Médium Além Terreiro
Médium é todo aquele que serve de intermediário entre o mundo espiritual e corpóreo ou aquele que conecta-se com o mundo espiritual em geral. Partindo do pressuposto que todos possuem conexão com o mundo espiritual, todos os seres humanos são médiuns por natureza. Neste sentido, já foi abordado em outras oportunidades em nossa casa o fato que a mediunidade não se trata de um dom, não devendo portanto ser tratada como tal, especialmente pelas pessoas que a desenvolvem.
O desenvolvimento da mediunidade é escolha de alguns médiuns, pois nem todos as pessoas escolherão ou sentirão em seu coração em algum momento de suas vidas um “chamado” para isto. Em nossa casa, os médiuns que escolheram este desenvolvimento mediúnico e participam da casa vivem esse ciclo de diversas formas; auxiliando nas tarefas diárias do terreiro, realizando estudos, auxiliando na curimba, incorporando, cambonando, limpando nosso espaço sagrado, aguando o jardim, dentre outros. Contudo, cabe a nós médiuns que escolhemos buscar o desenvolvimento não só mediúnico mas também pessoal, nos atentarmos constantemente ao fato de que a evolução espiritual não ocorre pelo simples fato de irmos ao terreiro ou ajudarmos em tarefas em prol de nossa casa.
Podemos ser um médium assíduo nas giras, pró-ativo e operante em inúmeras tarefas essenciais na casa, que em nada ajudará em nossa evolução pessoal caso esqueçamos os fundamentos umbandistas ao darmos as costas para o templo sagrado. Considerando que nossas escolhas e atitudes a cada segundo refletem nossos pensamentos e sentimentos, bem como os guias nos ensinam a cada dia como devemos buscar a evolução em nossa vida, não há de se imaginar que a evolução ocorrerá simplesmente indo ao terreiro e fazendo as coisas lá.
Os conselhos, ensinamentos e xingos não devem apenas nos emocionar na gira ou nos deixar “encucados”, pois na verdade o terreiro é um instrumento para que possamos desenvolver a espiritualidade, mas é também em sua outra função essencial uma escola, para que possamos aprender e aplicarmos em nossas vidas aqui fora.
Que possamos sempre nos lembrar da dualidade, portanto, não será a dedicação ao mundo espiritual no terreiro que irá nos fazer caminhar unicamente. Há um mundo carnal que devemos enfrentar diariamente, aplicando os conhecimentos da escola umbandista que frequentamos para que possamos avançar rumo ao crescimento pessoal.
A reflexão que trago é para que lembremos sempre de buscar o equilíbrio, refletindo que uma fé sem ação é uma fé morta, bem como um conhecimento guardado sem expansão, também se torna morto. Como já bem disse o Caboclo Sete Flechas: “Vir ao terreiro 4 horas no dia, 2x por semana é fácil, quero ver ser Umbandista lá fora”.
Que todos nós médiuns em geral, não apenas os que estão em desenvolvimento mediúnico, mas especialmente estes, estejamos sempre vigilantes ao fato de que nossa responsabilidade não se restringe aos dias de gira, pois trazemos conosco a necessidade de buscarmos incessantemente sermos melhores pessoas e que apesar de árduo, o maior trabalho é fora do terreiro.
Mylene de Ogum Rompe Mato
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