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terça-feira, 25 de novembro de 2025

Os astecas, seus deuses, principais mitologias e suas relações com a Umbanda

 Os astecas, seus deuses, principais mitologias e suas relações com a Umbanda

Os Astecas pertenciam ao que chamamos hoje de mesoamérica, que consiste na fração de territórios que são associados aos Maias, Incas e Astecas. Os Astecas se autodenominavam Mexicas, o nome Astecas foi dado posteriormente por estudiosos, com base em Aztlán, segundo a mitologia asteca, os Mexicas vieram de Aztlán, uma terra mítica localizada ao norte. Guiados por seu deus Huitzilopochtli, migraram para o sul em busca de um sinal divino para fundar sua cidade.

Umas das mitologias Astecas conta que o deus Huitzilopochtli teria dito para fundarem a cidade onde vissem uma águia pousada sobre um cacto devorando uma serpente, e que viram numa pequena ilha no Lago Texcoco. Um fato curioso é que essa imagem está estampada na bandeira do México. Tenochtitlán foi fundada em 1325, tornou-se uma cidade magnífica, com engenharia impressionante (canais, aquedutos, templos). Hoje, seu local corresponde à Cidade do México.

A mitologia asteca é rica e complexa, com muitos deuses representando forças da natureza, ciclos cósmicos e aspectos da vida humana. Ela está ligada à cosmovisão dos povos nahuas (como os mexicas), com forte foco em sacrifícios, dualidades e equilíbrio entre forças. Os Astecas eram politeístas, acreditavam que o Universo era dividido em treze céus (Ilhuicatl) – habitados por deuses da luz, do conhecimento, das estrelas, a terra (Tlalticpac) – onde os humanos vivem e devem equilibrar as forças do céu e do submundo e nove submundos (Mictlán) – cada um com desafios que a alma deve superar após a morte, até chegar ao repouso eterno. Viam a morte como uma transição, a morte não era o fim, mas uma etapa na jornada da alma. O destino pós-morte dependia da forma como a pessoa morreu: mortos em batalha ou parto iam para o paraíso solar. mortos por afogamento iam para o Tlalocan (paraíso da água) e mortes comuns levavam a Mictlán (submundo).

Os principais deuses são: Quetzalcóatl –"Serpente Emplumada" Deus do vento, sabedoria, conhecimento e da vida. Um dos mais venerados, visto como criador da humanidade e inventor da agricultura e calendário. Tezcatlipoca – "Espelho Fumegante" Deus do céu noturno, da feitiçaria, da guerra e da mudança. Representa forças caóticas e imprevisíveis. Era rival de Quetzalcóatl. Huitzilopochtli – Deus do sol e da guerra Deidade principal dos mexicas. Para manter o sol em movimento, exigia sacrifícios humanos. Sua história envolve uma batalha cósmica contra sua irmã Coyolxauhqui. Tlaloc – Deus da chuva e da fertilidade Ligado à água e aos cultivos, mas também tem um lado temido: pode provocar tempestades e destruição. Mictlantecuhtli – Senhor do submundo (Mictlán) Governante do reino dos mortos. Junto com sua esposa Mictecacihuatl, rege o destino das almas que morrem de morte natural. 

As principais mitologias dos Astecas são: A Lenda dos Cinco Sóis — O Ciclo da Criação e Destruição, consiste que o mundo passou por cinco eras, ou "sóis", cada uma regida por um deus e destruída por uma catástrofe, até chegar ao "Quinto Sol" — o nosso mundo atual. 1º Sol (regido por Tezcatlipoca) – destruído por jaguares. 2º Sol (regido por Quetzalcóatl) – destruído por ventos fortes. 3º Sol (regido por Tláloc) – destruído por chuva de fogo. 4º Sol (regido por Chalchiuhtlicue) – destruído por dilúvio. 5º Sol (atual, regido por Tonatiuh) – precisa de sangue e sacrifício para continuar existindo. Outra mitologia descreve sobre a criação da humanidade, Quetzalcóatl desce ao submundo (Mictlán) para recuperar os ossos das antigas humanidades. Ele engana Mictlantecuhtli, o senhor dos mortos, e com os ossos misturados ao seu próprio sangue cria os novos seres humanos.

  Ainda, uma mitologia que conta sobre a batalha cósmica na visão dos Astecas, Huitzilopochtli nasceu de Coatlicue, a mãe-terra, já pronto para lutar. Ele precisou matar seus irmãos (as estrelas) e a irmã Coyolxauhqui (a lua), que queriam matar sua mãe. Ele se tornou o deus do Sol, combatendo a escuridão diariamente.Outra mitologia nos conta a história de Tláloc e as Chuvas que Dão e Tiraram a Vida: Tláloc era o deus das chuvas, essencial para as colheitas. Mas sua água também podia trazer destruição. Os astecas temiam e reverenciavam seus aspectos imprevisíveis. Ele era casado com Chalchiuhtlicue, deusa dos rios e lagos. 

Ademais, a mitologia de Mictlán — O Submundo e a Jornada das Almas, conta que após a morte, a alma atravessava nove camadas do submundo (Mictlán). Era uma jornada cheia de desafios e provas, até alcançar o descanso final. Mictlantecuhtli, o senhor dos mortos, era justo mas impiedoso. E a mitologia de Tezcatlipoca — O Espelho Fumegante, Tezcatlipoca é o deus do caos, da guerra, da noite e da feitiçaria. É imprevisível, provocador, mas também tem papel fundamental na criação. Ele carrega um espelho negro com o qual vê tudo e revela verdades dolorosas.

Um dos pontos mais falados sobre os Astecas é quanto ao Sacrifício humano que era muito comum em sua cultura. Os astecas acreditavam que o universo era sustentado pelo sacrifício dos deuses — especialmente o Sol, que se sacrificou para manter a vida em movimento. Como retribuição, os humanos deviam oferecer sangue e corações para manter esse equilíbrio cósmico. O coração era considerado o assento da alma e da força vital (em náuatle, "tlilia" ou "yollotl"). Se não alimentassem os deuses com energia vital, o Sol poderia deixar de nascer, a colheita poderia falhar, e o mundo mergulharia no caos. A cerimônia geralmente ocorria no Templo Maior de Tenochtitlán, um enorme templo-pirâmide com duas escadarias, uma para Huitzilopochtli (deus do Sol e da guerra) e outra para Tlaloc (deus da chuva). No topo do templo havia altares e uma pedra cerimonial onde o ritual era realizado. A cidade inteira podia presenciar o ritual — era um evento público e sagrado, não secreto. O ritual se dividia em três etapas: Preparação do sacrificado: muitas vezes, era um prisioneiro de guerra, considerado digno por sua bravura. Era tratado com respeito, alimentado, enfeitado com penas e pintura cerimonial. Às vezes, ele acreditava cumprir um destino glorioso. Processo cerimonial: o sacerdote o conduzia até o topo da pirâmide, deitava-o sobre a pedra sagrada, arqueando seu peito e com uma faca de obsidiana (vidro vulcânico afiado), o sacerdote abria o tórax com um corte rápido. E a terceira etapa Extração do coração: o coração ainda pulsante era oferecido ao Sol ou ao deus específico da cerimônia. Em alguns rituais, o sangue era derramado sobre os degraus do templo ou sobre estátuas divinas. O corpo podia ser lançado pelas escadarias e depois usado em ritos adicionais (inclusive canibalismo ritual em alguns contextos nobres e religiosos). Embora os sacrifícios sejam chocantes para nós hoje, dentro da lógica espiritual asteca, isso era um ato sagrado de equilíbrio cósmico.

Os astecas usavam dois calendários principais: Tonalpohualli (calendário ritual de 260 dias), dividido em 20 trezenas (13 dias cada). Usado para adivinhações, cerimônias religiosas e datas sagradas. Cada dia tinha uma combinação de número + símbolo (como "4 Jaguar", "9 Vento"). E o calendário Xiuhpohualli (calendário solar de 365 dias) composto por 18 meses de 20 dias + 5 dias "nefastos". Relacionado à agricultura, celebrações públicas, festivais. A cada 52 anos, os dois calendários se encontravam em um ciclo chamado de "Século Asteca", um momento de grandes rituais e renovação espiritual.

Os astecas usavam códices feitos em papel de árvore (amate) para registrar mitos, rituais, calendários e astrologia. As palavras eram imagens cheias de força espiritual. Usavam instrumentos como tambores (huehuetl), flautas, conchas e chocalhos para invocar e agradar os deuses. Cada ritual tinha sua “sonoridade própria”, com ritmos específicos que produziam estados de consciência alterada. Dançarinos pintavam, usavam cocares e se transformavam nos próprios deuses durante os rituais. A dança era uma forma de incorporação e conexão divina. Possuíam os Ticitl, Curandeiros, que usavam plantas, vapores, massagens, banhos, rituais com pedras, defumações. Sabiam diagnosticar doenças físicas e espirituais. Atuavam como psicólogos, médiuns e médicos espirituais.

A queda do Império asteca está intimamente ligada com suas crenças e a chegada dos espanhóis, como dito anteriormente a cada 52 anos os calendário se encontravam e nessa data acreditavam que começava-se um novo século e também acreditavam que o seu deus poderia voltar nessa data, conta alguns historiadores que exatamente nessa data os espanhóis chegaram, portanto quando viram Hernán Cortés chegar acreditavam ser Quetzalcóatl. Em 1519  Hernán Cortés desembarca no mexico com mais 500 homens. Os espanhóis se aliaram a povos inimigos dos astecas, como os Tlaxcaltecas. Em 1521, após um cerco violento e de fome, Tenochtitlán caiu. Os templos foram destruídos, e a cidade foi reconstruída como Cidade do México, capital da Nova Espanha. Milhares morreram não só em batalha, mas principalmente por doenças trazidas da Europa (varíola, sarampo etc.). A estrutura política e religiosa dos astecas foi desmantelada. Sobreviventes foram escravizados ou assimilados. No entanto, a cultura asteca vive até hoje na língua náuatle, em festas sincréticas, na culinária, nas artes e nas tradições espirituais do México moderno.

Para finalizar será feito um paralelo entre os Astecas e a Umbanda, embora sejam tradições diferentes, a gente pode encontrar similaridades simbólicas e espirituais. Ambas possuem relação profunda com os elementos da natureza: ar, água, fogo, terra. Trabalho com os ancestrais e o plano espiritual. Rituais para manter o equilíbrio do mundo (a Umbanda com suas firmezas, pontos e oferendas; os astecas com seus sacrifícios simbólicos). Forças opostas e complementares (luz e sombra, vida e morte, ordem e caos). Transes e estados alterados: ambos os sistemas espirituais usam ritualística para conexão com o sagrado. Podemos ainda comparar os Deuses com os orixás: Quetzalcóatl (Serpente emplumada, criador da humanidade, deus do vento e da sabedoria ) com Oxalá (criador, paz, sabedoria). Tezcatlipoca (Deus da noite, do destino, do conflito, da feitiçaria e da mudança) com Exu (senhor das encruzilhadas, transformação). Huitzilopochtli (Deus do sol, da guerra, patrono dos astecas) com Ogum (guerreiro, coragem). Tlaloc (Deus da chuva, trovão e fertilidade ) com Oxum (fertilidade, águas doces), Iansã (chuva e trovão). Ainda existe o paralelo entre o uso de ervas e rituais de cura onde os sacerdotes/curandeiros usavam plantas, defumações e rituais — muito parecido com os trabalhos com ervas, banhos e defumações da Umbanda. Transes espirituais: usavam dança, música e até substâncias naturais para atingir estados alterados de consciência — assim como na Umbanda e no Xamanismo. A cosmovisão dos astecas era parecida com a da Umbanda, acreditava-se que a vida era uma passagem entre planos. O ser humano tinha o dever de manter o equilíbrio entre forças opostas: luz/escuridão, céu/terra, ordem/caos. Morte não era o fim, mas transição para outra forma de existência (igual na Umbanda e no Espiritismo). Tudo era sagrado: do milho à pedra, do guerreiro ao curandeiro.

Para finalizar deixo um comparativo muito interessante entre o deus  Tezcatlipoca e Exu. Exu diz: “Toda ordem nasce do caos. E todo caminho precisa de quem o abra.” 

Tezcatlipoca responde: “E todo espelho precisa ser quebrado para revelar novas formas.” 

Isso nos mostra que a essência entre as várias crenças são as mesmas, mas cada qual com sua visão.

Julia de Iansã


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