Pretas e Pretos Velhos

 Pretas e Pretos Velhos

    Das inúmeras pessoas que visitam o Terreiro pela primeira vez, uma parcela carregam consigo dúvidas e preconceitos em relação aos Pretos e Pretas Velhas, se perguntam como uma pessoa que viveu há cerca de três séculos atrás, em uma realidade totalmente diferente a qual eu vivo, pode ajudar com as dificuldades que enfrento atualmente? Há também o preconceito sobre os Pretos e Pretas terem sidos escravos.

    Importante ressaltar que o arquétipo da anciã ou ancião negro não significa que foram escravos ou até negros, mas sim, é uma demonstração respeito a nossa ancestralidade e a sabedoria que foi adquirida por eles em sua caminhada. Estes espíritos, em seu alto grau de sabedoria, perceberam que essa maneira seria mais adequada para transmitir seus conhecimentos e irradiar seu amor a encarnados e desencarnados, uma forma singela de tocar nos sentimentos daqueles que os procuram.

    No inicio da consulta, Preto ou Preta velha ali presente com toda sua irradiação de amor, sabedoria e humildade começa a trabalhar, mostrando a pessoa que a aparência ou nome não tem relevância alguma. Com uso de uma prosa mansa e carregada de muita sabedoria vai deixando suas mensagens de força. Isso nos remete aos nossos avós, em uma época que nos aconchegavam em seus colos em busca de consolo e conselhos.

    Em meio a essa conversa o Preto ou Preta velha faz uso de instrumentos de poder como, por exemplo, chapéu de palha, o fumo de seu cachimbo, ervas, rosário, cruz de madeira ou até manipulação das energias com o estalar dos dedos que ativam os Chakras, isso tudo de acordo com a necessidade de cada um.

    As linhas de Pretos e Pretas velhas se dividem em:

Congo:

    Refere-se a pretos velhos ativos na linha de Iansã; São rápidos na sua forma de incorporar e falar. Essa rapidez é facilmente entendida, pela força da natureza que os rege, e é essa mesma força lhes permite uma grande variedade de assuntos com os quais ele trata, devido à diversidade que existe desse Orixá. São especialistas também em ensinar diretrizes para alcançar objetivos, seja pessoal, profissional ou até espiritual. Entretanto, é bom lembrar que sua maior função é o descarrego.

D´Angola: 

    Refere-se a pretos velhos ativos na linha de Ogum; São diretos na sua maneira de falar, não enfeitam muito suas mensagens, as vezes parece que estão brigando, para dar mesmo o efeito de “choque”, mais são no fundo extremamente bondosos tanto para com seu médium e para as outras pessoas. São especialistas em consultas encorajadoras, ou seja, encorajando e dando segurança para aqueles indecisos e “medrosos”. É fácil pensar nessa característica pois Ogum é um Orixá considerado corajoso.

Aruanda:

  Refere-se a pretos velhos ativos na linha de Oxalá. São bastante lentos na forma de incorporar, tornam-se belos principalmente pela simplicidade contida em seus gestos. Raramente dão consulta, sua maior especialidade é dirigir e instruir os demais Pretos-Velhos. Cobram bastante de seus médiuns, principalmente no que diz respeito a prática de caridade, bom comportamento moral dentro e fora do terreiro, ausência de vícios, humildade; enfim o cultivo das virtudes mais elevadas.

Matas:

  Refere-se a pretos velhos ativos na linha de Oxóssi; São os mais brincalhões, suas incorporações são alegres e um pouco rápidas. Esses Pretos-Velhos geralmente falam com várias pessoas ao mesmo tempo. Possuem uma especialidade: A de receitar remédios naturais, para o corpo e a alma, assim como emplastros, banhos e compressas, defumadores, chás, etc...

Calunga, Cemitério ou das Almas:

   Refere-se a pretos velhos ativos na linha de Omolu, são simples em sua forma de incorporar e falar. Exigem muito de seus médiuns, tanto na postura quanto na moral, pois entendem que a correção é uma forma de amar. Devido a elevação e a antiguidade do Orixá para o qual eles trabalham, acabam transformando suas consultas em conselhos totalmente diferenciados dos demais Pretos- Velhos. Sua visão é de longo alcance para diversos assuntos, tornando-os capazes de traçar projetos distantes e longos para seus consulentes, seja pessoal, profissional ou espiritual.

Seu dia é 13 de maio;

As ervas normalmente usadas são: Levante, Folha de fumo, Arruda, Guiné, Alecrim, Alfazema dentre outras conforme a disponibilidade da região.

Dessa maneira, lembramos dos nossos ancestrais, que fizeram uso de ervas no chá ou em banhos, para auxiliar e a ajudar em nossa caminha nesse plano.

Thiago Soares de Oxalá