Introdução básica a Kabbalah
Nos meios esotéricos, muito se discute sobre Kabbalah. Esse assunto está presente nos mais variados círculos religiosos e de estudo místico. No entanto, muitas pessoas têm interesse no assunto mas falta uma explicação básica e simples para adentrar nesse universo. Com esse texto não quero ser pretencioso tentando demonstrar um entendimento que não possuo, tenho apenas o objetivo de facilitar o interesse daqueles que nunca tiveram um contato com o tema. Kabbalah é um estudo e uma prática para toda a vida. Aqui tentaremos discutir superficialmente um pouco sobre suas origens, seus objetivos e formas de utilização.
A Kabbalah hoje é muito conhecida como sendo “o lado místico do judaísmo”, e não é por menos, esse conhecimento é muito enraizado na cultura, tradição e religião judaica. É importante ressaltar que nem todo judeu é Kabbalista, muitos judeus mais ortodoxos preferem se dedicar mais as práticas mais tradicionais. Mesmo a grande referência de uso e tradição da Kabbalah sendo os judeus, há indícios que sua origem tenha vindo desde o antigo Egito, onde seus sacerdotes teriam o domínio desta ferramenta. Modernamente temos a Kabbalah fora do contexto judaico, sendo utilizada, por exemplo, a Kabbalah cristã e a Kabbalah hermética.
O que todos querem saber é o que é e para que serve essa tal Kabbalah. Podemos dizer que a Kabbalah é uma leitura dos mistérios da vida, principalmente da criação divina. Esse conhecimento casa bem com o hermetismo que com suas leis da correspondência, que diz que “o que está acima é como o que está abaixo”, ou seja, que entendendo a criação de Deus é possível entender também os processos de criação humanos. Seguindo a Kabbalah estaríamos imitando a forma da criação divina, desta forma facilitando o êxito em qualquer objetivo. Podemos dizer que a Kabbalah é um mapa para qualquer objetivo ou empreendimento e entendimento de falhas e erros.
Modernamente a Kabbalah foi sintetizada em um diagrama que facilita sua compreensão, esse diagrama é chamado de “árvore da vida”, é importante ressaltar que esse é um mecanismo facilitador para usufruir da sabedoria kabbalistica, não sendo a totalidade desse conhecimento. A árvore da vida nos traz 11 esferas e 22 caminhos como pode ser visto na imagem abaixo. É interessante notar que os 22 caminhos da árvore da vida representam também os arcanos do tarot, isso nos mostra que o tarot foi também um conhecimento que bebeu da sabedoria Kabbalista. Cada um dos 22 caminhos também corresponde a cada uma das letras do alfabeto hebraico, sendo cada carta do Tarot uma explicação do significado dessa letra hebraica. Cada uma das esferas simboliza um aspecto de Deus e pode simbolizar um planeta (nos círculos esotéricos a lua e o sol também são considerados planetas, mesmo não sendo cientificamente).
A árvore da vida simboliza a forma como Deus criou o universo, sendo a esfera mais acima o símbolo do divino, do ponto inicial da criação e a mais abaixo o mundo material. Com a leitura da árvore da vida tentamos fazer o caminho inverso para manifestar o divino em nossas ações e empreendimento. Como mostra o diagrama, existem vários caminhos para se alcançar o divino, e como já dissemos, esses caminhos são também explicados pelos 22 arcanos maiores do Tarot. Não abordaremos esse tema pois seria um estudo muito complexo e longo. Abaixo falaremos brevemente de cada uma das esferas, que são chamadas de Sephirot(safira). Na jurema, que tem em si muito da tradição judaica, as cidades da jurema também fazem referência a cada uma dessas Sephirot.
A esfera mais abaixo, é chamada de malkhut, que representa a Terra, o mundo material, a matriz do dia a dia. Acima temos Yesod, que é designado como a lua, é um aspecto mental, onde temos contato com o maior número de informações. A expressão popular, “viver no mundo da lua”, faz referência a esse estado mental, e significa que a pessoa se perde em pensamentos e conhecimentos e não coloca em prática. Yesod é muito importante, pois tudo que buscamos e concretizamos surge antes como uma ideia. Na esfera acima de yesod na esquerda temos Hod, que é a esfera de mercúrio, simboliza o estado do conhecimento. É quando já passamos do estado de experimentar e conhecer muitas coisas no mundo da lua e nos aprofundamos, tendo um domínio intelectual de um assunto ou empreendimento que escolhemos seguir. É quando se decide através da razão se iremos continuar trilhando o caminho escolhido.
Passando a direita temos a sephirot de Nezah, que é aspecto de vênus, simboliza também as emoções, é um estado em que veremos se aquilo que já passou pelo crivo da razão passará também pelo da emoção. É onde tudo que não é verdadeiro cai, muitas vezes escolhemos caminhos que são apresentados como os recomendados pelo mundo material, mas aquilo não ressoa com nosso sagrado interior e se insistimos devido a racionalidade naquele caminho podemos nos tornar pessoas amarguradas e frustradas, por seguir o que o mundo quer de nós e não o que nosso sagrado interior tem vontade.
No centro, acima de Hod e Nehza, temos uma das grandes metas de alcance que é Tiferet, que é um aspecto Solar, é o nosso eu crítico, é quando a pessoa se torna um mestre naquele assunto, empreendimento ou empreitada. É quando dominamos a razão e a emoção. Muitos podem perguntar, mas como Tiferet é o símbolo do mestre sendo que está apenas no meio da árvore? Como pode simbolizar nosso eu crítico, estando tão abaixo? É verdade, muitos pensam que quando a pessoa se torna um mestre só tem o que ensinar e nada a aprender, no entanto é o contrário, quanto mais se sabe muito mais se descobre que há ainda muito mais a aprender. O verdadeiro mestre é um eterno aprendiz. Uma boa analogia de tiferet é quando um lutador de artes marciais chega a faixa preta, ele é um professor, tem o domínio das técnicas, mas é aí que ele começa a competir com os grandes lutadores da referida arte marcial. Entre o mestre e Deus há um abismo.
Aproveitando o gatilho a esfera acima de Tiferet, é Daat que realmente é definida como um abismo, é um conceito muito complexo e difícil de explicar. Inclusive em muitos diagramas essa sephirot nem mesmo é trazida, pois ela esta e não está na árvore da vida ao mesmo tempo, representa um veu, abismo, que separa as sephirot de cima e as debaixo. É como se fosse uma combinação das três sephirots de cima.
Acima de Tiferet temos também, pela esquerda Gevurah, que é associada a Marte. É a energia do rigor, da guerra, da severidade. Nessa esfera o mestre ou profissional recém “formado” é testado, é onde se precisa lutar com as dificuldades naturais do caminho escolhido sem ter ainda uma experiência que permita tomar sempre as melhores decisões, é um “trabalho braçal”, uma luta para se aprender ainda mais. Pela direita temos Hesed, que é associada a Júpiter. É considerada a esfera da misericórdia e planejamento. Em Hesed o mestre ou profissional já tem uma boa experiência que o permite tomar as melhores decisões sem tanto esforço e luta. É onde se começa a colher os frutos das batalhas passadas. Está associado à prosperidade e onde são testados a caridade e gratidão do ser.
Acima de gavurah, hesed e daat, temos pela esquerda Binah, associada a saturno, é o entendimento, é tudo que pode ser concebido e é o máximo que podemos atingir no mundo físico como indivíduos. Pela direita temos Hokhmah, associada a urano, é a sabedoria de Deus, é como se fosse a somatória de toda a sabedoria de todos os seres em conjunto. Por fim temos a esfera de Keter, que está associada a netuno, pode ser traduzido como o próprio Deus, é o ponto inicial da criação, a consciência cósmica.
A árvore da vida e a leitura da kabbalah pode ser utilizada para manifestar um aspecto sagrado, se aproximando de Deus. E pode também ser utilizada para a partir de uma intenção intangível, planejar (hesed) e batalhar (gavurah), através dos passos da árvore, até materializar a ideia em malkut. A árvore é usada para sutilizar ou materializar algo, podemos subir ou descer nos caminhos conforme nossas intenções. Muitos querem saber onde estão na árvores em suas vidas, mas na verdade, estamos em várias sephirot ao mesmo tempo. Ao mesmo tempo que posso ser um mestre(tiferet) em um assunto, posso ser um sonhador(yesod) em outro e aí por diante. Podemos ver nessa abordagem rasa que a árvore da vida nos dá praticamente infinitos caminhos e possibilidades, sendo um conhecimento infinito. Esperamos que tenha ajudado de alguma forma, caso falte algum conhecimento que o leitor puder acrescentar deixe nos comentários e nos ajude a aprender.
Axé
Ricardo de Ogum Matinata
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