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segunda-feira, 19 de maio de 2025

Falando de Axé - Recorte racial dentro da Umbanda

 Falando de Axé - Recorte racial dentro da Umbanda

O racismo e a discriminação em pleno 2024 remontam a tempos escravagistas, onde o Brasil colônia rotulava o povo preto e indígena como inferior, asqueroso, sem intelecto, sem cultura e alheio no mundo, considerando-os de fácil dominação. Essa percepção se dava pelo fato de a origem dessa maioria ser da nossa própria terra e o continente africano, já que os europeus colonizadores acreditavam ser os detentores de toda sabedoria e intelecto, onde o que não os pertenciam, era titulado de medíocre: de práticas a pessoas.

Nesse contexto, é dito também que a ação de movimentos neopentecostais teria se valido de mitos e preconceitos para demonizar e insuflar a perseguição aos adeptos e religiosos que praticavam cultos de matriz africana e afro-ameríndia. Tentando conter a mistura entre as ditas raças superiores (brancos) e inferiores (negros e indígenas), para que não houvesse miscigenação de saberes e corpos. Aqui, começamos a entender a raiz do racismo, intrínseca da sociedade.

Na nossa casa de axé, a Tenda de Umbanda Caboclo 7 Flechas e Jurema, entendemos nossa religião como culto aos ancestrais. Sendo um culto ao povo originário, aos negros escravizados, os caboclos, ciganos, mestiços e demais arquétipos de grupos sociais que fizeram a trilha pra que possamos hoje caminhar. É a força, a essência da nossa terra, é a ancestralidade que nos sustenta.

Muito se é dito sobre pessoas brancas em uma religião preta, a Umbanda, no nosso caso, erguida e vivida em cima de muita violência e opressão, sendo refúgio, em seus primórdios, somente daqueles à margem da sociedade. É dito que somos descendentes de quem tanto torturou, escravizou e matou aqueles que hoje, invocamos e cultuamos. Então, como assim? Estaríamos nós, mais uma vez, replicando antepassados e nos apropriando de algo que não nos diz respeito?

Com a miscigenação, entende-se, de maneira grosseira, que somos um pouco de cada povo que pisou aqui, é por isso que destacamos a importância de ter consciência de raça sobre o que se é cultuado dentro de uma casa de axé. 




O culto aos Orixás é preto, é africano; o culto aos mortos, espíritos, Tupã, é indígena. Quando passamos a cultuar, desenvolver e nos iniciar, dizendo-nos pertencentes de religiões de matriz africana/afrobrasileira/ afro-ameríndia, estamos escolhendo um lado que diz respeito ao ativismo negro e indígena, querendo ou não. Assim, há de ser colocado em pauta inicial a importância de tal culto pras comunidade citadas a que este já era preexistente. Esse letramento é de grande valia para evitarmos o embranquecimento da religião, respeitando os processos anteriores, sua estrutura e consequentemente os próprios espíritos e antepassados da terra que invocamos. 

Em um tempo não tão distante e arrisco dizer que até os dias de hoje, muito se usa a parte “boa” da religião para que esta seja aceita dentro dos termos da sociedade tradicional. É desfeito de fundamentos, imagens, cantigas e rezas; é tudo “limpo” de forma tão sutil para que se adeque a pessoas que, de maneira nenhuma, querem ter suas práticas e costumes associados aos conhecidos como “escória do povo”, os pretos e indígenas, que vão adaptando desrespeitosamente toda ritualística sagrada, para que se beneficiem dos trabalhos, energias e mandingas, mas nunca se associando a eles, perpetuando assim, o racismo. É por isso a necessidade de compreender a história desta religião, para que não sigamos usurpando da sabedoria, mas sim respeitemos os mais velhos da religião e o próprio culto, para que cuidemos do mesmo e tenhamos fôlego suficientes para combater o apagamento histórico, incluindo o do povo que até o presente, luta pela sobrevivência e pertencimento. 

É necessário sabermos o nosso lugar e onde nos cabe. Combatendo o racismo, o racismo religioso e suas estruturas opressoras, de forma respeitosa aos nossos ancestrais, inclusive os vivos, e culto que tanto nos orgulhamos de fazer parte. 

Saravá à força ancestral.

Laura de LogunEdé.




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