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segunda-feira, 30 de junho de 2025

Orixá Exu

 Orixá Exu

Na língua iorubá, Exu significa “esfera”, é o princípio natural de tudo, o início, o ponto de partida, o nascimento, a força de criação. Exu é o primeiro passo, a célula inicial de geração da vida, é aquele que gera o infinito, o primogênito, Senhor dos caminhos, das ruas, aquele que dá passagem. Na cosmologia iorubana Exu foi o primeiro orixá a ser criado para ser ordenador de todo o sistema cósmico e o primeiro a manifestar. Oxalá o denominou como o espaço infinito, que deixou de ser o nada, o vácuo inerte, ou seja, a partir de Exu, Olorum se desdobra em muitos atributos com interferência direta no mundo das formas, no sentido de que este elemento criado primeiro foi propiciatório à criação dos demais orixás, dada a sua importante posição na cosmologia Iorubá, Exu é considerado o principal agente na ordem das coisas e do universo. 

Exu recebeu a tarefa de encaminhar todas as oferendas e assim dinamizar essas energias nos múltiplos caminhos, dessa forma é reconhecido por realizar todo tipo de trabalho, aquele que “abre caminho”. É considerado o orixá mais próximo do ser humano, atuante na conduta e nos comportamentos, sempre em contato com os dilemas existenciais dos homens. Exu está ligado às encruzilhadas, mas estas são caminhos metafísicos, relacionados aos destinos individuais e coletivos. A encruzilhada é um lugar de encontro, um momento de mudança de rumo, que leva a outro estágio espiritual ou de uma situação a outra. É ele que provoca mudanças, ordena o caos, desconstroi para construir, faz e desfaz. Faz mover tudo aquilo que está estatizado, paralisado, colocando-o em movimento e quebrando paradigmas.

Neste sentido, Exu nos ensina que cada pessoa possui as rédeas de sua vida e a elas competem as escolhas e o caminho a seguir.  No pensamento Iorubá, o que é considerado bem e ou mal é uma noção alargada, variável. Exu preza, segundo o que é possível compreender nas narrativas de Ifá, pela fidelidade à palavra e à verdade, bom senso e ponderação que propiciam sensatez e discernimento para julgar com justiça e sabedoria. Se manifesta nos humanos através de características inerentes a ele, como ordem, disciplina, organização, paciência, perseverança, bom senso, discernimento, responsabilidade, confiança, justiça e comprometimento permeados pela alegria de viver e felicidade. Sua essência primordial é o equilíbrio da vida em várias perspectivas de melhoramento íntimo, polindo caráter, impulsionando a evolução constante e fazendo ligação com todos os orixás.

Existe um itã que conta que dois camponeses amigos se puseram bem cedo a trabalhar em suas roças, mas um e outro deixaram de louvar Exu. Exu, que sempre lhes havia dado chuva e boas colheitas e ele ficou furioso. Usando um boné pontudo, de um lado branco e do outro vermelho, Exu caminhou na divisa das roças, tendo um à sua direita e outro à sua esquerda, passou entre os dois amigos e os cumprimentou enfaticamente. Os camponeses entreolharam-se e se perguntaram quem era o desconhecido? “Quem é o estrangeiro de barrete branco? ”, perguntou um. “Quem é o desconhecido de barrete vermelho? ”, questionou o outro Começaram a discutir procurando ter a razão e acabaram matando um ao outro. Exu, travesso, transforma certeza em dúvida e os camponeses, sem paciência e sensatez de procurar entender a visão do outro, dar a volta, dialogar ou comunicar, ficam presos em suas certezas que os levam à morte. É simples numa situação como essa caracterizar Exu como malévolo, vingativo e questionar a sua centralidade na ordem do universo, já que o que ele faz é bagunçar tudo. Mas o seu entendimento é complexo, seu princípio dinâmico e vai além de horizontes dualistas ou de noções de pecado, pois a ordem muitas vezes surge do próprio caos.

Exu é expansão, por isso rege pela responsabilidade da tarefa de criar o próprio destino, preza pelo caráter ativo da existência, pelo poder de tornar-se sujeito da própria vida. Ser sujeito ativo, potente e livre de servidões e dos males que atrapalham a alegria do viver. Exu carrega o ogó, que é um porrete fálico que nas narrativas leva Exu onde quiser, e diz também a respeito da potência criativa do falo progenitor.  Essa representação revela seu caráter sexual integrante na relação entre o sagrado e o erótico. O erótico que remete ao desejo, impulso e excitação. No erótico, está a força de afirmação da vida, o desejo de continuidade e em Exu encontra-se o valor expansivo, a afirmação da vida e sua continuidade, a reprodução e fertilidade.

O Orixá está ligado aos búzios, que são pequenas conchas marinhas que desempenham um papel importante nos rituais e adivinhações relacionadas a Exú. Eles são lançados em uma superfície plana e, de acordo com a maneira como caem, os sacerdotes interpretam as respostas às perguntas feitas. Ori, Orunmilá e Exu são divindades centrais na consulta oracular fundamentada no corpus literário e no sistema divinatório de Ifá, na tarefa de apropriar as pessoas das possibilidades dos seus caminhos.

Já as cabaças são relacionadas a energia sagrada, pois dentro delas podem estar armazenados elementos que representam o poder de transformação e movimento. Para outros,  são comparadas a um recipiente onde são armazenadas as mensagens dos homens para o mundo espiritual ou também se resumem ao poder do equilíbrio, pois dentro dela Exu carrega o poder de liberar ou reter energias. Em algumas tradições, também podem estar relacionadas ao mistério do conhecimento oculto, é um símbolo poderoso e multifacetado, ligado aos aspectos da atuação de Exu como mensageiro e guardião dos caminhos.

Sincretismo: Santo Antônio.

Dia da semana: Segunda-Feira 

Data de comemoração: 13 de julho.

Algumas ervas: Folha de fogo, coração-de-negro, aroeira-vermelha, figueira-brava, pimentas, bredo, urtiga, erva-do-diabo, cansanção, mastruz, mamona-vermelha, cana-de-açúcar, hortelã-pimenta, jurubeba, jamelão, assa-peixe, barba-do-diabo, garra-do-diabo, comigo-ninguém-pode.

Saudação: Laroyê Exu, Exu Amojubá.

Filhos de Exu: Por serem filhos regidos por um orixá do fogo, do movimento, da vida e da morte, de múltiplas funções e de grandes poderes. Ou seja, senhor de si mesmo, estando presente em tudo e em todos os lugares simultaneamente e naturalmente, influenciando seus filhos que assimilaram seus traços, seu temperamento, suas formas e sua maneira de ser e agir. 

Os regidos por Exu apresentam uma personalidade muito marcante, com um comportamento cotidiano muito diverso, são pessoas altamente fieis aos seus princípios, aos amigos, às suas causas e são de extrema coragem e dedicação a tudo que se entregam. Os regidos por Exu são comerciantes hábeis e espertos, capazes de fecharem os negócios mais impossíveis e desfazerem outros da mesma maneira graças à sua capacidade em convencer as pessoas. Profissionalmente sempre chegando ao seu objetivo, pois não existe filho de Exu que não se empenhe até à raiz dos cabelos para conseguir o que deseja. São fortes, felizes, participativos, francos, espertos, inquietos, astutos, atentos, rápidos, e se a virilidade é uma característica básica de Exu, é também daqueles regidos por este orixá.

Exu representa sempre o novo, o transformador, o revolucionário, tudo aquilo que irá desconstruir o velho, o desconhecido, com uma personalidade forte e marcante que o caracteriza como o desafiador, dando ensejo aos juízos de valor que resultaram em legitimações de estereótipos, tais como: perigoso, intrigante, misterioso, astuto, irreverente, enganador, debochado, atrevido, sensual, pregador de peças e muitos outros atributos que fazem parte de Exu. E isso está intrínseco na estrutura arquetípica que ele representa. Ao mesmo tempo, seus filhos herdaram essas influências que refletem positiva ou negativamente na sua maneira de ser, de agir e pensar. Exu nos ensina a transformar a certeza em dúvida e em Exu se reconhece o poder de melhorar o comportamento humano.


Renata de Iansã


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