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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Orixá Iemanjá

 Iemanjá 

    Iemanjá, na África Ancestral, era cultuada pelos Egbá, nação do povo Iorubá da região de Ifé, onde era considerada a divindade do rio que deságua no mar, sendo Olokum, a grande orixá dos mares. Devido a isso, sua saudação “Odoyá” significa “Salve a Senhora do Rio”. Lá, eles acreditavam que Iemanjá se manifestava em qualquer corpo de água. Seu culto se modificou com a escravização do povo africano e a colonização das Américas. 
    Em terras brasileiras, uma junção de culturas formaram a imagem e o culto da Iemanjá que conhecemos. A isso também se deve suas diversas datas comemorativas – que depende do sincretismo e do terreiro. Quando sincretizada com Nossa Senhora dos Navegantes (padroeira dos marinheiros, pescadores e jangadeiros), seu dia é comemorado em 02 de fevereiro. É conhecida por diversos nomes, desde Janaína, Iara, Mãe D’água, Sereia, Inaê, Mukunã, Marabô, Princesa de Aiucá, Dandalunga, Rainha do Mar, entre outros que surgiram através da mistura com a cultura indígena, o catimbó de Jurema, as práticas de Umbanda, e outros mais, dependendo da região. 
    Ela também é conhecida como Senhora da Calunga Grande – que se refere ao mar, a enormidade de seu destino e de seu horizonte. Foi na Calunga Grande que foram atirados os corpos dos africanos colocados nos navios negreiros que acabaram morrendo devido aos açoites, doenças e à fome. O guardião da Calunga Pequena (cemitério/terra) é Omolu, que polariza com Iemanjá, na 7ª linha da Umbanda, a Linha da Geração.


    Na Umbanda, todas as linhas funcionam em equilíbrio (e assim também deve funcionar as nossas vidas), portanto, Omolu é o polo absorvedor, enquanto Iemanjá é o polo irradiador. Ou seja, Omolu encerra um ciclo para que Iemanjá possa criar outro. Aqui vem um ponto importante: a geração de Iemanjá não está ligada ao nascimento, mas sim à transformação. Ela atua no que já existe para que possa ser aprimorado. Devido a isso, é considerada a Grande Mãe, mãe de todos os orixás.     
    Por ter essa qualidade geradora, a força de Iemanjá se expande a tudo que vive, tornando todos os seres, criaturas e espécies muito criativos e capazes de se adaptarem às condições e meios mais adversos. A ela está ligado o poder da compaixão, do perdão e do amor incondicional. Iemanjá é o sentido da união, é o desejo de vermos quem amamos a salvo e em paz. Sempre presente nos nascimentos (momento em que ampara nossas cabeças), cuida de nossos oris, nos entregando o sentido da vida e trabalhando nosso equilíbrio emocional e saúde mental. Nutridora por essência, é a mãe que banha a terra com fertilidade, afastando a aridez da vida. Abundância e expansão são símbolos presentes em Iemanjá. Prova disso é o seu entrelaçamento aos oceanos, fundamentais para nossa existência, proporcionando oxigênio, regulação climática e nutrindo a vida. 
    Ela também é responsável por reger os ciclos naturais ligados às águas, gerenciando as fases de "mudanças" nas mulheres, que acontecem, também, devido aos ciclos da lua. As diferentes fases da lua – que, com seu magnetismo, possui grande influência sob os mares e a natureza – também são regidas por ela. Nas imagens e representações de Iemanjá, ela carrega um de seus símbolos, o Abebé, um espelho cuja face está virada para o lado exterior, apontando para outra pessoa. Existe uma lenda a respeito deste espelho, que é a seguinte: 
“Um dia um reino resolve declarar guerra a Yemanjá, deusa das águas e dos mares, sabendo que ela não tinha um exército ou guardas que a protegiam. Depois de muito pensar no que deveria fazer para se proteger e vencer a batalha, Yemanjá resolve colocar espelhos de todas as formas e tamanhos na beira do mar. Quando chega a hora da batalha, ela se coloca próxima aos espelhos com uma espada em punho e, quando seus inimigos chegam perto, assustam-se com as suas próprias imagens distorcidas refletidas nos espelhos, então fogem apavorados contando ao seu rei que Yemanjá não é sozinha como haviam pensado, e possui um exército de criaturas horríveis.” 
    Esta lenda nos mostra que o espelho de Iemanjá não mostra apenas a outra pessoa, que o está mirando. O espelho dela também reflete a nós mesmos. Quer maneira melhor de se conhecer do que se ver no outro? A maneira como tratamos as pessoas diz muito sobre nós. É por isso que Iemanjá nos convida a olhar para o outro com mais gentileza e compreensão. Ela vem transformar nossos laços, através do amor e do perdão. Perdão esse que precisamos dar primeiro a nós, para que depois possamos dar ao outro. Ela nos chama a quebrar o casulo do nosso conforto, a não ter medo da dor, pois não existe cura sem dor. E a água cura. Mais de 70% do nosso corpo é coberto de água, a substância mais importante das nossas vidas. 
    Devido a isso, na Umbanda, Iemanjá é a regente da linha dos marinheiros. Estes quando estão nas águas, enfrentam tempestades, conhecem novos lugares e cruzam fronteiras. Eles vêm trazendo a cura, descarregando o ambiente, limpando os campos vibracionais e emocionais e, na força de Iemanjá, nos ensinando a enfrentar as tempestades da vida e trazendo a vontade de cruzar novos caminhos. É com os marinheiros que a gente aprende que onda grande se atravessa mergulhando. 



    Que ao pensar em Iemanjá, possamos também refletir sobre o respeito às águas e à natureza. De nada adianta entender a força do Orixá, se não cuidamos dos nossos bens mais preciosos: os naturais. Por fim, que possamos nos lembrar que somos todos navegantes em um mar imprevisível que às vezes é calmaria, e às vezes redemoinho. Que na imensidão do teu mar, possamos nos reconhecer de verdade e aprender a amar. Iemanjá é a mãe que nunca abandona, nunca se esquece, que nunca se cansa. Ela nos ensina que ninguém chega do outro lado do mar sem passar pelas águas, enfrentar os ventos e as marés. Ninguém alcança nada sem ter que lutar. 
    Que ao nos concentrarmos na força de Iemanjá, peçamos a ela que nos ampare e leve embora em suas águas todas as nossas dores, transformando nossos corações e nos trazendo o discernimento necessário para seguir adiante, navegando em dias mais bonitos.

Salve a Senhora das Águas Sagradas (Odociaba)!

Camila de Iemanjá 


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