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terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Pontos Riscados na Umbanda

 Pontos Riscados na Umbanda

Os pontos riscados são a representação de um portal do plano espiritual no plano material, para que possamos visualizar neste plano determinados trabalhos, elementos e identificar os guias espirituais nos trabalhos de Umbanda. Os símbolos desenhados ou um grupo desses símbolos formam uma mensagem que será interpretada pelo guia espiritual em que riscou, por exemplo, quando são pontos para identificação daquela entidade. Para o desenho dos símbolos nesses pontos riscados, em nosso Terreiro, é utilizado um material chamado “Pemba”  sendo um giz de forma arredondada, que também pode ser utilizado em outros rituais  e existem várias cores desse material. 

Sobre os pontos riscados, é necessário entendermos que nem sempre os mesmos quando os guias riscam pela primeira vez, vai estar completo. Sendo assim é importante entender a medida do desenvolvimento daquele médium, a entidade que trabalha com ele, vai  completando seu ponto riscado. 

Hoje neste texto vamos falar um pouco mais sobre os pontos riscados de identificação e trabalho que os guias possuem. Com isso, é importante entendermos que o ponto riscado ele é único de cada entidade, mesmo que elas possuam nomes iguais, costuma-se dizer que é como uma assinatura no plano material daquele guia, onde pode ser mostrado a forma de trabalho e símbolos de orixás que regem essa entidade. Reforço também que em cada doutrina tem sua forma de trazer esse ritual dentro das casas de Umbanda, sendo a nossa casa vindo da orientação do guia chefe do Terreiro. 

É importante entendermos que a combinação dos símbolos possui formas diferentes de transmissão das mensagens dentro de um ponto riscado. Muitos pontos são parecidos, porém, trazem interpretações diferentes. Sendo assim, o ponto riscado pode mostrar o firmamento de uma entidade dentro daquele Terreiro ou a forma de trabalho em que aquele dia seja necessário. O direcionamento  do ponto riscado é dado por quem o risca, pois, como disse acima, pode haver muitas interpretações dos símbolos, sendo assim, a entidade que o risca vai direcionar e falar sobre o seu ponto riscado. 

Quando vemos os desenhos e símbolos que são riscados, observamos que alguns podem representar mais de um Orixá e também é importante verificar o tamanho do desenho nesse ponto, pois, tamanhos diferentes podem mostrar a influência e grau de importância no símbolo da entidade, além que o direcionamento dos símbolos também pode influenciar a energia firmada naquele ponto. 

Por fim, outra identificação do ponto riscado dos guias, comumente se apresenta dentro de um círculo, no centro, canalizando aquela energia que o guia se manifesta, porém, é importante frisar que podemos encontrar pontos abertos, ou com outras formas, isso vai depender das funções dos mesmos. Em resumo, os pontos riscados são um aspecto fundamental na prática da Umbanda, servindo como ferramentas de comunicação e manifestação dos guias espirituais. Cada detalhe neles contido possui um significado profundo e único.


Marina de Nanã Buruquê


segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

As ervas no processo de defumação na Umbanda

 As ervas no processo de defumação na Umbanda

As ervas são elementos importantes dentro dos rituais nas casas de Umbanda. São usadas em diversas preparações, tais como banhos, amacis, chás e também nas defumações. Porém, é importante entender o motivo de utilização de ervas, que chamamos de ervas secas, nesse ritual de defumação. 

Nesse contexto, as ervas secas são elementos que passaram por uma transformação, da sua forma original, onde foi retirado todo o líquido, que seria a essência aquática, água e resinas vegetais. Com isso, a energia fica concentrada e precisa ser ativada de alguma forma, sendo um deles a defumação. 

A defumação é um processo muito comum nos terreiros de Umbanda, esse processo tem como função de preparação do ambiente, limpeza, energização dos médiuns e de toda egrégora ali presente nesse ritual. Esse processo é tão antigo quanto aos banhos de ervas, a defumação faz uma junção de dois elementos importantes: FOGO e AR, por isso a necessidade de utilizar as ervas secas, pois, a erva fresca (erva com água), não deve ser jogada no fogo. Quanto à utilização da erva seca que funde ao elemento fogo é formado um subelemento, que é muito importante: a fumaça (AR). O elemento AR é por onde a energia do vegetal irá se propagar e pode ser utilizado diversas ervas secas para a defumação, ex: arruda, alecrim, guiné, manjericão, o que será avaliado qual a necessidade das energias daquele dia para avaliar quais ervas serão utilizadas. 

Esse ritual é muito sério, caso as ervas não sejam utilizadas da maneira correta, pode “atrapalhar” toda a energia do ambiente. Sendo assim, em nossos rituais dentro de nossa casa a defumação é preparada pelos pais ou mãe da casa, onde é passado pelos membros da corrente, auxiliares e colaboradores, depois pelos consulentes, curimba e saída do local. Caso for necessário uma defumação fora do ambiente do “Terreirinho” a mesma é repassada pelo Caboclo 7 Flechas. 

Sendo assim, podemos entender uma parte do grande processo que são chamados de defumações dentro dos terreiros de Umbanda e a importância da utilização das ervas e outros elementos para ativação desse ritual.

Axé!


Marina de Nanã Buruquê


quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

Manacá

 Manacá

”.. É que o seu manacá já não dá mais flor..”

Muitos, inclusive eu até então, cantam esse ponto mas desconhecem o que é Manacá. A palavra Manacá tem origem Tupi e significa “linda flor”; É uma planta nativa do Brasil, conhecida por suas belas flores roxas e grande significado espiritual. Na espiritualidade em geral o Manacá é visto como símbolo de proteção, cura e conexão com o divino. 


Suas flores roxas representam a  espiritualidade e a transformação anterior.


A árvore Manacá também é conhecida como Manacá-da-Serra, Jacatirão ou Quaresmeira, e a transformação interior relacionada com essa árvore diz respeito ao fato que suas flores mudam de cor conforme os grãos de pólen vão amadurecendo, a fim de indicar para as abelhas quando as flores ainda precisam ser polinizadas.

A relação espiritual desta árvore também se relaciona com a existência de uma cidade no reino da Jurema que se chama Manacá, já na Umbanda está relacionada especialmente com a Orixá Nanã.

O Manacá é uma planta que possui um forte significado espiritual especialmente nas religiões afro-brasileiras. Seu uso é associado à cura, proteção e limpeza espiritual. Além disso, a árvore é um símbolo de renovação e renascimento, representando a capacidade de crescer e se adaptar às mudanças da vida, assim como suas flores se adaptam às mudanças que sofrem.

Que possamos nos adaptar bem às mudanças necessárias em nossa vida de maneira leve, que a força do Manacá e da cidade do Manacá possa nos impulsionar a florir cada dia mais em nossa vida espiritual.

Axé! 


Mylene de Ogum Rompe Mato.



terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Barbatimão

 Barbatimão

    Hoje abordaremos sobre uma planta muito abundante em nosso cerrado, o Barbatimão(Stryphnodendron adstrigens). Esta planta é encontrada em todo bioma do cerrado, que representa 25% do território brasileiro e contém muitas características importantes medicinalmente e espiritualmente falando.



O barbatimão contém propriedades antibacterianas, anti-inflamatórias, antissépticas, adstringentes e cicatrizantes. Podendo ser utilizado para cura de diversas doenças como feridas, distensões musculares, esporão, candidíase, hemorroidas, leucemias, sendo a principal forma utilizada o chá da casca, onde ferve-se o material e algumas das vezes faz um tipo de pasta que pode ser aplicado no local da ferida ou até mesmo ingerido. 

A ingestão do chá deve ser bem observada uma vez que o uso constante ou em excesso pode causar ferimentos no estômago. As sementes que também contém as mesmas propriedades, podem ser usadas no chá mas este não deve ser ingerido, sendo que nele há uma toxicidade maior. Outra forma de uso é emergir a casca na água e ingerir uma dose de aproximadamente 50 ml diariamente em jejum todas as manhãs, esta forma é utilizada para inflamações e feridas ocultas.

Por apresentar grande poder curativo o barbatimão é muito utilizado em regiões remotas onde tem-se dificuldade de acesso a medicamentos e principalmente na cura de feridas em animais.

Espiritualmente falando esta planta que tem a força de Oxumarê e Xangô, tem força purificadora, limpadora e concentradora, e pode ser utilizada em banhos e defumações. Outra característica interessante que o barbatimão contém é abertura de intuição que pode ser buscada através do banho.


Devemos ressaltar que para utilização em relação e espiritualidade devemos sempre levar em consideração a recomendação dos guias do nosso terreiro e respeitar sempre as regras de cada casa para  ser uma alternativa que resulte sempre em pontos positivos.

Axé!


Thiago de Oxóssi


segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Cruzeiro das Almas

 Cruzeiro das Almas

Hoje falaremos de um ponto muito importante nos terreiros em geral, que muitas vezes passa despercebido ou não é dada a devida importância por alguns médiuns.  O cruzeiro das almas, que também pode ser chamado em alguns terreiros como cantinho santo, tem extrema importância para proteção dos trabalhos e dos médiuns que fazem parte deste trabalho. 

Este local funciona como um portal de luz, auxiliando na conexão dos guias que trabalham na casa, onde ocorre a passagem espiritual de um plano para o outro, sendo para realização de trabalhos, proteção dos médiuns e até mesmo auxiliar no encaminhamento de espíritos que estão com dificuldade para encontrar a luz.


O firmamento de velas no cruzeiro das almas é muito importante para pedir proteção aos anjos da guardas e espíritos de luz contra contras espíritos como zombeteiros, kiumbas e obsessores. Para um médium é essencial o hábito de firmamento da vela no cruzeiro das almas, de maneira que no nosso terreiro faz inclusive parte do ritual que antecede a gira .

Este canto sagrado é regido pelos Orixás Omolu e Obaluaê, justamente por serem os Orixás das Almas,  que ressaltam a conexão que ocorre no cruzeiro das almas entre o plano físico, espiritual e vibratório. A relação com estes orixás explica também a ligação com os pretos velhos ao se referir a este local.

Por ser um local de transmutação energética, além de ser um portal para os guias de luz, é também um local de encaminhamento e auxílio aos espíritos que podem estar nos acompanhando naquele momento, ou de transmutação de nossa própria energia.

Rezemos sempre no cruzeiro das almas, não apenas para cumprimento do ritual pré gira, mas também para proteção e luz aos médiuns e aos trabalhos realizados, para que a umbanda sempre seja realizada de forma objetiva promovendo a fé, o amor e a caridade.

Axé!


Thiago Costa de Oxóssi






quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

O Cruzeiro Mestre

 O Cruzeiro Mestre

No presente texto será tratado sobre o Cruzeiro Mestre, símbolo muito utilizado pelos catimbozeiros mais velhos em seus ritos na Jurema Sagrada. Com o conhecimento repassado pelo antigos, cultuavam sua ancestralidade de forma que essa sobreviveu e vive até os dias de hoje, concretizando a ritualística ali trabalhada. 
O cruzeiro mestre é uma representação de todos os antigos mestres que foram enterrados em um local e, pelo ritual seguido da passagem, caracterizaram aquele solo sagrado para os adeptos que seguem e acreditam na ciência trazida e dominada por eles.

Túmulo de Mestre Flósculo em Alhandra (PB)

A partir do momento em que as grandes navegações promovidas pela Espanha chegam no “Novo Mundo”, trazendo consigo padres, missionários e congregações para colonizar e catequizar aqueles que se encontravam “perdidos” religiosamente na região, o catolicismo se encontrou com a Jurema, e deu-se sua influência no rito. Por causa dessa interseção, encontramos hoje, benzedores, rezadores e até mesmo as entidades do próprio culto, que carregam particularidades que remetem ao catolicismo popular, como o uso de terços, cruzes e imagens de santos católicos, por exemplo.

Imagem de cruz pro Cruzeiro Mestre, em madeira

Um dos símbolos mais importantes para a igreja católica é o “castiçal de três bocas com as três velas acesas”. Há relatos que este foi trazido para o Brasil através de padres jesuítas, sendo utilizado em várias ocasiões. É interessante entrelaçarmos tal objeto com o culto da Jurema, já que com a influência da igreja católica, encontramos indícios da utilização deste símbolo naquela época e até os dias atuais dentro da ritualística do catimbó. Entende-se que o castiçal foi adaptado nos rituais, já depois da miscigenação, através justamente daqueles que ficaram e perpetuaram o conhecimento ancestral. 

O castiçal na igreja católica possui um significado de fé do povo, além de contar com a utilização das velas, dando apoio para que ilumine a fé e a força trazidos pelos adeptos da religião, na Jurema Sagrada o significado é diferente.

Castiçal de três bocas

Focado na representatividade dos três guardiões generais do culto, cada um desses tem a responsabilidade de guardar as chaves da grande ciência da Jurema Sagrada. Esses três estão diretamente ligados à força elementar da natureza, e com energias específicas ligadas ao carnal e ao espiritual, possuem a função de zelar pelos maiores segredos e ciências mantidas dentro do culto. Entende-se que todo o conhecimento adquirido através da Jurema, passa por eles.

Cada um dos guardiões possui um elemento e característica perante o cruzeiro, sendo o primeiro, com a vela centralizada na direita, representando as matas; o segundo é representado pela ciência, com a vela centralizada no meio; e o último, representando a alma, com a vela à esquerda. 

Existe uma cantiga antiga que se refere ao cruzeiro mestre e os guardiões, vejamos: 

“Pelejei tou pelejando como gavião no ar.... (2x)

São três velas acesas, são três castiçais, 

três moças de branco, 

e três Generais... (2)”


De maneira parecida, também é utilizado o terço e a reverência para santos, fazendo referência a influência católica, como São Sebastião e Santo Antônio, ou comumente falado como Santo Antônio Pequenino. O cruzeiro, também é utilizado em acomodações, e até mesmo nas mesas de consagração.

Existem relatos de antigos que participavam do culto da jurema, dizendo que: um juremeiro quando desencarnava, tinha uma semente de jurema plantada e o símbolo do Cruzeiro Mestre colocado em cima de seu túmulo pra identificar que ali teria um mestre aterrado. Bem como existem outros relatos do tipo, também dizendo que naquele local, juremeiros no plano físico faziam rituais, pois a terra se tornava sagrada para os adeptos.

Membros da Casa das Matas do Reis Malunguinho celebrando o primeiro reacendimento da fogueira do São João do Acais. 16 de junho de 2019. Foto de Henrique Genecy.

A cidade dos Mestres e Mestras Reis, da Jurema Sagrada no Acais

Observando a pajelança indígena, onde estes tinham locais específicos para aterrar seus ancestrais, e mantinham a sacralidade da terra em respeito ao corpo e conhecimento dos que se foram pro outro plano, conseguimos ver claramente a influência dos povos originários, nessa ritualística do catimbó. 


Entendendo historicamente o contexto do Cruzeiro Mestre no culto, conseguimos compreender a importância da sua liturgia nas antigas rodas de Jurema e, a necessidade deles no nosso presente. Encerramos nosso texto com um rezo cheio de conhecimento:

Corre Corre Cruzeiro Mestre

De azul e branco

Com as estrelinhas

Corre Corre Cruzeiro Mestre

De azul e branco

Com as estrelinhas


Vocês não sabem

Nem as conhecem

Elas vêm do reino de outro mundo

Vocês não sabem

Nem as conhecem

Elas vêm do reino de outro mundo


E há um rio lá

Eu vou mandar parar


Ela foi moça

Foi menina

Foi mulher de cabaré

Ela foi moça

Foi menina

Foi mulher de cabaré


Passa noite nas esquinas

Procurando quem lhe quer

Passa noite nas esquinas

Procurando quem lhe quer


E há um rio lá

Eu vou mandar parar


Salve a Jurema Sagrada, salve o Cruzeiro Mestre, saravá os Mestres!!!

Lívia de Obaluaê