As Sereias na Umbanda de Jurema: Mitologias e Ensinamentos
Hoje, exploraremos uma entidade emblemática da Umbanda: as sereias. Sua manifestação ocorre principalmente na linha do Povo d'Água, que traz consigo marinheiros, pescadores, piratas e outras entidades que trazem a magia das águas; todas com o propósito comum de transmitir ensinamentos baseados no amor e na caridade. As sereias, seres encantados e mitológicos, são parte fundamental dessa linha e suas histórias estão presentes em diversas mitologias ao redor do mundo. A compreensão desses mitos nos permite entender melhor o trabalho e a missão das sereias dentro das manifestações da Umbanda de Jurema.
Na mitologia grega, as sereias eram descritas como seres metade mulher e metade pássaro, cujos cantos sedutores atraíam marinheiros para a morte. No épico Odisseia de Homero, Ulisses conseguiu escapar de sua atração mortal ao tapar os ouvidos de sua tripulação com cera e se amarrar ao mastro do navio. Com o tempo, essa imagem se fundiu com a de ninfas aquáticas, dando origem à concepção moderna da sereia.
Na mitologia celta, encontramos as Selkies da tradição irlandesa e escocesa, seres marinhos capazes de se transformarem em humanos ao removerem sua pele de foca. Já as Melusinas, figuras da França medieval, eram associadas a linhagens nobres e possuíam caudas de peixe. Já na mitologia nórdica, as Havfrue (donzelas do mar) eram retratadas como belas mulheres, que podiam ser benevolentes ou traiçoeiras. Relatos sobre nixes e undinas — espíritos aquáticos — também se assemelham à figura das sereias.
A mitologia indígena brasileira também traz suas próprias representações das sereias, com destaque para a lenda da Iara (ou Uiara), que tem raízes nos mitos dos povos indígenas, especialmente dos Tupis e Guaranis. Originalmente, Iara era descrita como um espírito das águas doces, vivendo nos rios e igarapés da Amazônia. Seu nome significa "aquela que vive na água". Iara é retratada como uma mulher de rara beleza, com longos cabelos negros (ou, em versões mais recentes, verdes ou azulados) e pele brilhante, semelhante às escamas de um peixe, habitando rios e cachoeiras, e encantando os homens com seu canto hipnótico. Aqueles que a ouvem perdem a razão e se jogam no rio, desaparecendo nas águas. Ao contrário das sereias gregas, que são associadas ao mar, Iara está ligada aos rios e lagos da floresta amazônica. Sua mitologia foi influenciada pelos colonizadores portugueses, que transformaram sua imagem, conferindo-lhe características de sereia, semelhantes às do folclore europeu. Com o tempo, passou a ser descrita com uma cauda de peixe, simbolizando tanto beleza quanto perigo.
Além de Iara, outras entidades brasileiras também estão ligadas às águas, como a Mãe-d'Água. Em algumas regiões do Brasil, especialmente no Nordeste, ela é considerada uma sereia, com uma forte influência das crenças africanas e portuguesas. A Mãe-d'Água é vista como uma entidade encantada que protege as águas e pode trazer boa sorte aos pescadores que a respeitam.
Na mitologia africana, Mami Wata é uma entidade aquática venerada em várias tradições, representada como uma bela mulher com cauda de peixe, associada à sedução, riqueza e fertilidade. Já Kiandra é uma figura mítica presente, principalmente, nas tradições dos povos da região da África Central, como os Bantu e Kongo, mas também possui raízes em algumas lendas da África Ocidental. Kiandra é um espírito feminino das águas, frequentemente ligado à natureza, ao mistério das águas e à sedução. Ela é descrita como uma mulher de beleza deslumbrante, com características de sereia ou de entidade aquática sedutora. Em algumas versões da lenda, Kiandra é retratada com cabelos longos e escuros, semelhantes aos de uma sereia, ou até com pele coberta de escamas, como outras criaturas aquáticas mitológicas. Ela é frequentemente associada às águas doces, como rios, lagos e lagoas, sendo vista como uma entidade que habita esses locais misteriosos. As mitologias africanas relatam que Kiandra exerce um poder sedutor sobre aqueles que se aproximam das suas águas. Ela pode atrair os homens com seu canto hipnótico ou com sua beleza irresistível, levando-os à obsessão e, em muitos casos, à morte daqueles que não conseguem resistir ao seu encantamento. No entanto, Kiandra não é apenas uma figura de sedução. Em várias histórias, ela também é vista como uma protetora das águas e da natureza, sendo reverenciada por aqueles que respeitam o equilíbrio natural e as forças aquáticas.
Ao conhecer essas diversas mitologias, podemos traçar um paralelo que resulta no arquétipo moderno da sereia: seres aquáticos, metade mulher, metade peixe, com o poder de encantar os homens com seus cantos, atraindo-os para o fundo das águas. Esse arquétipo é, em essência, uma fusão de diferentes mitos e culturas.
Agora, trago o ensinamento do Caboclo 7 Flechas sobre as sereias e os princípios de trabalho dessas entidades, que muitas vezes são mal compreendidas. O Caboclo 7 Flechas esclareceu que as sereias são seres encantados e não elementais. Elas transmitem seu encanto por meio das diversas mitologias existentes, mas sua missão é justamente quebrar essas mitologias. Um exemplo disso é que as sereias vêm para romper os encantos que nos deixam perdidos em nossas próprias paixões, trazendo um ensinamento que vai contra o que é geralmente narrado nas lendas. O Caboclo também explicou que as sereias se manifestam junto ao Povo d'Água, pois foram esses seres que transmitiram as histórias sobre elas. Ele ressaltou, ainda, que o mar de antigamente não era como o mar de hoje. Dessa forma, podemos concluir que as sereias se manifestam na Umbanda de Jurema com a missão de nos libertar das paixões que nos mantém encantados, presos e perdidos em nossas vidas.
Júllia Gabriely de Iansã
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