Iemanjá
Iemanjá, na África Ancestral, era cultuada pelos Egbá, nação
do povo Iorubá da região de Ifé, onde era considerada a
divindade do rio que deságua no mar, sendo Olokum, a
grande orixá dos mares. Devido a isso, sua saudação
“Odoyá” significa “Salve a Senhora do Rio”. Lá, eles
acreditavam que Iemanjá se manifestava em qualquer corpo
de água.
Seu culto se modificou com a escravização do povo africano
e a colonização das Américas.
Em terras brasileiras, uma junção de culturas formaram a
imagem e o culto da Iemanjá que conhecemos. A isso
também se deve suas diversas datas comemorativas – que
depende do sincretismo e do terreiro. Quando sincretizada
com Nossa Senhora dos Navegantes (padroeira dos
marinheiros, pescadores e jangadeiros), seu dia é
comemorado em 02 de fevereiro.
É conhecida por diversos nomes, desde Janaína, Iara, Mãe
D’água, Sereia, Inaê, Mukunã, Marabô, Princesa de Aiucá,
Dandalunga, Rainha do Mar, entre outros que surgiram
através da mistura com a cultura indígena, o catimbó de
Jurema, as práticas de Umbanda, e outros mais,
dependendo da região.
Ela também é conhecida como Senhora da Calunga Grande
– que se refere ao mar, a enormidade de seu destino e de
seu horizonte. Foi na Calunga Grande que foram atirados os
corpos dos africanos colocados nos navios negreiros que
acabaram morrendo devido aos açoites, doenças e à fome.
O guardião da Calunga Pequena (cemitério/terra) é Omolu,
que polariza com Iemanjá, na 7ª linha da Umbanda, a Linha
da Geração.
Na Umbanda, todas as linhas funcionam em equilíbrio (e
assim também deve funcionar as nossas vidas), portanto,
Omolu é o polo absorvedor, enquanto Iemanjá é o polo
irradiador. Ou seja, Omolu encerra um ciclo para que
Iemanjá possa criar outro.
Aqui vem um ponto importante: a geração de Iemanjá não
está ligada ao nascimento, mas sim à transformação. Ela
atua no que já existe para que possa ser aprimorado. Devido
a isso, é considerada a Grande Mãe, mãe de todos os orixás.
Por ter essa qualidade geradora, a força de Iemanjá se
expande a tudo que vive, tornando todos os seres, criaturas
e espécies muito criativos e capazes de se adaptarem às
condições e meios mais adversos.
A ela está ligado o poder da compaixão, do perdão e do amor
incondicional. Iemanjá é o sentido da união, é o desejo de
vermos quem amamos a salvo e em paz. Sempre presente
nos nascimentos (momento em que ampara nossas
cabeças), cuida de nossos oris, nos entregando o sentido da
vida e trabalhando nosso equilíbrio emocional e saúde
mental.
Nutridora por essência, é a mãe que banha a terra com
fertilidade, afastando a aridez da vida. Abundância e
expansão são símbolos presentes em Iemanjá. Prova disso
é o seu entrelaçamento aos oceanos, fundamentais para
nossa existência, proporcionando oxigênio, regulação
climática e nutrindo a vida.
Ela também é responsável por reger os ciclos naturais
ligados às águas, gerenciando as fases de "mudanças" nas
mulheres, que acontecem, também, devido aos ciclos da lua.
As diferentes fases da lua – que, com seu magnetismo,
possui grande influência sob os mares e a natureza –
também são regidas por ela. Nas imagens e representações de Iemanjá, ela carrega um
de seus símbolos, o Abebé, um espelho cuja face está virada
para o lado exterior, apontando para outra pessoa.
Existe uma lenda a respeito deste espelho, que é a seguinte:
“Um dia um reino resolve declarar guerra a Yemanjá, deusa
das águas e dos mares, sabendo que ela não tinha um
exército ou guardas que a protegiam. Depois de muito
pensar no que deveria fazer para se proteger e vencer a
batalha, Yemanjá resolve colocar espelhos de todas as
formas e tamanhos na beira do mar. Quando chega a hora
da batalha, ela se coloca próxima aos espelhos com uma
espada em punho e, quando seus inimigos chegam perto,
assustam-se com as suas próprias imagens distorcidas
refletidas nos espelhos, então fogem apavorados contando
ao seu rei que Yemanjá não é sozinha como haviam
pensado, e possui um exército de criaturas horríveis.”
Esta lenda nos mostra que o espelho de Iemanjá não mostra
apenas a outra pessoa, que o está mirando. O espelho dela
também reflete a nós mesmos. Quer maneira melhor de se
conhecer do que se ver no outro? A maneira como tratamos
as pessoas diz muito sobre nós.
É por isso que Iemanjá nos convida a olhar para o outro com
mais gentileza e compreensão. Ela vem transformar nossos
laços, através do amor e do perdão. Perdão esse que
precisamos dar primeiro a nós, para que depois possamos
dar ao outro. Ela nos chama a quebrar o casulo do nosso
conforto, a não ter medo da dor, pois não existe cura sem
dor. E a água cura. Mais de 70% do nosso corpo é coberto
de água, a substância mais importante das nossas vidas.
Devido a isso, na Umbanda, Iemanjá é a regente da linha
dos marinheiros. Estes quando estão nas águas, enfrentam
tempestades, conhecem novos lugares e cruzam fronteiras.
Eles vêm trazendo a cura, descarregando o ambiente,
limpando os campos vibracionais e emocionais e, na força
de Iemanjá, nos ensinando a enfrentar as tempestades da
vida e trazendo a vontade de cruzar novos caminhos. É com
os marinheiros que a gente aprende que onda grande se
atravessa mergulhando.
Que ao pensar em Iemanjá, possamos também refletir sobre
o respeito às águas e à natureza. De nada adianta entender
a força do Orixá, se não cuidamos dos nossos bens mais
preciosos: os naturais.
Por fim, que possamos nos lembrar que somos todos
navegantes em um mar imprevisível que às vezes é
calmaria, e às vezes redemoinho. Que na imensidão do teu
mar, possamos nos reconhecer de verdade e aprender a
amar.
Iemanjá é a mãe que nunca abandona, nunca se esquece,
que nunca se cansa. Ela nos ensina que ninguém chega do
outro lado do mar sem passar pelas águas, enfrentar os
ventos e as marés. Ninguém alcança nada sem ter que lutar.
Que ao nos concentrarmos na força de Iemanjá, peçamos a
ela que nos ampare e leve embora em suas águas todas as
nossas dores, transformando nossos corações e nos
trazendo o discernimento necessário para seguir adiante,
navegando em dias mais bonitos.
Salve a Senhora das Águas Sagradas (Odociaba)!
Camila de Iemanjá
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