Reis Malunguinho
Hoje falaremos sobre Malunguinho, um ser histórico, líder quilombola, que viveu e lutou pelo seu povo. Que apesar de pouco conhecido, teve também grande relevância na história de nosso país, sendo símbolo de força e representatividade, tornando-se a entidade mais cultuada da Jurema Sagrada.
Em 1817, Pernambuco foi palco de uma revolução que, de forma bem resumida, foi resultado da insatisfação pernambucana com o domínio português. De 1817 a 1835 vários mucambos foram surgindo nas matas de Pernambuco, dando origem a um grande sistema de quilombos, chamado de Catucá.
Malunguinho era conhecido como líder do Catucá, responsável por organizar resgates para libertar escravos de senzalas e por proteger os quilombos, que representavam perigo ao governo provincial. Malunguinho era o principal estrategista da resistência, responsável por implementar emboscadas para proteção de seu povo contra os invasores. Uma estratégia muito conhecida era conhecida como estrepes, que consistia em um tipo de lança que eram enterradas no chão para dificultar a passagem.
“Que mata é essa que nela eu vou entrar,
Que nela eu vou entrar, é com meus caboclinhos.
Reis Malunguinho, bote estrepe no caminho,
pra inimigo não passar.”
Malunguinho é uma palavra que tem origem no Kimbundo, língua falada em Angola, na África, e significa companheiro/parceiro de viagem, de lutas. Acreditasse que Malunguinho não tenha sido uma única pessoa e sim uma forma de referência aos líderes de Catucá. Dentre os líderes Malunguinho, o último conhecido foi João Batista, capturado e morto em 1835.
Apesar de todos os mistérios que rondam sua história e a falta de evidências concretas da sua existência, há registros que contam que Malunguinho foi ferido em uma emboscada, mas conseguiu escapar e se esconder na floresta, onde foi resgatado por índios e recebeu cuidados para se curar. Ele passou a viver um tempo na aldeia, onde aprendeu um pouco da cultura indígena e a ciência mística da Jurema.
Devido a toda sua representatividade e relevância na resistência do Catucá, as pessoas que conviveram com Malunguinho (sua figura e o que representava) passaram a vê-lo como herói, como alguém digno de ser louvado,como um de seus ancestrais. A partir daí, Malunguinho tornou-se uma entidade da Jurema Sagrada, religião tipicamente nordestina.
Reis Malunguinho é responsável pela chave mágica dos portões da Jurema e por sua abertura, pela proteção dos portais entre os mundos, por isso sempre chamamos por ele no início de nossos rituais. É conhecido como Reis, no plural, pois se apresenta como mensageiro de 3 mundos: Mata, Jurema e Encruzilhada.
Como Exu, vem abrindo os caminhos, desbravando e trazendo mensagem de cuidado e proteção. Como caboclo, trás os conhecimentos indígenas, toda a ritualística com as folhas, as plantas e a natureza em si. Como mestre, trás seus conhecimentos para gerenciar dificuldades, soluções para problemas que enfrentamos no cotidiano. Ele é quem ronda a mata para vencer as demandas, trazendo a ciência de cura e os caminhos seguros.
Sobô Nirê Mafá, salve a coroa de Reis Malunguinho.
“Malunguinho, Malunguinho,
mensageiro de três mundos.
Lá na mata ele é caboclo,
Na jurema ele é bom mestre,
Na encruza é guardião,
Pra ajudar os que merecem.”
Larissa de Iansã
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