Orixá Airá
O surgimento do culto a Airá antecede ao de Xangô, seu culto migrou de Savé para Oyó e, de Oyó, para Ketu. Airá é um Orixá da família do raio, mas pode também ser relacionado ao vento. Seu nome pode ser traduzido como “redemoinho”, pois é o fenômeno que mais se assemelha a um furacão em território africano.
Airá é um Orixá Funfun, ou seja, Orixá que veste branco. É considerado uma divindade de caráter passivo e seus fundamentos são relacionados aos elementos água e ar. No Brasil, devido à associação com Xangô, lhe atribuíram ligação ao elemento fogo, porém está associado a Oxalá, onde ambos são detentores de paz (Oxalá é a paz, e Airá explana sua luz e estabelece a paz).
Ele é quem decide o que vai ser a paz (as leis que promovem a paz) e é uma lei transformadora, uma vez que, em tudo que Airá atua, há transformação; ele sempre dá sinais dessa transformação. Esse poder de transformação é aplicado à vida de seus filhos: eles sempre percebem o que há por trás do conflito e o que precisa ser feito para cessá-lo. Ele provoca o ambiente de paz e é a paz decisiva no ambiente conflituoso.
Ele obriga a estar diante da justiça provocada por você mesmo, pois é a paz que vai ser obedecida de qualquer forma. Então, é necessário equilíbrio, podendo ser considerado também o poder de transformação que faz com que a paz chegue. Existe um ponto de Airá que diz: “A chuva de Airá apenas limpa e faz barulho como um tambor.” Airá zela pela paz e pela justiça de forma incondicional. Ao contrário de Oxalá, que representa a paz, Airá a estabelece e possui uma ação muito mais direta em sua imposição, podendo ser qualificada como uma sentinela de Oxalufã. Seria ele, Airá, quem estabelece sua vontade. Em uma das mãos, carrega uma chave que representa o domínio sobre portais espirituais e conhecimento sagrado; na outra, uma lança que simboliza o respeito.
Conta-se que, no princípio dos tempos, os céus e a terra estavam desconectados. Os homens viviam sem compreender os desígnios dos orixás, e muitos se perdiam em meio à escuridão da ignorância. Os orixás se reuniram no Orun (o mundo espiritual) para decidir quem seria digno de carregar o segredo que abriria as portas entre os mundos, permitindo que os ensinamentos celestiais chegassem aos humanos.
Xangô, rei da justiça e do trovão, desejava essa missão, pois via nela o poder de transformar os homens. Ogum, com sua força guerreira, também se apresentou, assim como Exu, o grande mensageiro. No entanto, Olorum, o Deus Supremo, escolheu Airá, o mais velho, o mais sereno, aquele que não gritava, mas ouvia os ventos e compreendia os silêncios do universo.
Como símbolo de sua missão, Olorum entregou a Airá uma chave prateada, feita do próprio brilho das estrelas. Essa chave era o único objeto capaz de abrir os portais entre o céu e a terra, permitindo que os segredos dos orixás, os ebós, os cantos, os rituais e os ensinamentos fossem transmitidos aos seres humanos.
Airá, com sua calma, não se vangloriou. Desceu à Terra em silêncio, caminhando sobre os ventos, e foi depositando em cada sacerdote o conhecimento certo no momento certo. Onde passava, deixava paz e sabedoria. Nunca usou a chave para benefício próprio. Guardou-a com reverência, pois sabia que aquilo que se abre também pode ser trancado.
Por isso, até hoje, diz-se que Airá é o orixá que detém a chave dos mistérios mais antigos. A chave que carrega em suas mãos não é apenas símbolo de abertura, mas também de responsabilidade espiritual.
As cores de Airá são o branco e o prata; seu dia da semana é a sexta-feira, e comemora-se o dia de Airá em 29 de junho, sincretizando na Igreja Católica com São Pedro, que é o detentor das chaves do céu.
Sua saudação é "Airá ponon opokodê", que significa “assim Airá fica feliz”, ou "Airá Lê", que significa “Airá está feliz”.
Segundo os itãs, Oxalá permaneceu injustamente preso durante sete anos no reino de seu filho, Xangô, sem que este soubesse do fato. Grandes calamidades ocorreram em todo o reino devido a essa injustiça e quando Xangô finalmente descobriu o que havia acontecido com o próprio pai, resgatou-o da prisão e ordenou que fossem organizadas grandes festas em todo o reino, em sua homenagem.
No entanto, Oxalá estava muito ferido e entristecido. Apesar de toda a atenção que recebeu, a única coisa que desejava era retornar ao seu próprio reino, em Ifé, onde Iemanjá, sua esposa, o aguardava. Xangô não podia acompanhá-lo pois precisava colocar em ordem o próprio reino e pediu a Airá que fizesse isso em seu lugar.
Foi assim que Airá tornou-se o companheiro de Oxalá, pois a viagem foi muito longa já que Oxalá andava muito devagar (conta-se também que Airá carregava Oxalá nas costas) pelo fato de ainda estar se recuperando dos ferimentos que adquirira durante os sete anos de prisão. Durante o dia, eles caminhavam. À noite, Oxalá sentia frio e precisava descansar. Para aquecê-lo e distraí-lo dos próprios pensamentos, Airá mandava que acendessem uma grande fogueira no acampamento. Oxalá observava o fogo e Airá passava longas horas contando-lhe histórias do povo de Oyó.
Desse modo, tornou-se tradição acender a fogueira no dia 29 de junho de cada ano (no Brasil), em homenagem a Airá e à viagem que fez em companhia de Oxalá.
Os filhos de Airá são ciumentos, sentimentais, possessivos e sábios. Conseguem se organizar e preparar para situações futuras como se pudessem prever o que irá acontecer. São carinhosos, bondosos, com muita compaixão, autoritários, hora energética, hora calmos, são teimosos. Os filhos de Airá tem um magnetismo que atrai olhares, sua presença não deixa passar despercebido em qualquer ambiente. Altivos e desconfiados demoram a confiar nas pessoas, mas quando o cativam, um filho de Airá é capaz de levar seu mundo nas costas até que você tem condições de caminhar sozinho novamente, mas jamais duvide da percepção de um filho de Airá, ele opta por te ajudar mas também sabe te destruir se for necessário e derrama a lava de um vulcão inteiro sobre suas soberba só pra você não esquecer que quem lhe estende a mão não deve ser traído.
Renata de Iansã
Muiiiito bom!!!!
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