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quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Pretos velhos, sabedoria e intuição

 Pretos velhos, sabedoria e intuição

Devido seu culto à ancestralidade, a Umbanda carrega consigo uma vasta gama de histórias, culturas, valores e conhecimentos, os quais possuem extrema importância para sabermos e entendermos a origem, história e cultura de nosso país.

A Umbanda é formada por diversas linhas de trabalho e hoje, em especial, falaremos sobre a Linha das Almas ou a Linha dos Pretos velhos. E para conhecermos a grande força que esses espíritos trazem, precisamos conhecer sobre a história dos nossos ancestrais.

Historicamente, a prática da escravidão é antiga, existente nas civilizações do Egito Antigo e da Mesopotâmia, por exemplo. Em territórios africanos, as guerras entre povos sempre esteve presente, os povos mais fortes e vencedores dos conflitos escravizavam os mais fracos, visando, principalmente, a mão de obra para serviços braçais e domésticos. Com o passar dos anos e o início da expansão europeia, a prática da escravatura foi um grande negócio e comércio entre os próprios africanos e os europeus.

Com a chegada das grandes navegações portuguesas, os europeus aproveitaram-se dos povos originários para possuir mão de obra em abundância, principalmente para a lavoura. No entanto, os indígenas começaram a apresentar grande resistência ao processo de colonização e escravidão, o grande conhecimento deles sobre as matas, falicitava suas fugas, bem como as doenças trazidas pelos europeus dizimou um grande número de originários, pois eles não tinham um sistema imune adaptado às doenças.

Como já havia exploração de mão de obra africana na Europa, os portugueses decidiram comprar escravizados africanos e iniciar o tráfico negreiro, o qual roubou milhões de africanos de suas terras, histórias e culturas, trazendo-os para o Brasil. Assim como ocorria na África, os conflitos entre as tribos também aconteciam aqui, sabendo disso, os brancos que compravam os escravizados, preferiam africanos de tribos diferentes para dificultar a comunicação e evitar possíveis revoltas.

Posteriormente a tanto sofrimento para os indígenas e negros, ascenderam-se movimentos abolicionistas, mas como toda mobilização da parte oprimida, a abolição foi lenta e gradual, começando com a Lei do Ventre Livre, posteriormente a Lei dos Sexagenários e em 13 de maio de 1888, foi oficialmente imposta em território nacional a abolição da escravatura, por meio da Lei Áurea. Porém, por mais que tenha sido lindo no papel, a liberdade e vitória deste povo estava longe de ser real, pois a abolição não foi acompanhada de políticas públicas e sociais para que de fato houvesse mudanças e inclusão de todos. Assim, pessoas pretas ficaram à mercê e contavam com a própria sorte, buscando meios para manter-se vivo.

Quando a Umbanda foi anunciada, o Caboclo das Sete Encruzilhadas deixou claro que seria uma religião para todas as pessoas, independente de cor ou condição social, onde todos estavam com vestes brancas e descalços, para que até as pessoas mais oprimidas socialmente pudessem estar presentes e serem vistas como iguais a qualquer pessoa que viesse a frequentar e praticar a religião.

Compreendido um pouco da história de nossos ancestrais, a Linha das Almas ou Linha de Pretos Velhos na Umbanda traz justamente nossa ligação com a ancestralidade africana e, ao mesmo tempo, nos trazem memórias dolorosas dos tempos de cativeiro. 

Os vovôs, vovós, tios, pais e mães nos trazem que a pior das escravidões é o apego que temos na vida material e em nosso próprio ego. E a maior das dores é a que carregamos na nossa alma por conta de todas as histórias dessa e de outras vidas. Mas por outro lado, a sabedoria dos pretos velhos é um norte para uma vida mais plena onde a fé, a humildade e oamor são as ferramentas para superar os desafios e encontrar a paz interior. A sabedoria de preto velho acalma o coração e a alma, é expressada através de palavras calmas e pacíficas que ensinam a importância de ter paciência e de aceitar os desafios da vida com serenidade, sendo nossos mestres da humildade, da sabedoria e da fé, pois mesmo nos maiores momentos onde o desacreditar na espiritualidade e na humanidade era extremamente plausível, os nêgos velhos nos mostraram e mostram que o perdão é a verdadeira liberdade da alma e, em momentos sombrios, a fé é a luz que nos guia, pois os que têm fé também adoecem, sentem raiva, tristeza, sofrimentos diversos, mas é ela que nos auxilia a aguentar firme, mesmo quando tememos a escuridão.

Eles nos ensinam que nenhum sofrimento é em vão e todos eles podem ser transformados em conhecimento e evolução espiritual. Eles se comunicam com uma linguagem humilde e fala tranquila, nos remetendo a tranquilidade, o acalento e a paciência de saber o tempo certo das coisas. Preto velho nos ensina que ter sabedoria, não é apenas saber muito, mas sim agir com amor, acolher sem julgamentos e ter humildade sempre. São entidades guiadas pela força de Obaluaê e tendem a realizar trabalhos voltados à cura e ao equilíbrio. 

Alguns instrumentos de trabalho dos pretos velhos:

Cachimbo: limpeza astral das pessoas, médium, consulente e cambone. A fumaça pode quebrar demandas ou consagrar objetos como patuás e imagens.

Lenço/chapéu: usados para proteção do Ori do médium.

Café/chá e outras bebidas: não são todos os pretos que usam café. Depende do arquétipo do guia. As bebidas auxiliam na limpeza e na consagração também.

Bengala: pode ser usada através das batidas no chão para direcionamento de espíritos que necessitam de ajuda.

Seu dia de comemoração é 13 de maio, dia da abolição da escravatura no Brasil. Seu dia da semana é segunda-feira; suas cores são preto e braco; seu ponto de força é o cruzeiro das almas e sua saudação é “Adorei as almas!”

A intuição se denomina a capacidade de compreensão ou uma forma de conhecimento que se baseia em percepções rápidas e subconscientes. Sendo descrita como um pressentimento ou sensação, mas é uma certeza tranquila que vem de dentro de você.

Já o instinto é um comportamento muitas vezes inconsciente e automático, pode ser definida como uma resposta rápida. Por exemplo, quando estamos em uma situação de perigo, temos dois instintos: luta ou fuga.

A intuição e o instinto são ferramentas importantes no trabalho dos pretos velhos, porque eles conseguem perceber as necessidades e as dificuldades de cada pessoa, guiando-os na tomada de decisões oferecendo claridade e direcionamento.

A intuição é fundamental para a cura física e emocional ajudando a identificar as causas das dificuldades,conseguem perceber os bloqueios energéticos e as causas das doenças.

Intuição e instinto permite aos guias oferecer ajuda, conselhos e cura com base numa sabedoria que vai além do conhecimento racional.

Ana Laura de Oxum, Isabela de Iansã e Lilian de Oxaguiã


terça-feira, 25 de novembro de 2025

Os astecas, seus deuses, principais mitologias e suas relações com a Umbanda

 Os astecas, seus deuses, principais mitologias e suas relações com a Umbanda

Os Astecas pertenciam ao que chamamos hoje de mesoamérica, que consiste na fração de territórios que são associados aos Maias, Incas e Astecas. Os Astecas se autodenominavam Mexicas, o nome Astecas foi dado posteriormente por estudiosos, com base em Aztlán, segundo a mitologia asteca, os Mexicas vieram de Aztlán, uma terra mítica localizada ao norte. Guiados por seu deus Huitzilopochtli, migraram para o sul em busca de um sinal divino para fundar sua cidade.

Umas das mitologias Astecas conta que o deus Huitzilopochtli teria dito para fundarem a cidade onde vissem uma águia pousada sobre um cacto devorando uma serpente, e que viram numa pequena ilha no Lago Texcoco. Um fato curioso é que essa imagem está estampada na bandeira do México. Tenochtitlán foi fundada em 1325, tornou-se uma cidade magnífica, com engenharia impressionante (canais, aquedutos, templos). Hoje, seu local corresponde à Cidade do México.

A mitologia asteca é rica e complexa, com muitos deuses representando forças da natureza, ciclos cósmicos e aspectos da vida humana. Ela está ligada à cosmovisão dos povos nahuas (como os mexicas), com forte foco em sacrifícios, dualidades e equilíbrio entre forças. Os Astecas eram politeístas, acreditavam que o Universo era dividido em treze céus (Ilhuicatl) – habitados por deuses da luz, do conhecimento, das estrelas, a terra (Tlalticpac) – onde os humanos vivem e devem equilibrar as forças do céu e do submundo e nove submundos (Mictlán) – cada um com desafios que a alma deve superar após a morte, até chegar ao repouso eterno. Viam a morte como uma transição, a morte não era o fim, mas uma etapa na jornada da alma. O destino pós-morte dependia da forma como a pessoa morreu: mortos em batalha ou parto iam para o paraíso solar. mortos por afogamento iam para o Tlalocan (paraíso da água) e mortes comuns levavam a Mictlán (submundo).

Os principais deuses são: Quetzalcóatl –"Serpente Emplumada" Deus do vento, sabedoria, conhecimento e da vida. Um dos mais venerados, visto como criador da humanidade e inventor da agricultura e calendário. Tezcatlipoca – "Espelho Fumegante" Deus do céu noturno, da feitiçaria, da guerra e da mudança. Representa forças caóticas e imprevisíveis. Era rival de Quetzalcóatl. Huitzilopochtli – Deus do sol e da guerra Deidade principal dos mexicas. Para manter o sol em movimento, exigia sacrifícios humanos. Sua história envolve uma batalha cósmica contra sua irmã Coyolxauhqui. Tlaloc – Deus da chuva e da fertilidade Ligado à água e aos cultivos, mas também tem um lado temido: pode provocar tempestades e destruição. Mictlantecuhtli – Senhor do submundo (Mictlán) Governante do reino dos mortos. Junto com sua esposa Mictecacihuatl, rege o destino das almas que morrem de morte natural. 

As principais mitologias dos Astecas são: A Lenda dos Cinco Sóis — O Ciclo da Criação e Destruição, consiste que o mundo passou por cinco eras, ou "sóis", cada uma regida por um deus e destruída por uma catástrofe, até chegar ao "Quinto Sol" — o nosso mundo atual. 1º Sol (regido por Tezcatlipoca) – destruído por jaguares. 2º Sol (regido por Quetzalcóatl) – destruído por ventos fortes. 3º Sol (regido por Tláloc) – destruído por chuva de fogo. 4º Sol (regido por Chalchiuhtlicue) – destruído por dilúvio. 5º Sol (atual, regido por Tonatiuh) – precisa de sangue e sacrifício para continuar existindo. Outra mitologia descreve sobre a criação da humanidade, Quetzalcóatl desce ao submundo (Mictlán) para recuperar os ossos das antigas humanidades. Ele engana Mictlantecuhtli, o senhor dos mortos, e com os ossos misturados ao seu próprio sangue cria os novos seres humanos.

  Ainda, uma mitologia que conta sobre a batalha cósmica na visão dos Astecas, Huitzilopochtli nasceu de Coatlicue, a mãe-terra, já pronto para lutar. Ele precisou matar seus irmãos (as estrelas) e a irmã Coyolxauhqui (a lua), que queriam matar sua mãe. Ele se tornou o deus do Sol, combatendo a escuridão diariamente.Outra mitologia nos conta a história de Tláloc e as Chuvas que Dão e Tiraram a Vida: Tláloc era o deus das chuvas, essencial para as colheitas. Mas sua água também podia trazer destruição. Os astecas temiam e reverenciavam seus aspectos imprevisíveis. Ele era casado com Chalchiuhtlicue, deusa dos rios e lagos. 

Ademais, a mitologia de Mictlán — O Submundo e a Jornada das Almas, conta que após a morte, a alma atravessava nove camadas do submundo (Mictlán). Era uma jornada cheia de desafios e provas, até alcançar o descanso final. Mictlantecuhtli, o senhor dos mortos, era justo mas impiedoso. E a mitologia de Tezcatlipoca — O Espelho Fumegante, Tezcatlipoca é o deus do caos, da guerra, da noite e da feitiçaria. É imprevisível, provocador, mas também tem papel fundamental na criação. Ele carrega um espelho negro com o qual vê tudo e revela verdades dolorosas.

Um dos pontos mais falados sobre os Astecas é quanto ao Sacrifício humano que era muito comum em sua cultura. Os astecas acreditavam que o universo era sustentado pelo sacrifício dos deuses — especialmente o Sol, que se sacrificou para manter a vida em movimento. Como retribuição, os humanos deviam oferecer sangue e corações para manter esse equilíbrio cósmico. O coração era considerado o assento da alma e da força vital (em náuatle, "tlilia" ou "yollotl"). Se não alimentassem os deuses com energia vital, o Sol poderia deixar de nascer, a colheita poderia falhar, e o mundo mergulharia no caos. A cerimônia geralmente ocorria no Templo Maior de Tenochtitlán, um enorme templo-pirâmide com duas escadarias, uma para Huitzilopochtli (deus do Sol e da guerra) e outra para Tlaloc (deus da chuva). No topo do templo havia altares e uma pedra cerimonial onde o ritual era realizado. A cidade inteira podia presenciar o ritual — era um evento público e sagrado, não secreto. O ritual se dividia em três etapas: Preparação do sacrificado: muitas vezes, era um prisioneiro de guerra, considerado digno por sua bravura. Era tratado com respeito, alimentado, enfeitado com penas e pintura cerimonial. Às vezes, ele acreditava cumprir um destino glorioso. Processo cerimonial: o sacerdote o conduzia até o topo da pirâmide, deitava-o sobre a pedra sagrada, arqueando seu peito e com uma faca de obsidiana (vidro vulcânico afiado), o sacerdote abria o tórax com um corte rápido. E a terceira etapa Extração do coração: o coração ainda pulsante era oferecido ao Sol ou ao deus específico da cerimônia. Em alguns rituais, o sangue era derramado sobre os degraus do templo ou sobre estátuas divinas. O corpo podia ser lançado pelas escadarias e depois usado em ritos adicionais (inclusive canibalismo ritual em alguns contextos nobres e religiosos). Embora os sacrifícios sejam chocantes para nós hoje, dentro da lógica espiritual asteca, isso era um ato sagrado de equilíbrio cósmico.

Os astecas usavam dois calendários principais: Tonalpohualli (calendário ritual de 260 dias), dividido em 20 trezenas (13 dias cada). Usado para adivinhações, cerimônias religiosas e datas sagradas. Cada dia tinha uma combinação de número + símbolo (como "4 Jaguar", "9 Vento"). E o calendário Xiuhpohualli (calendário solar de 365 dias) composto por 18 meses de 20 dias + 5 dias "nefastos". Relacionado à agricultura, celebrações públicas, festivais. A cada 52 anos, os dois calendários se encontravam em um ciclo chamado de "Século Asteca", um momento de grandes rituais e renovação espiritual.

Os astecas usavam códices feitos em papel de árvore (amate) para registrar mitos, rituais, calendários e astrologia. As palavras eram imagens cheias de força espiritual. Usavam instrumentos como tambores (huehuetl), flautas, conchas e chocalhos para invocar e agradar os deuses. Cada ritual tinha sua “sonoridade própria”, com ritmos específicos que produziam estados de consciência alterada. Dançarinos pintavam, usavam cocares e se transformavam nos próprios deuses durante os rituais. A dança era uma forma de incorporação e conexão divina. Possuíam os Ticitl, Curandeiros, que usavam plantas, vapores, massagens, banhos, rituais com pedras, defumações. Sabiam diagnosticar doenças físicas e espirituais. Atuavam como psicólogos, médiuns e médicos espirituais.

A queda do Império asteca está intimamente ligada com suas crenças e a chegada dos espanhóis, como dito anteriormente a cada 52 anos os calendário se encontravam e nessa data acreditavam que começava-se um novo século e também acreditavam que o seu deus poderia voltar nessa data, conta alguns historiadores que exatamente nessa data os espanhóis chegaram, portanto quando viram Hernán Cortés chegar acreditavam ser Quetzalcóatl. Em 1519  Hernán Cortés desembarca no mexico com mais 500 homens. Os espanhóis se aliaram a povos inimigos dos astecas, como os Tlaxcaltecas. Em 1521, após um cerco violento e de fome, Tenochtitlán caiu. Os templos foram destruídos, e a cidade foi reconstruída como Cidade do México, capital da Nova Espanha. Milhares morreram não só em batalha, mas principalmente por doenças trazidas da Europa (varíola, sarampo etc.). A estrutura política e religiosa dos astecas foi desmantelada. Sobreviventes foram escravizados ou assimilados. No entanto, a cultura asteca vive até hoje na língua náuatle, em festas sincréticas, na culinária, nas artes e nas tradições espirituais do México moderno.

Para finalizar será feito um paralelo entre os Astecas e a Umbanda, embora sejam tradições diferentes, a gente pode encontrar similaridades simbólicas e espirituais. Ambas possuem relação profunda com os elementos da natureza: ar, água, fogo, terra. Trabalho com os ancestrais e o plano espiritual. Rituais para manter o equilíbrio do mundo (a Umbanda com suas firmezas, pontos e oferendas; os astecas com seus sacrifícios simbólicos). Forças opostas e complementares (luz e sombra, vida e morte, ordem e caos). Transes e estados alterados: ambos os sistemas espirituais usam ritualística para conexão com o sagrado. Podemos ainda comparar os Deuses com os orixás: Quetzalcóatl (Serpente emplumada, criador da humanidade, deus do vento e da sabedoria ) com Oxalá (criador, paz, sabedoria). Tezcatlipoca (Deus da noite, do destino, do conflito, da feitiçaria e da mudança) com Exu (senhor das encruzilhadas, transformação). Huitzilopochtli (Deus do sol, da guerra, patrono dos astecas) com Ogum (guerreiro, coragem). Tlaloc (Deus da chuva, trovão e fertilidade ) com Oxum (fertilidade, águas doces), Iansã (chuva e trovão). Ainda existe o paralelo entre o uso de ervas e rituais de cura onde os sacerdotes/curandeiros usavam plantas, defumações e rituais — muito parecido com os trabalhos com ervas, banhos e defumações da Umbanda. Transes espirituais: usavam dança, música e até substâncias naturais para atingir estados alterados de consciência — assim como na Umbanda e no Xamanismo. A cosmovisão dos astecas era parecida com a da Umbanda, acreditava-se que a vida era uma passagem entre planos. O ser humano tinha o dever de manter o equilíbrio entre forças opostas: luz/escuridão, céu/terra, ordem/caos. Morte não era o fim, mas transição para outra forma de existência (igual na Umbanda e no Espiritismo). Tudo era sagrado: do milho à pedra, do guerreiro ao curandeiro.

Para finalizar deixo um comparativo muito interessante entre o deus  Tezcatlipoca e Exu. Exu diz: “Toda ordem nasce do caos. E todo caminho precisa de quem o abra.” 

Tezcatlipoca responde: “E todo espelho precisa ser quebrado para revelar novas formas.” 

Isso nos mostra que a essência entre as várias crenças são as mesmas, mas cada qual com sua visão.

Julia de Iansã


segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Virtudes

 Virtudes

Virtudes são características positivas, são características que agregam no dia a dia. Essas características podem ser natas ou inatas. Quando dizemos que podem ser inatas, significa que podemos desenvolvê-las. A vontade de mudar, criar atitudes, novas atitudes podem se tornar novos hábitos e esses podem por fim ser reconhecidos como uma virtude adquirida.

Quanto às virtudes natas dizem respeito a vocações, tendências positivas que temos naturalmente desde a infância. É como explorar aquilo que está em nossa essência divina. Creio que todos os seres humanos têm essas virtudes natas, o que nem sempre é reconhecido. Muitos se perdem nas ilusões mundanas e entram em um estado de tamanho desequilíbrio que é como se suas virtudes ficassem ocultas. Como uma lâmpada acesa coberta por lama, que com certeza a ofuscará ou aparentemente a apagará. Mas sabemos que não apagará, a centelha divina sempre estará lá, basta parar de insistir nos erros que em algum momento até o maior dos perdidos poderá reencontrar seu eu divino.

Axé

Ricardo de Ogum Matinata


quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Vícios

 Vícios

Podemos definir de uma maneira interessante os vícios como sendo tudo aquilo que nos prejudica ou impede de alcançar nosso potencial. Que nos afasta de nosso potencial. Quando se fala de vícios logo vem a nossa mente as formas mais tradicionais de vícios, tais como o alcoolismo e o tabagismo, mas os vícios vão muito além dessas formas estereotipadas. Em suma qualquer excesso pode se tornar um vício. O vício se dá quando se troca um tempo precioso de outra atividade necessária, por simples caprichos. 

Quando se opta por assistir demasiadamente TV ao invés de fazer um esporte( que sua saúde esteja clamando) ou um estudo (que se propôs a fazer) por exemplo. É sempre bom lembrar que estamos criticando os excessos. Em excesso até o esporte que é algo saudável pode ser um vício, basta que se renuncie a coisas importantes da vida por um tempo exagerado nessa atividade, como deixar de conviver com a família por exemplo (um pai que nunca vê o filho etc). 

O estudo em excesso também pode ser limitante, pois o verdadeiro aprendizado se dá muito com a prática, sendo assim aquele que só vive atrás dos livros também estará em ilusão. É importante citar ainda o vício em pornografia, tão comum em nossos dias que além de poluir nossas mentes, pode trazer reflexos negativos na sexualidade.

Todos nós temos um potencial divino, que deve ser explorado e desenvolvido. Isso pode ser visto como um Dharma, uma missão de vida ou como a verdadeira vontade de Thelema. E isso quando bem trabalhado, nós trazemos a verdadeira satisfação na existência, saber que explora seu potencial divino, é saber que está no caminho correto, é ser como uma peça de quebra cabeça no devido lugar. Só que os vícios nos limitam e nos afastam de encontrar e alcançar esse poder pessoal.

Axé

Ricardo de Ogum Matinata


terça-feira, 18 de novembro de 2025

A Orixá ancestral da lama

 A Orixá ancestral da lama

Nanã é a senhora da criação, é a Orixá que simboliza toda nossa ancestralidade, que traz consigo a força do barro, matéria da qual fomos todos criados. Sua força está em todas as etapas de nossas vidas, no princípio em nossa criação, ao longo da vida nos auxiliando na busca pela sabedoria ancestral e no final, quando voltamos para nosso princípio: o barro.

Nanã é a mais velha das Yabás, é a força do início e do fim, regendo os elementos terra e água, tem o controle sob águas barrosas e os pântanos. Ela habita o fundo das águas lodosas, como rios e manguezais, mas também é a senhora das garoas e da chuva mansa, sendo os banhos com águas de chuvas serenas um bom fundamento para aqueles que precisam renovar suas energias e que buscam a força dessa grande Orixá.

Ela também zela pela vida antes e depois de nossas encarnações. Mamãe Oxum cuida da gestação, Iemanjá zela pela maternidade, já Nanã cuida dos espíritos que assumem os corpos físicos e, após a sua vida terrena, encaminha-os para o terreno astral.

Nossa Mãe Ancestral nos traz sabedoria e atua no emocional dos seres vivos, auxiliando-nos em nossos sentimentos e emoções. Nanã, assim como uma grande avó, é protetora e acolhedora, nos ensina a compreender que tudo na vida há hora certa de acontecer, trabalhando nossa paciência e calma, nos ensinando que não podemos colher um fruto se este ainda estiver verde, pois só iremos conquistar essas virtudes através dos diversos frutos colhidos pela vida. Sem a energia dessa grande Orixá, seríamos seres afoitos, sem compreensão sobre o tempo e todos os seus ciclos.

Em nossa religião, Nanã assume o pólo negativo da Linha da Evolução, juntamente ao nosso Pai Obaluaê, que vem guiando a linha dos pretos velhos. A mais velha das Yabás também traz sua força por meio de caboclos e caboclas, como Caboclo Roxo, Cabocla Serena, Caboclo Treme Terra; a Cabocla Pena Roxa, por exemplo pode trabalhar na força de Oxóssi e carregar consigo a sabedoria de Nanã, sendo uma pajé anciã, transmitindo histórias e conselhos aos que precisam, entre outras linhas.

Seu instrumento de força é o ibiri, feito de folhas de palmeiras, búzios e palhas. Nanã o carrega em sua mão direita ou o deita sobre suas duas mãos, simbolizando o movimento de pegar e ninar uma criança. De acordo com as crenças e histórias, Nanã nasceu com esse instrumento e o carregou para todos os lugares que estava.

É preciso ter-se em mente que, apesar de Nanã estar intimamente ligada à morte, ela não é a morte em si (Orixá Iku). Nanã é quem acolhe os espíritos e os orienta no plano espiritual, é a força que, usando a energia do barro, irá decantar e paralisar energias densas e de baixa vibração e, ao mesmo tempo, Nanã restaura nossas forças e limpa o campo energético espiritual de cada um, renovando cada espírito para uma nova encarnação.

Algumas características de Nanã Buruku:

Cor: lilás ou roxa;

Ervas: manjericão roxo, dama da noite, folha de berinjela, folha de limoeiro, canela de velho;

Campo energético: pântanos, lama, cemitérios, águas profundas;

Dia da semana: sábado;

Chakra: frontal e cervical;

Saudação: Saluba, Nanã! (Nós nos refugiamos em Nanã);

Data comemorativa: 26 de julho;

Sincretismo: Santa Ana.

Seus filhos possuem figuras de avós. São carinhosos em excesso, são ranzinzas, preocupados com detalhes. Não possuem muito senso de humor, são pessoas sérias, valorizando muitos pequenos incidentes e transformando-os em grandes problemas em seus pensamentos. Por outro lado, são muito compreensíveis, acolhedores e dão bons conselhos, passando a impressão que são muito mais velhos que sua existência nesse plano. Trabalham bem o perdão aos que erram com eles. Exigem atenção e respeito de todos os que os cercam.

São calmos, benevolentes, buscam sempre agir com gentileza, mesmo em situações que os chateiam. São muito afeiçoados em crianças, possuindo tendência a se comportarem como avós e grandes mães.

Isabela de Iansã


segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Caboclos na irradiação de Xangô

 Caboclos na irradiação de Xangô

Os caboclos são ancestrais indígenas que trabalham manipulando as sagradas forças da natureza, possuem um forte vínculo com a Mãe Terra e trazem consigo o seu modo de pensar e existir em perfeito equilíbrio com a mata. Nos terreiros, esses espíritos se manifestam como curandeiros, rezadores, lanceiros, guerreiros, chefes, flecheiros, caciques, agricultores, matriarcas e as encantadas d’água. E neste estudo em específico, quero discorrer um pouco sobre os grandes caboclos que trabalham na irradiação de Xangô, o rei do fogo e da justiça.

Antes de falar sobre os caboclos de fato, é preciso falar brevemente sobre a

grande energia de Pai Xangô. Em suas histórias, conta-se que Xangô era um rei imbatível, que governava com precisão, sabedoria, temperança e, principalmente, com justiça. É a divindade que trabalha no pólo irradiador da Linha da Justiça, trazendo equilíbrio e harmonia para seus filhos, principalmente aqueles exageradamente desequilibrados, bem como trabalha muito a racionalidade, trazendo à tona os verdadeiros valores da vida, para que nossa evolução seja contínua, baseada sempre na justiça de Xangô. Pai Xangô é a justiça em sua plenitude, mas também é a ira dos trovões que ecoam pelos céus. Para tomada de decisões, ele reflete, pondera e observa todo seu reino do alto da mais grandiosa pedreira, tornando-se capaz de julgar com precisão e baseado no juízo divino, então devemos sempre lembrar que, antes de pedir justiça ao Grande Rei, ela cairá primeiramente sobre nós mesmos, nos fazendo perceber se estamos sendo justos em nossas vidas e com o outro, para posteriormente podermos ter auxílio da justiça divina, justiça essa que não é sinônimo dos nossos quereres e do que podemos achar justo.

Feito uma breve descrição da energia de Xangô, os caboclos que trabalham em sua força trazem conselhos baseados em sabedoria e racionalidade, são primorosamente justos e sempre prezam pela clareza. Quando incorporados, falam rápido, são sucintos, diretos e sem mistérios, as conversas são breves, com eles não há delongas, muitas pessoas podem não gostar dos atendimentos por isso, mas são guias sábios e seus trabalhos são de extrema valia dentro de um terreiro.

Assim como Xangô, caboclos que trabalham em sua irradiação possuem um grande poder de justiça e de racionalidade, aconselhando todos que os procuram, pautados na Justiça Divina, estando sempre prontos para guiar seus filhos de fé. Alguns exemplos de Caboclos na irradiação de Xangô: Sete Pedreiras, Serra Negra, Ventania, Trovoada, Itacolomy, Pedra Preta, Girassol, Cobra Coral, Sultão das Matas, Urubatão, Arranca Toco, Machado de Ouro, Itacuruçá. Salve a força das matas e dos caboclos! Okê! 

Kaô, meu Pai Xangô!

Isabela de Iansã


quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Divindades chinesas, principais mitologias e suas ligações com a Umbanda

 Divindades chinesas, principais mitologias e suas ligações com a Umbanda

A cultura chinesa é complexa e composta por três principais crenças que são o confucionismo, taoismo e budismo, elas são interligadas e formam um complexo sistema de crenças, que influenciam a vida e a cultura do povo chinês por séculos. A seguir, vamos abordar as principais crenças chinesas:

O Confucionismo foi fundado pelo filósofo Confúcio, a crença tem como base a busca pela ordem social, promoção da educação e da cultura. O confucionismo destaca a importância da ética, moral, harmonia social, do respeito pelos mais velhos e ancestrais. 

O Taoísmo foi fundado por Lao Tsé, um filósofo e escritor da antiga China. A crença destaca a importância da simplicidade, da harmonia com a natureza, do equilíbrio entre yin-yang e da busca pela imortalidade. 

Já o Budismo chegou à China a partir da Índia e passou por adaptações, e foi acrescentado elementos do confucionismo e do taoismo. A crença enfatiza a importância da meditação, da compaixão, do autoconhecimento e da busca por iluminação. Neste ponto, podemos observar uma semelhança com a Umbanda, que é uma religião com forte influência de outras três, que são o Candomblé, Espiritismo e Catolicismo. 

Com relação ao budismo e a Umbanda podemos destacar a semelhança de algumas práticas como a meditação, autoconhecimento e evolução espiritual. A importância da simplicidade, harmonia com a natureza e equilíbrio destacados no taoismo, também são pontos trabalhados na Umbanda.

No confucionismo também observamos semelhanças com a Umbanda, como por exemplo a importância da ética, moral, harmonia social, e principalmente o respeito pelos mais velhos e ancestrais. Das três crenças, o taoismo foi a crença que mais influenciou a construção e o desenvolvimento das mitologias chinesas. O mito e a realidade se misturaram ao longo da história da China, onde divindades se manifestaram como mortais, e personagens históricos se tornaram seres divinos. 

Com relação às divindades chinesas e as principais mitologias, vamos iniciar falando sobre o Imperador de Jade, uma figura central na crença do taoismo. Considerando governante supremo do céu e de todo o universo, retratado como justo e benevolente. Responsável por manter a ordem no universo e garantir que os seres humanos tenham uma vida pautada nas leis divinas.

 Imperador de Jade aparece em uma mitologia taoísta que conta como os 12 signos animais do zodíaco foram escolhidos. A mitologia conta que o Imperador queria tornar a terra mais harmoniosa, então ele pediu para que todos os animais fizessem uma visita a ele no céu. Assim ele dividiria o ano entre eles, e cada animal seria regente de um ano lunar. A gata, precisava de um sono de beleza, mas ficou com medo de perder a viagem ao céu. Então pediu ao rato que a acordasse a tempo de ir. Mas o rato estava certo de que o Imperador escolheria a gata por sua beleza, não a despertou e deixou o porco tomar o lugar dela. Por este motivo, ratos e gatos se odeiam e o porco tem um ano com seu nome.

Embora suas origens culturais e mitológicas sejam distintas, podemos observar semelhança entre o Imperador de Jade e o orixá Oxalá, por ser o orixá mais velho e reverenciado como pai de todos os outros orixás e da própria humanidade. Assim como o Imperador de Jade, Oxalá é associado à paz, sabedoria, justiça e criação.

Os Três Soberanos

Os Três Soberanos eram considerados semideuses que usavam suas habilidades para ajudar a criar a humanidade e transmitir-lhe habilidades e conhecimentos essenciais. Eles são frequentemente associados a um período de paz, prosperidade e grande avanço cultural na China antiga, sendo vistos como figuras que estabeleceram as bases para a sociedade chinesa. 

Fu Xi, o Deus Imperador é o primeiro dos Três Soberanos. Fu Xi juntamente com sua irmã Nüwa, recriaram a humanidade após um desastre.  Ensinou como pescar, caçar, cultivar e mapear as estações. A mitologia conta que assim quando a terra foi repovoada ele se retirou para o céu, mais tarde ele reinou sobre a terra por aproximadamente 100 anos, Fu Xi inventou a escrita e como calcular o tempo.

Ligado a caça e a fartura, Oxóssi representa o conhecimento da natureza e as habilidades de sobrevivência, o que nos faz relacionar com Fu Xi em ensinar a pesca e a caça. Ambos estão ligados ao domínio do ambiente para o sustento.

Shen Nong é o segundo dos Três Soberanos, filho de uma princesa mortal e de um dragão do céu, foi um heroi cultural e imperador mítico. Shen Nong como metamorfo, assumia corpo de humano e cabeça de boi. Para ensinar como devastar a terra com finalidade agrícola, ele virava um vento abrasador e causando incêndios florestais. A mitologia conta que essa divindade governou por 17 gerações humanas e usava seu estômago para testar plantas medicinais, há relatos de que seu estômago era transparente para que ele pudesse observar os efeitos das ervas em seus órgãos internos.  Shen Nong faleceu durante suas pesquisas, após ingerir uma flor de erva daninha que causou uma ruptura intestinal.

O orixá Ossain é conhecedor das folhas e ervas medicinais, assim como Shen Nong é reverenciado por descobrir as propriedades medicinais das plantas e ensinar a agricultura, e ambos estão ligados à natureza e o uso de seus recursos para a saúde. 

Guan Di, o Deus da guerra é o terceiro dos Três Soberanos, segundo a mitologia nos conta que ele era um general do exército que viveu durante o final da dinastia Han Oriental, foi executado como prisioneiro de guerra durante um período de divisão da China. Ele é frequentemente retratado com o rosto vermelho e empunhando sua arma, a Lâmina crescente do dragão verde. Nas comunidades chinesas sua imagem é frequentemente encontrada em lojas, casas, restaurantes e templos. Guan Di é uma divindade adorada por sua coragem, senso de justiça, proteção, prosperidade e riqueza.

Quando vamos relacionar a divindade chinesa a um orixá, Ogum é o que apresenta a maior semelhança com Guan Di, por ser o orixá da guerra e da batalha. Guan Yin, também conhecida como a Deusa da misericórdia ou Deusa da compaixão, é a figura central no budismo. Ela alcançou a iluminação, mas resolveu retornar ao mundo para ajudar os outros. Na mitologia taoísta ela representa a Deusa da fertilidade, foi ela que tornou possível aos humanos comer arroz. Segundo a mitologia, todos os anos ela espirrava leite de seus seios sobre o arroz, para que ele se tornasse comestível. Já na mitologia budista, ela ajudou a levar o texto sagrado do budismo da Índia para a China, curava crianças doentes os aflitos e presos. Ajudava os pobres e oprimidos. Guan Yin é protetora dos viajantes e adorada pelas mulheres por trazer a fertilidade a casais que não poderiam ter filhos.

Assim como Guan Yin, Oxum é o orixá do amor, da beleza, da fertilidade e da maternidade. Podemos fazer ligação também entre Guan Yin e a orixá Iemanjá, por sua natureza maternal e protetora. 

Tsao Chun, conhecido como o Deus da Cozinha ou Deus do Lar, é uma divindade considerada o guardião do lar e da família, residindo tradicionalmente na cozinha perto do fogão. Tsao Chun é representado como um velhinho, bondoso e cercado de crianças ele fornece o chi energia que ajuda na nutrição. Acreditam que ele observa as ações e o comportamento de todos os membros da família ao longo do ano, e que nas festividades de ano novo a divindade faz um relatório de cada casa e leva ao céu até o Imperador de Jade. Com base no relatório, o Imperador de Jade pode recompensar ou punir a família no ano seguinte, influenciando sua sorte, saúde e prosperidade. Com intuito de adoçar as palavras e evitar que Tsao Chun fale palavras ruins ao chegar ao céu, as famílias chinesas costumam ofertar doces e até mesmo passar mel ou geleia nos lábios da imagem.

Assim como Tsao Chun, Exu é justo e sua ação é correspondente ao merecimento de cada um. Hou Yi é uma divindade que se apresenta como um grande arqueiro, segundo a mitologia, havia dez sois no céu, filhos do Imperador Celestial (Di Jun). Um dia, eles decidiram aparecer todos juntos, causando calor extremo, secas e sofrimento para a humanidade. Então o Imperador Celestial enviou Hou Yi para restaurar a ordem, ao invés do arqueiro mandar os sóis ir embora, ele usou suas flechas e derrubou nove dos dez sóis, como consequência o Deus dos Céus impediu que Hou Yi vivesse na terra com sua esposa Chang'e. Ele aceitou sua condição de mortal, mas segundo algumas mitologias, foi perdoado e retornou para o céu.

Chang'e divindade também conhecida como Deusa da Lua, segundo a mitologia, a divindade consumiu um elixir essencial que era destinado a seu esposo, e foi enviada para a lua se tornando a deusa de lá. A habilidade de Hou Yi com o arco e flecha traz uma ligação com o orixá Oxossi, que é um orixá conhecido por sua precisão e habilidade de prover através de suas flechas.

Pangu é uma divindade central teoria da criação do universo na mitologia chinesa. A história mais conhecida descreve o universo como um ovo cósmico recheado de caos, onde Pangu permaneceu adormecido por 18 mil anos.        Ao despertar, ele quebrou o ovo e seu fluido vazou e flutuou e formou o céu, e a gema por ser mais pesada escorreu e formou a terra. Pangu com medo de que o céu e a terra pudessem unir novamente, empurrou o céu para cima com a cabeça e a terra para baixo com os pés. Ele ficou entre o céu e a terra, crescendo dez pés por dia durante mais 18 mil anos até perceber que o céu estava alto o suficiente. Após esse período Pangu morreu e seu corpo se transformou em diversos elementos do mundo:

  • Seu hálito tornou-se o vento e as nuvens.

  • Sua voz se tornou o trovão.

  • Seu olho esquerdo se transformou no Sol e o direito na Lua.

  • Seu corpo forma montanhas.

  • Seu sangue se tornou os rios e oceanos.

  • Seus músculos se transformaram em terras férteis.

  • Seu cabelo se tornou florestas.

  • Seus ossos se tornaram minerais e pedras preciosas.

  • Seu suor se tornou a chuva e o orvalho.

  • Até mesmo os parasitas em seu corpo se transformaram em animais e seres humanos.

  E assim é reverenciado como o criador do universo.

A associação a criação da humanidade de Pangu pode nos trazer uma semelhança com o orixá Oxalá. Nüwa é outra divindade conhecida como a deusa criadora da humanidade e também como a protetora. A mitologia mais popular diz que no início do mundo, após a separação do céu e da terra por Pangu, não havia seres humanos então Nüwa sentia-se solitária e decidiu criar companheiros, ela fez algumas figuras de barro amarelo, dando-lhes forma humana. As primeiras figuras que ela fez com cuidado e modelou individualmente deram origem à nobreza, cansada de modelar as figuras Nüwa usou uma corda para sacudir o barro e formar gotas de lama, que caíram e formaram os seres humanos comuns. 

A divindade é representada metade serpente e metade humano, simbolizando sua natureza divina e sua conexão com as forças primordiais. É um símbolo de criação, nutrição, proteção e resiliência. Nüwa também é associada à criação do casamento, é vista como uma protetora da união e da fertilidade. Podemos associar Nüwa com a orixá Nanã que está ligada à criação através da lama, o elemento primordial. A sabedoria ancestral e o poder de dar dor a da terra são pontos que podemos contactar.

Após este estudo, podemos observar quão rico e diversificado é o panteão chinês, contendo divindades que representam desde a criação do universo até virtudes como a compaixão, justiça e prosperidade. A possível ligação dessas divindades com a Umbanda demonstra o sincretismo e inclusão da nossa religião. Temos por exemplo a Linha do Oriente, que demonstra que a religião consegue dialogar com diferentes sistemas de crenças. A Umbanda é uma religião dinâmica, em constante evolução que busca compreender o sagrado como um todo.

Bruna de Obá