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quinta-feira, 29 de maio de 2025

Jaborandi

 Jaborandi


O jaborandi (Pilocarpus microphyllus) é uma planta nativa do Brasil que pode ser encontrada desde a Amazônia até em determinadas regiões do Piaui. O nome “jaborandi” vem do tupi-guarani “Ya-bor-andi" que significa “folha que faz suar”, fazendo referência a uma das principais propriedades dessa planta. É conhecido principalmente por suas folhas, que contêm um alcaloide chamado pilocarpina, utilizado medicinalmente. Quando uma folha de jaborandi é segurada contra a luz, é possível observar as glândulas cheias de óleo alcaloide. 

O Jaborandi é uma planta arbustiva que pode atingir até 3 metros de altura, suas folhas são compostas, alternas e apresentam uma coloração verde brilhante. As flores do Jaborandi são pequenas e cheirosas, de cor branca ou amarelada, e se agrupam em inflorescências terminais. Os frutos são pequenos e arredondados, de cor verde quando imaturos e pretos quando maduros.  

Ela está ameaçada de extinção devido a extração excessiva e quando cultivada em local controlado, não é possível aproveitar seus nutrientes de forma abundante, pois a pilocarpina não é produzida nas mesmas quantidades de quando encontrada na natureza. 


Sua descoberta se deu pelos povos originários da Amazônia, que utilizavam a planta nos rituais xamânicos; era empregada para produzir saliva e suor intenso.  Após diversos estudos sobre o vegetal, foram observadas outras ações que o jaborandi possui, como: 
  • Tratamento do glaucoma: a partir do jaborandi se faz um colírio que é utilizado para aliviar a pressão intraocular, proporcionando alívio aos pacientes. 

  • Controle da pressão arterial: possui propriedades vasodilatadoras, o que significa que ele pode ajudar a dilatar os vasos sanguíneos e melhorar a circulação. Isso pode ser benéfico para pessoas que sofrem de pressão alta, ajudando a controlar os níveis de pressão arterial. 

  • Alívio de dores musculares e articulares: possui propriedades analgésicas e anti-inflamatórias, o que o torna eficaz no alívio de dores musculares e articulares. Ele pode ser utilizado topicamente na forma de pomadas ou óleos para aliviar a dor e a inflamação. 

  • Tratamento da queda de cabelo: amplamente utilizado na indústria cosmética devido à sua capacidade de estimular o crescimento capilar e prevenir a queda de cabelo. Ele atua estimulando a circulação sanguínea no couro cabeludo e fortalecendo os folículos capilares. 

  • Tratamento de problemas respiratórios: possui propriedades expectorantes, o que significa que ele pode ajudar a soltar o muco e facilitar a expectoração. Isso pode ser útil no tratamento de condições respiratórias, como bronquite e sinusite. 


O jaborandi pode ser utilizado para banhos de descarrego e como tratamento caseiro de doenças de pele e sarna. Ajuda na autoconfiança e no processo de decisão. É classificada como uma erva morna e traz a força do Orixá Obaluaê devido ao seu poder de curar as feridas. O chá das folhas é preparado a partir das folhas secas da planta. Para preparar o chá, basta adicionar uma colher de sopa de folhas secas em uma xícara de água fervente e deixar em infusão por cerca de 10 minutos. 

É importante lembrar que nunca devemos fazer banhos ou qualquer tipo de manipulação das ervas sem antes questionar um guia espiritual; as ervas podem sim nos auxiliar, mas utilizadas de forma incorreta podem nos trazer problemas. 

Axé! 

Lays de Oxaguiã 

terça-feira, 27 de maio de 2025

Reflexões - Sobre pedidos, axé e Exu

 Reflexões - Sobre pedidos, axé e Exu

A comunicação pode nos levar a caminhos claros de solução, já a sua falta, ruma direto ao caos e confusão, o que vai definir isso é o posicionamento, permissão e a direção seguida nesses acessos. Definida como o processo de troca de informações entre dois ou mais interlocutores, com o objetivo de compartilhar sentimentos, ideias, conhecimento, entre outros, a comunicação pode ser realizada de diversas formas, e em todos esses contextos ela envolve, principalmente, a intenção. Inserir-se em um meio social, partilhar conhecimento, questionar ou até despertar emoções, esses são exemplos intencionais de comunicação, um dos campos mais associados a Exu.  

Na mitologia iorubá, nas histórias de Exu, quem cultua, faz as oferendas, segue os conselhos e a sabedoria dos mais velhos, encontra a solução. Quem não o faz, recebe confusão. Como zelador da ordem universal, citamos a lei da compensação para melhor entendimento da energia desse Orixá. Nela, é dito que todo mundo colhe o que planta: a gente só arrota o que come, e só é cobrado daquele que tem. Reciprocidade no contexto mais amplo, seja mental, físico ou espiritual. 




Passando por processo pessoais, no meio de um enorme caos e confusão, tive um estalo onde reconheci, pela primeira vez, a energia de Exu na minha vida. Era tão nítida que chegava a ser palpável, agindo ativamente de forma avassaladora. Essa percepção se deu a partir de um ensinamento trazido por Exu Mirim, que me permitiu compreender de forma ampla todo o processo que estava passando, de maneira mais clara e concreta, onde entendi que para Exu, a gente tinha que pedir em voz alta. Por mais que o Orixá saiba tudo se passa na sua vida, que saiba o melhor caminho, ele só vai se movimentar por você, quando você deixar. Tendo o livre arbítrio, com variáveis de decisões, é necessário deixar clara a nossa permissão para que ele tome frente e aja. E isso só se dá, se houver comunicação. Exu é fala, e o poder fala, da boca, na perpetuação do axé, é indiscutível. 

Axé é o poder de realização, de transformação. A fala é a mensageira da intenção. A mesma boca que agradece, pede, comunica, é a mesma boca que se conecta com o divino; percebemos aí, nossa força. Mas também, é a mesma boca que pode praguejar, desejar o mal e amaldiçoar, cabendo a nós, na nossa infinidade de variáveis, escolher a melhor direção para levar nossa mensagem nos caminhos de Exu.

Agradecer em voz alta, pedir em voz alta, conversar com os guias e Orixás em voz alta, isso é se comunicar. É se expressar, com a intenção e clareza necessária pra transmitir o que queremos. Isso é Exu. E foi dessa forma, que consegui ter a sensibilidade de reconhecer essa força gigantesca, potente e viril que se movimenta ferozmente, desde que se é comunicada a intenção de movimentar, o querer. Depois de uma conversa em voz alta com ele, que conscientemente (mesmo sem saber), permite sua ação, e hoje, após essa percepção, agradeço também em voz alta. 

Peça a Exu em voz alta e agradeça no mesmo tom.

Laróyè Èṣù.

Laura de LogunEdé




segunda-feira, 26 de maio de 2025

Processos de terreiro - Desenvolvimento Mediúnico

 Processos de terreiro - Desenvolvimento Mediúnico

Percepcionando a estrutura do culto o qual fazemos parte, a Umbanda, coloco-o como prefácio para mergulho na importância grandiosa da comunidade, magia e religiosidade. É descrita sua construção com corpo sacerdotal, filosofia, ritos, enfim, um conjunto de sistemas que a caracteriza como instituição.

Historicamente, na Umbanda partilhamos de conhecimentos e vivências, como outras religiões afro-ameríndias, cultua sua ancestralidade através da invocação de espíritos. No nosso contexto, na Tenda de Umbanda Caboclo 7 Flechas e Jurema, estes são uma representação do povo brasileiro em sua forma mais crua, em resultado da miscigenação, escravização e colonização.

Essa invocação é o apuramento do desenvolvimento mediúnico dos praticantes, processo onde preparam a mente e o corpo. Aprendendo e praticando fundamentos e saberes diversos, se conectando com energias superiores e com os antepassados. Recebendo assim, entidades que os auxiliam enquanto encarnados, orientam, trazem cura, conhecimento e questionamentos onde, através disso, são capazes de modificar e trabalhar diversas áreas, fazendo com que essa vida seja mais agradável de se viver.



Para melhor compreensão desse processo, é entendido que a mediunidade, apesar de seus múltiplos conceitos e modalidades, varia conforme o contexto social e grupal em que está inserida. Além de depender da capacidade que o indivíduo tem de se comunicar com as entidades que habitam um plano distinto do terreno. Este é um fenômeno cultural e religioso legítimo, podendo ser verbalizado como uma capacidade intrínseca de cada ser. Desde que trabalhado de forma correta, torna-se uma ferramenta muito útil para auxílio, aperfeiçoamento e crescimento pessoal, o que reflete na comunidade como um todo já que auxiliando a si próprio, a energia estende-se ao seu entorno e, nesse contexto, este passa a ser agente e instrumento da espiritualidade. 

A invocação desses espíritos para auxílio de nada serviria se não seguíssemos suas orientações, os saberes dos mais velhos, carregados de metáforas, lições e ricas magias. Formas diferentes de lidar com a mesma situação, cada entidade com sua vivência, deixando sinalizada no físico e espiritual, marcas que perpetuam sua essência, fazendo desabrochar uma sensibilidade para que consigamos compreender o todo, onde coexistimos como parte deles, que também é parte nossa.

Quando se adentra numa família de axé, a convivência, a partilha, o trabalho, parece que é algo muito mais dignificante. Acho que é porque tudo é feito para algo maior, é feito para os guias, é feito para os Orixás. Nada tem a ver para qualquer pessoa física que esteja dentro daquele ambiente, nada é para o Pai ou Mãe de Santo, nem pros irmãos. É claro que reflete em ambos, mas só porque somos corpos e espíritos como extensão do divino. 




No terreiro é como se virássemos pessoas 100% funcionais. Aprendemos afazeres diversos, rebocar uma parede, arear panelas, cozinhar e até a conviver em sociedade, diferentes formas de se portar em situações de raiva, tristeza, desrespeito e nervosismo. Aos poucos, esses saberes ancestrais vão se entremeando em nós, vamos tendo entendimento, modificando nossa mente e coração, até o próprio espírito. Vamos colocando em prática boas atitudes até sem perceber, moldando e lapidando nosso caráter, nossa moral, sendo mais proativos, respeitando a nós mesmos e o outro, ultrapassando barreiras imaginárias que nos enjaulam. Descobrimos a força por trás das nossas raízes e o quanto elas estão lá, firmes e fortes, mesmo diante todo caos e tempestade, sustentando o nosso ser. E é assim, entrelaçado com o pessoal, que o desenvolvimento mediúnico acontece. Sincrônico. Sem um, não há o outro. 

A mediunidade é narrada no corpo e nos caminhos. Inerente ao desenvolvimento pessoal, o desenvolvimento mediúnico trabalha nossa melhora, lapidando a base bruta quanto pessoa física e espírito. Dessa forma, a espiritualidade é despertada e como num encaixe, age. Abrindo caminhos, mesmo que às vezes consideremos o seu fechamento, na nossa ignorância, fazendo limpezas íntimas, reformulando tudo para que estejamos minimamente asseados para contactá-la e servi-la. O acesso a ela é oportunizado, dimensionado e costurado a partir do pertencimento religioso, onde fazer parte de uma casa de axé, no nosso caso de uma casa de Umbanda, faz com que a experienciamos de uma forma única, diferente de um Candomblé, ou Casa Espírita, por exemplo.




O desenvolvimento pessoal e mediúnico simultâneo, permite que a conexão com o divino seja mais próxima e após costume energético, até facilitada. Consequentemente, formas variadas desse elo também vão aparecendo, visões, clarividência, olfativa, auditiva e incorporação, são exemplos e alguns dos tipos de mediunidade conhecidos. São conectores entre nós e algo maior. 

A ritualística compartilhada dos mais velhos, encarnados ou não, ampara o caminho e em cada momento da vida, a própria espiritualidade se encarrega de demonstrar a necessidade de desenvolvimento de cada um desses conectores. Com aprimoramento, nos tornamos um instrumento dela para auxílio pessoal e à comunidade. Embora o processo seja individual, têm a participação de muitos, o que acaba por se entender também como uma experiência coletiva. 

Quando se fala de desenvolvimento mediúnico dentro da casa de axé, a convivência com os irmãos de santo, a hierarquia, pessoas com criações totalmente diferentes da nossa, também fazem parte dele. Esse cenário nos ajuda na nossa construção como pessoa, trazendo valores como cumplicidade, respeito, caridade, carinho e acaba por fortalecer relações e propósitos. Porém muitas vezes ele é resumido a incorporação, quando essa é somente uma das ferramentas, somente um dos conectores citados para que tenhamos acesso e cultuemos nossos ancestrais. 



A conexão com o divino e os antigos através da incorporação, tende a ser produzida em um estado de consciência alterada, de transe, ou qualquer outra definição de estado mental que implique certa inconsciência por parte do médium. Por ser a mais visual, involuntariamente ou não, a usamos como referência e parâmetro para qualificar um bom ou mal desenvolvimento mediúnico, o que acaba por vezes confundindo a nós e ao outro. Esquecemos que caráter, atitudes, falas e pensamentos, elevam ou abaixam nossa vibração. Que é na raiz, no nosso íntimo, que a mudança começa e se perpetua pelo além tempo, onde o desenvolvimento eterno se dá. É necessário relembrarmos do básico para que tenhamos firmeza e coerência na progressão do restante.




A vivência e experiência da mediunidade é individual, já que engloba aspectos e condutas especificamente para com o médium, mas ela é considerada elemento de uma religião coletivista, a família de axé. E é a experiência particular de cada um que a torna, de fato, algo concreto, não apenas como ritual ou manifestação do sagrado. Atua como experiência identitária que atravessa e constitui esses médiuns em seus ciclos vitais, no físico, social, moral e espiritual.



Saravá as forças ancestrais. 

Laura de LogunEdé









quinta-feira, 22 de maio de 2025

Reflexões - Vivências no axé

 Reflexões - Vivências no axé

“Nada acontece ao homem, que não seja ele próprio”. E é parafraseando a excelentíssima professora Lúcia Helena Galvão, que inicio nosso estudo de hoje. 

Quando aceitamos o compromisso de nos firmarmos em uma casa de axé, vivenciamos um período de euforia que pode durar alguns meses. A sensação de descoberta e aprendizado nos preenche, e pode ser confundida com alegria, até porque, a euforia acompanha o interesse pelo novo. São nesses momentos que ela nos confunde, nos desfocando dos objetivos através de sensações e sentimentos. O tempo vai passando, a euforia se dissipa e o amor pela região vai aflorando mais e mais, bem como o senso de responsabilidade também. É nesse momento que nos tornamos umbandistas de verdade, para além do encanto, junto com consciência e maturidade.

Após esse primeiro momento, a espiritualidade vai se mostrando no seu âmago, fazendo-nos entender que o saber no toque do atabaque e no desenvolvimento mediúnico, são uma parte ínfima desse todo. Somos colocados cara a cara com nós mesmos, com a nossa essência que muitas vezes tentamos negar devido a padrões sociais e morais, mas no íntimo, apesar de nos reprimirmos, aquilo pulsa. Pulsa tanto que chega a incomodar, então vamos nos distraindo, e assim alimentando esse qualquer que seja. Todo esse processo é bem doloroso e questionador, muitas vezes não temos a sensibilidade de visualizar a beleza que é essa transformação, mas não podemos negar que, apesar dos pesares, é sim bonito de se viver.

No meio desses aprendizados, das giras em roda, de conversas, consultas e conexões com nossos ancestrais, nosso 'eu' é escancarado pra fora, de pouquinho em pouquinho, nossa escuridão nefasta é puxada pra luz, ai então tomamos ciência do que somos, e como encarnados mimados, começamos a procurar culpados pela nossa essência, pois aquilo que está exposto, não é algo que nos traz muito orgulho. Procuramos responsáveis por atitudes que tomamos, rezos que não fizemos, fofocas ditas e até pela vida vivida. Tudo é influência, responsabilidade de outro alguém, mas, se eu não posso dar nome aos meus próprios bois, que pessoa sou? Agora a sensação de irresponsabilidade começa a nos assolar. 

O estranho disso tudo é que aqui dentro desse terreiro, eu, Laura, nas minhas vivências, aprendi que todas as experiências que tive desde que nasci (até mesmo antes), foi porque eu as atraí, de qualquer forma que seja. Se eu as atraí, consequentemente eu sou a responsável pela minha vida. Assim, as rédeas dessa foram se ajeitando em minhas mãos, os monstros foram abraçados, aprendem todos os dias a conviver na penumbra. São sentidos, ouvidos e nunca renegados, às vezes as rédeas escapam e sinto o estrago que fazem, mas aí corro pra pegar elas de volta, acolhendo os pequenos indesejáveis.

Terceirizar a culpa no mundo faz parte do processo, mas quando isso é feito, ficamos impotentes diante a realidade, já que não temos o poder de mudar o outro, somente a nós mesmos. Ao alimentarmos esse sentimento e continuarmos na inércia, outra culpa vai nascendo e nessa eterna luta, como num clique, as ferramentas que a espiritualidade nos proporciona e nos ensina, passam a fazer sentido; elas abrem a fechadura e nossa mente vai se expandindo, o conhecimento sendo colocado em prática, o universo se desdobrando e, como disse um dia Epíteto: “A extinção da culpa marca o início do progresso moral”.

A culpa se esvai, e o sentimento de responsabilidade toma conta. Isso é autoconhecimento, autocuidado, autoamor e desenvolvimento pessoal. Cuidar da mente, corpo e espírito é o que faz a gente viver o axé. Seria estranho eu dizer que isso é parte do desenvolvimento mediúnico? Porque é assim que é.

Saravá meus ancestrais.

Laura de LogunEdé


terça-feira, 20 de maio de 2025

Reflexões - Falando de axé

 Reflexões - Falando de axé

Entendemos o axé de várias e várias formas, mas hoje falemos do seu âmago, que se reconhece quanto uma força de realização e manifestação do poder. A palavra vinda do iorubá significa esse poder, essa força e a energia que permeia o tudo. Ela está em nós, nos animais, na natureza, em literalmente todas as coisas.

No princípio da vida, o axé é a força que emana de tudo que é vivo. É poder, é magia, é dom. As mãos que abençoam têm axé. A palavra proferida tem axé, os sabores e saberes do terreiro, têm axé. É a energia que se dá e se recebe, que se ganha e se perde, que se acumula, mas também se dissipa. É dito que o axé é algo grandioso, de enorme valia, e alimenta nossa alma e espírito. Assim, tudo que escolhemos fazer ao longo da nossa jornada terrena, o fortalece ou enfraquece. O cuidado com nossos desejos, opções, relações, caminhos e partilhas para com o outro, influencia diretamente nessa energia, por isso a importância de optar com sabedoria a quem dividimos desse poder pessoal, já que esse pode enfraquecer ou fortalecê-lo.




Na cultura do povo iorubá, tudo é uma troca, tudo circula, até o pensamento é circular, distante da linearidade cartesiana que permeia as civilizações ocidentais. A transmissão de conhecimento pela oralidade, a essência divina repassada através de cada conhecimento dos mais velhos, cada história, cada itan, cada ponto cantado, é uma semente plantada; a vida e a morte, nós que saímos da terra e voltamos pra ela.

Uma vez plantado, esse axé precisa ser transmitido para a sua perpetuação, além de cultivado e cuidado para que alcancemos o equilíbrio que tanto buscamos. Essa energia essencial é o que nos move; é o poder de criar e transformar o tudo. 

Axé é a base, axé é vida.

Laura de LogunEdé



segunda-feira, 19 de maio de 2025

Falando de Axé - Recorte racial dentro da Umbanda

 Falando de Axé - Recorte racial dentro da Umbanda

O racismo e a discriminação em pleno 2024 remontam a tempos escravagistas, onde o Brasil colônia rotulava o povo preto e indígena como inferior, asqueroso, sem intelecto, sem cultura e alheio no mundo, considerando-os de fácil dominação. Essa percepção se dava pelo fato de a origem dessa maioria ser da nossa própria terra e o continente africano, já que os europeus colonizadores acreditavam ser os detentores de toda sabedoria e intelecto, onde o que não os pertenciam, era titulado de medíocre: de práticas a pessoas.

Nesse contexto, é dito também que a ação de movimentos neopentecostais teria se valido de mitos e preconceitos para demonizar e insuflar a perseguição aos adeptos e religiosos que praticavam cultos de matriz africana e afro-ameríndia. Tentando conter a mistura entre as ditas raças superiores (brancos) e inferiores (negros e indígenas), para que não houvesse miscigenação de saberes e corpos. Aqui, começamos a entender a raiz do racismo, intrínseca da sociedade.

Na nossa casa de axé, a Tenda de Umbanda Caboclo 7 Flechas e Jurema, entendemos nossa religião como culto aos ancestrais. Sendo um culto ao povo originário, aos negros escravizados, os caboclos, ciganos, mestiços e demais arquétipos de grupos sociais que fizeram a trilha pra que possamos hoje caminhar. É a força, a essência da nossa terra, é a ancestralidade que nos sustenta.

Muito se é dito sobre pessoas brancas em uma religião preta, a Umbanda, no nosso caso, erguida e vivida em cima de muita violência e opressão, sendo refúgio, em seus primórdios, somente daqueles à margem da sociedade. É dito que somos descendentes de quem tanto torturou, escravizou e matou aqueles que hoje, invocamos e cultuamos. Então, como assim? Estaríamos nós, mais uma vez, replicando antepassados e nos apropriando de algo que não nos diz respeito?

Com a miscigenação, entende-se, de maneira grosseira, que somos um pouco de cada povo que pisou aqui, é por isso que destacamos a importância de ter consciência de raça sobre o que se é cultuado dentro de uma casa de axé. 




O culto aos Orixás é preto, é africano; o culto aos mortos, espíritos, Tupã, é indígena. Quando passamos a cultuar, desenvolver e nos iniciar, dizendo-nos pertencentes de religiões de matriz africana/afrobrasileira/ afro-ameríndia, estamos escolhendo um lado que diz respeito ao ativismo negro e indígena, querendo ou não. Assim, há de ser colocado em pauta inicial a importância de tal culto pras comunidade citadas a que este já era preexistente. Esse letramento é de grande valia para evitarmos o embranquecimento da religião, respeitando os processos anteriores, sua estrutura e consequentemente os próprios espíritos e antepassados da terra que invocamos. 

Em um tempo não tão distante e arrisco dizer que até os dias de hoje, muito se usa a parte “boa” da religião para que esta seja aceita dentro dos termos da sociedade tradicional. É desfeito de fundamentos, imagens, cantigas e rezas; é tudo “limpo” de forma tão sutil para que se adeque a pessoas que, de maneira nenhuma, querem ter suas práticas e costumes associados aos conhecidos como “escória do povo”, os pretos e indígenas, que vão adaptando desrespeitosamente toda ritualística sagrada, para que se beneficiem dos trabalhos, energias e mandingas, mas nunca se associando a eles, perpetuando assim, o racismo. É por isso a necessidade de compreender a história desta religião, para que não sigamos usurpando da sabedoria, mas sim respeitemos os mais velhos da religião e o próprio culto, para que cuidemos do mesmo e tenhamos fôlego suficientes para combater o apagamento histórico, incluindo o do povo que até o presente, luta pela sobrevivência e pertencimento. 

É necessário sabermos o nosso lugar e onde nos cabe. Combatendo o racismo, o racismo religioso e suas estruturas opressoras, de forma respeitosa aos nossos ancestrais, inclusive os vivos, e culto que tanto nos orgulhamos de fazer parte. 

Saravá à força ancestral.

Laura de LogunEdé.




quinta-feira, 15 de maio de 2025

Exu Pimenta

 Exu Pimenta

Olá, irmãos, hoje venho explicar a vocês um pouco sobre a entidade Exu Pimenta e seus trabalhos. Inicialmente, gostaria de ressaltar que, no presente texto, falarei especificamente sobre o espírito que se apresenta em nosso terreiro, o que não quer dizer que outros espíritos da falange Exu Pimenta trabalhem da mesma forma. 

Exu Pimenta é um exu de encruzilhada, que trabalha com manipulação energética, vícios e abertura de caminhos. Trabalha, principalmente, sob a irradiação do Orixá Oroiná/Egunitá, mas carrega também grande força do Orixá Iansã. Pimenta é conciso e direto, com ele não existem meias palavras, ele diz o que precisa ser dito, doa a quem doer. Quando pensamos em pimenta, imaginamos um alimento ardido, que queima e causa desconforto, logo, não espere algo diferente de um espírito que se apresenta com esse nome.

Dentre seus trabalhos, se destacam aqueles relacionados aos vícios. Confesso que, até pouco tempo, eu entendia como vícios os maus hábitos como uso de drogas, álcool e cigarro. Até que, em uma conversa com o Pimenta, ele me revelou a amplitude de seus trabalhos. Vício é tudo aquilo que fazemos repetidamente em busca da sensação de prazer momentâneo, mas que reflete de forma negativa em nossa vida. Todos os espíritos, encarnados ou não, são passíveis de desenvolver vícios, em menor ou maior grau. Existem os vícios mais comuns, que reconhecemos com maior facilidade, como vício em bebidas, vícios alimentares, em eletrônicos... e aqueles que alimentamos diariamente sem perceber, como o vício de reclamar, de procrastinar, de se entregar a pensamentos negativos etc.

Um vício nunca é só um vício. Geralmente aquela pessoa que tem vício em drogas, por exemplo, também apresenta outros vícios que, para ela, são menos nocivos ou até mesmo imperceptíveis, mas que atrapalham sua vida tanto quanto (senão mais) as drogas. Ao desejar abandonar um vício e dedicar-se a isso, a pessoa passa a fazer um movimento de mudança em sua vida e a busca por novos hábitos e novas práticas mais benéficas à vida física e espiritual. 

Diante disso, é possível entender por que Exu Pimenta trabalha sob a irradiação de Oroiná e Iansã, pois Oroiná é o Orixá que traz o elemento fogo, que queima aquilo que não agrega em nossas vidas, enquanto Iansã trás o vento da mudança e novas possibilidades. 

Ainda sobre a abrangência e importância dos trabalhos de Exu Pimenta, quando questionado sobre seu ponto de força, ele disse: “onde tiver terra e for possível plantar um pé de pimenta, lá eu posso trabalhar. Seja encruza, calunga ou qualquer outro lugar.” Isso elucida o que eu disse anteriormente sobre vícios serem passíveis de espíritos encarnados e desencarnados. 

Exu Pimenta, com seu arquétipo, nos ensina também a importância de termos equilíbrio na vida e de não cedermos às armadilhas do ego e da vaidade. Pense no cultivo de pimenta: além de ser uma planta relativamente difícil de se cuidar, quando uma pimenteira vai frutificar, costuma ficar muito carregada/pesada e pender para um lado. Para que volte ao eixo é necessário podar a planta ainda com os frutos verdes, pois quando se espera o fruto amadurecer a pimenteira tende a perder sua força para nutrir os frutos. 

O processo de cultivo da pimenta é uma metáfora. Após cuidar muito para que a pimenteira (indivíduo/espírito) cresça, fique bonita e frutifique, é necessário arrancar seus frutos ainda verdes para que ela não comece a pender para os lados e acabe caindo, ou seja, precisamos nos desvencilhar do ego e da vaidade, para que possamos ter equilíbrio.

“Não bambeia, não bambeia,

Exu Pimenta é o Exu que não bambeia.”

Saravá Exu Pimenta.

Larissa de Iansã


terça-feira, 13 de maio de 2025

Batismo e Amaci na Umbanda

 Batismo e Amaci na Umbanda

O batismo é um ritual religioso que simboliza a iniciação do indivíduo em uma fé, sua consagração ao divino e sua purificação. É uma prática antiga, mencionada em textos sagrados e exercida em diferentes religiões cristãs, embora seu significado e forma com que é realizado variem. Em contrapartida, o amaci é um ritual mais comum em religiões de matriz africana, é realizado com o intuito de promover uma conexão maior com os Orixás, renovar as energias do médium e trazer equilíbrio ao seu Ori (cabeça/cora).

Apesar das diferenças, o batismo e o amaci compartilham características em comum. Ambos os rituais envolvem o uso de água, um elemento que simboliza a limpeza, purificação e transformação. O batismo pode ser feito molhando/lavando a cabeça do fiel batizado ou submergindo na água, mergulhando o corpo todo, seja em um rio, mar. Já no amaci adiciona-se folhas ou macerado de ervas à água e lava-se a cabeça do filho de santo com ela. As ervas utilizadas no amaci podem variar a depender do intuito pelo qual está sendo feito, de qual Orixá deseja-se a energia naquele momento etc.

No topo de nossas cabeças (Ori) está localizado o chakra coronário, que é o que nos conecta ao divino e a espiritualidade. Logo, o ato de “lavar a cabeça” remete a limpeza e purificação dos chakras, para que possamos nos conectar de forma mais intensa com o divino e assentar nosso espírito. Dito isso, é importante ressaltar que ambos rituais devem ser realizados apenas pelos sacerdotes de suas respectivas religiões, uma vez que são eles os responsáveis pelos cuidados de nosso Ori, nossa coroa.

A diversidade cultural da Umbanda nos permite realizar esses dois rituais, a fim de proporcionar aos filhos de santo os benefícios individuais dessas práticas e promover também o fortalecimento dos elos da corrente mediúnica e com a espiritualidade. Em nossa casa realizamos os rituais de batismo e amaci no dia 15 de novembro, dia em que comemoramos o aniversário da anunciação da Umbanda, com uma bela celebração em que louvamos os Orixás, os guias espirituais que auxiliam nos trabalhos da casa e a toda a espiritualidade. 

São batizados aqueles que escolhem praticar e viver na Umbanda. Cada adulto deve escolher um padrinho(a) espiritual e outro físico/encarnado, sendo estes figuras importantes em sua caminhada espiritual. Já para as crianças é um pouco diferente, deve-se escolher 3 padrinhos físicos (crianças maiores podem escolher e crianças menores os pais escolhem) e serão determinados também 3 padrinhos erês no dia do ritual (escolhidos pelo guia chefe), além de terem como padrinho espiritual o Caboclo Sete Flechas. Para o amaci não há a escolha de padrinhos pois o intuito do ritual é a conexão com os Orixás. 

Após o ritual, tanto os filhos de santo que foram batizados, quanto aqueles que receberam o amaci, devem utilizar um pano branco amarrado na cabeça. O pano de cabeça servirá como proteção do Ori e concentração das energias durante os trabalhos, devendo ser utilizado em todas as giras do ritual em diante e, sempre que for necessário lavá-lo, deve-se levar posteriormente para ser consagrado pelo Caboclo Sete Flechas e, assim, poder usá-lo novamente. 


Larissa de Iansã


segunda-feira, 12 de maio de 2025

Porque cuidar do corpo físico?

 Porque cuidar do corpo físico?

Olá, irmãos. Todos estudamos e aprendemos sobre a importância de cuidar do nosso espiritual. Qual conduta devemos ter, sobre a qualidade dos nossos pensamentos, sobre orar e vigiar... Mas hoje quero falar sobre a importância de cuidarmos do nosso corpo físico.

Sabemos que quando nosso corpo físico adoece, geralmente, está refletindo um mal que começou no espiritual e que, para nos curarmos, além de tratarmos o corpo, precisamos tratar também o espírito. Mas apesar da nossa essência, o que realmente somos, estar dentro do corpo, cuidar do físico também é importante. Pense no seu corpo físico como um carro. Se você ganhasse um carro para passar a vida inteira com ele, cuidaria para que durasse mais ou deixaria estragar, ficar sujo, com lixo? Faz mais sentido cuidar para tê-lo por mais tempo, certo? Com o corpo é igual. Você o ganhou como presente para passar a vida e evoluir, faz sentido cuidar nele, não?!

Tudo é energia, inclusive o que comemos e bebemos. A forma como o alimento foi preparado, como o animal foi abatido para ser consumido, o sentimento que te gera ao comer... tudo carrega uma energia. Se a base da sua alimentação é fast food e alimentos ultraprocessados, isso refletirá negativamente na sua saúde e consequentemente, no espiritual.  Se você usa a comida como uma forma de prazer momentâneo e come de forma exagerada, isso também irá impactar de forma negativa no seu espiritual. Vícios não são apenas drogas ilícitas e álcool, a comida também pode ser um vício se você a consome de forma exagerada e gera prejuízos a sua vida. Se você usa a comida para alimentar e nutrir seu corpo, come de forma equilibrada, sem exageros e sem buscar conforto emocional, a energia ali presente será diferente e benéfica ao corpo. E isso se aplica a outros hábitos de vida, como praticar exercício físico, fumar, consumir bebida alcoólica, etc.  

Apesar do nosso corpo físico ser temporário, a forma como lidamos com ele nos permite mais ou menos tempo na nossa existência, além de dizer muito como será essa existência, afinal, tudo parte do espiritual, mas não é só espiritual. De nada adiantaria passar a vida cuidando do seu espiritual e deixar o físico de lado, pois isso provavelmente tornaria seu processo mais difícil, energética e fisicamente, e também mais breve.

Larissa de Iansã


quinta-feira, 8 de maio de 2025

Xangô

 Xangô

Xangô é um orixá muito conhecido e cultuado na Umbanda, atua na linha da justiça juntamente com Iansã. Considerado a força divina da justiça, dos raios, dos trovões e do fogo. Seu culto faz parte da cultura iorubá, chegou ao Brasil através de africanos que vieram escravizados. Fisicamente Xangô é descrito como um orixá jovem, forte e de grande agilidade.

Xangô nos auxilia trazendo equilíbrio, senso de justiça, ajudando na resolução de problemas judiciais, estudos e trabalhos intelectuais. Em nossa casa comemoramos seu dia 24 de junho, sendo sincretizado com São João Batista. Xangô é orixá do trovão e do fogo. Durante as festas de São João Batista, é comum o uso de fogueiras, fogos de artifício e outros elementos associados ao fogo. Essa similaridade de símbolos contribuiu para a associação entre Xangô e São João Batista. 

São João Batista, em sua pregação também é visto como um defensor da justiça e da retidão moral. Ambos são figuras de autoridade e respeito, que facilita a associação simbólica entre eles. O dia da semana de Xangô é a quarta feira, suas cores são vermelho, branco e marrom. Seus elementos são o fogo, raios, trovões e as pedras. Como forma de demonstrar respeito e devoção usamos a saudação Kaô Kabecilê, que se traduz como venha saudar o rei. Os metais de Xangô são o cobre, ouro e chumbo. O símbolo do orixá é o machado ou oxé. Podemos oferecer para o orixá velas brancas, vermelhas e marrons além da cerveja escura, vinho tinto doce, licor de ambrósia e flores. Para despachar sua oferenda escolhemos seu ponto de força como por exemplo a pedreira, montanha ou cachoeira.

Agora vamos falar um pouco sobre as características dos filhos de Xangô, que são pessoas firmes, enérgicas e seguros. Muitas vezes, se posicionam de maneira incisiva contra situações injustas, tanto em relação a eles quanto a outras pessoas. Gostam de dar conselhos e quando contrariados podem ficar nervosos. São considerados comilões, autoritários, briguentos mas não guardam rancor. Mas também são justos, carismáticos e divertidos. Podem demorar para tomar atitudes pelo medo de serem injustos com alguém.

Bruna de Obá


terça-feira, 6 de maio de 2025

Obá

 Obá

Obá é uma orixá que na Umbanda atua na linha do conhecimento, absorvendo os conhecimentos que seriam usados de forma desvirtuada. Quando uma pessoa é auxiliada por Obá, começa a perder o foco e raciocínio com relação aos conhecimentos que seriam usados para prejudicar. O orixá traz o equilíbrio para que Oxossi possa despertar o interesse em buscar outros conhecimentos necessários que vão redirecionar para o caminho correto.

O arquétipo de Obá é de uma guerreira e a orixá tem sincretismo religioso com Santa Joana D’Arc. Sua data comemorativa é dia 30 de maio, seu dia da semana é quinta feira. Sua saudação é Obá Xiré Yá ou Akiro Obá Yê, que significa eu saúdo o seu conhecimento senhora da terra. Em nossa casa as cores que representam Obá são magenta e marrom terroso, seus elementos são a terra e o vegetal.

Segundo a mitologia Iorubá, Obá venceu batalhas contra orixás masculinos muito fortes, perdendo injustamente apenas para Ogum. Demonstrando que apesar de ser uma grande guerreira, traz consigo uma grande ingenuidade. A mitologia conta que Obá desafiou Ogum, e ele conhecendo a força que Obá tem  procurou os babalaôs que o orientaram a preparar uma oferenda  com espigas de milho e quiabos, pilados juntos formando uma massa escorregadia. Então Ogum preparou a oferenda e colocou próximo de onde iria acontecer a batalha. No momento em que  Obá estava dominando a batalha, Ogum levou-a até a oferenda, Obá pisou na oferenda, escorregou e caiu, Ogum aproveitou para dominar e vencer a batalha, tornando ali o primeiro homem a ganhar uma batalha contra Obá.   

A mitologia Iorubá também conta que Obá foi casada com Xangô, o mesmo tinha mais duas esposas Iansã e Oxum. E que  Obá tinha inveja de Oxum por ser a esposa preferida de Xangô, então Obá foi até Oxum e perguntou o que ela fazia para ser tão querida pelo marido. Oxum então respondeu com malícia que o segredo seria preparar uma sopa  para Xangô juntamente com uma de suas orelhas. E assim Obá fez, demonstrando mais uma vez sua ingenuidade. Ao servir a sopa para Xangô, ele ficou muito bravo quando percebeu que ali tinha uma das orelhas de Obá. Oxum e Obá ficaram assustadas com a reação do marido e fugiram, se transformaram em rios que hoje levam seus nomes e ficam localizados no continente africano. O encontro desses dois rios faz com que as águas fiquem agitadas, acreditam que a turbulência seja causada pela rivalidade entre as duas orixás.

Quando observamos a imagem de Obá, percebemos que com sua mão ou escudo ela está tampando sua orelha esquerda, usa também um lenço em sua cabeça e segura em sua mão direita uma espada. Agora vamos falar um pouco sobre as características de seus filhos que são simples em estilo de vida, são leais, determinados, considerados sábios, mas também teimosos. Os filhos de Obá são sinceros e muitas vezes podem até magoar outras pessoas por não terem filtro para falar o que pensam. São ciumentos, bondosos, mas também podem se tornar vingativos. Quando se trata de amizade e relacionamento amoroso podem ser ingênuos. Lembrando que essas características não são do orixá e sim dos seus filhos.

Com esse estudo pude refletir o quanto é importante o autoconhecimento para que possamos modificar o que é necessário para nossa evolução, descobrir qual orixá rege sua coroa é uma responsabilidade, mas também é um facilitador para que você possa analisar suas dificuldades, mas também valorizar suas qualidades. Me fez refletir também sobre o julgamento, pois sempre tem algo de positivo para ser extraído do outro e algo negativo que precisa ser modificado em você.

Bruna de Obá