Muitos historiadores que pesquisam sobre os pontos riscados acreditam que eles fazem parte de um sistema de escrita gráfica Kongo, que originalmente surgiram como códigos compartilhados que envolvem cosmologia, mitologia e filosofia africana. Esses pontos trazem memórias coletivas, mitos e conhecimentos ancestrais, sendo um fundamento importante para desenvolver as culturas africanas. Os pontos riscados são desenhos feitos com pembas por guias incorporados em seus aparelhos e desempenham muitas funções. O povo Iorubá acredita que eles invocam diversos espíritos, como deusas e deuses. Posteriormente, seus ensinamentos e conhecimentos vieram com os povos escravizados para o Brasil e continuou-se com a crença de que os pontos riscados invocavam não só os deuses Iorubás, mas também invocavam espíritos indígenas, negros escravizados, boiadeiros, marinheiros, pombogiras, exus, baianos, ciganos.
Esses pontos possuem diversos significados diferentes, fazendo o uso de uma linguagem simbólica dos Orixás, formando uma escrita mágica, uma geometria sagrada, na qual cada símbolo representa uma força da criação, uma divindade e/ou uma força natural. São portais de energia positiva, símbolos de poder e de proteção, eles nos contam a identidade de cada guia, a sua história, em qual força trabalha e expressa a força dos Orixás. Cada entidade possui um ponto riscado para sua identificação, mas podem ter outros pontos para seus diversos trabalhos. Para mais que identificação espiritual, quando o aparelho risca o ponto, está mobilizando a falange que aquele guia trabalha, direcionando a energia mobilizada para o objetivo realizado, os pontos que são usados para outros fins, são mais restritos, utilizados somente em ocasiões que o guia precisa fazer algum trabalho específico.
Os guias espirituais preferem trabalhar com espaços mágicos fechados ou circulares porque assim suas irradiações ficam contidas dentro do círculo e não interferem com outros espaços mágicos riscados por outros guias dentro do mesmo espaço físico coletivo.
Existem os pontos para firmar uma sessão, que são feitos quando a entidade define um orixá(s) que irão reger aquele trabalho. É interessante prestarmos atenção nos símbolos e nos tamanhos dos mesmos, pois símbolos do mesmo tamanho indicam a regência equilibrada dos Orixás naquele trabalho, já símbolos de tamanhos diferentes, podem nos dizer que um Orixá é regente, tendo um símbolo maior e podem ter forças complementares para aquele trabalho, trazendo símbolos menores.
Há também os pontos de atração (ou irradiação) que são utilizados para direcionar energia, visando uma pessoa ou um grupo, tendo um assunto específico como saúde mental ou física, proteção espiritual, quebra de demandas, descarregos. Por fim, os pontos emblemáticos são a identificação do guia, e através dele que o guia irá apresentar sua regência vibratória. É importante lembrarmos que os símbolos do ponto riscado em conjunto formam diferentes mensagens, muitos podem ser semelhantes, com os mesmos símbolos, mas podem possuir mensagens completamente diferentes.
Alguns símbolos são usados por mais de um Orixá, nesse caso precisamos observar os outros elementos do ponto riscado para entender o que está sendo passado para nós. Por exemplo:
● Espada: Ogum, Oxaguian, Iansã, Obá;
● Ofá: Oxóssi, Logun Edé, Ewá;
● Arco e flecha: Oxóssi, Logun edé e caboclos (as) (o arco e flecha é mais usado em pontos de caboclos, enquanto o Ofá é mais visto em pontos de Orixás;
● Lança: Ogum, Ewá;
● Raio: Xangô, Iansã, Oxum Opará;
● Livro: Xangô;
● Escudo: Ogum e Obá;
● Balança: Xangô e Exu;
● Concha: Iemanjá;
● Corações entrelaçados: Nanã;
● Cobra: Ewá e Oxumarê;
● Tridente: Exu e Pombagira;
● Ampulheta: Tempo;
● Estrela de David: Oxalá;
● Folhas: Ossain;
● Sol: Oxalá e Omolu;
● Ondas: Nanã, Iemanjá, Ogum Beira Mar/Sete Ondas;
● Coração: Oxum, Oxalá, Ogum Iara;
Para nós umbandistas, saber interpretar um ponto é conectar-se com as forças ancestrais e aprender como esses espíritos de luz trabalham, quem são eles e o que eles trazem de ensinamento.
Isabela de Iansã