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terça-feira, 5 de maio de 2020

Gratidão ao Terreiro


Gratidão ao Terreirinho

          Esse texto era para ter sido feito no aniversário de 3 anos da Tenda de Umbanda Caboclo 7 Flechas e Cabocla Jurema, mas devido a correria do dia a dia e das minhas limitações pessoais somente tomei a atitude de realizá-lo agora. Quero através dele demonstrar o divisor de águas que conhecer a Umbanda e o Terreirinho foi na minha vida.
          Tive a oportunidade de participar desta Tenda desde quase sua fundação, tendo entrado na corrente logo após dos membros fundadores. Desde criança tive contato com a espiritualidade, frequentava o espiritismo e tinha grande interesse por assuntos espiritualistas. No entanto, tinha sim, um grande preconceito com a Umbanda, pensava que a religião era o “baixo espiritismo” que dava bebidas e cigarros a espíritos viciados em troca de favores pessoais terrenos. Como hoje sabemos estava totalmente enganado.
          Quando soube que meu amigo de infância, agora Pai Igor de Oxum, estava frequentando a Umbanda, pensava eu que era um retrocesso, já que ele havia frequentado o Espiritismo, mesmo assim ficava com certa curiosidade. Às vezes nas conversas entre amigos rolava um papo relacionado que ia quebrando meu preconceito aos poucos e alimentando minha curiosidade. Foi então que certa vez aceitei o convite de conhecer o Terreirinho. 

         
          Fui uma vez e achei muito bacana, reencontrei os Pretos Velhos, havia conhecido alguns no Vale do Amanhecer, e de quebra encontrei alguns amigos queridos de outras épocas do Espiritismo como Hélida e sua filha Beatriz, achei os pontos cantados muito bonitos e animados. Fui uma segunda vez e me apaixonei, conheci os Erês e os Exus. O medo que eu cultivava da figura do exu, se transformou em pura admiração e respeito. Eu passava por tempos turbulentos, desempregado no âmbito profissional e com entes queridos doentes no âmbito familiar. Encontrei meu lugar no Terreirinho, onde pude tirar minhas mágoas do peito, reencontrar minha fé e enxergar que eu havia plantado a maior parte dos problemas por que passava. Foi naquele chão de terra batida que derramei muitas lágrimas, me emocionei muito e percebi que enquanto eu não assumisse a responsabilidade pela mudança que eu queria na minha vida ela não ocorreria.
          Foi no terreirinho também que aprendi que devemos olhar mais para nós mesmos e menos para terceiros, evitando julgamentos infelizes, tais como eu fiz com a Umbanda antes de conhecê-la. Foi também com a Umbanda que aprendi que o maior amor é e sempre deve ser o amor próprio, a pessoa mais importante na nossa vida somos nós mesmos, por isso nossa felicidade não pode depender de terceiros. Aprendi também que a primeira caridade deve ser realizada com as pessoas mais próximas, tendo paciência com um familiar que o irrite entre outros. Nada adiantando doar dinheiro ou roupas, caso isso não seja feito de coração.
          Entendi que a maior magia é a realizada quando você muda de atitude na vida, trata as pessoas bem e corre atrás do que quer, com essa magia o mundo também te responde diferente. Perdi o medo de não ser bom o bastante para algo, apenas sempre tentando fazer o melhor que puder. Dentre outros fundamentais ensinamentos que até hoje tento internalizar e aprimorar. 


          Com o tempo fui me ligando cada vez mais no Terreirinho e tendo cada vez mais espaço nele, fiz novos amigos que tem seu espaço no meu coração, destaco aqui Natália Franga e Bruno de Oxóssi, outros grandes amigos entraram na corrente depois de mim, como William de Xangô. Tive oportunidade de, nas palavras do Pai Igor, ser fundamental em certo momento para a continuidade do terreiro, mas tenho consciência que aquele momento foi apenas um dos vários momentos que uma ou duas pessoas foram fundamentais para que o trabalho continuasse. Como exemplo cito, no começo quando havia apenas dois médiuns incorporando, em cada uma daquelas giras os dois foram fundamentais, sem citar cambones, consulentes e tudo mais que também são fundamentais.
          Depois de tudo isso chegou o momento de me mudar de cidade por razões profissionais, chorei muito na minha despedida, e disse e ainda afirmo que se o Terreiro fizesse metade do que fez por mim por outras pessoas já estaria fazendo muito. Ainda hoje faço parte da corrente, já não tão presente, mas sempre tentando lembrar os ensinamentos e com muita vontade de voltar um dia e ser mais frequente de novo nessa nossa grande família.
          Queria por fim agradecer a cada um nessa caminhada a cada irmão de corrente, mesmo os que já saíram, e é claro a cada guia que em sua humildade veio nos prestar a caridade, em especial aos meus guias.

Axé,
Ricardo de Ogum Matinata

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