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terça-feira, 5 de agosto de 2025

Pontos riscados

 Pontos riscados

Muitos historiadores que pesquisam sobre os pontos riscados acreditam que eles fazem parte de um sistema de escrita gráfica Kongo, que originalmente surgiram como códigos compartilhados que envolvem cosmologia, mitologia e filosofia africana. Esses pontos trazem memórias coletivas, mitos e conhecimentos ancestrais, sendo um fundamento importante para desenvolver as culturas africanas. Os pontos riscados são desenhos feitos com pembas por guias incorporados em seus aparelhos e desempenham muitas funções. O povo Iorubá acredita que eles invocam diversos espíritos, como deusas e deuses. Posteriormente, seus ensinamentos e conhecimentos vieram com os povos escravizados para o Brasil e continuou-se com a crença de que os pontos riscados invocavam não só os deuses Iorubás, mas também invocavam espíritos indígenas, negros escravizados, boiadeiros, marinheiros, pombogiras, exus, baianos, ciganos.


Esses pontos possuem diversos significados diferentes, fazendo o uso de uma linguagem simbólica dos Orixás, formando uma escrita mágica, uma geometria sagrada, na qual cada símbolo representa uma força da criação, uma divindade e/ou uma força natural. São portais de energia positiva, símbolos de poder e de proteção, eles nos contam a identidade de cada guia, a sua história, em qual força trabalha e expressa a força dos Orixás. Cada entidade possui um ponto riscado para sua identificação, mas podem ter outros pontos para seus diversos trabalhos. Para mais que identificação espiritual, quando o aparelho risca o ponto, está mobilizando a falange que aquele guia trabalha, direcionando a energia mobilizada para o objetivo realizado, os pontos que são usados para outros fins, são mais restritos, utilizados somente em ocasiões que o guia precisa fazer algum trabalho específico.

Os guias espirituais preferem trabalhar com espaços mágicos fechados ou circulares porque assim suas irradiações ficam contidas dentro do círculo e não interferem com outros espaços mágicos riscados por outros guias dentro do mesmo espaço físico coletivo. 

Existem os pontos para firmar uma sessão, que são feitos quando a entidade define um orixá(s) que irão reger aquele trabalho. É interessante prestarmos atenção nos símbolos e nos tamanhos dos mesmos, pois símbolos do mesmo tamanho indicam a regência equilibrada dos Orixás naquele trabalho, já símbolos de tamanhos diferentes, podem nos dizer que um Orixá é regente, tendo um símbolo maior e podem ter forças complementares para aquele trabalho, trazendo símbolos menores. 

Há também os pontos de atração (ou irradiação) que são utilizados para direcionar energia, visando uma pessoa ou um grupo, tendo um assunto específico como saúde mental ou física, proteção espiritual, quebra de demandas, descarregos. Por fim, os pontos emblemáticos são a identificação do guia, e através dele que o guia irá apresentar sua regência vibratória. É importante lembrarmos que os símbolos do ponto riscado em conjunto formam diferentes mensagens, muitos podem ser semelhantes, com os mesmos símbolos, mas podem possuir mensagens completamente diferentes. 

Alguns símbolos são usados por mais de um Orixá, nesse caso precisamos observar os outros elementos do ponto riscado para entender o que está sendo passado para nós. Por exemplo:

● Espada: Ogum, Oxaguian, Iansã, Obá;

● Ofá: Oxóssi, Logun Edé, Ewá;

● Arco e flecha: Oxóssi, Logun edé e caboclos (as) (o arco e flecha é mais usado em pontos de caboclos, enquanto o Ofá é mais visto em pontos de Orixás;

● Lança: Ogum, Ewá;

● Raio: Xangô, Iansã, Oxum Opará;

● Livro: Xangô;

● Escudo: Ogum e Obá;

● Balança: Xangô e Exu;

● Concha: Iemanjá;

● Corações entrelaçados: Nanã;

● Cobra: Ewá e Oxumarê;

● Tridente: Exu e Pombagira;

● Ampulheta: Tempo;

● Estrela de David: Oxalá;

● Folhas: Ossain;

● Sol: Oxalá e Omolu;

● Ondas: Nanã, Iemanjá, Ogum Beira Mar/Sete Ondas;

● Coração: Oxum, Oxalá, Ogum Iara;

Para nós umbandistas, saber interpretar um ponto é conectar-se com as forças ancestrais e aprender como esses espíritos de luz trabalham, quem são eles e o que eles trazem de ensinamento.

Isabela de Iansã


segunda-feira, 4 de agosto de 2025

LogunEdé

 LogunEdé

Na tradição iorubá, LogunEdé é um Orixá que engloba e personifica o equilíbrio entre dois mundos completamente diferentes. Ele permeia duas essências, absorvendo ambas para se tornar ele mesmo. Dançando entre os reinos de seu pai e sua mãe (Oxum e Oxóssi - conheça mais clicando aqui https://7flechasejurema.blogspot.com/2024/04/logunede.html ), conseguimos captar um pouquinho que seja da liberdade intrínseca do feiticeiro e caçador sanguinário. Sem limiar nenhum, sem o pensamento do outro, focado em si mesmo dentro da sua solitude contraditória, LogunEdé se completa por si só. Nele, os opostos se alternam, findando sua essência que acaba por ser despertada em seus filhos, fazendo com que o último dos Odés reconstrua a cabeça dos sem sorte, os abençoando, esse é meu pai.

LogunEdé ensina que a prosperidade que tanto conectam à ele vem de dentro. O reconhecimento da nossa existência, do nosso ser de forma única, é um culto a nós mesmo, se nós cultuamos, cultuamos Orixá. Assim ele permanece vivo em nós, guiando os caminhos e  possibilitando a perpetuação do axé. O prosperar exige coragem para abandonar o que nos limita. Os medos, as dúvidas, a falta de confiança em si, a zona de conforto, isso nos impede de fundir aquilo que nos é de merecimento, mas LogunEdé trás a força, a coragem e a determinação para que consigamos confiar no fluxo da vida. Caminhando junto dele, com elegância e a certeza de que cada passo dado é um passo rumo a onde deveríamos estar, isso é um gesto de confiança no nosso próprio poder, de lealdade para consigo mesmo.

Aos poucos, a compreensão de pertencimento no tudo e no todo vai se tornando mais palpável. O peso de viver sob as expectativas alheias vai se esvaindo como as águas límpidas de uma grande corredeira, que jorra mar afora em sua fúria a aceitação de quem somos, onde o príncipe da realeza africana, Deus da surpresa e do inesperado, acaba por trabalhar e permear o nosso íntimo. Quem tenta agradar a todos, perde a si mesmo. E LogunEdé me ensina todos os dias que a busca incessante pela aprovação do externo, pode se tornar uma prisão invisível que limita nosso crescimento e nos desvia do caminho. 

Muitas vezes o que buscamos está próximo, aceitar o nosso eu, sem a necessidade de se modelar para caber nos olhares, sem a necessidade de calcular passos para não parecer incoerente a sociedade, está em ser leal a nossa essência. Feito isso, a vida fica mais leve. Vamos desenvolvendo a sensibilidade de entendimento interno, tudo está em nós, e nós estamos no tudo.

Loci Loci Logun!

Laura de LogunEdé