A Curimba
Quando se fala em curimba, refere-se ao grupo de médiuns responsáveis pelos cantos e toques dos instrumentos dentro do terreiro. A importância do trabalho da curimba nem sempre é reconhecida, principalmente por médiuns que não compreendem as energias do terreiro. Sem a curimba, a sustentação dos trabalhos seria mais difícil, sua função é louvar os Orixás e os guias de luz através dos pontos cantados e do toque dos instrumentos, mantendo sempre a energia para o bom andamento dos trabalhos.
Cabe a curimba movimentar a energia vinda do congá, distribuindo-a pelo terreiro, potencializando, através das ondas sonoras, as vibrações e dissolvendo as energias negativas, criando assim um ambiente propício para os trabalhos que serão realizados. Seus integrantes devem cantar, bater palmas e tocar do início até o encerramento da gira para manter a vibração dos trabalhos e impedir que ela flua de maneira diferente da necessitada naquele momento. Qualquer desequilíbrio na energia pode atrapalhar a concentração dos médiuns incorporados, atrapalhando também o trabalho como um todo.
A curimba auxilia na concentração e no foco dos médiuns de incorporação através dos toques e cantos que irão envolver suas mentes, ajudando na alteração de consciência e na criação de uma atmosfera psíquica positiva para os trabalhos. É também um grande polo movimentador, potencializando a energia que vem do congá.
O curimbeiro deve estar sempre atento à sua função para evitar confusões que poderão atrapalhar o andamento dos trabalhos durante a gira. Pensamentos e emoções alheios podem gerar um contrafluxo energético, afetando negativamente os atendimentos. O fluxo de energia emanado pela curimba deve ser sempre ordenado e constante.
Assim como os instrumentos que compõem a curimba, os seus integrantes também vão emanar energia. Por essa razão, é de extrema importância que o médium da curimba se monitore no decorrer do seu dia a dia e, principalmente, dias de gira. Durante a semana devem fazer suas firmezas, orações, vigiar os pensamentos, ações e palavras, sempre prezando pela paz e equilíbrio. Nos dias de gira o curimbeiro, assim como todos os integrantes da casa, devem se manter serenos, cumprir os preceitos e chegar mais cedo no terreiro para entrar em contato com as energias ali presentes. Caso o médium chegue agitado, ele deve se sentar, acalmar seus pensamentos, meditar, reestabelecer o equilíbrio e adequar sua vibração.
É importante também fazer uma oração individual aos Orixás que regem os atabaques e os demais instrumentos, aos guias chefes do terreiro e aos guias que auxiliam na curimba, pedindo proteção e auxílio para os trabalhos que serão realizados. Todos esses cuidados são importantes pois a partir do momento em que se iniciam os trabalhos, os médiuns presentes irão emanar todos os sentimentos e emoções contidos dentro de si.
Se o médium está vibrando raiva, ansiedade, tristeza, desânimo, todos esses sentimentos serão emanados para o restante do terreiro, isso causará desequilíbrio na energia da gira e irá atrapalhar os trabalhos que estão sendo realizados. Por isso é tão importante que os curimbeiros sempre executem sua função com amor, gratidão e felicidade, para que possam emanar boas vibrações e contribuir positivamente para o resultado dos atendimentos.
Alguns dos instrumentos que podem compor a curimba são:
· ATABAQUES: Tambores compostos de madeira, aros de metal e couro
animal. Geralmente são 3 e podem ser tocados com as mãos ou com varetas feitas
de madeira, chamadas aguidavis. São tocados pelo ogã ou atabaqueiro (a).
· AGOGÔ: Seu nome em iorubá significa sino. É formado por uma
campânula dupla feita de metal ou cocos, dotada de um cabo. É tocado com uma
baqueta de plástico, madeira ou metal. Seu ritmo vai variar e seguir o ritmo
dos atabaques. Existem agogôs com 3 ou mais campânulas.
· GANZÁ: Chocalho elaborado por um pequeno tubo fechado com sementes
em seu interior. Também conhecido como amelê.
· CAXIXI: Chocalho composto de fios de junco trançados com sementes
ou conchas, em seu interior, cujo fundo é feito de couro ou pedaço de cabaça.
· AFOXÉ: Cabaça redonda que se afunila para formar o cabo. Tem
contas de plástico trançados em sua volta amarradas por fios.
· XEQUERÊ: Também feito por uma cabaça, porém maior que o afoxé,
transmitindo assim um som mais forte.
· PANDEIRO: Geralmente são de formato circular, mas podem ter outros
formatos. Ao redor do aro, enfiados em seus intervalos, existem platinetas
duplas de metal. Pode ser tocado com a palma da mão e os dedos.
· BERIMBAU: Instrumento de corda com origem em Angola. Foi trazido
para o Brasil pelos escravos angolanos e aqui passou a ser utilizado para
acompanhar as rodas de capoeira. É constituído por uma vara em arco, de madeira
ou verga, com comprimento aproximado de 1,50m a 1,70m e um fio de aço (arame)
preso nas extremidades da vara. Na sua base é amarrada uma cabaça com o fundo cortado
que funciona como caixa de ressonância. O tocador usa a mão esquerda para
sustentar o instrumento e pratica movimentos de vai e vem contra o ventre,
tapando a abertura da cabaça com a barriga, utilizando uma pedra ou moeda para
pressionar a corda. É usado também o caxixi preso nos dedos de quem toca.
Espero que após a leitura deste texto, você possa observar a curimba sob uma nova perspectiva.
Axé.
Layla de Omolu
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