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segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Sorte das crianças depois da morte

Sorte das crianças depois da morte

O assunto aqui discutido consta da parte segunda, Capítulo IV, de “O livro dos espíritos”, intitulada “Sorte das crianças depois da morte”.
Inicialmente, cumpre ressaltar que o Capítulo IV da obra supracitada trata sobre a pluralidade das existências, que é o quinto e último pilar no qual a doutrina espírita se apoia. No sentido epistemológico, plural significa várias, isto é, o contrário de unicidade. Então, o espiritismo, que preza a racionalidade (tudo aquilo que se afirma tem comprovação por meio da ciência ou de experimentos efetivamente realizados) e a fé raciocinada (sem mistérios, segredos e obscuridade), sustenta os dogmas da lei da reencarnação e da imortalidade das almas, que são comumente desprezados por várias outras religiões e crenças.
Pluralidade das existências consiste em compreender que um espírito que passa pelo desencarne pode habitar outro corpo, possibilitando àquele espírito ir acumulando conhecimentos e experiências a cada encarnação e finalmente evoluir para um grau superior. Unicidade das existências é uma teoria primitiva, que crê que o espírito pode viver uma única vez e que a cada concepção é criado um novo espírito, sem conhecimento acumulado e, principalmente, sem possibilidade de desenvolvimento. Essa teoria é totalmente ilógica e isso já foi comprovado várias vezes. Um grande exemplo são as crianças que ainda não passaram por nenhum aprendizado apresentarem várias habilidades (pintura, dança, arte, conhecimento). É claro que trouxeram essas idéias inatas de outras encarnações, não tem outra explicação.
Partindo da premissa que a Lei do nosso Pai Criador é justa e misericordiosa, não podemos enxergar a morte como um castigo ou uma fatalidade, mas como uma oportunidade de superação e de seguirmos adiante neste mundo de provas e expiações, como um julgamento de utilidade divina. A reencarnação é uma mostra divina que tem como objetivo o progresso individual e o melhoramento coletivo da humanidade através do aprendizado concretizado. É uma oportunidade de evolução espiritual.


Após essas considerações iniciais, discorrer-se-á ao assunto propriamente dito, Sorte das crianças depois da morte, questões 197-199 de O livro dos espíritos, que trata sobre a morte na infância, a desencarnação precoce. A morte prematura sempre abala o sentimental de amigos e familiares, mesmo sabendo que se trata apenas de uma separação temporária do espírito ao corpo. Os espíritos de crianças que morrem em tenra idade são denominados espíritos completistas, que são aqueles que tiveram uma interrupção no aprendizado, seja ela involuntária ou por livre arbítrio. Por isso são questionadas as escolhas divinas, já que o período da infância é quando o espírito está mais propício ao aprendizado, quando as instruções e conhecimentos passados são percebidos com o fito de progressão espiritual. O que não se é colocado no período de luto é que o desencarne também pode ter a finalidade de evolução espiritual, que é um benefício se relacionado às tentações e misérias mundanas a que os espíritos são submetidos.
A pergunta 197 questiona se o espírito de uma criança que morreu em tenra idade pode ser tão adiantado quanto o de um adulto e se pode ser mais adiantado que o de seus genitores. É claro que pode ser até mais adiantado que o de seus pais, se considerarmos que a sua bagagem de conhecimentos e evolução moral foram apanhados de outras encarnações. O que acontece quase sempre é o retorno de ancestrais do plano espiritual para o carnal no corpo de crianças. O espírito apenas não se assume completamente durante a infância devido à insuficiência corpórea desenvolvida.
Na maioria das vezes, os espíritos das crianças que morrem precocemente já sabem que vêm apenas para completar o período de ciclo restante da evolução espiritual. Por isso essas crianças apresentam desde cedo uma precocidade intelectual, isto é, aspiram, pressentem a morte e, ainda, com sentimento contrário à tristeza. A divindade faz um julgamento de valor e percebe que a evolução individual será mais aproveitável no plano espiritual que como encarnado, daí explica-se o desencarne prematuro.
A pergunta 198 indaga se o espírito de uma criança que morreu em tenra idade pertence a categorias superiores. Aqui, deve-se colocar que o ser pode não ter feito nenhum mal, mas da mesma forma também não fez o bem, logo, não é justo estar no grau dos espíritos superiores, visto que não passou pelas provas e expiações que espíritos que encarnaram há mais tempo passaram. O grau de pureza revela a progressão moral e espiritual adquirida, e não o fato de se ter habitado o corpo de uma criança que morreu cedo. Pode acontecer de alguns espíritos que habitaram o corpo de crianças serem evoluídos, mas geralmente eles vêm buscar aprimoramento.
A pergunta 199 vem pra nos mostrar o motivo do interrompimento da vida na infância e o que acontece com o respectivo espírito após a morte. A razão é a necessidade de complementar um determinado período curto que tinha que ser cumprido em outra encarnação e não o foi, seja por escolhas, seja por suicídios indiretos, ou qualquer outra causa. Neste caso, o que acontece após o desencarne é um novo ciclo com novas oportunidades e novos planejamentos.
Esse desencarne pode acontecer para trabalhar a provação a eles apresentada e proporcionar-lhes um reajuste com a Lei Divina por meio da revisão de seus pensamentos e atitudes, que propicia lições de vida e, conseqüentemente, a evolução individual.


Concluindo, o período da infância denota pureza, simplicidade e sentimentos verdadeiros, e demonstra o estágio em que todos um dia devemos chegar. Na umbanda, as crianças são representadas pelos Erês-Ibeijada, que são espíritos com arquétipo infantil que adquiriram grau evolutivo de Erê e que trabalham retirando as armaduras que nós mesmos criamos para que alcancem nosso íntimo e trabalhem em nossas mágoas e bloqueios interiores, dissolvendo amarguras, angústias e despertando a felicidade dentro de nós.
Como a umbanda é uma religião relativamente nova, nós umbandistas seguimos dogmas e teorias de outras religiões, como o espiritismo e o candomblé, aplicando conceitos umbandistas. No tema em apreço, a umbanda defende a reencarnação dos espíritos, não só de crianças, mas espíritos em geral, tendo em vista que primamos, sobretudo pelo desenvolvimento pessoal.

Ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo”


Helder de Oxalá


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