Divindades chinesas, principais mitologias e suas ligações com a Umbanda
A cultura chinesa é complexa e composta por três principais crenças que são o confucionismo, taoismo e budismo, elas são interligadas e formam um complexo sistema de crenças, que influenciam a vida e a cultura do povo chinês por séculos. A seguir, vamos abordar as principais crenças chinesas:
O Confucionismo foi fundado pelo filósofo Confúcio, a crença tem como base a busca pela ordem social, promoção da educação e da cultura. O confucionismo destaca a importância da ética, moral, harmonia social, do respeito pelos mais velhos e ancestrais.
O Taoísmo foi fundado por Lao Tsé, um filósofo e escritor da antiga China. A crença destaca a importância da simplicidade, da harmonia com a natureza, do equilíbrio entre yin-yang e da busca pela imortalidade.
Já o Budismo chegou à China a partir da Índia e passou por adaptações, e foi acrescentado elementos do confucionismo e do taoismo. A crença enfatiza a importância da meditação, da compaixão, do autoconhecimento e da busca por iluminação. Neste ponto, podemos observar uma semelhança com a Umbanda, que é uma religião com forte influência de outras três, que são o Candomblé, Espiritismo e Catolicismo.
Com relação ao budismo e a Umbanda podemos destacar a semelhança de algumas práticas como a meditação, autoconhecimento e evolução espiritual. A importância da simplicidade, harmonia com a natureza e equilíbrio destacados no taoismo, também são pontos trabalhados na Umbanda.
No confucionismo também observamos semelhanças com a Umbanda, como por exemplo a importância da ética, moral, harmonia social, e principalmente o respeito pelos mais velhos e ancestrais. Das três crenças, o taoismo foi a crença que mais influenciou a construção e o desenvolvimento das mitologias chinesas. O mito e a realidade se misturaram ao longo da história da China, onde divindades se manifestaram como mortais, e personagens históricos se tornaram seres divinos.
Com relação às divindades chinesas e as principais mitologias, vamos iniciar falando sobre o Imperador de Jade, uma figura central na crença do taoismo. Considerando governante supremo do céu e de todo o universo, retratado como justo e benevolente. Responsável por manter a ordem no universo e garantir que os seres humanos tenham uma vida pautada nas leis divinas.
Imperador de Jade aparece em uma mitologia taoísta que conta como os 12 signos animais do zodíaco foram escolhidos. A mitologia conta que o Imperador queria tornar a terra mais harmoniosa, então ele pediu para que todos os animais fizessem uma visita a ele no céu. Assim ele dividiria o ano entre eles, e cada animal seria regente de um ano lunar. A gata, precisava de um sono de beleza, mas ficou com medo de perder a viagem ao céu. Então pediu ao rato que a acordasse a tempo de ir. Mas o rato estava certo de que o Imperador escolheria a gata por sua beleza, não a despertou e deixou o porco tomar o lugar dela. Por este motivo, ratos e gatos se odeiam e o porco tem um ano com seu nome.
Embora suas origens culturais e mitológicas sejam distintas, podemos observar semelhança entre o Imperador de Jade e o orixá Oxalá, por ser o orixá mais velho e reverenciado como pai de todos os outros orixás e da própria humanidade. Assim como o Imperador de Jade, Oxalá é associado à paz, sabedoria, justiça e criação.
Os Três Soberanos
Os Três Soberanos eram considerados semideuses que usavam suas habilidades para ajudar a criar a humanidade e transmitir-lhe habilidades e conhecimentos essenciais. Eles são frequentemente associados a um período de paz, prosperidade e grande avanço cultural na China antiga, sendo vistos como figuras que estabeleceram as bases para a sociedade chinesa.
Fu Xi, o Deus Imperador é o primeiro dos Três Soberanos. Fu Xi juntamente com sua irmã Nüwa, recriaram a humanidade após um desastre. Ensinou como pescar, caçar, cultivar e mapear as estações. A mitologia conta que assim quando a terra foi repovoada ele se retirou para o céu, mais tarde ele reinou sobre a terra por aproximadamente 100 anos, Fu Xi inventou a escrita e como calcular o tempo.
Ligado a caça e a fartura, Oxóssi representa o conhecimento da natureza e as habilidades de sobrevivência, o que nos faz relacionar com Fu Xi em ensinar a pesca e a caça. Ambos estão ligados ao domínio do ambiente para o sustento.
Shen Nong é o segundo dos Três Soberanos, filho de uma princesa mortal e de um dragão do céu, foi um heroi cultural e imperador mítico. Shen Nong como metamorfo, assumia corpo de humano e cabeça de boi. Para ensinar como devastar a terra com finalidade agrícola, ele virava um vento abrasador e causando incêndios florestais. A mitologia conta que essa divindade governou por 17 gerações humanas e usava seu estômago para testar plantas medicinais, há relatos de que seu estômago era transparente para que ele pudesse observar os efeitos das ervas em seus órgãos internos. Shen Nong faleceu durante suas pesquisas, após ingerir uma flor de erva daninha que causou uma ruptura intestinal.
O orixá Ossain é conhecedor das folhas e ervas medicinais, assim como Shen Nong é reverenciado por descobrir as propriedades medicinais das plantas e ensinar a agricultura, e ambos estão ligados à natureza e o uso de seus recursos para a saúde.
Guan Di, o Deus da guerra é o terceiro dos Três Soberanos, segundo a mitologia nos conta que ele era um general do exército que viveu durante o final da dinastia Han Oriental, foi executado como prisioneiro de guerra durante um período de divisão da China. Ele é frequentemente retratado com o rosto vermelho e empunhando sua arma, a Lâmina crescente do dragão verde. Nas comunidades chinesas sua imagem é frequentemente encontrada em lojas, casas, restaurantes e templos. Guan Di é uma divindade adorada por sua coragem, senso de justiça, proteção, prosperidade e riqueza.
Quando vamos relacionar a divindade chinesa a um orixá, Ogum é o que apresenta a maior semelhança com Guan Di, por ser o orixá da guerra e da batalha. Guan Yin, também conhecida como a Deusa da misericórdia ou Deusa da compaixão, é a figura central no budismo. Ela alcançou a iluminação, mas resolveu retornar ao mundo para ajudar os outros. Na mitologia taoísta ela representa a Deusa da fertilidade, foi ela que tornou possível aos humanos comer arroz. Segundo a mitologia, todos os anos ela espirrava leite de seus seios sobre o arroz, para que ele se tornasse comestível. Já na mitologia budista, ela ajudou a levar o texto sagrado do budismo da Índia para a China, curava crianças doentes os aflitos e presos. Ajudava os pobres e oprimidos. Guan Yin é protetora dos viajantes e adorada pelas mulheres por trazer a fertilidade a casais que não poderiam ter filhos.
Assim como Guan Yin, Oxum é o orixá do amor, da beleza, da fertilidade e da maternidade. Podemos fazer ligação também entre Guan Yin e a orixá Iemanjá, por sua natureza maternal e protetora.
Tsao Chun, conhecido como o Deus da Cozinha ou Deus do Lar, é uma divindade considerada o guardião do lar e da família, residindo tradicionalmente na cozinha perto do fogão. Tsao Chun é representado como um velhinho, bondoso e cercado de crianças ele fornece o chi energia que ajuda na nutrição. Acreditam que ele observa as ações e o comportamento de todos os membros da família ao longo do ano, e que nas festividades de ano novo a divindade faz um relatório de cada casa e leva ao céu até o Imperador de Jade. Com base no relatório, o Imperador de Jade pode recompensar ou punir a família no ano seguinte, influenciando sua sorte, saúde e prosperidade. Com intuito de adoçar as palavras e evitar que Tsao Chun fale palavras ruins ao chegar ao céu, as famílias chinesas costumam ofertar doces e até mesmo passar mel ou geleia nos lábios da imagem.
Assim como Tsao Chun, Exu é justo e sua ação é correspondente ao merecimento de cada um. Hou Yi é uma divindade que se apresenta como um grande arqueiro, segundo a mitologia, havia dez sois no céu, filhos do Imperador Celestial (Di Jun). Um dia, eles decidiram aparecer todos juntos, causando calor extremo, secas e sofrimento para a humanidade. Então o Imperador Celestial enviou Hou Yi para restaurar a ordem, ao invés do arqueiro mandar os sóis ir embora, ele usou suas flechas e derrubou nove dos dez sóis, como consequência o Deus dos Céus impediu que Hou Yi vivesse na terra com sua esposa Chang'e. Ele aceitou sua condição de mortal, mas segundo algumas mitologias, foi perdoado e retornou para o céu.
Chang'e divindade também conhecida como Deusa da Lua, segundo a mitologia, a divindade consumiu um elixir essencial que era destinado a seu esposo, e foi enviada para a lua se tornando a deusa de lá. A habilidade de Hou Yi com o arco e flecha traz uma ligação com o orixá Oxossi, que é um orixá conhecido por sua precisão e habilidade de prover através de suas flechas.
Pangu é uma divindade central teoria da criação do universo na mitologia chinesa. A história mais conhecida descreve o universo como um ovo cósmico recheado de caos, onde Pangu permaneceu adormecido por 18 mil anos. Ao despertar, ele quebrou o ovo e seu fluido vazou e flutuou e formou o céu, e a gema por ser mais pesada escorreu e formou a terra. Pangu com medo de que o céu e a terra pudessem unir novamente, empurrou o céu para cima com a cabeça e a terra para baixo com os pés. Ele ficou entre o céu e a terra, crescendo dez pés por dia durante mais 18 mil anos até perceber que o céu estava alto o suficiente. Após esse período Pangu morreu e seu corpo se transformou em diversos elementos do mundo:
Seu hálito tornou-se o vento e as nuvens.
Sua voz se tornou o trovão.
Seu olho esquerdo se transformou no Sol e o direito na Lua.
Seu corpo forma montanhas.
Seu sangue se tornou os rios e oceanos.
Seus músculos se transformaram em terras férteis.
Seu cabelo se tornou florestas.
Seus ossos se tornaram minerais e pedras preciosas.
Seu suor se tornou a chuva e o orvalho.
Até mesmo os parasitas em seu corpo se transformaram em animais e seres humanos.
E assim é reverenciado como o criador do universo.
A associação a criação da humanidade de Pangu pode nos trazer uma semelhança com o orixá Oxalá. Nüwa é outra divindade conhecida como a deusa criadora da humanidade e também como a protetora. A mitologia mais popular diz que no início do mundo, após a separação do céu e da terra por Pangu, não havia seres humanos então Nüwa sentia-se solitária e decidiu criar companheiros, ela fez algumas figuras de barro amarelo, dando-lhes forma humana. As primeiras figuras que ela fez com cuidado e modelou individualmente deram origem à nobreza, cansada de modelar as figuras Nüwa usou uma corda para sacudir o barro e formar gotas de lama, que caíram e formaram os seres humanos comuns.
A divindade é representada metade serpente e metade humano, simbolizando sua natureza divina e sua conexão com as forças primordiais. É um símbolo de criação, nutrição, proteção e resiliência. Nüwa também é associada à criação do casamento, é vista como uma protetora da união e da fertilidade. Podemos associar Nüwa com a orixá Nanã que está ligada à criação através da lama, o elemento primordial. A sabedoria ancestral e o poder de dar dor a da terra são pontos que podemos contactar.
Após este estudo, podemos observar quão rico e diversificado é o panteão chinês, contendo divindades que representam desde a criação do universo até virtudes como a compaixão, justiça e prosperidade. A possível ligação dessas divindades com a Umbanda demonstra o sincretismo e inclusão da nossa religião. Temos por exemplo a Linha do Oriente, que demonstra que a religião consegue dialogar com diferentes sistemas de crenças. A Umbanda é uma religião dinâmica, em constante evolução que busca compreender o sagrado como um todo.
Bruna de Obá
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