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terça-feira, 4 de novembro de 2025

Inteligência emocional e gestão de conflitos

 Inteligência emocional e gestão de conflitos

O conceito de Inteligência Emocional (IE) surgiu primeiramente com Charles Darwin, que notou a importância da expressão emocional para a sobrevivência e adaptação das espécies. Ao longo dos anos, vários teóricos e pesquisadores, foram se aprofundando na teoria e aperfeiçoando o conceito, como o psicólogo David Wechsler que, em 1940, já falava sobre como os fatores não-intelectuais influenciam o comportamento inteligente. O termo "inteligência emocional" foi usado pela primeira vez em 1990 por Peter Salovey e John D. Mayer em um artigo publicado na revista Imagination, Cognition, and Personality, que causou um impacto mundial, onde eles definiram a Inteligência Emocional como: “(…) a capacidade de perceber e exprimir a emoção, assimilá-la ao pensamento, compreender e raciocinar com ela, e saber regulá-la em si próprio e nos outros.”, dividindo-a em quatro pilares: Percepção da emoção; Uso da emoção; Entender a Emoção e Controle e transformação da emoção.

No entanto, o termo se popularizou em 1995 com o livro homônimo de Daniel Goleman (Inteligência Emocional), onde ele argumenta que um QI elevado é superestimado e que a chave para uma vida realizada e bem-sucedida é a inteligência emocional. Ele foi o primeiro a abordar de forma mais aprofundada o conceito de “duas mentes” – racional e emocional – e explicou como, juntas, elas moldam nosso destino. Segundo ele, a consciência das emoções é fator essencial para o desenvolvimento da inteligência do indivíduo. O autor demonstra como a incapacidade de lidar com as próprias emoções pode minar a experiência escolar, acabar com carreiras promissoras e, até mesmo, destruir vidas. O fracasso e a vitória, portanto, não são determinados por algum tipo de loteria genética: muitos dos circuitos cerebrais da mente humana são maleáveis e podem ser trabalhados. Sendo assim, a inteligência emocional de uma pessoa pode ser ensinada e nutrida.

Inteligência Emocional é a capacidade de processar informações emocionais e usá-las de maneira adaptativa, reconhecendo e regulando emoções próprias e alheias. Há diferentes modelos do conceito de Inteligência Emocional, que podem ser divididos em duas categorias: os modelos de habilidades e os mistos. Os modelos de habilidades concentram-se nas habilidades mentais que usam as informações emocionais e raciocinam sobre elas para melhorar o processamento cognitivo. Já os modelos mistos abrangem definições mais amplas da Inteligência Emocional e inclui a capacidade não-cognitiva, combinam-se habilidades mentais e variáveis de personalidade. Exemplo: felicidade, adaptabilidade, tolerância ao estresse.

Há também um construto não estabelecido empiricamente, a “Inteligência Social”, que faz parte da Inteligência Emocional, e se refere à capacidade da pessoa de perceber os estados emocionais próprios e alheios, motivos e comportamentos e a capacidade de agir com base nessas informações. O objetivo da inteligência emocional é nos ajudar na adaptabilidade e na melhora da saúde mental:- identificando emoções e conteúdo emocional em si e nos outros, em objetos e situações e expressar adequadamente as emoções:

  • usar as emoções para facilitar o pensamento acessando, gerando, identificando e refletindo sobre emoções que possam facilitar a resolução de um problema;

  • conhecer as emoções para usar essas informações;

  • ter capacidade de regulação emocional em si e nos outros.

Então, a Inteligência Emocional, além de processar e racionalizar as emoções, as informações emocionais obtidas também auxiliam na tomada de decisões.

A gestão de conflitos está presente em todos os ambientes, organizacionais ou não, pois sempre que houver a convivência entre um grupo de pessoas, inevitavelmente haverá divergências de ideias, objetivos, entre outros fatores. Eles também podem ser encarados como propulsores de mudanças, tanto individuais como coletivas, pelo fato de proporcionarem o debate de ideias, solucionando problemas de forma criativa.

A gestão de conflitos, portanto, é o processo de resolver desacordos e divergências entre pessoas ou grupos, buscando por soluções que sejam vantajosas para todos os envolvidos. É uma habilidade importante que está diretamente relacionada à Inteligência Emocional. A exploração de diferentes pontos de vista pode representar uma grande oportunidade de crescimento, aprendizagem e mudanças positivas, uma vez que as pessoas têm características distintas entre si, com habilidades e competências diferentes que, somadas, podem levar a organização/grupo a atingir os objetivos preestabelecidos.

Quando os indivíduos inseridos em uma organização têm conhecimento profundo de si, agem com empatia e conseguem se expressar de forma objetiva, pode-se dizer que há uma relação saudável, caracterizada por interdependência, colaboração e engajamento. As relações humanas contêm uma série de disfunções e desequilíbrios, principalmente por se tratar de relações interpessoais. Sendo assim, o conflito nos tempos atuais é inevitável e sempre evidente. Entretanto, compreendê-lo, e saber lidar com ele, é fundamental para o seu sucesso pessoal e profissional.

Em resumo, o conflito é inevitável e constante nas organizações e grupos, porém existem ambientes e situações que potencializam a ocorrência do mesmo e, uma boa forma de entendê-lo e trabalhá-lo seria estudar suas causas. Se a razão do conflito for boa e construtiva, um simples choque de opiniões pode trazer uma mudança importante e necessária. O maior desafio então é saber escolher a melhor estratégia de resolução para cada caso, levando em consideração o bem estar entre as pessoas e o desenvolvimento da organização. O que sempre fará a diferença serão as pessoas envolvidas, suas intenções e habilidades.

Não é possível generalizar a inteligência emocional porque cada um tem uma experiência, dificuldade e vivência diferente. Olhando pelo meu ponto de vista, dentro da nossa casa vejo essa inteligência diretamente ligada ao ego, passando pela dificuldade de entendermos e aceitar o tempo e forma da espiritualidade trabalhar, visto que ela sabe exatamente as nossas necessidades e os pontos que precisamos evoluir mais. Então, analisar o caminho do meu irmão, sem ter tido as mesmas vivências que ele, pode parecer ser um caminho fácil e um “privilégio”; nesse ponto, entra o meu sentimento em relação a isso, porque é normal que todos nós nos frustramos, nos cobramos, mas como podemos lidar com inteligência em relação a esse sentimento?

Não me deixando ser atingida pelos meus achismos e não deixando que meus sentimentos tomem conta de mim, me fazendo agir por impulso, e buscando agir com equilíbrio entre razão e emoção. Apesar da objetividade para explicar como fazer, na verdade é extremamente difícil encontrar esse equilíbrio e trazer para nossa vida para que possamos agir da melhor forma. Cada um terá o seu tempo e sua forma de fazer isso.

Agora, falar sobre gestão de conflitos não é muito diferente de falar sobre os

fundamentos que acreditamos: tudo é mental. O universo é mental. O que está em cima é como o que está embaixo. Se o nosso universo é mental, tudo depende de como escolhemos ver, reagir e agir.

Quando pensamos em conflitos, é comum ouvirmos aquela frase: “onde dois não querem, um não briga.” E isso é uma verdade. No terreiro, lidamos com muitas pessoas, mais de 60 mentes pensantes — se contarmos crianças, colaboradores e médiuns. É muita gente diferente, com criações, valores e vivências completamente distintas. O que é importante pra um, pode não ser pro outro. O que é necessário para um, talvez não seja necessário pro outro. Por isso, precisamos ter sempre em mente: meu limite termina onde começa o do outro.

No terreiro isso é muito claro. E, sinceramente, é mais fácil respeitar esse espaço ali do que no mundo lá fora. No terreiro, conseguimos perceber quando um irmão está meditando, concentrado ou precisando de silêncio. Na rua, no corre do dia a dia, às vezes a gente nem percebe quando alguém está mal ou precisa de espaço. Mas, mesmo com isso tudo, é muito comum vermos desculpas dentro do terreiro para justificar atitudes que, fora dali, talvez não seriam toleradas. Muita gente entra no terreiro com a ideia de que ali é um espaço onde “podemos ser quem somos”, e isso é verdade — desde que esse “ser” não fira o outro.

O terreiro tem regras. Tem ética. Tem respeito. Todos queremos ser autênticos, mas até que ponto essa autenticidade respeita o coletivo? Às vezes, um “bom dia” atravessado ou um “boa noite” sem resposta já vira motivo pra julgamento. E, muitas vezes, a pessoa está apenas concentrada. Eu mesmo sou mestre em não responder por estar centrado — e isso não quer dizer falta de respeito. Então, não nos cabe julgar a forma como o outro está se comportando.

Estamos todos ali para servir à espiritualidade, não para sermos donos das regras, nem para vigiar uns aos outros. Se eu estou ali para criar intriga, fofoca ou alimentar picuinhas, eu já me desconectei do propósito. Não estou mais servindo a espiritualidade, estou servindo ao meu ego, às minhas dores, ao meu estresse — muitas vezes vindo de fora, de outros lugares.

O terreiro não deve ser fonte de estresse. Se ele está se tornando um problema na sua vida, talvez seja hora de refletir. E, se for sair, que seja pela mesma porta que você entrou: com respeito, com consciência de que cumpriu seu papel ali. Somos umbandistas e o nosso propósito é praticar amor e caridade. Quem pratica amor e caridade não está ali para julgar e sim para acolher e compreender. Cada um tem uma forma de viver, um jeito de se expressar, um tipo de dia difícil. Se alguém te responde atravessado ou te trata de um jeito que você não gosta, isso só vira um conflito se você permitir. Se você não permitir, não há conflito.

Como diz a música: “Haja mais amor… a começar em mim.” Portanto, que a gente pratique o que acredita. Que sejamos quem somos, mas com responsabilidade e consciência coletiva. O terreiro é um espaço de cura, de aprendizado, de entrega. E tudo isso começa dentro de nós.

                    Camila de Iemanjá, Maria Nunes de Ogum Beira-mar e Nayara de Oxaguiã


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