerados, visto como criador da humanidade e inventor da agricultura e calendário. Tezcatlipoca – "Espelho Fumegante" Deus do céu noturno, da feitiçaria, da guerra e da mudança. Representa forças caóticas e imprevisíveis. Era rival de Quetzalcóatl. Huitzilopochtli – Deus do sol e da guerra Deidade principal dos mexicas. Para manter o sol em movimento, exigia sacrifícios humanos. Sua história envolve uma batalha cósmica contra sua irmã Coyolxauhqui. Tlaloc – Deus da chuva e da fertilidade Ligado à água e aos cultivos, mas também tem um lado temido: pode provocar tempestades e destruição. Mictlantecuhtli – Senhor do submundo (Mictlán) Governante do reino dos mortos. Junto com sua esposa Mictecacihuatl, rege o destino das almas que morrem de morte natural. 

As principais mitologias dos Astecas são: A Lenda dos Cinco Sóis — O Ciclo da Criação e Destruição, consiste que o mundo passou por cinco eras, ou "sóis", cada uma regida por um deus e destruída por uma catástrofe, até chegar ao "Quinto Sol" — o nosso mundo atual. 1º Sol (regido por Tezcatlipoca) – destruído por jaguares. 2º Sol (regido por Quetzalcóatl) – destruído por ventos fortes. 3º Sol (regido por Tláloc) – destruído por chuva de fogo. 4º Sol (regido por Chalchiuhtlicue) – destruído por dilúvio. 5º Sol (atual, regido por Tonatiuh) – precisa de sangue e sacrifício para continuar existindo. Outra mitologia descreve sobre a criação da humanidade, Quetzalcóatl desce ao submundo (Mictlán) para recuperar os ossos das antigas humanidades. Ele engana Mictlantecuhtli, o senhor dos mortos, e com os ossos misturados ao seu próprio sangue cria os novos seres humanos.

  Ainda, uma mitologia que conta sobre a batalha cósmica na visão dos Astecas, Huitzilopochtli nasceu de Coatlicue, a mãe-terra, já pronto para lutar. Ele precisou matar seus irmãos (as estrelas) e a irmã Coyolxauhqui (a lua), que queriam matar sua mãe. Ele se tornou o deus do Sol, combatendo a escuridão diariamente.Outra mitologia nos conta a história de Tláloc e as Chuvas que Dão e Tiraram a Vida: Tláloc era o deus das chuvas, essencial para as colheitas. Mas sua água também podia trazer destruição. Os astecas temiam e reverenciavam seus aspectos imprevisíveis. Ele era casado com Chalchiuhtlicue, deusa dos rios e lagos. 

Ademais, a mitologia de Mictlán — O Submundo e a Jornada das Almas, conta que após a morte, a alma atravessava nove camadas do submundo (Mictlán). Era uma jornada cheia de desafios e provas, até alcançar o descanso final. Mictlantecuhtli, o senhor dos mortos, era justo mas impiedoso. E a mitologia de Tezcatlipoca — O Espelho Fumegante, Tezcatlipoca é o deus do caos, da guerra, da noite e da feitiçaria. É imprevisível, provocador, mas também tem papel fundamental na criação. Ele carrega um espelho negro com o qual vê tudo e revela verdades dolorosas.

Um dos pontos mais falados sobre os Astecas é quanto ao Sacrifício humano que era muito comum em sua cultura. Os astecas acreditavam que o universo era sustentado pelo sacrifício dos deuses — especialmente o Sol, que se sacrificou para manter a vida em movimento. Como retribuição, os humanos deviam oferecer sangue e corações para manter esse equilíbrio cósmico. O coração era considerado o assento da alma e da força vital (em náuatle, "tlilia" ou "yollotl"). Se não alimentassem os deuses com energia vital, o Sol poderia deixar de nascer, a colheita poderia falhar, e o mundo mergulharia no caos. A cerimônia geralmente ocorria no Templo Maior de Tenochtitlán, um enorme templo-pirâmide com duas escadarias, uma para Huitzilopochtli (deus do Sol e da guerra) e outra para Tlaloc (deus da chuva). No topo do templo havia altares e uma pedra cerimonial onde o ritual era realizado. A cidade inteira podia presenciar o ritual — era um evento público e sagrado, não secreto. O ritual se dividia em três etapas: Preparação do sacrificado: muitas vezes, era um prisioneiro de guerra, considerado digno por sua bravura. Era tratado com respeito, alimentado, enfeitado com penas e pintura cerimonial. Às vezes, ele acreditava cumprir um destino glorioso. Processo cerimonial: o sacerdote o conduzia até o topo da pirâmide, deitava-o sobre a pedra sagrada, arqueando seu peito e com uma faca de obsidiana (vidro vulcânico afiado), o sacerdote abria o tórax com um corte rápido. E a terceira etapa Extração do coração: o coração ainda pulsante era oferecido ao Sol ou ao deus específico da cerimônia. Em alguns rituais, o sangue era derramado sobre os degraus do templo ou sobre estátuas divinas. O corpo podia ser lançado pelas escadarias e depois usado em ritos adicionais (inclusive canibalismo ritual em alguns contextos nobres e religiosos). Embora os sacrifícios sejam chocantes para nós hoje, dentro da lógica espiritual asteca, isso era um ato sagrado de equilíbrio cósmico.

Os astecas usavam dois calendários principais: Tonalpohualli (calendário ritual de 260 dias), dividido em 20 trezenas (13 dias cada). Usado para adivinhações, cerimônias religiosas e datas sagradas. Cada dia tinha uma combinação de número + símbolo (como "4 Jaguar", "9 Vento"). E o calendário Xiuhpohualli (calendário solar de 365 dias) composto por 18 meses de 20 dias + 5 dias "nefastos". Relacionado à agricultura, celebrações públicas, festivais. A cada 52 anos, os dois calendários se encontravam em um ciclo chamado de "Século Asteca", um momento de grandes rituais e renovação espiritual.

Os astecas usavam códices feitos em papel de árvore (amate) para registrar mitos, rituais, calendários e astrologia. As palavras eram imagens cheias de força espiritual. Usavam instrumentos como tambores (huehuetl), flautas, conchas e chocalhos para invocar e agradar os deuses. Cada ritual tinha sua “sonoridade própria”, com ritmos específicos que produziam estados de consciência alterada. Dançarinos pintavam, usavam cocares e se transformavam nos próprios deuses durante os rituais. A dança era uma forma de incorporação e conexão divina. Possuíam os Ticitl, Curandeiros, que usavam plantas, vapores, massagens, banhos, rituais com pedras, defumações. Sabiam diagnosticar doenças físicas e espirituais. Atuavam como psicólogos, médiuns e médicos espirituais.

A queda do Império asteca está intimamente ligada com suas crenças e a chegada dos espanhóis, como dito anteriormente a cada 52 anos os calendário se encontravam e nessa data acreditavam que começava-se um novo século e também acreditavam que o seu deus poderia voltar nessa data, conta alguns historiadores que exatamente nessa data os espanhóis chegaram, portanto quando viram Hernán Cortés chegar acreditavam ser Quetzalcóatl. Em 1519  Hernán Cortés desembarca no mexico com mais 500 homens. Os espanhóis se aliaram a povos inimigos dos astecas, como os Tlaxcaltecas. Em 1521, após um cerco violento e de fome, Tenochtitlán caiu. Os templos foram destruídos, e a cidade foi reconstruída como Cidade do México, capital da Nova Espanha. Milhares morreram não só em batalha, mas principalmente por doenças trazidas da Europa (varíola, sarampo etc.). A estrutura política e religiosa dos astecas foi desmantelada. Sobreviventes foram escravizados ou assimilados. No entanto, a cultura asteca vive até hoje na língua náuatle, em festas sincréticas, na culinária, nas artes e nas tradições espirituais do México moderno.

Para finalizar será feito um paralelo entre os Astecas e a Umbanda, embora sejam tradições diferentes, a gente pode encontrar similaridades simbólicas e espirituais. Ambas possuem relação profunda com os elementos da natureza: ar, água, fogo, terra. Trabalho com os ancestrais e o plano espiritual. Rituais para manter o equilíbrio do mundo (a Umbanda com suas firmezas, pontos e oferendas; os astecas com seus sacrifícios simbólicos). Forças opostas e complementares (luz e sombra, vida e morte, ordem e caos). Transes e estados alterados: ambos os sistemas espirituais usam ritualística para conexão com o sagrado. Podemos ainda comparar os Deuses com os orixás: Quetzalcóatl (Serpente emplumada, criador da humanidade, deus do vento e da sabedoria ) com Oxalá (criador, paz, sabedoria). Tezcatlipoca (Deus da noite, do destino, do conflito, da feitiçaria e da mudança) com Exu (senhor das encruzilhadas, transformação). Huitzilopochtli (Deus do sol, da guerra, patrono dos astecas) com Ogum (guerreiro, coragem). Tlaloc (Deus da chuva, trovão e fertilidade ) com Oxum (fertilidade, águas doces), Iansã (chuva e trovão). Ainda existe o paralelo entre o uso de ervas e rituais de cura onde os sacerdotes/curandeiros usavam plantas, defumações e rituais — muito parecido com os trabalhos com ervas, banhos e defumações da Umbanda. Transes espirituais: usavam dança, música e até substâncias naturais para atingir estados alterados de consciência — assim como na Umbanda e no Xamanismo. A cosmovisão dos astecas era parecida com a da Umbanda, acreditava-se que a vida era uma passagem entre planos. O ser humano tinha o dever de manter o equilíbrio entre forças opostas: luz/escuridão, céu/terra, ordem/caos. Morte não era o fim, mas transição para outra forma de existência (igual na Umbanda e no Espiritismo). Tudo era sagrado: do milho à pedra, do guerreiro ao curandeiro.

Para finalizar deixo um comparativo muito interessante entre o deus  Tezcatlipoca e Exu. Exu diz: “Toda ordem nasce do caos. E todo caminho precisa de quem o abra.” 

Tezcatlipoca responde: “E todo espelho precisa ser quebrado para revelar novas formas.” 

Isso nos mostra que a essência entre as várias crenças são as mesmas, mas cada qual com sua visão.

Julia de Iansã