O médium cético
Popularmente médiuns são vistos como pessoas que têm “poderes especiais”, as quais geram “fenômenos” inexplicáveis à luz da ciência. Sendo alguns desses “fenômenos”, manifestações de espíritos desencarnados através da incorporação, psicografia etc. Apesar de que hoje muitas pessoas sabem que as manifestações mediúnicas não são “fenômenos” e nem “faculdades especiais”, uma vez que a mediunidade é uma faculdade inerente ao ser humano e suas manifestações se não comprovadas cientificamente, são muito bem explicadas por diversas tradições esotéricas e religiosas e “comprovadas” através da observação e prática.
Como sabemos a mediunidade tem a ver com acoplamento dos chakras (pontos de energia localizados no duplo etérico) do médium e do espírito, com a reativação da glândula pineal e com o domínio do ser quanto a seu emocional e psicológico, permitindo que o guias espirituais se manifestem. O que poucos sabem é que mesmo esses “fenômenos” ocorrendo, não são inquestionáveis nem mesmo para o próprio médium que os manifesta.
Atualmente praticamente estão extintos os chamados médiuns inconscientes, que são aqueles que apagariam no momento da incorporação, tendo seu corpo dominado e controlado pelo espírito que se manifesta, e só retornando à consciência após o fim da incorporação. Desta forma a enorme maioria dos médiuns de hoje ou são semiconscientes ou conscientes, o que quer dizer que ou estão parcialmente presentes no momento das incorporações ou totalmente presentes. A incorporação é uma união das consciências do espírito e do médium, gerando uma terceira consciência.
Brevemente podemos comentar que muitos médiuns iniciantes e visitantes gostariam de ser ou se consultar com médiuns inconscientes, por temerem que a manifestação do guia seja afetada pela consciência do médium. Vale lembrar que essa consciência é na verdade uma segurança para a incorporação e para a consulta, uma vez que um médium inconsciente jamais poderia distinguir se está incorporando um guia espiritual ou um espírito zombeteiro pois estaria apagado.
Chegamos ao ponto em que gostaríamos de falar sobre o médium cético. Como na incorporação o médium está presente, o médium cético, principalmente quando tem uma mediunidade mais sutil, normalmente terá maior dificuldade para se soltar no desenvolvimento mediúnico e dar vazão aos ensinamentos dos guias espirituais. Normalmente demorando mais nesse desenvolvimento e mesmo quando já desenvolvido e já prestando um trabalho espiritual, poderá ainda se questionar se não existe outra explicação para isso.
Tal afirmação pode parecer absurda, pois o médium cético parece por si só uma contradição, mas sim é possível e até mesmo comum. Todo Terreiro tem alguém (ou alguém) que se questiona demais e isso de certa forma é até positivo. Aquele que se questiona se preocupa em prestar um trabalho de excelência e não tem a intenção de enganar ninguém. Nos dias atuais se tornou comum ver magos e médiuns que dizem que fazem e acontece, que com ele ninguém pode e que tem o domínio do mundo espiritual e material. Esse tipo de pessoa cresce porque muitas pessoas se impressionam fácil e montando um grande circo esses falsos médiuns conseguem enriquecer e prosperar em cima da credulidade e inocência das pessoas, não estão preocupados se a vida dos que o procuram será afetada, querem apenas chocar para ganhar novos seguidores e ganhar dinheiro.
O médium cético sabe que nenhuma verdade é absoluta e por mais que a sua experiência com a espiritualidade parece provar que os guias se manifestam e que trazem informações que de outra maneira não pareceriam possível, existem ainda outras possibilidades. Como uma auto hipnose ou um acesso a um inconsciente coletivo. Existem casas que testam suas entidades, mas mesmo dessa forma é impossível provar realmente. As pessoas creem no que estão dispostas, se abrem e colhem o que necessitam e querem.
Ao questionar o senhor Caboclo 7 flechas sobre isso ele me disse algo parecido com “no dia em que você conseguir provar a sua existência, nós conseguiremos provar a nossa”. Achei muito interessante a resposta, pois como diz no filme matrix: “se chamamos de real tudo que podemos sentir, cheirar e tocar, então real são apenas sinais elétricos passando pelas sinapses de nossos cérebros”. Nossas cabeças são nossos universos, nos ligamos e vivemos aquilo que nos permitimos.
No mundo espiritual essa ideia é ainda mais válida, pois é necessário ter fé, se você não tem fé sempre estará em uma luta permanente tentando entender detalhes e mecanismos. E quando se tem fé, não se precisa provar, só é preciso viver e sentir. E sabe que mesmo que nossas teorias estejam totalmente erradas, e que não exista incorporação ou espíritos, se o trabalho estiver ajudando pessoas tudo valeu a pena. Como diz o ponto de preto velho: “Quem tem fé tem tudo, quem não tem fé não tem nada”.
Tudo é e nada é.
Axé
Ricardo de Ogum Matinata
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