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terça-feira, 4 de novembro de 2025

Inteligência emocional e gestão de conflitos

 Inteligência emocional e gestão de conflitos

O conceito de Inteligência Emocional (IE) surgiu primeiramente com Charles Darwin, que notou a importância da expressão emocional para a sobrevivência e adaptação das espécies. Ao longo dos anos, vários teóricos e pesquisadores, foram se aprofundando na teoria e aperfeiçoando o conceito, como o psicólogo David Wechsler que, em 1940, já falava sobre como os fatores não-intelectuais influenciam o comportamento inteligente. O termo "inteligência emocional" foi usado pela primeira vez em 1990 por Peter Salovey e John D. Mayer em um artigo publicado na revista Imagination, Cognition, and Personality, que causou um impacto mundial, onde eles definiram a Inteligência Emocional como: “(…) a capacidade de perceber e exprimir a emoção, assimilá-la ao pensamento, compreender e raciocinar com ela, e saber regulá-la em si próprio e nos outros.”, dividindo-a em quatro pilares: Percepção da emoção; Uso da emoção; Entender a Emoção e Controle e transformação da emoção.

No entanto, o termo se popularizou em 1995 com o livro homônimo de Daniel Goleman (Inteligência Emocional), onde ele argumenta que um QI elevado é superestimado e que a chave para uma vida realizada e bem-sucedida é a inteligência emocional. Ele foi o primeiro a abordar de forma mais aprofundada o conceito de “duas mentes” – racional e emocional – e explicou como, juntas, elas moldam nosso destino. Segundo ele, a consciência das emoções é fator essencial para o desenvolvimento da inteligência do indivíduo. O autor demonstra como a incapacidade de lidar com as próprias emoções pode minar a experiência escolar, acabar com carreiras promissoras e, até mesmo, destruir vidas. O fracasso e a vitória, portanto, não são determinados por algum tipo de loteria genética: muitos dos circuitos cerebrais da mente humana são maleáveis e podem ser trabalhados. Sendo assim, a inteligência emocional de uma pessoa pode ser ensinada e nutrida.

Inteligência Emocional é a capacidade de processar informações emocionais e usá-las de maneira adaptativa, reconhecendo e regulando emoções próprias e alheias. Há diferentes modelos do conceito de Inteligência Emocional, que podem ser divididos em duas categorias: os modelos de habilidades e os mistos. Os modelos de habilidades concentram-se nas habilidades mentais que usam as informações emocionais e raciocinam sobre elas para melhorar o processamento cognitivo. Já os modelos mistos abrangem definições mais amplas da Inteligência Emocional e inclui a capacidade não-cognitiva, combinam-se habilidades mentais e variáveis de personalidade. Exemplo: felicidade, adaptabilidade, tolerância ao estresse.

Há também um construto não estabelecido empiricamente, a “Inteligência Social”, que faz parte da Inteligência Emocional, e se refere à capacidade da pessoa de perceber os estados emocionais próprios e alheios, motivos e comportamentos e a capacidade de agir com base nessas informações. O objetivo da inteligência emocional é nos ajudar na adaptabilidade e na melhora da saúde mental:- identificando emoções e conteúdo emocional em si e nos outros, em objetos e situações e expressar adequadamente as emoções:

  • usar as emoções para facilitar o pensamento acessando, gerando, identificando e refletindo sobre emoções que possam facilitar a resolução de um problema;

  • conhecer as emoções para usar essas informações;

  • ter capacidade de regulação emocional em si e nos outros.

Então, a Inteligência Emocional, além de processar e racionalizar as emoções, as informações emocionais obtidas também auxiliam na tomada de decisões.

A gestão de conflitos está presente em todos os ambientes, organizacionais ou não, pois sempre que houver a convivência entre um grupo de pessoas, inevitavelmente haverá divergências de ideias, objetivos, entre outros fatores. Eles também podem ser encarados como propulsores de mudanças, tanto individuais como coletivas, pelo fato de proporcionarem o debate de ideias, solucionando problemas de forma criativa.

A gestão de conflitos, portanto, é o processo de resolver desacordos e divergências entre pessoas ou grupos, buscando por soluções que sejam vantajosas para todos os envolvidos. É uma habilidade importante que está diretamente relacionada à Inteligência Emocional. A exploração de diferentes pontos de vista pode representar uma grande oportunidade de crescimento, aprendizagem e mudanças positivas, uma vez que as pessoas têm características distintas entre si, com habilidades e competências diferentes que, somadas, podem levar a organização/grupo a atingir os objetivos preestabelecidos.

Quando os indivíduos inseridos em uma organização têm conhecimento profundo de si, agem com empatia e conseguem se expressar de forma objetiva, pode-se dizer que há uma relação saudável, caracterizada por interdependência, colaboração e engajamento. As relações humanas contêm uma série de disfunções e desequilíbrios, principalmente por se tratar de relações interpessoais. Sendo assim, o conflito nos tempos atuais é inevitável e sempre evidente. Entretanto, compreendê-lo, e saber lidar com ele, é fundamental para o seu sucesso pessoal e profissional.

Em resumo, o conflito é inevitável e constante nas organizações e grupos, porém existem ambientes e situações que potencializam a ocorrência do mesmo e, uma boa forma de entendê-lo e trabalhá-lo seria estudar suas causas. Se a razão do conflito for boa e construtiva, um simples choque de opiniões pode trazer uma mudança importante e necessária. O maior desafio então é saber escolher a melhor estratégia de resolução para cada caso, levando em consideração o bem estar entre as pessoas e o desenvolvimento da organização. O que sempre fará a diferença serão as pessoas envolvidas, suas intenções e habilidades.

Não é possível generalizar a inteligência emocional porque cada um tem uma experiência, dificuldade e vivência diferente. Olhando pelo meu ponto de vista, dentro da nossa casa vejo essa inteligência diretamente ligada ao ego, passando pela dificuldade de entendermos e aceitar o tempo e forma da espiritualidade trabalhar, visto que ela sabe exatamente as nossas necessidades e os pontos que precisamos evoluir mais. Então, analisar o caminho do meu irmão, sem ter tido as mesmas vivências que ele, pode parecer ser um caminho fácil e um “privilégio”; nesse ponto, entra o meu sentimento em relação a isso, porque é normal que todos nós nos frustramos, nos cobramos, mas como podemos lidar com inteligência em relação a esse sentimento?

Não me deixando ser atingida pelos meus achismos e não deixando que meus sentimentos tomem conta de mim, me fazendo agir por impulso, e buscando agir com equilíbrio entre razão e emoção. Apesar da objetividade para explicar como fazer, na verdade é extremamente difícil encontrar esse equilíbrio e trazer para nossa vida para que possamos agir da melhor forma. Cada um terá o seu tempo e sua forma de fazer isso.

Agora, falar sobre gestão de conflitos não é muito diferente de falar sobre os

fundamentos que acreditamos: tudo é mental. O universo é mental. O que está em cima é como o que está embaixo. Se o nosso universo é mental, tudo depende de como escolhemos ver, reagir e agir.

Quando pensamos em conflitos, é comum ouvirmos aquela frase: “onde dois não querem, um não briga.” E isso é uma verdade. No terreiro, lidamos com muitas pessoas, mais de 60 mentes pensantes — se contarmos crianças, colaboradores e médiuns. É muita gente diferente, com criações, valores e vivências completamente distintas. O que é importante pra um, pode não ser pro outro. O que é necessário para um, talvez não seja necessário pro outro. Por isso, precisamos ter sempre em mente: meu limite termina onde começa o do outro.

No terreiro isso é muito claro. E, sinceramente, é mais fácil respeitar esse espaço ali do que no mundo lá fora. No terreiro, conseguimos perceber quando um irmão está meditando, concentrado ou precisando de silêncio. Na rua, no corre do dia a dia, às vezes a gente nem percebe quando alguém está mal ou precisa de espaço. Mas, mesmo com isso tudo, é muito comum vermos desculpas dentro do terreiro para justificar atitudes que, fora dali, talvez não seriam toleradas. Muita gente entra no terreiro com a ideia de que ali é um espaço onde “podemos ser quem somos”, e isso é verdade — desde que esse “ser” não fira o outro.

O terreiro tem regras. Tem ética. Tem respeito. Todos queremos ser autênticos, mas até que ponto essa autenticidade respeita o coletivo? Às vezes, um “bom dia” atravessado ou um “boa noite” sem resposta já vira motivo pra julgamento. E, muitas vezes, a pessoa está apenas concentrada. Eu mesmo sou mestre em não responder por estar centrado — e isso não quer dizer falta de respeito. Então, não nos cabe julgar a forma como o outro está se comportando.

Estamos todos ali para servir à espiritualidade, não para sermos donos das regras, nem para vigiar uns aos outros. Se eu estou ali para criar intriga, fofoca ou alimentar picuinhas, eu já me desconectei do propósito. Não estou mais servindo a espiritualidade, estou servindo ao meu ego, às minhas dores, ao meu estresse — muitas vezes vindo de fora, de outros lugares.

O terreiro não deve ser fonte de estresse. Se ele está se tornando um problema na sua vida, talvez seja hora de refletir. E, se for sair, que seja pela mesma porta que você entrou: com respeito, com consciência de que cumpriu seu papel ali. Somos umbandistas e o nosso propósito é praticar amor e caridade. Quem pratica amor e caridade não está ali para julgar e sim para acolher e compreender. Cada um tem uma forma de viver, um jeito de se expressar, um tipo de dia difícil. Se alguém te responde atravessado ou te trata de um jeito que você não gosta, isso só vira um conflito se você permitir. Se você não permitir, não há conflito.

Como diz a música: “Haja mais amor… a começar em mim.” Portanto, que a gente pratique o que acredita. Que sejamos quem somos, mas com responsabilidade e consciência coletiva. O terreiro é um espaço de cura, de aprendizado, de entrega. E tudo isso começa dentro de nós.

                    Camila de Iemanjá, Maria Nunes de Ogum Beira-mar e Nayara de Oxaguiã


segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Obsessões incomuns e comuns

 Obsessões incomuns e comuns

Quando se fala em obsessores, sempre se pensa em um espírito que acompanha uma pessoa para tentar atrapalhá-la em tudo que ela se proponha a fazer, sendo porque teria sido enviado e “pago” por um inimigo do atacado ou por ser um inimigo da vítima em outras vidas. No entanto, quanto mais caminhamos dentro da espiritualidade, mas vemos que esse tipo de obsessor é raríssimo. Na maioria das vezes as pessoas dizem que tem um obsessor apenas como uma desculpa para seus fracassos, é como dissesse “não sou eu que não fiz o suficiente, existem forças externas me sabotando”, sendo na verdade uma grande ilusão na grande maioria das vezes, pois sempre que terceirizamos a culpa dos fracassos, mais distante ficamos de encarar e resolver nossos problemas que nos limitam a obter sucesso.

Quando a pessoa usa essa justificativa para tudo que dá errado em sua vida, é também uma demonstração de falta de amor-próprio. A pessoa confia mais no poder do outro em atacá-la do que em suas próprias defesas, ela pode recorrer a Deus, anjos da guarda, entidades, mas prefere se fazer de vítima. E quando estudamos o hermetismo, aprendemos o poder que a mente tem, se a pessoa se sente vulnerável e fraca e teme o poder do outro, consequentemente estará abrindo brechas para esse tipo de energia chegar até ela. 

Apesar desse tipo de obsessão onde um espírito fica por conta de atrapalhar a vida de alguém ser muito raro, existe outro tipo de obsessor que todos os seres humanos estão sujeitos. Sabemos, até mesmo pelos estudos de Kardec, que a influência espiritual está sempre presente, para bem ou para mal. Dessa forma quando entramos em baixos estados de vibração estaremos atraindo para o nosso entorno espíritos dessa mesma frequência que por mal ou não, irão tentar nos influenciar, para suprir os próprios vícios, por exemplo estimulando uma embriaguez para absorver os vestígios da bebida que contamina o perispírito, ou mesmo instigando sentimentos de raiva, ingratidão, remorso etc. Digo que as vezes essa influência pode nem ser proposital, talvez aquele espírito não queira prejudicar a pessoa por maldade, mas é apenas o estado doente dele que se estende a quem vibra na mesma frequência. É como estar em uma sala repleta de pessoas negativas e que reclamam o tempo todo, aquele ambiente se torna tóxico, contaminando até mesmo pessoas que não tinham no início aquela vibração. 

Esse tipo de obsessão sempre estará presente quando nos deixamos cegar por sentimentos reativos, quando estamos perdidos em meio a vícios ou desarmonizados com nossa essência divina. A prevenção para isso já foi passada por Cristo a séculos “orai e vigiai”. Quando oramos estamos solicitando ajuda dos bons seres, nos conectando com coisas boas, dessa forma já elevando nossa vibração. Quando ao vigiar que dizer observar a si mesmo, perceber se o sentimento ou pensamento nos momentos de fraqueza são suas mesmos. Dessa forma conectando-se novamente com a própria essência e corrigindo desvios de conduta.

Axé 

Ricardo de Ogum Matinata 


quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Eucalipto na Umbanda

Eucalipto na Umbanda

        Na Umbanda, o eucalipto é frequentemente utilizado nas práticas de limpeza espiritual e nos rituais de descarrego. Sua energia purificadora é vista como capaz de afastar energias negativas e proporcionar proteção espiritual aos indivíduos e aos ambientes. Fumaça do eucalipto, através da defumação, é comum em rituais, com a intenção de promover equilíbrio energético e restaurar a harmonia. A planta é associada a Oxóssi e Ogum, orixá das florestas e da caça, que também representa a conexão com a natureza e o fortalecimento espiritual e que toma conta dos caminhos. O eucalipto, ao ser usado de forma ritualística, promove essa ligação com as forças naturais, renovando as energias e favorecendo o bem-estar.

O eucalipto possui inúmeras propriedades benéficas para a saúde, sendo amplamente reconhecido por suas funções antissépticas, anti-inflamatórias e expectorantes. Seu óleo essencial é bastante utilizado no tratamento de problemas respiratórios, como gripes, resfriados e bronquites, além de ajudar na limpeza das vias aéreas. O vapor do eucalipto também é utilizado em inalações para aliviar sintomas de tosse e congestão nasal, sendo uma excelente alternativa para promover a respiração livre e confortável.

     Além disso, o eucalipto pode ser empregado em massagens para aliviar dores musculares e articulares, devido às suas propriedades analgésicas. Ele também pode ser utilizado em banhos, ajudando a relaxar e a desintoxicar o corpo, favorecendo o equilíbrio físico e mental.

Há muito em lojas de artigos religiosos o eucalipto em forma de líquido para colocar em purificadores, auxiliando no ambiente, tornando-o mais calmo e agradável. 

Na esfera espiritual, o eucalipto é considerado um excelente instrumento de limpeza energética e de elevação vibracional. Ele tem a capacidade de afastar influências negativas, promovendo um ambiente de serenidade e tranquilidade. Sua presença é vista como um meio de purificação tanto de corpos quanto de ambientes, ajudando a dissipar energias densas que possam interferir no fluxo positivo da vida.

O eucalipto também é conhecido por ser uma planta que simboliza renovação e transformação, sendo frequentemente utilizado em momentos de transição, como mudanças de fase na vida pessoal ou espiritual. Seu uso, tanto nas defumações quanto nos banhos de ervas, está ligado à ideia de transformação e de renovação espiritual, atuando como um catalisador para novos ciclos.

No cotidiano, o eucalipto pode ser incorporado de várias formas simples e eficazes. A infusão de folhas de eucalipto, por exemplo, pode ser consumida para aliviar sintomas de resfriados ou para promover o bem-estar digestivo. O óleo essencial de eucalipto, por sua vez, é amplamente utilizado em aromaterapia, seja para aliviar o estresse, promover um ambiente relaxante ou melhorar a concentração.

        Além disso, o eucalipto é uma planta fácil de cultivar, e muitas pessoas optam por tê-la em casa, seja em forma de chá, óleo ou simplesmente pela presença de suas folhas frescas, que exalam um aroma fresco e revigorante. Em casas ou locais de trabalho, a presença do eucalipto também pode ser associada a uma energia de proteção e purificação, ajudando a manter o ambiente limpo e equilibrado.

O eucalipto é uma planta multifacetada, que se destaca tanto por suas qualidades medicinais quanto espirituais. Na Umbanda, ele é um aliado da purificação e da renovação energética, enquanto na saúde, atua como um poderoso remédio natural. Seu uso no dia a dia, seja como chá, óleo ou simplesmente pelo seu aroma, pode trazer benefícios tanto físicos quanto espirituais, tornando-o uma verdadeira aliada da saúde e da harmonia interior, devendo sempre lembrar de sempre utilizar através da orientação das entidades, considerando que toda erva possui seus poderes e forças, devendo ser respeitados. 

Lívia de Obaluaê




terça-feira, 28 de outubro de 2025

Conhecimentos preliminares para o entendimento de Orixás

 Conhecimentos preliminares para o entendimento de Orixás

Orixá são energias de Deus que estão espalhadas pela criação, não sendo para os umbandistas figuras humanizadas. Sendo apenas simbolizadas por imagens para facilitar o seu culto e conexão com os seres humanos.
Para deixar claro devemos ter em mente que para os umbandistas, Deus é um só, mas que fragmenta suas energias em várias diferentes, como se fosse uma luz branca que passa por um prisma, se decompondo em sete cores diferentes. A energia de Deus está em tudo, mas em diferentes manifestações. O sagrado divino que está nas águas é diferente do que está no fogo, nas matas etc.
Orixás não são santos, Orixás são energias gigantescas presentes em toda a criação, desta forma seria impossível um Orixá inteiro, uma energia presente em vários seres e lugares estar encarnada em apenas um homem ou uma mulher.  Quando se fala que um Orixá é sincretizado com determinado santo significa apenas que foram identificadas características naquele homem que provavelmente trazem a força daquele Orixá. 
Ex: Jesus Cristo traz uma energia de fé, paz e amor ao próximo o que se assemelha muito com as virtudes de Oxalá. Ou seja, acredita-se que Jesus tenha uma vibração semelhante ou irradiada por aquela energia. 
Outro ponto relevante a se falar do sincretismo é como se deu seu surgimento.  Quando os escravos foram trazidos da África e tinham suas próprias crenças e fé, eles não tinham liberdade nem mesmo para professar aquela fé. Se seus senhores os vissem realizando um culto ou orações fora do que ele acreditasse ser o correto, que era a própria religião dele, ele os castigava. Dessa forma, para que conseguissem cultuar seus Orixás, os escravos passaram a observar quais santos do catolicismo traziam energias similares dos seus orixás e começaram a cultuá-los ocultamente simbolizados nos santos católicos.
Axé
Ricardo de Ogum Matinata

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Mentalismo

 Mentalismo

O primeiro princípio das leis herméticas é o mentalismo. Ele diz que o todo pode ser considerado como uma mente vivente infinita e universal, ou seja, tudo existe no todo; o todo é mente e o universo é mental. 

Como encarnados e muito apegados a matéria, acabamos por condicionar a realidade no conteúdo mais denso do vasto universo, como no dinheiro e objetos, por exemplo. Quando seu broto surge, é pelas nossas vivências e percepções de todos os contextos, que acabam por moldá-la conforme nossa visão e entendimento sobre as coisas físicas, emocionais e mentais. Na teoria, é de fácil entendimento, mas na prática, nem tanto.

A realidade é sobre onde depositamos energia e atenção; é sobre sentimentos, virtudes e visão de vida. Onde colocamos o foco energético. Tudo isso é fluido, se movimenta como as águas do mar, num vai e vem, sendo moldados pelo vento e pelo tempo.

Desgarrados de conceitos, ideias e definições concretas, entende-se que nada deve ser condicionado como verdade absoluta, pois esta é manipulável; tomando consciência, há de transformar os questionamentos da própria verdade, em uma outra existência.

Laura de LogunEdé


quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Mediunidade como caminho para evolução

 Mediunidade como caminho para evolução

Na Umbanda, a mediunidade vai muito além da simples capacidade de comunicação com o plano espiritual. Ela é vista como uma oportunidade sagrada de servir ao próximo, mas também como um profundo caminho de autoconhecimento e evolução interior.

A mediunidade não é vista como um dom superior ou um privilégio, mas sim como uma missão de amor, caridade e elevação espiritual. É através dela que se estabelece a ponte entre o mundo espiritual e o mundo material, permitindo que os guias e entidades de luz se manifestem para ajudar, orientar, curar e ensinar. 

Ao iniciar seu desenvolvimento mediúnico, o médium é convidado a olhar para dentro de si. A convivência com a espiritualidade exige equilíbrio emocional, disciplina, humildade e entrega. Nesse processo, o médium se depara com suas próprias sombras, limitações, medos e vaidades. O terreiro se torna, então, um espelho da alma, um espaço onde o autoconhecimento é despertado pela prática, pela fé e pelo exemplo das entidades.

Ao iniciar seu desenvolvimento mediúnico, o médium é convidado a olhar para dentro de si. A convivência com a espiritualidade exige equilíbrio emocional, disciplina, humildade e entrega. Nesse processo, o médium se depara com suas próprias sombras, limitações, medos e vaidades. O terreiro se torna, então, um espelho da alma, um espaço onde o autoconhecimento é despertado pela prática, pela fé e pelo exemplo das entidades.

Cada incorporação, cada orientação dada por um guia espiritual, é também uma lição para o médium. Ele aprende a confiar, a ouvir mais do que falar, a respeitar o tempo das coisas e a lidar com energias e sentimentos que muitas vezes não compreendia antes. Com o tempo, percebe que sua mediunidade não está a serviço do ego, mas do amor e da caridade.

Esse caminho, embora repleto de desafios, é também profundamente transformador. O médium amadurece espiritualmente ao passo que desenvolve empatia, paciência e sabedoria. O autoconhecimento vai se tornando uma ponte para a evolução espiritual, e a mediunidade, um instrumento para que essa transformação se realize.

Na Umbanda, a mediunidade é um chamado. Não apenas para ajudar os outros, mas para transformar a si mesmo. É uma jornada de dentro para fora, onde o maior guia é o coração disposto a servir com amor, Axé!                                

                               Tauhane de Oxum


terça-feira, 21 de outubro de 2025

Exu ou Ogum geram oportunidades?

 Exu ou Ogum geram oportunidades?

O presente texto tem como finalidade distinguir um tema mais aprofundado relacionado ao Orixá Ogum e Orixá Exu, caso o leitor não tenha conhecimento prévio sobre esses Orixás é recomendável que leia os textos específicos de cada um deles primeiro.

Quando se fala das características de Orixás, é possível notar a geração de oportunidades, caminhos, encruzilhadas são atribuídas muitas vezes tanto Ogum quanto a Exu. Tais atribuições deixam muitos intrigados gerando perguntas difíceis de responder tais como: Para que existir dois Orixás com algumas funções similares ou idênticas? Elas são mesmo idênticas? A quem se deve pedir abertura de caminhos? Se não forem iguais, por que existe tanta confusão quanto a isso? Essas e outras perguntas discutiremos a seguir tentando respondê-las da melhor maneira.

Inicialmente é necessário distinguir a entidade exu do Orixá Exu, pois a confusão se dá muito devido aos religiosos terem dificuldade em fazer essa distinção, acabando por tomar características de um para o outro. O culto a entidade Exu não surgiu dentro da Umbanda, inclusive a maioria das outras entidades também não, já havia antes da anunciação da umbanda diversas manifestações dessas linhas. O Arquétipo de entidade Exu é de um feiticeiro europeu, antigamente essas entidades eram conhecidas com outro nome, eram chamadas de ngangas (feiticeiro, curandeiro), eram vistos como grandes curandeiros e feiticeiros, que aprenderam suas mandingas em vida e depois de desencarnados ainda eram solicitados para ajudar nos mais diversos tipos de problemas dos vivos. O ponto de força de grande parte dessas Ngangas era a encruzilhada, que também tem grande simbologia nos mais diversos tipos de cultura, principalmente quando se fala de magia e ocultismo. Como essas entidades eram “cultuadas” no mesmo lugar do Orixá, ou seja, a encruzilhadas, passaram a ser chamadas por esse mesmo nome.

Tendo entendido essa contextualização, voltamos às perguntas iniciais. A essência do Orixá Exu não está vinculada diretamente com geração de oportunidade e abertura de caminhos. Sim, ele também tem um papel importante nisso, pois como sabemos Exu é o nada, é o vazio para que novas coisas sejam criadas, sendo assim, para que Ogum abra o caminho, Exu sempre virá primeiro sendo o “espaço” para criação de qualquer coisa. Para deixar ainda mais claro, a confusão de pedir exu oportunidade surgiu muito porque boa parte das entidades Exus(Ngangas) trabalham com isso, inclusive praticamente todos Exus de encruza que conheci até hoje vibram na irradiação de Ogum, se o Orixá Exu abrisse o caminho convenhamos que isso não seria necessário.

Tendo dito isso fica claro que quando queremos pedir caminhos a algum Orixá devemos fazer isso através de Ogum, é claro sempre respeitando e saudando o Orixá Exu pois sem ele nada poderia existir, nada é criado. Para que se haja o tudo é necessário que exista o nada primeiro. Exu é como um lote para construir uma casa, ou como copo para servir uma bebida, sempre virá primeiro.

Axé

Ricardo de Ogum Matinata


segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Oração a Iansã

 Oração a Iansã

Salve a senhora dos ventos, que me convida a abraçar o movimento! Que suas ventanias limpem, renovem e reconstruam o meu ser.

Que as tempestades sempre me lembram que a inércia é inimiga da evolução. Que seu sopro fortaleça a minha coragem e a ousadia faça parte da minha caminhada.

Grande mãe, que com sua força que rasga os céus e transforma o caos em renovação, sua energia possa limpar o que não me serve mais e abrir caminhos de transformação em minha vida.

Me dê sabedoria para entender que cada tormenta é um convite para eu me reinventar e a dor é parte do renascimento.

Que o seu fogo possa consumir as ilusões para que a verdade brilhe em pureza e justiça em meus caminhos, pois as cinzas do que foi são adubo para uma nova vida. 

Iansã, me ensine a abraçar sua dança e seu calor para que sua força possa me moldar, me mantendo firme na certeza de que as mudanças são inevitáveis e necessárias.

Que sob sua proteção eu possa caminhar com determinação, fazendo de cada passo um ato de resistência e evolução.

Oyá, guardiã do movimento da vida, que suas tempestades nunca me encontrem imóvel, mas sempre preparada para crescer e florescer. 

Que a sua força se faça sempre presente em minha vida, ilumine a minha jornada e me ensine a arte da resiliência.

Salve Iansã, que me impulsiona!

Camila de Iemanjá


quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Evolução espiritual

 Evolução espiritual

A evolução espiritual refere-se ao processo contínuo de crescimento e aprimoramento da consciência e do ser interior, muitas vezes ligado ao desenvolvimento de uma compreensão mais profunda de si mesmo, do mundo ao seu redor e de aspectos transcendentais da vida. Esse conceito pode ter diferentes significados dependendo da perspectiva filosófica, religiosa ou espiritual que se adote, mas, de maneira geral, envolve a jornada do indivíduo em direção a um estado mais elevado de harmonia, sabedoria e conexão com algo maior do que o ego ou a identidade limitada.

Na tradição espiritual, a evolução é vista como um caminho de autoconhecimento e transformação. Isso pode envolver práticas como a meditação, o cultivo da compaixão, a busca pela verdade interior, o desapego dos desejos materiais e a transcendência das limitações do ego (parte consciente que representa o modo como percebemos a nós mesmos). A ideia é que, à medida que a pessoa evolui espiritualmente, ela desenvolve qualidades como a empatia, o perdão, a paz interior e uma maior compreensão da interconexão de todas as coisas. 

Em muitas tradições, a evolução espiritual também está relacionada à ideia de um propósito maior ou divino, ao qual os indivíduos se alinham à medida que se aproximam de sua verdadeira essência ou da experiência da unidade com o todo. Em algumas correntes de pensamento, a evolução espiritual pode ser vista como um processo que transcende a vida atual, com a alma evoluindo por meio de múltiplas encarnações, experiências e aprendizados. Para exemplificar, pensemos em um monge. Uma de suas tarefas é sentir e viver o mónos: o um, o único. Essa é uma energia que permeia todos os seres. Na Índia, essa energia é chamada de Parashakti, já no ocidente, no Espírito Santo. Até na ciência essa essência divina existe, como a energia que precede a matéria. Ao sentirmos e enxergarmos esse mónos, começamos a perceber que tudo está evoluindo dentro do seu caminho. 

E por mais que pensemos que nós - ou as outras pessoas - não estamos evoluindo espiritualmente, este é um processo que acontece naturalmente a todos os seres. Entretanto, essa evolução pode se tornar mais intensa e direta, ou seja, sem as dores que costumamos passar. Evoluir, necessariamente, implica em mudar. Mas a mudança nem sempre é fácil, se tornando, com frequência, dolorosa, seja por não entendermos o processo, seja pelo ego, ou pelo apego, ou até mesmo pelo fato das pessoas à nossa volta nos colocarem em posições que não nos cabe mais. 

Mas a evolução espiritual passa por essa busca. Queremos entrar em contato com a expansão de consciência porque é isso que nos faz acessar aquilo que temos de melhor. Abraçar esse processo nos faz sair da confusão dos diversos pontos de vista e chegar a uma visão mais abrangente onde conseguimos entender os dois lados da história. Isso não significa ser neutro perante as coisas, mas ser capaz de apreciar as situações de uma forma mais liberta, sem estar aprisionados pela pequena visão de uma interpretação apressada e improvisada do momento, sem sofrimentos.

Na Umbanda, encontramos como um de seus principais propósitos a busca pela evolução espiritual e a conexão com o sagrado. Para buscarmos essa evolução, temos que procurar, primeiramente, entender o lema da religião: “amor e caridade”, que são os pilares fundamentais para conseguirmos trilhar os caminhos da evolução. Essas virtudes vão muito além de gestos e bens materiais, precisamos cultivar o amor próprio e ao próximo, a humildade, solidariedade e a caridade, pois é assim que iremos contribuir para o bem estar próprio e do coletivo, deixando o ego individual de lado para adotarmos a humildade de entender que somos interligados e igualmente parte do sagrado.

A evolução espiritual é vista como um caminho de aprendizado, autoconhecimento e transformação pessoal, onde os praticantes buscam se aproximar da divindade, dos guias espirituais e dos orixás (forças divinas da natureza) para alcançar um estado de equilíbrio e elevação espiritual. A prática da caridade, a busca por virtudes como amor, compaixão, humildade e respeito, e a superação de desafios pessoais, são considerados importantes aspectos desse processo de evolução e precisam transpassar o tempo que nós umbandistas passamos nos terreiros.

Dentro da religião, acredita-se que os espíritos que guiam e auxiliam os seres humanos estão em diferentes estágios de evolução espiritual, e trabalham em conjunto com os praticantes para promover o crescimento espiritual de todos os envolvidos. Esses espíritos podem ser entendidos como guias espirituais, mentores e protetores, que oferecem orientação, cura e auxílio nas questões da vida encarnada. Temos ainda, na Umbanda, dentro de suas crenças, a chamada Linha da Evolução, regida pelos orixás Obaluaê e Nanã. Obaluaê está relacionado à cura, sendo o senhor das passagens, pois guarda os níveis vibratórios de uma dimensão para outra e os estágios de evolução. Enquanto Nanã atua no campo racional dos seres, separando os sentimentos em excesso para que os possa preparar para uma nova vida, mais equilibrada. Ou seja, não existe evolução sem cura pessoal e coragem para abandonar saberes que não fazem mais sentido em nossas vidas.

Outro fator necessário para termos em mente, é a Lei do Retorno: toda ação que praticamos, sejam boas ou ruins, geram impactos nas nossas vidas e retornarão para nós de alguma forma. Assim, é importante agir com consciência em todas as nossas ações, trazendo o que é aprendido no terreiro para fora dele e dentro do nosso íntimo, agindo sempre com amor e caridade, dando pequenos passos rumo à evolução. 

A Umbanda nos ensina a enfrentar nossos desafios encarnados de maneira construtiva, olhando-os como tentativas de algo maior nos ensinar a sermos pessoas melhores, mais fortes, sábias, pacientes e humildes. Nos ensina também a buscar sempre o equilíbrio e nunca desistir de tentar ser uma pessoa um pouco melhor a cada dia, trabalhando com amor e caridade, plantando bons frutos e caminhando junto à espiritualidade e seu propósito maior. Portanto, a evolução espiritual é uma jornada contínua de desenvolvimento interno, que busca a expansão da consciência e uma maior conexão com a essência divina ou universal, promovendo um equilíbrio entre o mundo material e o espiritual.


Camila de Iemanjá, Isabela de Iansã, Larissa de Iansã e Mylene de Ogum Rompe-Mato


terça-feira, 14 de outubro de 2025

Princípio do Mentalismo

 Princípio do Mentalismo

O princípio do mentalismo está entre as 7 leis herméticas, quais sejam, do mentalismo, da correspondência, da vibração, da polaridade, do ritmo, da causa e efeito e o do gênero. Os da lei hermética devem ser seguidos em ordem, uma vez que um leva ao outro, de forma a explicar a função de cada princípio. 

Vejamos primeiramente o que diz o do mentalismo em sua totalidade, para que possamos compreendê-lo em sua plenitude. 

O TODO É MENTE; O UNIVERSO É MENTAL

Para entender tal é necessário que tenhamos o pensamento voltado ao TODO como a tudo aquilo que o universo está envolto, envolvendo questões do físico e espiritual, uma vez que estamos tratando de tudo aquilo que existe e que não existe. 

Existe uma realidade onde nossos sentidos podem detectar, uma vez que estão ligados ao material, entretanto, há também as formas ocultas e que estão inseridas em campos em que não podemos identificar de forma natural. Dessa forma, o TODO engloba todas essas formas de percepção. 

A partir do momento em que o princípio prega que o todo é MENTE, está fazendo uma relação de que o mesmo é fruto de uma criação pensante/mental, caracterizando-a como “MENTE VIVENTE INFINITA E UNIVERSAL”, sendo que nossa existência apenas acontece porque estamos em um universo que é mental, dessa forma a natureza é mental, sendo a mente uma parte vivente do universo desde a origem. 

A forma de se enxergar o universo está envolvida no modo em que é pensando sobre todas as coisas, o mais importante é imaginar como deve ser pensando as ações do nosso dia a dia para que facilite a forma de vivência, uma vez que a forma de pensar durante o decorrer do dia influencia significativamente o andar de nossas vidas, considerando que no momento em que pensar será enviado ao universo suas escolhas e seu modo de vida, o qual influenciará no seu presente e futuro. 

Diante disso, a necessidade de sempre estarmos atentos para os nossos pensamentos para que possamos sempre atrair algo que queremos ou desejamos seguir durante a vida, seja ela no material ou espiritual, considerando que estamos falando do TODO. 

Está ligado a um Deus criador, aquele que conseguiu   criar todo o universo em 07 dias, apenas com o poder do mental, utilizando-se de meios para que conseguisse realizar aquilo que desejava e planejava para si mesmo.  O livro Caibalion relata em sua obra a seguinte passagem: “todo o mundo fenomenal ou do universo é simplesmente uma Criação Mental do Todo”, dessa forma é claro perceber que o que está querendo ser repassado é a força que o pensamento/mental tem. 

Os budistas acreditam e utilizam o princípio do mentalismo de forma séria, uma vez que segue à risca a forma de pensar e utilizar do seu mental perante as situações do dia a dia, buscando encontrar dentro do mental formas para se reconhecer e estar em paz perante sua própria existência. Portanto, o mentalismo representa a essência de uma criação divina, a qual se propôs a realizar todo um universo somente com a força do mental, realizando formas de se expressar e idealizar meios para concretizar pensamentos. 

Lívia de Obaluaê


segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Sagrado e Profano

 Sagrado e Profano

A criação e separação de “sagrado” e “profano” é um feito ocidental e cristão, que surgiu na igreja católica, juntamente com os estados soberanos da época. Foi-se criado o “sagrado” (certo) e o “profano” (errado), de acordo com as ideologias da igreja e do estado, justamente para ter-se um controle social, no qual era-se usada a fé das pessoas para que elas pudessem seguir o que era adequado e ditado pela religião e pela política daquele tempo. É necessário ter-se em mente, nos dias atuais, que o que é sagrado para uma religião, pode ser profano para outra cultura. Assim, o que é sacro está intimamente ligado ao que aquela religião acredita e cultua, tendo cada religião sua própria identidade e ideia do que se enquadra em sagrado e profano. 

Em sua essência gramatical, portanto, o termo "profano" refere-se a algo que não é sagrado ou que não é relacionado à religião. O conceito se opõe ao de sagrado, que é tipicamente associado a divindades, rituais e espaços religiosos. No contexto religioso, o profano pode ser visto como o mundo cotidiano, aquele que não possui conotações espirituais e que pode ser associado a valores seculares ou "mundanos". Ou seja, o mundo em que vivemos. Para algumas pessoas, o sagrado está associado a uma divindade ou a um ser supremo. É algo que está além da compreensão humana e que é reverenciado e adorado

Para outras, o sagrado pode estar ligado a valores morais e éticos, como a justiça, a bondade e o amor ao próximo. E, ainda, há quem acredite que o sagrado pode ser materializado em objetos, lugares, rituais, símbolos e até mesmo pessoas. O sagrado na Umbanda é comumente referido aos Orixás, entidades, oferendas e todas as manifestações de Deus (Olorum) em nossa matéria. Logo, o oposto disso seria profano, banal, que não nos conecta com a espiritualidade e nem nos leva à evolução pessoal. Cabe a nós sabermos que não há separação entre o mundo espiritual e o carnal.

O princípio da dualidade, da polaridade e da correspondência nos esclarece que o que há embaixo, também haverá em cima, em graus diferentes. Portanto, não há um muro que separe nós humanos dos espíritos compassivos e muito menos de Deus - que é tudo e está em tudo -, portanto, o sagrado está especialmente em nós mesmos, que também somos partes de Deus e fomos criados por Ele. Na Umbanda, o profano não é visto como algo que deve ser evitado, até mesmo porque não há como separar através de uma barreira física/espiritual o profano do sagrado. Logo, todos nós transitamos durante o profano em nossa encarnação, através da própria realidade que vivemos, e é nesse espaço que devemos praticar a fé, o amor e a caridade.

Um exemplo de como funciona a concepção entre sagrado e profano para nós, umbandistas, é o fato de acreditarmos em sua manifestação nas forças da natureza com os ventos de Oyá, a presença divina de Iemanjá no mar, de Xangô nas pedreiras de Oxalá nas grandes campinas ensolaradas ou da Jurema Sagrada na árvore Jurema. Tudo isso, para nós, não são apenas elementos, mas o sagrado se manifestando em suas mais diversas formas, assim como, para os cristãos, a principal manifestação sagrada seria a encarnação de Deus em seu filho Jesus Cristo.

Todos esses elementos citados acima não deixam de ser apenas eles mesmos em nosso dia a dia profano. Uma pedra será apenas uma pedra, um tridente será apenas um tridente, um arco e flecha será apenas uma arma para muitas pessoas, porém, quando determinados objetos e elementos são vistos com os olhos de quem os cultua, cada um deles passará de uma realidade mundana, para uma realidade de um cosmo sagrado.

Em outras manifestações religiosas ocidentais talvez seja mais fácil distinguir o que é o sagrado e o que é o profano, pois o sagrado costuma ser associado a algo inalcançável pelos mundanos que vivem em um plano profano. Porém, em religiões que cultuam os Orixás, guias e mestres, por exemplo, o plano sagrado mistura-se com nossa realidade profana, pois o orixá se faz vivo em nosso dia a dia, desde o acordar até o adormecer, é quem nos dá o chão para andar, quem nos guia e nos levanta quando caímos. Por mais corruptíveis que possamos ser, o sagrado faz parte de nós, pois nós somos a própria experiência de Deus e toda nossa existência e o que conhecemos está manifestada em fé, que é sagrada por si só.

Portanto, o sagrado desempenha um papel fundamental na vida das pessoas e das comunidades. Ele fornece um senso de significado e propósito, e ajuda a estabelecer uma conexão com algo maior do que nós mesmos. É importante pontuar que a conexão com o sagrado é intimista e pessoal, devendo ser cultivada dia após dia, pois, quando bem praticada, promove nosso crescimento pessoal e espiritual, sendo forte de força em momentos de dificuldades e incertezas e, acima de tudo, nos mostrando a direção.


Camila de Iemanjá, Isabela de Iansã, Mylene de Xangô e João Pedro de Omolu