A linha dos Pretos Velhos e seus ensinamentos
Hoje, pretendo trazer uma breve reflexão sobre a falange dos pretos velhos, para começar, acredito ser fundamental compreender a origem da história por trás do arquétipo dos Pretos Velhos. Durante a colonização do Brasil, milhões de africanos foram cruelmente traficados para estas terras, submetidos a condições subumanas, trabalho forçado, castigos brutais e separação de suas famílias. Essa página sombria da história do Brasil ainda se reflete em nossos dias, evidenciando as profundas desigualdades sociais. É dessa ancestralidade sofrida, porém resiliente, que emerge a falange dos Pretos Velhos, um povo retirado de suas terras, que lutou pela liberdade.
Na Umbanda os Pretos Velhos são entidades que personificam os ancestrais africanos, enraizados em nossa cultura. Guiados pela força do Orixá Obaluaê, eles realizam trabalhos voltados para a cura, proteção espiritual e equilíbrio energético. Alguns relatos sugerem que sua postura curvada é uma reverência ao senhor da terra, Obaluaê. É valido ressaltar que cada guia tem sua própria história e, assim como em outras linhas espirituais, eles se alinham aos grupos de espíritos por semelhança energética, logo, os Pretos Velhos não são necessariamente negros escravizados, nem mesmo idosos, mas sim seres que evoluíram para incorporar a sabedoria dessa tradição. E assim como outras linhas espirituais, os Pretos Velhos podem manifestar a influência de outros orixás em seus trabalhos, como Oxalá, Ogum, Iansã, entre outros.
Com paciência e dedicação os Pretos Velhos orientam e auxiliam aqueles que os buscam, proporcionando um caminho para evolução pessoal. Com fama de serem amorosos, pacientes e calmos, mas também são firmes quando necessário. Dotados de profundo conhecimento sobre o poder medicinal das ervas, rezas e benzimentos, os Pretos Velhos também têm domínio sobre as famosas "mirongas", técnicas misteriosas usadas para quebrar demandas e auxiliar conforme o merecimento daqueles que buscam sua ajuda.
Os pontos cantados nesta linha de trabalho narram histórias dos guias e do período da escravidão, transmitindo força e resiliência. Eles nos lembram que, apesar das dificuldades, nossos antepassados superaram e evoluíram, transformando suas experiências em lições para todos nós. Essas histórias também destacam a importância da fé e resiliência para manter viva a força de um povo e a memória de seus ancestrais. Em um ponto tradicional de Preto Velho se canta: “Preto Velho trabalha sentado, se for preciso trabalha em pé; mandinga de Preto Velho é galho de arruda, é folha de Guiné.”; Essa passagem ilustra a simplicidade e firmeza dos ensinamentos dessa linha espiritual que mesmo diante das adversidades seguem auxiliando a todos que buscam seu auxílio.
Os Pretos Velhos nos ensinam a lutar, lutar pelo que acreditamos, pela nossa identidade, pela nossa força interior. Eles nos recordam que aquilo que buscamos, desejamos e nos fará evoluir está dentro de nosso próprio coração.
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