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terça-feira, 15 de abril de 2025

Os Orixás: As forças da natureza

 Os Orixás: As forças da natureza

A palavra Orixá é dividida em duas partes, ori: cabeça e xá: iluminação, então orixá significa “cabeça iluminada”. Orixá nada mais é que uma fragmentação da força divina.

Na Umbanda Sagrada, há sete linhas, sendo elas as 7 principais energias de Deus. Sendo elas: Fé, Amor, Conhecimento, Justiça, Lei, Evolução e Geração. Cada uma dessas linhas possui dois orixás por manipular um determinado tipo de energia. Um deles é responsável  por irradiar/emanar a energia e o outro por absorver a energia, mantendo essa energia em equilíbrio. 

Um deles trará a energia do sagrado masculino e o outro a feminino.  

Ana de Iemanjá


segunda-feira, 14 de abril de 2025

Karma e Dharma

 Karma e Dharma

Karma vem da raiz Q"kr" do sânscrito que significa fazer (ação), funciona como a lei da ação e reação; reação do universo ao que a pessoa faz em suas vidas, define o sentido da causa e efeito. Acreditamos que reencarnamos para aprimorar diante das provas, podemos aprender de modo fácil ou difícil, aí entra o livre arbítrio, é possível aprender sem que seja necessário sofrer.

O Dharma é uma força maior, compreende a verdade do existir. A palavra Dharma tem origem no sânscrito e deriva da raiz Dham, que significa manter ou apoiar. Encontrando o Dharma é possível colher na vida a mais suprema felicidade. Podemos resumi-lo em três conceitos:

: forma correta de viver: caminho espiritual para paz interior, em harmonia com as leis cósmicas, os outros e consigo mesmo;

: força que rege a existência (essência verdadeira ou a própria verdade);

: duas leis do universo: ordem social e leis morais (envolve tudo que fazemos, desde a forma como nosso coração bate, a como vivemos).

É a vida vivida em harmonia com a lei, o caminho da justiça, a maneira correta de agir, o comportamento adequado, o papel da pessoa na sociedade, os comportamentos para manter a ordem e o propósito de cada pessoa.

O Karma é uma lei do Dharma: basicamente a lei da ação e reação. As ações e posturas de todas as vidas de um ser trazem consequências ao decorrer de todas as reencarnações. É a lei que ajusta o efeito à sua causa. Conhecida em várias religiões como "justiça celestial", enquanto o Dharma é o sustento da verdade. Pensar em Karma não significa pensar em fatalidade, pois através do livre arbítrio podemos modificar esse impacto, moldando a vida para construir a existência do indivíduo. 

Pode-se dizer que ao procurar pelo Dharma,  permite-se também amenizar os efeitos do Karma.  Para se beneficiar com o Dharma é necessário seguir seu curso natural, sabendo que não pode modificá-lo, mas que é capaz de segui-lo. Viver o Dharma significa conhecer a si mesmo e agir de acordo com esse conhecimento. encontrar seu Dharma é estabelecer harmonia na vida e agregar autoconhecimento. Devemos lembrar também que o Karma não é uma vingança do universo, é consequência de nossas ações, tudo que sai de você, volta pra você

Alice de Xangô


quinta-feira, 10 de abril de 2025

Ibejis e Erês

 Ibejis e Erês

Ibeji, etimologicamente falando, é a junção dos termos e Iorubás ibi (Nascimento) e eji (dois): nasceram dois, gêmeos. Ibeji é energia divina que representa a primeira fase da vida, o início, a infância, a pureza e a inocência. Esse orixá é sincretizado pela figura dos irmãos gêmeos, aos santos católicos Cosme e Damião, santos protetores dos médicos farmacêuticos e crianças. É comum que se veja também a referência Doum, que às vezes aparece ao lado de Cosme Damião, sendo a criança que nasce após os gêmeos. Por serem gêmeos são associados à dualidade, contradição, todas as coisas têm dois lados e a justiça só pode ser feita se as duas medidas forem pesadas. Ligados a todos que se inicia: a nascente de um rio, o nascimento dos seres humanos etc.

O dia de comemoração é 27 de setembro (dia de Cosme Damião), suas cores são rosa e azul; as bebidas são guaraná, suco, água com mel; as comidas são Cararu, bolos, doces, balas, pirulitos e frutas; o ponto de força são jardins, matas, praias, cachoeiras. Sua saudação é Onibeijada.

Erês são falantes de espírito regida pelo Orixá Ibeji, a palavra erê vem do Yorubá iré, que significa "brincadeira, divertimento". Há casas que acreditam que Erês são seres encantados, que nunca vieram ao plano material, outras acreditam que são espíritos que desencarnaram ainda crianças e ainda as que acreditam que são apenas um arquétipo, assim como nem todo preto velho foi um negro idoso ou todo caboclo foi índio. Erês são seres de luz que praticam amor e caridade, são protetores das crianças e animais. Eles brincam, pulam, cantam, dançam, correm,etc..., mas isso tem um motivo, eles o fazem para auxiliar a quem precisa, retirando de nós todas as armaduras que criamos, alcançando nosso íntimo e trabalhando em nossas mágoas e bloqueios interiores, retiram angústias, tristezas e pensamentos negativos, despertando a alegria e doçura que existe em cada um. agem assim também para descarregar o ambiente e o médium.

Essas entidades de luz usam como instrumentos de trabalho ervas para tratamento de saúde, balas, sucos, refrigerantes, brinquedos, entre outros, utilizando a energia desses elementos juntamente com a fé da  pessoa para realizar os trabalhos. Essa linha representa a manifestação do amor do nosso Criador por todos. Que possamos nos lembrar que por detrás daquele arquétipo de criança existe um ser de extrema luz e imensa sabedoria, que nos ama a cada sorriso que dá. 

Onibeijada

Alice de Xangô


terça-feira, 8 de abril de 2025

Boiadeiros

 Boiadeiros

A linha de Boiadeiros se manifestou pela primeira vez numa gira de caboclos onde estava presente no terreiro um Caboclo Boiadeiro.

No nosso terreiro a linha de boiadeiro é sustentada por Iansã, senhora dos ventos, que auxilia a guiar as boiadas; os boiadeiros também tem a tarefa de conduzir eguns (espíritos que ainda não encontraram a luz) onde não poderão fazer mal e terão oportunidade de crescimento. Seus trabalhos são geralmente para dispersar energias deletérias, promovendo descarrego; assim como Exu e Pombagira são protetores dos médiuns, cuidam também da disciplina dentro do terreiro, realizam cura espiritual, desfazer feitiços, dispersam ou juntam energias necessárias para os trabalhos.

O arquétipo do boiadeiro é belo, trazendo a simplicidade do homem e da mulher do campo, a lealdade e a força de vontade de domar o que precisa. A lealdade do boiadeiro se traduz no fato de que este, quando percebe que um boi está perdido ou atolado, toca seu berrante para que o boi o encontre, se isso não acontece, ele coloca a boiada em segurança e volta para buscar o boi.

Quando esses guias chegam no terreiro, descem aboiando o gado, conduzindo como carreiros ou empunhando laços e chicotes, podem chegar simulando o movimento dos do peão sobre o cavalo ou domando boi ou cavalo, agitam os braços. Ao mesmo tempo que são cheios de atitude, também são pacientes, pois se for preciso eles desaceleram o ritmo para conduzir a boiada.

O ponto de força é a campina, onde são feitas as oferendas, que podem ser frutas (banana, mamão, laranja, goiaba, caju, jaca, entre outras), as bebidas são café, suco, conhaque, cachaça e garrafadas (que também podem ser utilizados para trabalhos, assim como o fumo). Seus instrumentos normalmente são chapéu e laço, chicote, berrante, pedra, semente olho de boi, cigarro de palha ou charuto e cachaça com mel ou café.

Em comemoração à linha de Boiadeiro faz-se as comidas dos viajantes como feijão tropeiro, arroz de carreteiro e farinha. A saudação é Getruá Boiadeiro, Xetro marrumbaxetro, salve a boiada. A cor é azul  escuro e amarelo ou marrom e roxo, geralmente associada ao Orixá rege.

Alice de Xangô


segunda-feira, 7 de abril de 2025

Amor próprio

 Amor próprio

Amor próprio é um apreço nutrido por si mesmo. É a aceitação das qualidades, defeitos, conquistas, fracassos, escolhas e experiências de vida. Falar de amor próprio parece muito clichê, mas trago perguntas simples: você se ama verdadeiramente? Consegue ver seus defeitos e aceitá-los em sua imperfeição? Não é tão simples quanto gostaríamos, não é mesmo?

O amor próprio diz respeito ao autocuidado referente ao nosso corpo, mente e alma. Ele independe da aparência ou situação financeira. Uma das tarefas mais difíceis da humanidade é cultivar o amor próprio, isso é notado frequentemente em nosso terreiro. Quem nunca teve uma conversa com um guia sobre esse tema? Creio que todos em algum momento já passamos por isso, ou ainda está passando, tentando encontrar em si esse amor e entender como aceitá-lo sem tanta  cobrança. Esse vício é alimentado pela falta de autoestima que pode decorrer de uma criação rígida, traumas, transtornos mentais, medo de se relacionar, insatisfação, dentre outros fatores emocionais que se relacionam ao amor próprio. Como ter uma boa autoestima, estabelecer relacionamento se você não se ama? Fui questionada várias vezes sobre isso, como querer amar alguém se não me amo, como acreditar na felicidade se a insegurança e falta de confiança em mim prevalece?

Para mudar isso é necessário passar por uma extraordinária transformação pessoal. É preciso escolher desenvolver amor próprio e persistir mesmo quando descobrir um defeito ou falha, porque temos que lembrar que ninguém é perfeito e todo mundo erra. Devemos lembrar que amor próprio é o pilar da autoestima, autoconfiança e autoconhecimento, sem ele não conseguimos nos desenvolver física e espiritualmente. Temos tanto zelo com pessoas queridas em nossa vida (parceiro (a), pais, filhos, irmãos, amigos), ajudamos a realizar seus sonhos, elogiamos, abraçamos os momentos difíceis e o mesmo não acontece com nós mesmos, pelo contrário, o descaso com nossos sentimentos é maior, ignorando sinais de esgotamento, nossos desejos e sonhos. Temos que colocar em nossa mente que só conseguiremos ser bons para os outros quando somos, em primeiro lugar, com nós mesmos. 

O amor atrai relacionamentos sadios, oportunidades, vitórias, autoconhecimento, crescimento espiritual e muito mais. Podemos iniciar a jornada do amor próprio a qualquer momento, basta querer e aceitar que o caminho pode ser longo, quando se tem mania de autocrítica é ainda mais trabalhoso, mas não impossível. Mas vamos tentar melhorar a cada dia? Como?  Alguns detalhes podem ajudar:

  • Coloque-se em primeiro lugar: pessoas que fazem somente o que os outros querem ficam doentes, podem ter depressão, esgotamento mental ou ansiedade, pois não se permitem desfrutar de pequenos prazeres, portanto suas necessidades e desejos devem ser prioridade, todos precisam ter períodos de relaxamento, fazer algo em benefício próprio, aprender a dizer não para prevenir sobrecarga de emoções e cansaço físico, correr atrás de seus objetivos com ou sem torcida;

  • Conhecer seus limites: você pode ajudar as pessoas, claro, mas não se prejudicar em prol dos outros. Estabeleça limites que te mostram quando uma ocasião é benéfica para você, ligeiramente desgastante, mas não suportável, ou fora de cogitação. Ou seja, ensine as pessoas a como trata-lo. Lembrando que seus limites são diferentes dos outros, às vezes nos incomodamos com algo que é normal para o outro, mas não devemos nos comparar, cada um sabe o que é melhor para si;

  • Perdoe seus erros: todos nós erramos, porque não somos criaturas perfeitas, encarnamos para poder aprender e melhorar, devemos aprender que erros são benéficos, nos ajudam a modificar comportamentos e impulsionar o crescimento pessoal. Perdoe suas falhas. E quando errar, peça perdão, assumir essa responsabilidade nos permite melhorar quando uma segunda chance nos é dada;

  • Encontre um propósito: algo que faça seu coração palpitar, que te deixe alegre, que te motive a sair da cama todos os dias;

  • Aceite que você é único: não se compare, sua história é única e não deve se assemelhar a do seu próximo. Cada um tem uma história pessoal e uma bagagem própria, aceite que és especial do jeito que és. 

No terreiro é muito comum nos comparar com o irmão, que fulano se desenvolveu primeiro que eu, que ciclano tem mais facilidade nos estudos, mas cada um é especial na sua individualidade e o desenvolvimento acontece de acordo com o que cada um necessita e busca. Caminhe com seus próprios pés, faça uso de suas competências e qualidades, se necessitar de apoio busque ajuda na terapia, nos estudos e, principalmente na espiritualidade. 

O caboclo Sete Flechas me disse uma vez que questionei sobre merece estar onde estou, ele me respondeu: se eu achasse que você não deveria estar aqui você não estaria, isso me fez repensar minha atitude com relação a mim mesma. Em outra ocasião, ele me disse: "Só é possível amar ao próximo depois de se amar. A base do amor encontra-se na liberdade, o amor só é verdadeiro quando entende a liberdade, o amor acrescenta, a paixão acaba destruindo." Portanto faça por onde e busque autoconhecimento e auto amor, para que a vida fique mais leve e para que possamos amar verdadeiramente o outro sem que isso custe a nós mesmos.

Alice de Xangô


quinta-feira, 3 de abril de 2025

Congá

 Congá

Congá é o altar sagrado dentro de um terreiro de umbanda. É um lugar consagrado, o maior ponto de força e firmeza dentro do terreiro, responsável pela recepção e irradiação de energia. Nele estão presentes as imagens de orixás, de guias como caboclo, preto velho, malandro, também velas, flores e outros objetos conforme a necessidade e o fundamento da casa. Alguns terreiros tem imagens de santos católicos em seu congá devido ao forte sincretismo e tem influência do catolicismo. 

Os congás geralmente variam de casa para casa devido à influência direta da coroa do Pai ou Mãe de Santo, do fundamento e necessidade do terreiro. Todos os objetos ali presentes são consagrados e cobertos de energia positiva vinda dos orixás e dos guias ali representados. O congá recebe a energia de Deus, emana essa energia para o terreiro pra ser utilizada pelos guias, médiuns e consulentes, ele também tem função de atrair para si pensamentos ali presentes, reduz miasmas e cargas negativas e condensa essas energias.

Devemos saber que o Congá é diferente de altar (que temos em casa), pois o congá tem firmezas e assentamentos que faz com que ele movimente energias maiores que de um altar comum. Lembremos de saudar o congá no início da gira e caso queira, durante ou ao fim da mesma, em sinal de respeito e para que possamos elevar nossas vibrações através das energias ali concentradas.


Alice de Xangô


terça-feira, 1 de abril de 2025

Tronqueira

 Tronqueira

A tronqueira é um ponto de força muito importante no terreiro, onde se está firmada a força dos orixás de esquerda e dos guias que trabalham no terreiro, é onde são feitas as oferendas pra Exus, Pombogiras, Exu Mirim e Pombogira Mirim. A função da tronqueira no terreiro é receber energia negativa e a utilizada nos trabalhos, transformá-las e devolvê-las para a espiritualidade. Funciona como uma espécie de pára-raios, pois manipulam as energias mais densas, evitando que elas entrem na casa e prejudiquem o andar dos trabalhos.

Dentro de um terreiro a tronqueira tem como objetivo proteger o espaço e as pessoas ali presentes. É um ponto de força firmado no terreiro, onde a energia emanada é utilizada pelos guias de esquerda em seus travesseiros de limpeza e proteção da casa, além de ser fonte que alimenta um campo energético no mundo espiritual, numa grande área em torno do terreiro. Ela serve como redenção, criando um portal para que espíritos negativos que acompanham consulentes ou que são capturados em ataques espirituais que a casa sofre, sejam levados à espiritualidade, retendo esses espíritos durante os trabalhos para posteriormente serem socorridos, esclarecidos e encaminhados.

Por esses motivos o espaço da tronqueira é sagrado e permanece trancado, sendo permitida a entrada apenas de pessoas autorizadas. Geralmente fica de frente ao congá e devemos lembrar que ambos trabalham juntos, gerando equilíbrio e segurança dentro do terreiro. Lembre da saudar a tronqueira ao chegar na casa, pedindo licença aos guardiões do lugar para iniciar os trabalhos e após a gira para que as energias absorvidas sejam drenadas e emanadas da maneira correta.

Alice de Xangô


segunda-feira, 31 de março de 2025

Logunan

 Logunan

Logunan é o orixá feminino absorvedor do trono da fé, polarizando com Oxalá. Seu culto surgiu com a revelação das sete linhas da Umbanda Sagrada através dos guias de Rubens Saraceni, onde um desses guias disse que existiria um orixá  que se encaixaria nessa função, mas que seria pouco cultuado. No trono da fé Oxalá irradia o desenvolvimento da fé para todos os seres, a todo momento, a força contagiante de Oxalá precisa de uma presença ativa que a absorva e a controle, impedindo que as pessoas desviem para o fanatismo e descontrole emocional, esse é o papel de Logunan, uma força neutra que atua equilibrando nossa relação com a fé. Logunan é considerada como o orixá que rege o tempo e o espaço, inicialmente sendo apresentada como Oyá-Tempo, nome modificado depois devido à confusão com outros orixás (Iansã, conhecida como Oyá; e Tempo ou Iroko, orixá cultuado no candomblé).

Logunan é quem rege o sincronismo do universo, o passado, o presente e o futuro, sendo fundamental para manifestação de tudo na nossa dimensão. Logunan controla esse campo, isolando no infinito cósmico os espíritos que atacam a fé e a religiosidade. Quando buscamos o equilíbrio da fé, pedimos o auxílio de Logunan juntamente com pai Oxalá, porque assim encontraremos harmonia perfeita dessa energia. É graças a Logunan que podemos existir, pois ela deu movimento ao processo de passagem de período, Oyá fez o tempo se mover, o mundo girar e soprou o caminho da continuidade e existência de tudo.

A data de comemoração é 11 de agosto, seu dia da semana são todos os dias, pois todos pertencem ao tempo. Suas cores são azul escuro, preto e branco. A oferenda é feita em campo aberto, assim que o sol nasce, pois é representada também pelo orvalho da manhã, feita com velas, uva verde, coco verde, flores brancas e vinho branco. Sincretizada com Santa Clara.

Os filhos de Logunan são introspectivos, pouco tímidos, simpáticos, discretos, silenciosos, amigos, emotivos (mas guardam suas emoções), lutadores e sinceros. Podem ser retraídos, ciumentos, possessivos e desconfiados. Apreciam coisas religiosas, estudo, um pouco de isolamento, conversas construtivas e companhia de pessoas discretas. São pessoas educadas, observadores, intuitivos, sábios e religiosos (capazes de amenizar dores espirituais profundas).

A saudação a Logunan é “Olha o tempo minha mãe”, seu símbolo é a espiral, seu metal é estanho, o cristal é o quartzo fumê (importante função ligada a proteção), as ervas são eucaliptos, alecrim e anis estrelado, todas utilizadas para livrar do mau agouro e nos proporcionar a cura.

Olha o tempo minha mãe.

Alice de Xangô


quinta-feira, 27 de março de 2025

O som

 O som

Nosso sistema auditivo, consegue identificar os sons por intermédio de suas 3 qualidades: o timbre, que nos conta a característica de cada som; a tonalidade que nos mostra se um som é grave ou agudo; e a sonoridade, que é responsável por nos dar a intensidade do som, permitindo que a gente sinta se o som é forte ou fraco. As ondas sonoras chegam até nosso tímpano, se transformam em estímulos nervosos e são codificadas pelo nosso cérebro, assim, dependendo de sua frequência e de seu ritmo, a música pode influenciar o corpo humano tanto fisiologicamente, quanto emocionalmente.

Dito isso, acredito que cada pessoa, em sua individualidade, já teve uma experiência de sentir seu corpo mexer e vibrar ao som de algum ritmo musical, com o canto dos pássaros, com o som da chuva ou dos ventos. Se prestarmos atenção na energia sonora, percebemos que cada onda emitida que invade nosso organismo, consegue potencializar e até mesmo alterar nossos estados emocionais, abrindo ou fechando espaços para diversos sentimentos.

Particularmente, quero trazer uma experiência que tive do meu corpo vibrar com a energia do som: a primeira vez que fui ao terreiro, ainda como consulente, o que mais me encantou foi a música. Quando escutei o toque dos atabaques, o agogô, as palmas batendo e os pontos sendo cantados, fechei meus olhos e pude sentir meu corpo vibrando junto com toda a energia que estava sendo propagada naquele momento, e foi exatamente essa sensação, do meu corpo pertencer, pelo menos um pouco, parte daquela frequência sonora e energética que estava ali que me fez voltar na sexta-feira seguinte. E até hoje, cada som, melodia e música propagados no terreiro, é uma fonte inesgotável de energia para sustentação de cada trabalho feito antes, durante e depois de cada gira.

A música que preenche o terreiro é um dos pilares de sustentação dos trabalhos, é por cada onda sonora que toda energia é propagada para cada pessoa ali presente. Assim, quando precisamos firmar a cabeça, podemos nos concentrar no som dos atabaques, quando queremos dar forças para um trabalho de um determinado guia, podemos cantar seu ponto, médiuns de incorporação se ancoram nos pontos tocados para que o processo seja mais fluido. Contudo, essa energia que circula no terreiro e auxilia a todos o tempo todo é muito importante, sendo o som, as melodias e a música grande partes desse processo.

Gosto muito de uma frase que diz “um samba cantado com o coração, sempre é uma oração”, e, estendendo isso para a Umbanda, por mais que os pontos cantados são a forma de oração do umbandista, nada vale se não forem cantados com o coração e fé.

Faço um convite para que você possa permitir-se sentir a frequência da energia de cada som e que, a partir disso, você sinta-se parte do todo.

Isabela de Iansã


terça-feira, 25 de março de 2025

Pontos Riscados

Pontos Riscados

Durante as giras do nosso terreiro vemos com certa frequência, nosso dirigente espiritual o Caboclo Sete Flechas, pedir aos médiuns, principalmente os que estão em desenvolvimento recente, para que deixem a pemba preparada para que a entidade risque seu ponto. Afinal o que são estes pontos riscados? Para que servem?

Os pontos riscados, desenhos dentro de círculos com simbologia diversificada e particular de cada guia ou Orixá. São usados em trabalhos específicos, com forma de identificação dos guias e principalmente como assentamento de energia de um guia dentro de um terreiro.

Usualmente utiliza-se a pemba para que estes pontos sejam riscados, normalmente a pemba branca, mas em alguns casos podem ser utilizadas pembas de outras cores. Quando um guia risca um ponto, está assentado ali a energia da forma que este guia necessita para seu trabalho, trazendo neste ponto elementos e símbolos que podem contribuir na forma e na força que este guia trabalha. 

É importante ressaltar que cada guia tem seu ponto riscado com suas particularidades e que deve ser desenvolvido juntamente da conexão entre médium e guia formando este portal energético. Cada guia trabalha seu ponto riscado de uma forma, alguns firmando a energia para o trabalho, outros abrigando consulentes dentro do ponto para maior interação energética entre o consulente e o guia e até utilizando elementos como ervas, velas, patuás e marafos para potencializar o ponto riscado. A forma como estes pontos riscados devem ser feitos, interpretados e utilizados variam muito entre guias  e casas de Umbanda.

Um exemplo de utilização dos pontos riscados para trabalhos diversificados é na curimba, onde cada atabaque contém embaixo do local onde utilizado o ponto riscado do Orixá o qual este atabaque é consagrado na sua força e no final da curimba temos o ponto riscado de exu, que tem como função a limpeza da energia da curimba durante a gira.

É sempre importante entender a necessidade do ponto riscados durante os trabalhos principalmente quando falamos de desenvolvimento de novos médiuns, deve-se buscar sempre o entendimento e o porque aquele ponto é feito daquela forma com aquela simbologia que o compõe, na Umbanda nada se faz sem fundamento e devemos buscar sempre  o respeito quanto a tempo e particularidade de cada médium e de cada guia , para que o trabalho seja sempre feito para fins de ajuda e caridade ,buscando a prática da umbanda em sua forma mais transparente e objetiva.

Axé

Thiago Costa de Oxossi


segunda-feira, 24 de março de 2025

Aroeira

 Aroeira

Hoje falaremos de uma árvore de grande importância para a espiritualidade e que possui vasto conhecimento ancestral quando se trata dela, a Aroeira.

A Aroeira (Myracrodruon urundeuva), tem ocorrência nas regiões norte, nordeste, sudeste e centro oeste do brasil, por ser uma planta de madeira muito utilizada foi muito explorada pelos povos mais antigos, hoje sua exploração em nossa região é proibida.




Esta planta tem poderes medicinais muito amplos sendo eles, adstringente, tônico, cicatrizante, antifúngico, diurético, antiinflamatório, antibacteriano. Sendo indicada para, febre, tosse, azia, gastrite, diarreia, bronquite, reumatismo, íngua. Na parte medicinal utiliza-se normalmente a casca podendo em alguma das vezes ser utilizada as folhas.

Quando fala-se da aroeira na parte espiritual, que é classificada como uma erva quente ou agressiva, que trabalha na força do orixa Ogum, sendo utilizada principalmente para limpezas e descarregos de energias negativas de pessoas ou ambientes, que pode ser atráves de banho ou defumação. Ajuda a eliminar larvas astrais e recomposição de fluidos energéticos e até mesmo para prevenir e afastar energias de baixa vibração.

Deve-se atentar que para o uso tanto medicinais quanto espiritual devemos utilizar a aroeira vermelha, pois a aroeira branca ou aroeirinha , tem características tóxicas , podendo causar efeitos colaterais graves como edemas na pele.

Thiago Soares de Oxóssi 





quinta-feira, 20 de março de 2025

Medicina Popular | Garrafada

 Medicina Popular | Garrafada

Plantas medicinais e bebidas alcoólicas. Essa é uma combinação que resulta nas garrafadas, mistura muito utilizada na medicina popular para diversas finalidades.

As garrafadas são produtos complexos que trazem nas suas receitas saberes ancentrais. Com soluções extrativas compostas de uma variedade de espécies de plantas medicinais, combinadas com elementos religiosos, de crenças afroameríndias, que curam mazelas físicas, espirituais e psicológicas; melhoram o humor, o apetite sexual, ajudam a engravidar, a facilitar os caminhos e o que mais precisar, são utilizadas com finalidades terapêuticas diversas, geralmente administradas por via oral, podendo também ser por via tópica ou inalatória.




Considerada encantada (milagrosa), a receita fitoterápica é tradicional no norte e nordeste do Brasil. Sua feitura passa por alguns processos, como a maceração das ervas, infusão ou decocção, as cascas com um solvente, e a fermentação, pra aí sim, o líquido ser bebido. As orientações de ingredientes, quantidades e modo de consumo, são feitas de formas variadas, seja pelos mais velhos encarnados, ou pelas mais velhos entidades. Na nossa casa de axé, os Mestres Juremeiros trabalham muito com garrafadas, e têm se tornado mais comum a partilha e as receitas sobre elas. 




Uma curiosidade é que, em 1995, o Ministério da Saúde regulamentou o registro de produtos fitoterápicos como medicamentos que podem ser comercializados, de acordo com a Portaria MS/SNVS no 6 e RDC 26/2014).[2], o que fez as garrafadas serem reconhecidas como medicamentos e serem controladas e vendidas como tal.

Saravá a força ancestral. Salva força das folhas. 


Laura Cardoso de LogunEdé




terça-feira, 18 de março de 2025

Alecrim do Campo

 Alecrim do Campo

Quem nunca ouviu a música:

"Alecrim, alecrim dourado 

Que nasceu no campo 

Sem ser semeado…

Oh meu amor

Quem me disse assim

Que a flor do campo é o alecrim!"

E é essa espécie de arbusto, confundido com o alecrim comumente utilizado na culinária, que trazemos hoje como material de estudo, o alecrim do campo.

Nativo da América do Sul, ele é encontrado no cerrado e na mata atlântica. Ele cresce rapidamente pelas pastagens, se espalhando e sendo considerado espécie invasora, podendo chegar a 3 metros de altura, mas é muito utilizado na recuperação do solo, sequestrando metais pesados, como o arsênio. Apresenta também, um grande potencial econômico através do própolis verde produzido pelas abelhas a partir desse alecrim.





Com propriedades medicinais, é indicado chás e macerados com as folhas pra desconfortos gastrointestinais, dores inflamatórias, inflamações na gengiva e aftas (em forma de bochecho, por sua atividade antibacteriana e antisséptica), analgésicos no geral, auxílio na redução de glicemia e combinado com outras ervas pra diminuir sintomas gripais (fazendo emplastro com as folhas, flores e um óleo condutor) e cicatrizante. Para além desses, composto com outras ervas em garrafadas, que amenizam desânimo, sonolência, falta de foco, são incluídos o alecrim silvestre.




Para todas as formas de uso das ervas citadas aqui, têm-se uma receita diferente e mais coisa para ser acrescentada. Lembremos sempre de respeitar os saberes dos mais velhos e manter com carinho e muito cuidado, isso é praticar e cultuar a ancestralidade, isso também é cultuar as entidades.

Saravá a força ancestral.

Laura de LogunEdé 






segunda-feira, 17 de março de 2025

Catolicismo Popular | Recorte Social e Sincretismo na Umbanda

 Catolicismo Popular | Recorte Social e Sincretismo na Umbanda

Interesse das classes dominantes, à fonte de esperança e resistência das classes populares. É nessa ambiguidade que trazemos o catolicismo popular e seus recortes sociais, quanto grande influência dentro da nossa religião, a Umbanda. 

No vasto universo que repousa tradições familiares, mistérios, histórias que buscam desvendar o sentido da morte e conectar ao objetivo da vida, encontramos a mistura racial de três principais culturas. Os indígenas, povo originário, com ricos costumes, trazendo conhecimentos de plantas medicinais, os perigos e segredos da terra e do oculto. Os africanos, com um variado lastro cultural, que se expressava especialmente através de suas danças e batuques ritmados, além da culinária, que nem o sofrimento da escravização, os faziam esquecer, e os brancos europeus, colonizadores.





Essa fusão entre povos, se dava independente da ideia de superioridade dos portugueses. Era de forma espontânea, abrangendo vários âmbitos como moradia, alimentação, crenças religiosas e o cotidiano como um todo. Nesse contexto, acontecia simultaneamente a catequização dos citados.

No início da colonização, os europeus que vieram pra cá, não eram diretamente ligados a figuras eclesiásticas, tinham bruxas, feiticeiros, cabalistas e também praticantes do catolicismo popular, o que mudou com o passar do tempo. Iniciada com os indígenas, onde grupos de freis e padres vinham ensinar suas doutrinas formais e que, diante da resistência destes, acabaram tendo suas tribos e povos dizimados, seguiu-se a catequização também com o povo africano que, trazido escravizado, manteve o culto às suas divindades de forma oculta ou, percebendo a forma violenta que os diferentes ritos eram tratados, adaptou-os aos santos da igreja católica, como forma de resistência, poupando suas vidas, ocorrendo assim, a chamada sincretização.




A ideia de supremacia branca, que não aceitava outro tipo de religião, de comportamento, vestimenta e nada que fosse contrário aos hábitos europeus da época, foi se escalando num ponto em que esses povos começaram a perder sua identidade. O povo preto começou a ser usado como agente de ligação entre indígenas e a Igreja, que os enxertava com a cultura dos brancos. E assim, mesmo não concordando, esses povos começaram a encarar esse tratamento como único meio de ascender a escala social da época, compactuando com tais atos, para a sua sobrevivência, mas não deixando suas tradições pra trás. 

Sua fé foi se moldando com o que havia de disponível e nos lugares onde lhes eram permitidos ocupar. A maioria vivendo em regiões rurais, analfabetos e longe de matrizes religiosas (lugar frequentado por pessoas abonadas), foram aprendendo orações através da oralidade; ouvindo os senhores, aliando aos conhecimentos ancestrais, saberes antigos que somado aos elementos da natureza, devoção aos santos católicos, passaram a ser inseridos nesses rituais. Sobrevivendo à margem da sociedade, foi assim que estruturaram suas crenças, e essa prática é conhecida como catolicismo popular.




Numa vivência familiar com os oratórios, capelas e santuários, nas partes mais bucólicas por aí, a devoção, as novenas, romarias e padroeiros, davam sentido à vida. É a devoção, a fé pura, sem nenhuma intervenção da institucionalidade. Simples. É uma âncora que exerce uma função vital pro povo que vive no trabalho pesado, na labuta diária pela sobrevivência. Essas manifestações religiosas estão inseridas em um rico mundo de saberes e práticas que são vividas e cultuadas, até hoje, pelas classes populares. 

Dentro de um terreiro, vemos semelhanças entre o contexto acima para com entidades; com os pretos velhos, por exemplo, espíritos de negros escravizados que trabalham em terra, em sua maioria, com rosários, rezas católicas, fumos e ervas; e também os próprios visitantes, que buscam curar suas mazelas e aprender com os mais antigos e que, principalmente no início das casas de axé, eram em maior número, de pessoas pretas e marginalizadas. Hoje, vivendo a Umbanda, percebemos a grande influência do catolicismo popular na nossa religião, que não oprime nem recrimina o povo, mas acolhe com sua linguagem metafórica e sacramental, dito ser “com muita reza e pouca missa; muito santo e pouco padre.”.





Essa contextualização e os recortes apresentados são importantes pontos a serem relembrados de tempos em tempos. A Umbanda é uma religião preta, estruturada em cima de muita violência, resistência e opressão, que foi ressignificada com o auxílio da espiritualidade e, mesmo que em vários momentos tenha seu percurso desviado, acomodado, há de se voltar pro caminho. A historicidade é de suma importância pra construção da nossa fé, da nossa prática e doutrina, principalmente no nosso culto. O conhecimento e respeito para com os ancestrais da nossa terra e suas vivências, são necessários para que fortaleçam os laços e consigamos perpetuar seus ensinamentos, melhorando quanto encarnados e espíritos.

Saravá os mais velhos. Saravá a nossa ancestralidade. 

Laura de LogunEdé