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terça-feira, 29 de junho de 2021

Dos sistemas

 

Dos sistemas

 

O capítulo IV da primeira parte do Livro dos Médiuns nos fala dos sistemas de negação que os incrédulos e os inimigos do espiritismo criaram para “explicar” os fenômenos espíritas que a cada dia eram mais evidentes. Usavam inclusive argumentos que nem os espíritas tinham uma explicação uniforme para explicar tais fenômenos, situação essa, natural, pois toda ciência nova gera diferentes interpretações até que estabilize em algumas explicações mais uniformes.

São apresentados também sistemas que mistificam os fenômenos ainda que para enaltecê-los, como os que acreditam que se manifestam somente seres de luz, e são apresentados sistemas mais racionais e que condizem mais com as observações e estudos realizados a longo tempo. Ainda hoje é muito comum que incrédulos tentem explicar o que desconhecem, sendo a umbanda alvo de diversos preconceitos em função disso, vale a pena conferir cada um dos sistemas apresentados pois tanto o espiritismo, desde suas primeiras manifestações, como a umbanda nos dias de hoje são alvos de diversas delas, tais como, atribuir as manifestações a forças malignas, a um auto hipnotismo dos médiuns, ao charlatanismo etc.

Os fenômenos espiritas podem sem divididos em efeitos físicos e efeitos inteligentes. Os que não acreditam em espíritos não acreditam também nos efeitos inteligentes, uma vez que não reconhecem nada além da matéria e explicam os efeitos físicos com os quatro sistemas a seguir:


Sistema do charlatanismo: Nesse sistema os incrédulos explicam os fenômenos alegando que todos são fruto de enganação. Pois alguns dos efeitos podem e já foram imitados, sendo todos os espíritas ingênuos e todos os médiuns, para eles, enganadores. Para esse argumento o livro dos médiuns diz que os enganadores simulam várias coisas reais para tirar vantagem, nem por isso as coisas reais que eles imitam deixam de existir de verdade. Da mesma forma, não é porque alguns usam mal dos conhecimentos espirituais que nada dele é verdadeiro. Além disso, o livro comenta ainda que existem muitas pessoas de reputação inquestionável que afastam tal hipótese.

Sistema da loucura: Outros acreditam que os que não são charlatões são loucos, tendo a prepotência de se achar tão lúcidos a ponto de poder definir quem é louco ou não. É verdade que algumas pessoas, tanto do espiritismo como de qualquer outra religião ou crença possam ficar loucas, mas isso nada prova contra a religião.

Sistema de alucinação: Alguns dizem que na verdade não há o fenômeno, mas sim uma ilusão de ótica. Quando dizem que viram uma mesa se erguer e se mover no ar, para eles, na verdade, nada disso ocorreu. Tendo a pessoa sido enganada pelos próprios olhos. No entanto, muitos já passaram por debaixo de tais mesas e puderam conferir que a mesa estava realmente “flutuando” e muitos em conjunto viram as mesas se movendo rapidamente, será que haveria uma ilusão de ótica de todos eles?

Sistema do músculo estalante: Para o fenômeno de batidas em uma mesa, um cientista alegou que se tratava não de batidas na mesa, mas sim “contrações voluntárias, ou involuntárias, do tendão do músculo curto-perônio”. Ou seja, seria mais uma ilusão causada pelo próprio corpo de quem vê o fenômeno. Para esse argumento o livro comenta que nem todos que assistem ao fenômeno tem a faculdade de causar estalos com o referido tendão e que não é possível um barulho no interior do observador se manifestar em outro objeto distante desse. Além disso, mesmo que o fenômeno em questão fosse explicado por isso, ainda haveria muitos outros que não poderiam ser explicados da mesma forma.

Sistemas das causas físicas: Essa teoria dizia que os movimentos de objetos poderiam ser explicados pelo magnetismo, à eletricidade ou à ação de um fluido qualquer. Caso os fenômenos fossem apenas físicos essa teoria poderia ter durado mais tempo, no entanto as batidas e os fenômenos muitas vezes se mostravam inteligentes, não podendo ser explicado puramente através de causas apenas físicas.

Sistema do reflexo: Surgiu também a hipótese que o que o fenômeno expressava era o reflexo do pensamento do próprio médium ou dos assistentes, mas isso com o tempo foi descartado, uma vez que não era raro o fenômeno responder com pensamentos diversos dos que acreditavam o médium e os assistentes. Além disso como explicar uma pessoa que não sabe escrever se comunicar escrevendo por simples reflexos, ou respondendo em línguas que desconhece etc.


Sistema da alma coletiva: Nesse sistema, acreditasse que nos fenômenos apenas a alma do médium se manifesta, no entanto estaria em contato com a alma de muitos outros vivos presentes e ausentes, formando um todo coletivo. Na obra em que está escrito esse sistema diz que: “Nada há de oculto que não deva ser conhecido!”. Essa teoria não tem nenhuma comprovação e claramente se vê que não é tudo que pode ser conhecido pelo homem.

Sistema sonambúlico: Já nesse sistema acreditasse que o conhecimento transmitido nos fenômenos também vem do médium, no entanto ele estaria em um estado alterado de consciência, como em um estado de inspiração, uma sobre-excitação momentânea das faculdades mentais. Ainda que o Livro dos Médiuns admita essa possibilidade, há casos que não podem ser explicados por essa teoria, como os médiuns que escrevem distraídos, como uma máquina, sem a mínima consciência do que estão escrevendo, e os que escrevem sem saber escrever, por exemplo.

Sistema pessimista, diabólico ou demoníaco: acredita-se nas comunicações inteligentes, porém que somente os maus espíritos ou o diabo possam se comunicar. Essa teoria já teve muitos adeptos e ainda hoje tem uma pequena influência. O Livro dos Médiuns nos mostra que ela não faz sentido, uma vez que se Deus tudo pode, porque deixaria que apenas as más influências se comunicassem, seria mais sensato pensar que todos, tanto os bons quanto os maus têm essa faculdade. Outro aspecto que contradiz essa teoria é o de, em muitas comunicações, os espíritos pregarem apenas o bem e ensinarem formas de minimizar ou enfraquecer as influências negativas, se apenas os maus se comunicassem seria muito inconveniente para eles fornecer “armas” contra si mesmos.

Sistema otimista: Por outro lado, nesse sistema acredita-se que todas as comunicações provêm dos bons espíritos, uma vez que retirando a matéria, o espírito estaria com uma sabedoria suprema, nada para ele sendo oculto. Os que creem nessa teoria sofrem frustrações constantes ao verem manifestações de espíritos, não muito mais evoluídos que homens ruins, se manifestando, podendo-se constatar isso através do conteúdo de suas mensagens.

Sistema unispírita ou monoespírita: O referido sistema é uma variante do sistema otimista, os que acreditam nele creem que somente um espírito é responsável por todas as comunicações e fenômenos, sendo esse espírito o próprio Cristo. Creem que quando há comunicações desrespeitosas e ríspidas, tal espírito estaria testando os ouvintes. O Livro dos Médiuns trata como absurdo esse sistema e até mesmo uma blasfêmia com Cristo, uma vez que um espírito de tal grau de elevação seria incapaz de se sujeitar a comunicações de tão baixa vibração. Ainda argumenta que várias das comunicações são de parentes que já desencarnaram e que seria de uma atitude incompatível e sem proposito o próprio cristo se prestar a iludir os parentes de uma pessoa se passando por essa.

Sistema multispírita ou polispírita:  Esse sistema é fruto de uma longa observação e análise e é o que acreditam na maioria dos espiritualistas, é composto pelos seguintes fundamentos:

·         Os fenômenos espíritas são produzidos por inteligências extracorpóreas, às quais também se dá o nome de espíritos;

·         Os espíritos constituem o mundo invisível; estão em toda parte; povoam infinitamente os espaços; temos muitos, de contínuo, em torno de nós, com os quais nos encontramos em contato;

·         Os espíritos reagem incessantemente sobre o mundo físico e sobre o mundo moral e são uma das potências da natureza;

·         Os espíritos não são seres à parte dentro da criação, mas as almas dos que hão vivido na Terra ou em outros mundos, e que despiram o invólucro corpóreo; donde se segue que as almas dos homens são espíritos encarnados e que nós, morrendo, nos tornamos espíritos;

·         Há espíritos de todos os graus de bondade e de malícia, de saber e de ignorância;

·         Todos estão submetidos à lei do progresso e podem todos chegar à perfeição, mas, como têm livre-arbítrio, lá chegam em tempo mais ou menos longo, conforme seus esforços e vontade;

·         São felizes ou infelizes, de acordo com o bem ou o mal que praticaram durante a vida e com o grau de adiantamento que alcançaram. A felicidade perfeita e sem mescla é partilha unicamente dos espíritos que atingiram o grau supremo da perfeição;

·         Todos os espíritos, em dadas circunstâncias, podem manifestar-se aos homens; indefinido é o número dos que podem comunicar-se;

·         Os espíritos se comunicam por médiuns, que lhes servem de instrumentos e intérpretes

·         Reconhecem-se a superioridade ou a inferioridade dos espíritos pela linguagem que usam; os bons só aconselham o bem e só dizem coisas proveitosas; tudo neles lhes atesta a elevação; os maus enganam e todas as suas palavras trazem o cunho da imperfeição e da ignorância.



Sistema da alma material: Por último esse sistema somente diz sobre uma opinião particular sobre a natureza da alma. Para ele, alma e perispírito não seriam distintos. O perispírito seria a própria alma que estaria a se depurar gradualmente. A doutrina espírita considera o perispírito simplesmente como o envoltório fluídico da alma. Sendo matéria o perispírito, se bem que muito etérea, a alma seria de uma natureza material mais ou menos essencial, de acordo com o grau da sua purificação. O sistema em questão não contradiz qualquer dos princípios fundamentais da doutrina espírita, uma vez que não altera questões como o destino da alma; as condições de sua felicidade futura.

Tendo findado o estudo de todos esses sistemas de forma simplificada, fica claro que somente a experiência real e contínua com a espiritualidade pode nos levar mais perto do entendimento dos mistérios relacionados aos fenômenos espirituais. Fica claro também que muitas das explicações dadas para explicar tais fenômenos são extremamente sem fundamento, criada por pessoas que muitas vezes nem mesmo viram esses fenômenos e, se viram, viram de forma parcial (apenas comunicações de baixa ou alta vibração). Tudo isso gera um enorme preconceito com as religiões espiritualistas como o espiritismo, a umbanda, o candomblé e outras mais.

Axé

Ricardo de Ogum Matinata

quinta-feira, 24 de junho de 2021

O método

O método

 

Estudaremos agora o capítulo III, que se encontra na primeira parte do Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, denominado “Método”. Este capítulo refere-se à análise da melhor forma de ensinar a doutrina espírita com o objetivo de dar mais segurança à convicção de cada um. Lembrando que na Umbanda temos as mesmas dificuldades para o ensino convicto e mais esclarecido aos que procuram conhecer a religião.

O ensino deve ser entendido de forma mais ampla, não somente aquele catedrático e pedagógico, mas também pelo diálogo e experiências, além de todo meio que possa convencer ou persuadir o outro ao entendimento. Para a doutrina espírita, e igualmente para nós umbandistas, o princípio deve ser a existência da alma para, em um momento secundário, entender a questão dos espíritos. Então para se convencer um incrédulo deve-se saber sobre sua opinião acerca da existência da alma, da sobrevivência desta ao corpo, da sua individualidade após a morte. Se o indivíduo negar a sua existência estaríamos perdendo tempo falando de espíritos, mesmo diante de fatos.

Allan Kardec explica os vários incrédulos. Primeiramente ele cita os materialistas em duas classes, sendo a primeira delas os materialistas por sistema: aqui há a negação absoluta da alma, entendendo que o homem se constitui de matéria pura, apenas uma máquina que somente funciona se está bem montada e após a morte fica apenas a carcaça. Nessa classe a maioria dos que são adeptos permanecem pelo orgulho de sua opinião e persistem, mesmo diante de prova em contrário, porque não querem ou acham que não podem mudar. Alguns vão dizer “fazei que eu veja e acreditarei” ou “ainda que eu visse, não acreditaria”, mas tudo em vão. Para estes, a forma seria colocá-los no terreno que estão e provar-lhes que a fisiologia não tem todas as respostas e “o resto virá depois”.



A segunda classe dos materialistas seria o verdadeiro materialista com sentimento antinatural, compreendendo aqueles que o são por indiferença, por falta de coisa melhor. Para estes, há um desejo de crer diante da incerteza que os invade e atormenta. Para estes incrédulos, caso seja apresentado algo racionalmente, aceitarão, pois podem nos compreender por que estão mais próximos que imaginam.

Cita uma terceira classe de incrédulos que se dizem espiritualistas (ao menos no nome) também chamados incrédulos de má-vontade que são aqueles que estão vinculados às questões materiais e às vaidades humanas que se deliciam. São os que fecham os olhos para não ver e tapam os ouvidos para não ouvir. Ainda tem os incrédulos por interesse ou má-fé que sabem o que pensar do espiritismo, mas o condena por motivos de interesse pessoal. Para estes o tempo se encarregará de mostrar a verdade, pois esta se expande e lhe arrastará juntamente com os interesses que julgava maiores.

Outros incrédulos ou opositores são citados no texto de Allan Kardec, dentre eles: incrédulos por pusilanimidade (falta de energia; fraqueza) são os que terão coragem a partir do outro; incrédulos por escrúpulos religiosos: um estudo mais aprofundado ensinará que o espiritismo tem bases fundamentais e respeitará todas as crenças e religiões. Cita, ainda, os incrédulos por orgulho, por espírito de contradição, negligência, leviandade etc. Os incrédulos por decepções é uma categoria daqueles que passaram da confiança para a incredulidade por terem sofrido desenganos e decepções. Abandonaram e rejeitaram tudo.

Seguindo o estudo, Allan Kardec cita uma classe tida como a mais numerosa, mas não como opositores do espiritismo, que seriam os incertos: espiritualistas por princípio e a maioria tem uma vaga intuição das ideias espíritas. Para estes, o espiritismo é como um traço de luz e, se acolhido, os livra das angústias das incertezas. Por outro lado, passa-se o olhar para os crentes ou aqueles que de alguma forma aceitam o espiritismo. De início cita os espíritas sem o saberem: são aqueles que já tem inato o sentimento dos grandes princípios que decorrem a doutrina espírita, mesmo sem ter ouvido tratar dela antes.

Outros são aqueles que se convenceram por um estudo direto:

Espíritas experimentadores: os que creem pura e simplesmente nas manifestações; entendem que o espiritismo é uma ciência de observação, uma série de fatos mais ou menos curiosos.

Espíritas imperfeitos: o espiritismo além dos fatos também compreende a parte filosófica, admirando a moral; estes admiram, mas não praticam; continuam seus hábitos e não se privam das imperfeições que carregam, como exemplo, se são invejosos, continuam sendo. Consideram a caridade cristã apenas uma bela máxima.

Espíritas cristãos ou verdadeiros espíritas: estes não se contentam em apenas admirar a moral espírita, mas também a praticam e aceitam as consequências; estão convencidos de que a existência terrena é uma prova passageira e procuram aproveitar para progredir para a elevação espiritual, esforçando para fazer o bem e esquivar ou eliminar as más tendências. Para eles a caridade é a regra que deve seguir.

Espíritas exaltados: esta classe acaba excedendo e enxerga confiança exagerada em tudo que é invisível, levando e aceitando com facilidade e sem verificação aquilo que é absurdo o que, com reflexão e exame, seria constatado.



Feito este estudo das classes dos incrédulos e crédulos, Kardec passou a discorrer sobre os meios de convencimento que são variados, conforme cada indivíduo. O que convence um, nada induz o outro. Cita que o maior número se convence pelo raciocínio e que os fenômenos naturais quase nenhum peso tem, pois somos levados, naturalmente, a duvidar daquilo que não é racional. Portanto, cada um terá sua explicação, sendo que o materialista dirá que se trata de uma causa física, o ignorante ou supersticioso dirá que é diabólico ou sobrenatural, ao passo que uma explicação prévia destruirá as concepções pré-concebidas e mostrará a realidade, pelo menos a possibilidade, da coisa antes de ser vista. Assim, desde que conheça a possibilidade de um fato, a maioria da convicção (diz Kardec que três quartos da convicção) já está resolvida.

Como já mencionado em linhas pretéritas, o convencimento dos incrédulos obstinados está, muitas vezes, relacionado as causas da natureza de sua incredulidade que tem importância pessoal e se não se convenceu pelo raciocínio, nem pelos fatos, é porque se trata da necessidade de ainda sofrer a prova da incredulidade e deixar à Providência o encargo de preparar as circunstâncias favoráveis para o entendimento.

Não há que se perder tempo com aqueles que repelem a luz, pois existem outros de boa-vontade que a deixam chegar sem maior resistência. Sem dúvida que o espírita verdadeiro, assim como o verdadeiro umbandista, não deixará de fazer o bem, ajudar corações aflitos, amparar desesperados, operar reformas morais, pois é a sua missão. O espiritismo está no ar e difunde-se mesmo nas coisas, porque torna feliz quem o professa.

Allan Kardec afirma que para o ensino do espiritismo não é igual ao processo das ciências ordinárias/comuns, ou seja, começar do começo para o fim: iniciar com o mais simples e sucessivamente para o mais complexo, pois no espiritismo lidamos com inteligências que gozam de liberdade e que nos provam não estar submetidas aos nossos caprichos. Portanto, cabe-nos observar, aguardar os resultados e colhê-los à passagem. Assim, o meio mais simples é começar pela teoria, onde os fenômenos são apreciados e explicados para que possa conhecer, compreender a possibilidade, saber em que condições poderão produzir e quais obstáculos poderão enfrentar. Independentemente da ordem apresentada, não serão surpreendidos, além da vantagem de poupar decepções aos que queiram operar por si mesmo, evitando adquirir experiência a sua própria custa.

Outra vantagem do estudo prévio da teoria é mostrar a grandeza do objetivo e o alcance do espiritismo. Os que creem antes de haver visto, por estudo, leitura e compreensão, são os que mais refletem, dando maior atenção ao fundo do que à forma, validando a parte filosófica e considerando como acessório os fenômenos propriamente ditos. As manifestações não são a base essencial, mas confirmam a doutrina. Claro que a teoria vem dar explicações a fatos provocados ou espontâneos. Contudo, não se pode desprezar os fatos, pois por estes é que foi possível chegar à teoria através de inúmeros estudos e observações. Os fatos serviram e servem sempre a doutrina espírita, mas sem raciocínio eles não bastam para determinar a convicção de uma explicação prévia.


Por fim, Kardec sugere a leitura prévia das obras “O que é o Espiritismo?”; “O livro dos Espíritos”; “O Livro dos Médiuns” e “A Revue Spirite”. Aconselha Kardec que para se aprofundarem em uma determinada ciência deve ser lido tudo que encontrar sobre o assunto, o pró e o contra, e todos os autores para ter um apanhado amplo sobre o assunto, e afirma “caber ao leitor separar o bom do mau, o verdadeiro do falso”.

Aqui terminamos a leitura do Capítulo III - “O método”, do Livro dos Médiuns” de Allan Kardec. Encontramos na Umbanda as mesmas dificuldades da doutrina espírita e podemos aplicar as considerações feitas por Allan Kardec no capítulo ora estudado. Tal como considerado, a melhor forma de se convencer um incrédulo é através do raciocínio e este se dará mais eficientemente pelo estudo teórico prévio, pois a partir daí o indivíduo estará preparado para analisar, compreender e assimilar melhor os fatos e/ou fenômenos da Umbanda. O estudo teórico é essencial para qualquer umbandista ou crente na Umbanda, mesmo porque “Umbanda é coisa séria para gente séria” e o compromisso e evolução estão diretamente ligados ao conhecimento/estudo.

Que tenhamos consciência de que o método mais eficaz para nossa fé (crença/acreditar) consiste no conhecimento e no estudo, pois a possibilidade de crer naquilo que conhecemos é imensamente maior. Isso é característica do Ser Humano/encarnado.

Muito axé a todos.

Girlei de Iemanjá

  

terça-feira, 22 de junho de 2021

O maravilhoso e o sobrenatural

 

O maravilhoso e o sobrenatural

 

Dando continuidade ao estudo do Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, falaremos hoje do capítulo II, das Noções Preliminares, cujo título é “O maravilhoso e o sobrenatural”.

            O maravilhoso ou sobrenatural, para nós encarnados, é tudo aquilo que não pode ser explicado pelas leis da natureza, pelas leis materiais. Por não sabermos toda a extensão da lei divina, não sabemos dizer o quanto ambas estão interligadas ou onde termina uma e começa a outra.

Desde o princípio da humanidade foram relatadas experiências e manifestações de comunicação com os espíritos e durante toda a história, enquanto essas experiências aconteciam, havia pessoas para desacreditar da veracidade desses acontecimentos que não podiam ser explicados pelas leis materiais nas quais esses críticos se fundamentavam.

Os espíritos pensam, conseguem manipular energia e mover a matéria, assim como são capazes de transmitir mensagens. Tudo isso é natural a eles, não há nada de sobrenatural ou maravilhoso, afinal, todas essas habilidades são inerentes à lei que os rege. Para alguém que não detém o conhecimento necessário para compreender, pode parecer que a manipulação de energia feita por um espírito é algo sobrenatural, mas na verdade, por desconhecermos a integralidade das leis naturais e maior ainda ser nosso desconhecimento da lei divina, não podemos afirmar se essas ações dos espíritos quebram tais leis.

Podemos analisar o exemplo do espírito que faz levitar uma mesa. Ao fazer levitar a mesa, o espírito então não estaria quebrando uma lei natural, que é a lei da gravidade? Como resposta o espírito revelador nos diz que a humanidade já fez coisas que eram consideradas impossíveis, como o telégrafo e posteriormente o telefone ou como o avião. Como podemos dizer que algo que é desconhecido a nós, como um fluido ou uma forma de energia, não possa balancear a força da gravidade e fazer levitar aquela mesa? Chamamos de sobrenatural aquilo que foge à nossa compreensão como lei natural, mas, justamente por desconhecermos a extensão dessa lei, não podemos afirmar que algo é impossível, segundo ela.



E como podemos afirmar que existe o envolvimento de um espírito em algum acontecimento, como no exemplo citado acima? Para todo efeito inteligente há uma causa inteligente. Se uma mesa levitou, certamente há causa para que aquela mesa tenha levitado. Nada acontece por acaso e o espírito consegue influenciar no mundo físico dessa forma graças ao seu corpo fluídico. Quando morremos nossa alma deixa nosso invólucro material feito de carne e ossos e volta à sua forma etérea natural, ou seja, adquirem novamente seu corpo fluídico, formado totalmente por energia e, utilizando desse corpo fluídico, se valendo da influência dessa energia, o espírito é capaz de interferir no mundo material. Afinal, tudo é energia.

Em seguida o espírito indica que os céticos que atacam religiões que se baseiam na manifestação dos espíritos se fundamentam no materialismo, negam a existência da alma e, por não aceitar os efeitos da existência da alma, essas pessoas consideram absurdos os “fatos maravilhosos”. Mas como pode alguém afirmar que algo é absurdo ou inexistente se não se dedicou a estudar sobre aquilo? E aqui o espírito nos deixa um valioso ensinamento: “Que peso tem a opinião daquele que fala sobre aquilo que não sabe?”. Se você não tem conhecimento sobre o assunto ou se não viu o outro lado, não se deve falar nada pois não sabe do que fala.

Somente com tempo e estudo se adquire conhecimento de qualquer ciência. Não se pode aprender nem compreender a espiritualidade de uma hora para outra, esse conhecimento requer tempo e muito estudo. Quem não se dedica a tal estudo não tem moral para discutir se baseando em uma ou outra experiência vivida, quanto mais se sabe sobre determinado assunto, menos chances de falar besteira sobre. Não se pode considerar um crítico sério o indivíduo que não tenha visto, estudado e observado os fenômenos, assim como uma pessoa de dentro da religião. A pessoa tem que questionar por meio de argumentos, questionamentos esses que apresentem argumentos de causa mais lógica do que a explicada pelo espiritismo e não por negacionismo.

Em outra parte do capítulo o espírito esclarece que todos os fenômenos espirituais são baseados na sobrevivência da alma após o desencarne e a manifestação dela. Além disso, também explica que todos os fenômenos devem ser analisados com extremo cuidado, senso crítico e muito bem fundamentados nos estudos espirituais, pois é essa análise cuidadosa que permite a identificação de farsantes.



Em seguida, o espírito aborda a questão dos milagres. O significado original da palavra “milagre” seria “algo extraordinário, surpreendente e admirável”, no entanto, com o passar do tempo, esse significado foi mudando e hoje podemos afirmar que seu significado é “ato de poder divino, algo que não podemos explicar utilizando as leis naturais”. Hoje em dia, a palavra “milagre” normalmente é utilizada para descrever algo tão surpreendente que não conseguimos explicar ou que desconhecemos a causa.

Diferente dos fenômenos espirituais, o milagre não pode ser explicado, são infrequentes e isolados. Por exemplo, um homem que foi dado como morto e ressuscita, se já não havia nele qualquer sopro de vitalidade e por intervenção divina ele volta à vida, isso é um fato milagroso. No entanto, se ainda havia ali qualquer resto de vida, como no caso de uma pessoa que sofreu uma parada cardíaca e por ação de um médico o coração volta a bater, temos ali uma ação natural já que naquela pessoa ainda existia vitalidade latente. Então, para os leigos, o que ocorreu ali entre o médico e o paciente foi um milagre, mas para quem estudou, sabe que somente um fenômeno natural ocorreu.

Analisando os ensinamentos pela ótica umbandista podemos perceber várias similaridades. Na Umbanda vemos as manifestações dos espíritos como algo comum, uma vez que plano espiritual e material acontecem simultaneamente, se sobrepondo um ao outro e diferenciando-se por escalas energéticas. Dessa forma, na nossa religião, consideramos que o “maravilhoso ou sobrenatural” sejam apenas acontecimentos dos quais muitas vezes não temos capacidade de observar profundamente, pelo fato de estarem em esferas energéticas distintas da nossa enquanto encarnados.

 

Layla de Omolu

quinta-feira, 17 de junho de 2021

Há espíritos?

 Há espíritos?


Olá, irmãos, hoje daremos início a uma nova jornada de estudos, assim como realizamos os estudos relativos ao Livro dos Espíritos, iniciaremos o estudo acerca das revelações contidas no Livro dos Médiuns. Através de nossos textos iremos refletir sobre os ensinamentos transmitidos à Kardec pelos espíritos reveladores e, em seguida, analisá-los sob a ótica umbandista. Que Olorum nos abençoes e pai Oxóssi nos guie, axé.

Dando início ao estudo Do Livro dos Médiuns, parte primeira: Noções preliminares, Capítulo 1: Há espíritos?

Os reveladores logo esclarecem que a dúvida contida em tal pergunta vem da ignorância dos encarnados, cultivada nas lendas e mitos acerca do assunto e trazendo o plano espiritual e seus habitantes como seres as vezes bestiais, essas histórias, sempre ricas em fantasia e exagero, acabam impressionando e distanciando da verdade. Acabam negando todo o plano espiritual devido a fantasias impressionista.

A resposta para a pergunta necessita de um ponto de partida fundamental, a existência de um princípio inteligente fora da matéria. Dessa forma a base para o espiritualismo se solidifica partindo da existência, sobrevivência e individualidade da alma. Dito isso, nos esclarecem que a alma é de natureza diferente do corpo, a alma possui consciência de si mesma pois possui alegrias e sofrimentos.



Os espíritos nos levam agora para uma outra reflexão, para onde a alma vai? Céu e inferno, em cima ou embaixo, mas como pensar no conceito de alto e baixo se nosso planeta é redondo e o movimento de rotação e translação. O que seriam as profundezas da terra estudadas pela geologia. Fazem mais, nos levam a racionalizar, qual sentido em acreditar que apenas a terra seria habitada por seres racionais? Um planeta minúsculo perdido na imensidão do espaço, por que teríamos esse privilégio?

Os Reveladores esclarecem que vivemos em um espaço universal e estamos, literalmente, lado a lado com espíritos desencarnados a todo momento. Fazem esclarecimentos também sobre as penas e recompensas do plano espiritual e revelam que elas estão diretamente ligadas com o estado moral e que através do avanço desse estado, adquirem capacidade de identificar e observar o que outros em estado moral inferior não conseguem. Com base no livro dos médiuns os anjos seriam o mais alto grau de desenvolvimento moral, grau esse alcançado após várias provas. Sobre os demônios, nos esclarecem que são apenas almas dos maus, que ainda não se purificaram, mas que podem ascender como qualquer outra.

As manifestações espíritas são a prova de existência e sobrevivência da alma e dos espíritos. Após os conceitos acima, porque seria tão difícil acreditar que estes espíritos poderiam se comunicar com os encarnados, uma vez que estão no mesmo espaço universal apenas em planos diferentes. O fato de serem imateriais não os impede de agir na matéria, o mesmo ocorre com a eletricidade por exemplo.

Nas explicações dos reveladores o espírito é o ser pensante, a consciência e a essência, o corpo não passa de uma simples vestimenta. Para unir o espírito com a vestimenta (corpo) existe o perispírito, que é semimaterial, e possui a forma do corpo. No processo de desencarne o espírito deixa a vestimenta (corpo) mas não o perispírito. Dito isso, porque não aceitarmos que os desencarnados consigam interferir na matéria de nosso plano, nos intuir, guiar as mãos em psicografias, usar nosso corpo como ferramenta para auxiliar em nosso aprendizado, visto que o homem consiste basicamente em um espírito aprisionado na carne.


Na Umbanda chamamos os espíritos de “eguns”, que é um termo iorubano que usamos para designar qualquer espírito desencarnado. A ótica Umbandista possui inúmeras semelhanças com as ideias apresentadas pelos reveladores. O corpo nada mais é que uma roupa usada para que possamos nos manter densos, no plano material, e experimentar as “tentações” inerentes a ele para que possamos evoluir. O plano espiritual nos cerca, nos inunda, estamos imersos nele em constate interação, como exemplo pense no oxigênio que você está respirando agora, olhe a sua volta, o oxigênio não estará visível aos seus olhos, mas você sabe que ele está ali. Da mesma forma acontece com as ondas que chegam nos celulares e computadores, sabemos que estão ali, mas não conseguimos visualizá-las sem aparelhagem correta.

Os guias que trabalham na umbanda possuem elevado nível moral e se dividem em linhas de trabalho especializadas com a necessidade da tarefa a ser desempenhada, conseguindo adentrar e visualizar substâncias e espíritos mais densos e/ou mais sutis.

Refletindo a questão tratada sobre céu e inferno, também há concordância entre as doutrinas. Porque Deus, que é a bondade suprema, iria permitir que após a morte um espírito permanecesse eternamente no “inferno”, sofrendo todos os tipos de castigos e flagelos? O “inferno” de cada um é sua própria consciência, cada um possui e cria diariamente seu próprio céu e inferno. De que seria útil uma pessoa boa em vida, que ao falecer fosse levada ao reino dos céus, para ali ficar eternamente?  Deus dá aos maus a chance de reconhecer os erros cometidos e se elevarem para sair do flagelo e permite aos bons auxiliar aqueles que precisam.

Os guias estão no mesmo espaço universal que nós, apenas em planos diferentes. Quando nos entregamos no terreiro, nos colocando à disposição de Deus para auxiliar o próximo (seja incorporado, cambonando, na curimba ou em qualquer atividade do terreiro) estamos “mediunizados”, nesse estado estamos menos densos, facilitando a ação do plano espiritual.

Feche seus olhos neste momento, agradeça a Deus por todas as experiências vivenciadas no seu dia, algumas podem parecer ruins pois nossa visão é limitada, mas é através delas que iremos nos elevar cada vez mais. E lembre-se que não estamos sozinhos, nossos guardiões estão sempre conosco. Axé!                  

 

                                                                     Pedro” de Xangô e Larissa de Iansã


terça-feira, 15 de junho de 2021

Irradiação de Orixá

 

Irradiação de Orixá

 

            Recentemente fui questionado por alguns filhos sobre a força da irradiação dos Orixás, sobre o medo de cair, sobre a energia incontrolável ou sobre a energia que se encontra distante. Então vamos lá, vou tentar desmistificar e trazer um pouco de conhecimento sobre tal irradiação.

            Primeiro devemos lembrar que irradiar Orixá é diferente de incorporar um guia. Para irradiar uma energia não há acoplamento de outro “ser” em seus chakras, mas isso não quer dizer que eles não estão trabalhando, estão sim e muito. Como já é do nosso conhecimento, o Orixá é uma energia divina que está dentro de nós e essa energia se manifesta de três maneiras principais, sendo elas, ancestral (nos acompanha em todas as encarnações), de frente (está em nossa atual encarnação como energia principal), e adjuntó (também nessa encarnação, porém trazendo equilíbrio com o “de frente”).

Vale lembrar que não possuímos apenas essas três energias, temos a força de todos os orixás dentro de nós, que vão se manifestar em determinados momentos de nossas vidas de acordo com a necessidade de que passamos. Por exemplo, você pode ter como ancestral Xangô, de frente Oxum e adjuntó Ogum e na sua vida naquele instante você passa por um momento de conhecimento e busca, onde o orixá Oxóssi se faz mais presente em sua vida.



            Apesar de termos as forças de cada orixás dentro de nós, quando vamos manifestar em uma gira de orixá irradiamos somente os orixás que estão em nossa coroa (ancestral, de frente e adjuntó) para externalizar aquilo que temos de mais forte em nosso interior, a energia divina que habita em nós. Sendo assim a energia dos Orixás vão se manifestar através de danças e de seus brados, que vão sair de dentro do médium que ali se manifesta e se exteriorizar para todos ali presentes, formando uma egrégora de energia contendo a força divina e da natureza que aquele orixá traz.

            Para o médium iniciante, que está começando sua caminhada no axé e na Umbanda, é preciso ter consciência que a irradiação do Orixá não é incorporação, pois não incorporamos forças divinas, o que acontece é a manifestação dessa força que está dentro de nós e vai ser liberada através de nosso íntimo. Alguns elementos que vão auxiliar para a liberação é a concentração no canto do terreiro, as palmas, o atabaque, a curimba, o Adja tocado pelo Pai ou Mãe de Santo, a energia da natureza ligada ao Orixá.

O médium deve estar, do início ao fim da manifestação, presente em pensamento junto ao ponto de força, levando sua mente a natureza que rege o Orixá e que por consequência levará o seu corpo a trazer a energia do interior do corpo físico para o exterior acontecendo assim a irradiação do Orixá.

            O medo de cair é normal pois temos medo de manifestar aquilo que está dentro de nosso íntimo, de nos soltar e abrir nossos sentimentos, revelando quem somos. Temos medo do nosso inconsciente e nele está presente a força do Orixá. Ao enfrentarmos esse medo vamos perder também o medo de cair, vamos ter firmeza nas pernas e então manifestar de maneira bonita para todos que ali estão, e o mais importante, enfrentar no dia a dia, modificando nossa vida para melhor. A manifestação do Orixá nada mais é que um processo de autoconhecimento, onde o médium vai liberar seu íntimo e se conhecer.


            Sentir que a energia é incontrolável ocorre quando o médium não controla seus sentimentos. Por exemplo, se um filho de Ogum passa por uma situação que não o agrade e estoura de raiva, quando for irradiar vai cair no chão, vai trombar nos outros médiuns e isso ocorre por ele não conseguir controlar sua energia, fazendo com que ela dissipe fácil e de maneira bruta, do mesmo modo que acontece em seu dia a dia. Também acontece de o médium sentir distante a energia do Orixá porque no seu dia a dia ele esconde seus sentimentos e suas vontades para satisfazer vontades alheias, fazendo com que a energia de seu Orixá fique distante e dissipe rápido, quase sem sentir.

            Há ainda diversas outras dúvidas quanto a irradiação do Orixá que podemos esclarecer pela nossa conclusão. Tais dúvidas abrangem médiuns iniciantes e médiuns experientes. O fato é que a irradiação de Orixá está ligada ao seu estado de espírito naquele momento e revela o seu íntimo, manifestando ou não mostra o quão você está ligado a você mesmo. Cabe a cada um, em suas irradiações, se perguntar: O que você preciso melhorar e quais ações devo tomar? Sou dono dos meus sentimentos e ações? Consigo expandir o amor e demais sentimentos em meu coração?

Diversas perguntas devem ser feitas e você deve buscar as respostas em seu coração. Para ajudar sempre acenda suas velas e faça suas firmezas para seu anjo de guarda e seus Orixás, fazendo com que se aproxime de Olorun, o criador, e do seu próprio íntimo.

Pai Igor de Oxum

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Incorporação

 

Incorporação

 

Hoje vamos falar sobre incorporação e vamos esclarecer muitas dúvidas em relação a esse processo. A incorporação nada mais é que o acoplamento dos chakras do guia aos chakras do médium, formando assim a chamada “terceira pessoa”. O trabalho flui com a energia dos dois, formando uma pessoa só. A incorporação acontece para adquirirmos aprendizados através do trabalho com os guias, afinal, a espiritualidade consegue “ver” o mundo espiritual e o mundo material lado a lado, coisa que nós encarnados não conseguimos. Nesse processo eles trazem os ensinamentos.

O processo de incorporação só acontece quando é necessário para determinado aprendizado. Essa mediunidade é como todas as outras que conhecemos, nada a mais nem a menos e, por ser assim, ela é desenvolvida na hora necessária. É um processo gradativo, dia após dia, cada experiência é nova e se aprende um pouco mais. Não existe padrão, cada um desenvolve e trabalha no seu tempo, cada um aprende de uma forma, passo a passo. O médium que incorpora é aquele que necessita daquele tipo de ensinamento, assim como o médium que tem a mediunidade sensitiva obtém seus ensinamentos daquela forma.

Encontramos três classificações de incorporação: consciente, semiconsciente e inconsciente. A consciente seria aquela que o médium lembra de todo o trabalho e de todo o processo. Hoje em dia não se vê muito esse tipo de incorporação porque os trabalhos são sempre dentro da ética e os guias não deixam o médium lembrar de algo que vá constranger alguém quem foi atendido. Na incorporação semiconsciente o médium auxilia o guia e depois do atendimento ele só se lembra do que for necessário para o seu aprendizado, nada que seja da intimidade de nenhum consulente, só vai se lembrar dos ensinamentos para assim poder aprender e evoluir como todos os outros. A incorporação inconsciente seria como um apagão, o médium não se lembra de nada, também não é comum nos dias de hoje porque se assim fosse não teria motivos para a incorporação, dessa forma não iriamos tirar nenhum ensinamento.



Para a incorporação é necessária muita concentração, principalmente do cambone. Esse processo não acontece sem o cambone, é uma função de total responsabilidade e respeito. Ele deve estar na vibração daquela incorporação, sempre atento e vibrando boas energias. Além do cambone TODOS, sem exceção, que estão no terreiro naquele momento estão fazendo parte daquele trabalho, por isso sempre devemos fazer os preceitos, cantar pontos e nos manter concentrados, pois todos nós somos peças fundamentais para que ele flua da melhor forma.

Quando o médium vai incorporar deve sempre deixar o coração aberto, fazer suas intenções antes da gira e permitir que aquilo aconteça. A incorporação só acontece se o médium permitir, ele tem que deixar, aceitar e liberar para que seu corpo seja instrumento de trabalho. Isso também vale para o controle energético do médium pois mais importante que saber incorporar, é saber não incorporar. É extremamente importante saber sobre esse controle de energia, o processo só acontece se de alguma forma a gente der a passagem. Isso também cabe para os casos que ouvimos de conhecidos que dizem que incorporaram em casa ou em festas, por exemplo. A pessoa de alguma forma deu abertura para aquilo, seja deixando de orar e vigiar, seja deixando de fazer suas firmezas, seja usufruindo de coisas materiais que abaixam a vibração energética . De alguma forma aquele indivíduo deu passagem para que isso acontecesse.

A incorporação fora do terreiro não pode e não deve acontecer, é extremamente perigoso e pode gerar grandes consequências por não saber com que energia estamos lidando. O terreiro é um local sagrado e protegido, por isso a incorporação sempre deve acontecer ali dentro, com exceção dos trabalhos de defumação, por exemplo, que são muito preparados pela espiritualidade para que ocorra tudo da forma correta e mais protegida possível.

Por hoje encerramos esse assunto, que é muito extenso assunto e sempre tem mais alguma coisa para compartilhar. Vamos sempre lembrar, principalmente dentro desse tema, das palavras do Caboclo Sete Flechas: “Umbanda é coisa séria para gente séria”.

Muito axé!

Clara de Oxum

terça-feira, 8 de junho de 2021

Características dos filhos dos orixás: Linha da geração

 

Características dos filhos dos orixás: Linha da geração

 

Esta é a 7ª linha da Umbanda, a linha da geração, com os orixás Iemanjá e Omolu.

Iemanjá é o orixá que rege a geração da vida em todos os planos de vida e consciência, o amparo a vida em todas suas formas. O campo preferencial de atuação de Iemanjá é no amparo à maternidade, ao materno. Iemanjá é a nossa amada “mãe da vida”, a água que vivifica e o nosso pai Omolu é a terra que amolda os viventes.

Omolu é o orixá que rege a morte ou no instante da passagem do plano material para o plano espiritual (desencarne). Este orixá guarda para Olorum todos os espíritos que fraquejaram durante sua jornada carnal e entregaram-se à vivência de seus vícios emocionais. Mas ele não pune ou castiga ninguém, pois estas ações são atributos da lei divina, que também não pune ou castiga, ela apenas conduz cada um ao seu devido lugar após o desencarne.

Seguimos ao estudo das características dos filhos de Iemanjá e de Omolu.



Filhos de iemanjá: o fato de muitas de suas lendas acabarem por ter Iemanjá fugindo para o mar, mostra o quanto as filhas de Iemanjá são dadas as fugas. Em nossas vidas, suas filhas não irão necessariamente sair correndo todas as vezes que se sentirem “injuriadas”, pois, para sair da situação, bastará que se ajustem a uma situação que abominam: aí está a característica, a fuga. Chama a atenção, na lenda, a radicalização da ida ao mar sem volta. Voluntariosas como são, se escondem por muito tempo atrás de um falso rosto alegre ou de um falso bem-estar, em algum momento se sentirão tão injuriadas com a situação que, moídas pelas mágoas acumuladas, darão as costas a qualquer um ou qualquer lugar. As filhas de Iemanjá podem, aos olhos de muitos, parecer falsas, pois em uma sociedade patriarcal a mulher aprende desde cedo a usar todas as artimanhas para fazer prevalecer suas vontades.

Diferente das filhas de Oxum, estas apresentam certas dificuldades e conflitos no relacionamento com os outros filhos de terra, porém, conhecendo sua natureza e respeitando seus ideais, qualquer um receberá sua amizade. Os filhos e filhas de Iemanjá são calmos, fortes, protetores, maternais, indecisos, ciumentos, chorões, simpáticos, teimosos e vingativos. Guardam muitas mágoas, são rancorosos, gostam de conversar e preocupam-se muito com os outros. Seu temperamento é dócil e sereno, mas podem se agitar por qualquer motivo. Podem estar conversando com você sobre uma coisa, mas talvez estejam pensando em uma coisa totalmente diferente, podem estar criando alguma história na cabeça, pensando o que vai acontecer depois etc.

A mulher filha de Iemanjá é amorosa, delicada, vaidosa e desde jovem busca a independência e estuda para poder subir na vida. Trabalhar é muito importante para ela, pois o trabalho irá lhe proporcionar sua independência. Ela aparenta ser frágil, mas pode ser muito teimosa, respondona e irritante. O homem filho de Iemanjá é bondoso, delicado, justo, equilibrado, mas também pode ser rabugento e desanimar por qualquer coisa, são sensíveis às opiniões alheias, bonitos e com presença marcante. Quando entram no negativo ficam egoístas e se cobram muito.

Odoyá (Amada Senhora das águas).



Filhos de Omolu: os filhos de Omolu levam seus objetivos até o fim, não importando o preço que irão pagar e querem sempre que tudo saia do jeito que planejaram. Costumam apresentar pensamentos pessimistas e são introvertidos, pois sentem necessidade de estarem sozinhos, em silêncio com seus próprios pensamentos, uma vez que seu desenvolvimento pessoal depende disso. São calmos, estudiosos, discretos, misteriosos, doces, apesar de não transparecer com facilidade, teimosos, muito sinceros, não levam desaforo para casa, prestativos, trabalhadores, caridosos e solidários.

Geralmente os filhos deste orixá apresentam problemas de pele e/ou articulações, nunca adoecem ou se adoecem com frequência e se recuperam rápido. Podem mudar de opinião de uma hora para a outra pois enxergam rapidamente as falhas no seu dia a dia e sempre buscam uma situação mais perfeita possível. Gostam muito de ensinar e aprender. Quando entram no negativo se tornam pessoas pessimistas, teimosas, exigentes, rabugentos e adoram exibir seus sofrimentos.

Atotô (Silêncio, ele está aqui).

Aqui chegamos ao fim deste pequeno estudo, espero que, assim como eu, vocês também tenham se engrandecido pessoalmente, percebendo o quanto temos a aprender e evoluir com ensinamentos disponíveis (devemos estudar muito) e com o autoconhecimento (aplicar e refletir trazendo para nossa vida estes aprendizados) para que haja efetivo amadurecimento pessoal e evolução.

Gratidão e muito axé a todos.

Encontraremo-nos aqui em breve com mais reflexões.

Ana de Iansã

 

quinta-feira, 3 de junho de 2021

Características dos filhos dos orixás: Linha da evolução

 

Características dos filhos dos orixás: Linha da evolução

 

Na 6ª linhada umbanda encontraremos os orixás Obaluaê (irradiador) e Nanã (absorvedor) que pertencem a linha da evolução.

Obaluaê é o orixá que atua na evolução e seu campo preferencial é aquele que sinaliza as passagens de um nível vibratório ou estágio da evolução para outro. Interessante que há grande associação de Obaluaê com a  cura, mas ele é muito mais, pois é o “senhor das passagens” de um plano para outro, de uma dimensão para a outra, e mesmo do espírito para a carne e vice-versa.

NanãBuruquê é regente da maturidade e seu campo preferencial de atuação é o racional dos seres. Esse orixá atua decantando os seres emocionados e preparando-os para uma nova “vida”, já mais equilibrada/mais evoluída. Assim, Nanã decanta os espíritos que irão reencarnar e Obaluaê estabelece o cordão energético que une o espírito ao corpo (feto), que será recebido no útero materno assim que alcança o desenvolvimento celular básico (órgãos físicos).

Na sequência, as características dos filhos de Obaluaê e Nanã.



Filhos de Obaluaê: os filhos de Obaluaê são muito introspectivos, calados, modestos, pensativos e muito calmos. Perfeccionistas, estudiosos, misteriosos e, por isso, gostam de estar sozinhos com seus pensamentos e leituras. São ranzinzas, reclamam muito, costumam ser extremamente negativos e vingativos. Ter amigos ao seu lado é extremamente importante para que eles consigam se realizar, comunicar e tornar-se pessoas ativas. Do contrário, se entregam à letargia e à solidão.

Os filhos de Obaluaê tem muita dificuldade em fazer novos amigos, mas tem grande consideração por aqueles que têm, e esses se tornam amigos para sempre. Apesar da presença dos amigos ser muito importante, os filhos de Obaluaê sentem a necessidade de ficar só, em silêncio, seu crescimento e entendimento dependem do silêncio e da solidão, por isso são introvertidos.

São capazes de provocar guerras para defender as pessoas que amam, e não medem esforços para vingar quem prejudicou uma pessoa importante para ele. Sem ter a intenção, exibem seus sofrimentos e tentam desanimar os mais otimistas. Os filhos de Obaluaê normalmente têm a saúde mental prejudicada por doenças psicossomáticas. Com seu jeito pessimista, depressivo e solitário, acabam entristecendo e adoecendo com frequência. Quando entram no negativo podem ficar nervosos e agressivos.

Atotô. Silêncio, Ele está aqui!

Filhos de Nanã: os filhos de Nanã têm um aspecto positivo, sabedoria, serenidade, capacidade de entender o diferente. São bons conselheiros, calmos, educados, bondoso e amam muito a família. Costumam ser rabugentos, autoritários, muito responsáveis, as vezes são teimosos, são muito sinceros e sentem que têm todo o tempo do mundo.

Para quem está de fora e não se encontra na mesma vibração, os filhos de Nanã parecem alheios ou indiferentes aos dramas da vida, mas o fato é que estes entendem que todas as circunstâncias serão decantadas. Normalmente eles têm bastante dificuldade de entender outros pontos de vistas que não sejam deles. Quando entram no negativo podem ficar chatos, ranzinzas, azedos e preocupados.

Saluba Nanã. Refugiamo-nos em Nanã, ou, salve a senhora do poço da lama.

Axé para todos.

Ana de Iansã