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terça-feira, 1 de agosto de 2023

Congá e Tronqueira

Congá e Tronqueira

    O texto de hoje aborda dois pontos de força de grande importância para qualquer terreiro, sendo eles o congá e a tronqueira.

    O congá é o altar dentro do terreiro de umbanda, é o maior ponto de força, de firmeza dentro do terreiro, responsável pela recepção e irradiação de energia. Nele estão presentes as imagens de Orixás e de guias de umbanda, como caboclo, preto velho, malandro, possui também velas e pode ter flores e outros objetos conforme a necessidade e o fundamento daquele terreiro. Todo o trabalho gira em torno dele, então não se deve colocar elementos sem propósito em um congá, tudo deve ter um porquê. Alguns terreiros têm no seu congá imagens de santos católicos, geralmente esses terreiros utilizam o sincretismo e tem forte influência do catolicismo. Nenhum congá vai ser igual porque geralmente eles tem influência direta da coroa do pai ou mãe de santo (de quais Orixás que regem a coroa do pai ou mãe de santo) e do fundamento daquele terreiro .

    Todos os objetos presentes em um congá são consagrados e imantados de energia positiva, vindas dos Orixás e dos guias que aquelas imagens representam. Como eu disse, o congá é um dos maiores pontos de força dentro de um terreiro, é ele que recebe a energia que vem do alto, de  Deus, e é ele que emana essa energia para todo o restante do terreiro, pra que essa energia possa ser utilizada pelos guias, médiuns e pelos consulentes durante os trabalhos da cerimônia. Além de emanar a energia, o congá também vai atrair para si os pensamentos que pairam no ambiente, vai reduzir os miasmas e cargas negativas e condensar essa energia. É importante sabermos que um congá é diferente de um altar, como o que temos em casa. O congá tem firmezas e assentamentos, o que faz com que ele receba e movimente energias muito maiores do que um altar comum.

    A tronqueira é outro ponto de força muito importante dentro do terreiro. É nela que está firmada e assentada a força dos Orixás da esquerda e de seus falangeiros, que são os guias que trabalham dentro do terreiro. É na tronqueira que são feitas as firmezas e oferendas para os Exus, Pombogiras, Exus mirins e Pombogiras mirins. Geralmente ela fica de frente pro congá e a função da tronqueira dentro do terreiro é de receber toda a energia negativa e a energia que utilizada durante os trabalhos, transformar essa energia e devolvê-la para a espiritualidade. Funciona como se fosse um filtro, filtrando e parando as sujeiras, digamos assim.

    A Tronqueira exerce diversas funções dentro de um terreiro, mas tem como principal objetivo a proteção do espaço e das pessoas que nele estão. Ela é um ponto de força firmado no terreiro, ou seja, toda essa energia que emana dela é usada para os trabalhos dos guias da esquerda, que utilizam para os trabalhos de limpeza e proteção da casa e das pessoas. Essa energia tem também como finalidade ser a fonte que alimenta um campo de força energético no mundo espiritual, numa vasta área em torno do terreiro. 

    Sendo  a energia que os Exus e Pombagiras manipulam mais densa, a tronqueira também é utilizada como uma espécie de para-raios, evitando que energias negativas entrem na casa para prejudicar o andamento dos trabalhos. Nesta mesma função a tronqueira serve como uma área de retenção, criando um portal para que sejam levados à espiritualidade alguns dos espíritos negativos que possam estar acompanhando os consulentes até o terreiro, e até mesmo algum destes seres que foram capturados durante os ataques espirituais que a casa sofre perante os trabalhos. Esses espíritos ficam retidos durante os trabalhos e depois serão socorridos, esclarecidos e encaminhados pela espiritualidade. Por este e outros motivos, o espaço da tronqueira é sagrado, permanece trancado, sendo permitido a entrada apenas de pessoas autorizadas.

    Há uma história Nagô que conta sobre a origem da tronqueira, da seguinte forma:
Havia um grande comerciante de bom caráter que muito ajudava a comunidade. Ele era justo e até doava quiabo e inhame aos que não tinham dinheiro para pagar. Por seu sucesso, era invejado por muitos dos seus pares, que rogavam à Morte e à Doença que batessem em sua porta. Ao saber disso, o comerciante consultou um Babalaô e o Oráculo de Orunmilá, ele queria saber o que fazer para afastar um possível mal à sua integridade física. O Senhor do Destino, aquele que tudo viu e vê, confirmou que ele seria atacado pela doença e pela morte, que seus inimigos estariam, pela inveja e mau olhar, liberando os Ajoguns, forças espirituais destrutivas, que bateriam à sua porta. Para manter-se equilibrado e protegido contra estas forças, ele deveria realizar uma determinada reza com uma oferenda para Exu, na entrada de frente da sua casa e outra também na entrada dos fundos, que deveriam ser renovadas periodicamente. Assim o fez, conforme orientado pelo Babalaô. Passados alguns dias, a doença foi à casa do comerciante e, ao chegar na porta de entrada, deparou-se com Exu. A doença disse: “Me dê licença Exu, pois quero entrar”. Exu, que havia sido invocado e recebido as oferendas do comerciante, disse à doença que não permitiria a sua entrada; ela que desse meia volta e seguisse o seu caminho. A doença, no entanto, não se deu por contente e se une a morte e tentam entrar pela porta dos fundos. Mas lá também estava Exu, que não deixou ambos entrarem, dizendo-lhes que o destino do comerciante não previa ele voltar para Orun naquele momento e que ele teria vida longa e próspera, isso se mantivesse o seu caráter intacto como vinha fazendo. Desde este dia, Exu está na tronqueira (porteira) dos Terreiros, evitando que coisas negativas entrem.

    Sendo assim, o congá e a tronqueira trabalham juntos, gerando o equilíbrio e segurança dentro do terreiro, para que os trabalhos ocorram da melhor maneira possível. Espero que esse texto tenha sanado suas dúvidas e agregado conhecimento para você, axé!

 Layla de Omolu.

 

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