Diferentes Ordens de Espírito
Neste tópico, o Livro II dos espíritos (Capitulo 1) aborda o tema da evolução dos espíritos e sua classificação no mundo espiritual. São realizadas quatro perguntas ao espírito da verdade que serão apresentadas, a seguir, juntamente com as respostas. Após cada pergunta, tentaremos trazer o conhecimento apresentado para a óptica umbandista através de comentários e análises.
Pergunta 1: Os Espíritos são iguais, ou existe, entre eles, algum tipo de hierarquia?
Resposta: “São de diferentes ordens, conforme o grau de perfeição a que tenham chegado.”
Nessa simples pergunta, é revelado que conforme a perfeição e a luz que se alcança no mundo espiritual, o espírito é sim classificado em diferentes ordens ou hierarquias. No meio umbandista, isso pode ser notado dentro de uma falange, onde existem os chefes de falange, as entidades ditas coroadas e até mesmo as entidades chamadas de “pagãs”. Ou seja, conforme um espírito que trabalha na umbanda se desenvolve, ele pode ir crescendo dentro de sua falange e galgando maiores hierarquias e maiores responsabilidades, conforme o quão preparado e desenvolvido esteja para isso.
Pergunta 2: Há um número determinado de ordens ou de graus de perfeição entre os espíritos?
Resposta: “Este número é ilimitado, porque, entre essas ordens, não há uma linha de demarcação traçada como barreira e, desta forma, podem-se multiplicar ou restringir as divisões à vontade; todavia, considerando-se os caracteres gerais, pode-se reduzi-las a três principais.” “Na primeira ordem, situam-se os que atingiram a perfeição: os puros Espíritos. Os da segunda chegaram ao meio da escala: o desejo do bem é a preocupação deles. Os da última ordem ainda estão na parte inferior da escala: os Espíritos imperfeitos. São caracterizados pela ignorância, o desejo do mal e todas as más paixões que retardam o seu adiantamento.”
Nesta pergunta, é respondido que os espíritos podem ser classificados em várias ou poucas ordens conforme o que se analisa. Essa resposta pode parecer estranha, mas creio que seja o mesmo que tentar classificar os encarnados como bons ou maus, ou em uma escala de bondade. Depende de quem está analisando, depende de quais são os parâmetros escolhidos para análise. Praticamente nenhum espírito é por inteiro bom ou ruim, assim como os homens também não são. Pelo pouco que entendemos sobre o mundo espiritual, aprendemos que o bom espírito é reconhecido através de suas obras, ou seja, não é a partir de um momento que o espírito se torna puro ou de luz, mas sim em um processo contínuo de evolução através da caridade e do amor. Nesse processo de evolução e trabalho, o espírito é reconhecido por suas obras e passa a ser respeitado e admirado por muitos. Isto é algo tão relativo que certa vez o Exu Sete Catacumbas se referiu ao Exu Arranca Toco como um “espírito de muita luz” e o quando o Exu Arranca Toco foi perguntado no diálogo dos espíritos se seria um espírito de luz, o mesmo disse que não. Disse que ainda está longe disso. Isso nos mostra o quão é delicada essa questão, depende da referência que se adota. A evolução de um espírito comparada à de Cristo pode ser pequena, mas comparada a um kiumba pode ser que seja grande. A partir disso, o espírito da verdade apresentou três classes mais gerais de espíritos para que a humanidade pudesse ter uma noção, mas que podem ser subdivididas em várias outras. Na umbanda, essa hierarquia e classes parecem ser mais claras dentro de uma falange, mas será que são mesmo? A partir de qual momento uma entidade se torna coroada ou chefe de falange? São boas perguntas que talvez algum dia possam nos ser reveladas, há de se preparar para essas respostas através do estudo, pois provavelmente não são simples.
Pergunta 3: Os espíritos da segunda ordem possuem somente o desejo do bem; têm eles, também, o poder de praticá-lo?
Resposta: “Eles têm este poder, conforme o seu grau de perfeição: uns possuem a ciência, outros a sabedoria e a bondade, todos, porém, ainda têm provas a suportar.”
O que a terceira pergunta nos demonstra é que não é necessário ser evoluído para praticar o bem, todos nos somos capaz de fazer o bem que está ao nosso alcance. Se hoje o que podemos fazer ainda é pouco, esse pouco servirá de preparo e aprendizado para que possamos fazer mais em um futuro e isso serve tanto para os espíritos quanto para os humanos.
Pergunta 4: Os Espíritos da terceira ordem são todos essencialmente maus?
Resposta: “Não; uns não fazem o bem nem o mal; outros, ao contrário, se comprazem no mal e ficam satisfeitos, quando encontram ocasião de praticá-lo. E há, ainda, os Espíritos levianos ou travessos, mais perturbadores do que maus, que se comprazem muito mais na malícia do que na maldade, encontrando prazer em mistificar e em causar pequenas contrariedades, de que se riem.”
Essa nossa ultima pergunta aborda algo muito interessante, os espíritos menos evoluídos não são essencialmente maus na nossa ótica umbandista. A essência de cada um espírito é, para nós, exatamente o contrario, é sagrada e divina. Para nós, o mais perdido e maldoso dos kiumbas é apenas alguém em desequilíbrio com seu eu divino. No fundo, a mais impiedosa maldade é puro e simples engano. Para ficar mais clara essa afirmação, basta pensar que para todos os males existe uma raiz, em algum momento um sentimento de revolta, de injustiça e descrença surgiu naquele ser, o que fez com que ele quisesse prejudicar seu próximo, como se fosse uma espécie de vingança. Uma vingança que na verdade é contra si mesmo, essas atitudes o torna cada dia mais cego para o seu eu divino e o impede de avançar em sua evolução, mas não quer dizer que ele um dia não encontrará a luz. A essência divina de cada Ser ainda está com cada um, ainda que adormecida.
Espero que nossa reflexão sobre esse trecho do Livro dos Espíritos possa nos guiar para que nos atentemos para os falsos sentimentos de injustiça e para que caminhemos em equilíbrio para o desenvolvimento espiritual.
Obrigado pela atenção.
Ricardo de Ogum Matinata
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