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quinta-feira, 24 de junho de 2021

O método

O método

 

Estudaremos agora o capítulo III, que se encontra na primeira parte do Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, denominado “Método”. Este capítulo refere-se à análise da melhor forma de ensinar a doutrina espírita com o objetivo de dar mais segurança à convicção de cada um. Lembrando que na Umbanda temos as mesmas dificuldades para o ensino convicto e mais esclarecido aos que procuram conhecer a religião.

O ensino deve ser entendido de forma mais ampla, não somente aquele catedrático e pedagógico, mas também pelo diálogo e experiências, além de todo meio que possa convencer ou persuadir o outro ao entendimento. Para a doutrina espírita, e igualmente para nós umbandistas, o princípio deve ser a existência da alma para, em um momento secundário, entender a questão dos espíritos. Então para se convencer um incrédulo deve-se saber sobre sua opinião acerca da existência da alma, da sobrevivência desta ao corpo, da sua individualidade após a morte. Se o indivíduo negar a sua existência estaríamos perdendo tempo falando de espíritos, mesmo diante de fatos.

Allan Kardec explica os vários incrédulos. Primeiramente ele cita os materialistas em duas classes, sendo a primeira delas os materialistas por sistema: aqui há a negação absoluta da alma, entendendo que o homem se constitui de matéria pura, apenas uma máquina que somente funciona se está bem montada e após a morte fica apenas a carcaça. Nessa classe a maioria dos que são adeptos permanecem pelo orgulho de sua opinião e persistem, mesmo diante de prova em contrário, porque não querem ou acham que não podem mudar. Alguns vão dizer “fazei que eu veja e acreditarei” ou “ainda que eu visse, não acreditaria”, mas tudo em vão. Para estes, a forma seria colocá-los no terreno que estão e provar-lhes que a fisiologia não tem todas as respostas e “o resto virá depois”.



A segunda classe dos materialistas seria o verdadeiro materialista com sentimento antinatural, compreendendo aqueles que o são por indiferença, por falta de coisa melhor. Para estes, há um desejo de crer diante da incerteza que os invade e atormenta. Para estes incrédulos, caso seja apresentado algo racionalmente, aceitarão, pois podem nos compreender por que estão mais próximos que imaginam.

Cita uma terceira classe de incrédulos que se dizem espiritualistas (ao menos no nome) também chamados incrédulos de má-vontade que são aqueles que estão vinculados às questões materiais e às vaidades humanas que se deliciam. São os que fecham os olhos para não ver e tapam os ouvidos para não ouvir. Ainda tem os incrédulos por interesse ou má-fé que sabem o que pensar do espiritismo, mas o condena por motivos de interesse pessoal. Para estes o tempo se encarregará de mostrar a verdade, pois esta se expande e lhe arrastará juntamente com os interesses que julgava maiores.

Outros incrédulos ou opositores são citados no texto de Allan Kardec, dentre eles: incrédulos por pusilanimidade (falta de energia; fraqueza) são os que terão coragem a partir do outro; incrédulos por escrúpulos religiosos: um estudo mais aprofundado ensinará que o espiritismo tem bases fundamentais e respeitará todas as crenças e religiões. Cita, ainda, os incrédulos por orgulho, por espírito de contradição, negligência, leviandade etc. Os incrédulos por decepções é uma categoria daqueles que passaram da confiança para a incredulidade por terem sofrido desenganos e decepções. Abandonaram e rejeitaram tudo.

Seguindo o estudo, Allan Kardec cita uma classe tida como a mais numerosa, mas não como opositores do espiritismo, que seriam os incertos: espiritualistas por princípio e a maioria tem uma vaga intuição das ideias espíritas. Para estes, o espiritismo é como um traço de luz e, se acolhido, os livra das angústias das incertezas. Por outro lado, passa-se o olhar para os crentes ou aqueles que de alguma forma aceitam o espiritismo. De início cita os espíritas sem o saberem: são aqueles que já tem inato o sentimento dos grandes princípios que decorrem a doutrina espírita, mesmo sem ter ouvido tratar dela antes.

Outros são aqueles que se convenceram por um estudo direto:

Espíritas experimentadores: os que creem pura e simplesmente nas manifestações; entendem que o espiritismo é uma ciência de observação, uma série de fatos mais ou menos curiosos.

Espíritas imperfeitos: o espiritismo além dos fatos também compreende a parte filosófica, admirando a moral; estes admiram, mas não praticam; continuam seus hábitos e não se privam das imperfeições que carregam, como exemplo, se são invejosos, continuam sendo. Consideram a caridade cristã apenas uma bela máxima.

Espíritas cristãos ou verdadeiros espíritas: estes não se contentam em apenas admirar a moral espírita, mas também a praticam e aceitam as consequências; estão convencidos de que a existência terrena é uma prova passageira e procuram aproveitar para progredir para a elevação espiritual, esforçando para fazer o bem e esquivar ou eliminar as más tendências. Para eles a caridade é a regra que deve seguir.

Espíritas exaltados: esta classe acaba excedendo e enxerga confiança exagerada em tudo que é invisível, levando e aceitando com facilidade e sem verificação aquilo que é absurdo o que, com reflexão e exame, seria constatado.



Feito este estudo das classes dos incrédulos e crédulos, Kardec passou a discorrer sobre os meios de convencimento que são variados, conforme cada indivíduo. O que convence um, nada induz o outro. Cita que o maior número se convence pelo raciocínio e que os fenômenos naturais quase nenhum peso tem, pois somos levados, naturalmente, a duvidar daquilo que não é racional. Portanto, cada um terá sua explicação, sendo que o materialista dirá que se trata de uma causa física, o ignorante ou supersticioso dirá que é diabólico ou sobrenatural, ao passo que uma explicação prévia destruirá as concepções pré-concebidas e mostrará a realidade, pelo menos a possibilidade, da coisa antes de ser vista. Assim, desde que conheça a possibilidade de um fato, a maioria da convicção (diz Kardec que três quartos da convicção) já está resolvida.

Como já mencionado em linhas pretéritas, o convencimento dos incrédulos obstinados está, muitas vezes, relacionado as causas da natureza de sua incredulidade que tem importância pessoal e se não se convenceu pelo raciocínio, nem pelos fatos, é porque se trata da necessidade de ainda sofrer a prova da incredulidade e deixar à Providência o encargo de preparar as circunstâncias favoráveis para o entendimento.

Não há que se perder tempo com aqueles que repelem a luz, pois existem outros de boa-vontade que a deixam chegar sem maior resistência. Sem dúvida que o espírita verdadeiro, assim como o verdadeiro umbandista, não deixará de fazer o bem, ajudar corações aflitos, amparar desesperados, operar reformas morais, pois é a sua missão. O espiritismo está no ar e difunde-se mesmo nas coisas, porque torna feliz quem o professa.

Allan Kardec afirma que para o ensino do espiritismo não é igual ao processo das ciências ordinárias/comuns, ou seja, começar do começo para o fim: iniciar com o mais simples e sucessivamente para o mais complexo, pois no espiritismo lidamos com inteligências que gozam de liberdade e que nos provam não estar submetidas aos nossos caprichos. Portanto, cabe-nos observar, aguardar os resultados e colhê-los à passagem. Assim, o meio mais simples é começar pela teoria, onde os fenômenos são apreciados e explicados para que possa conhecer, compreender a possibilidade, saber em que condições poderão produzir e quais obstáculos poderão enfrentar. Independentemente da ordem apresentada, não serão surpreendidos, além da vantagem de poupar decepções aos que queiram operar por si mesmo, evitando adquirir experiência a sua própria custa.

Outra vantagem do estudo prévio da teoria é mostrar a grandeza do objetivo e o alcance do espiritismo. Os que creem antes de haver visto, por estudo, leitura e compreensão, são os que mais refletem, dando maior atenção ao fundo do que à forma, validando a parte filosófica e considerando como acessório os fenômenos propriamente ditos. As manifestações não são a base essencial, mas confirmam a doutrina. Claro que a teoria vem dar explicações a fatos provocados ou espontâneos. Contudo, não se pode desprezar os fatos, pois por estes é que foi possível chegar à teoria através de inúmeros estudos e observações. Os fatos serviram e servem sempre a doutrina espírita, mas sem raciocínio eles não bastam para determinar a convicção de uma explicação prévia.


Por fim, Kardec sugere a leitura prévia das obras “O que é o Espiritismo?”; “O livro dos Espíritos”; “O Livro dos Médiuns” e “A Revue Spirite”. Aconselha Kardec que para se aprofundarem em uma determinada ciência deve ser lido tudo que encontrar sobre o assunto, o pró e o contra, e todos os autores para ter um apanhado amplo sobre o assunto, e afirma “caber ao leitor separar o bom do mau, o verdadeiro do falso”.

Aqui terminamos a leitura do Capítulo III - “O método”, do Livro dos Médiuns” de Allan Kardec. Encontramos na Umbanda as mesmas dificuldades da doutrina espírita e podemos aplicar as considerações feitas por Allan Kardec no capítulo ora estudado. Tal como considerado, a melhor forma de se convencer um incrédulo é através do raciocínio e este se dará mais eficientemente pelo estudo teórico prévio, pois a partir daí o indivíduo estará preparado para analisar, compreender e assimilar melhor os fatos e/ou fenômenos da Umbanda. O estudo teórico é essencial para qualquer umbandista ou crente na Umbanda, mesmo porque “Umbanda é coisa séria para gente séria” e o compromisso e evolução estão diretamente ligados ao conhecimento/estudo.

Que tenhamos consciência de que o método mais eficaz para nossa fé (crença/acreditar) consiste no conhecimento e no estudo, pois a possibilidade de crer naquilo que conhecemos é imensamente maior. Isso é característica do Ser Humano/encarnado.

Muito axé a todos.

Girlei de Iemanjá

  

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