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quinta-feira, 9 de maio de 2024

Culto à Jurema é o mesmo que Umbanda?

 Culto à Jurema é o mesmo que Umbanda?


A ausência de documentação histórica acerca do Culto à Jurema e da Umbanda acarreta na impressão de se tratarem do mesmo culto religioso, especialmente pelo fato de se assimilarem nos traços indígenas e ancestrais, associado ao uso da fumaça, a prática de cânticos, o culto às ervas, dentre outras semelhanças. Tal confusão se fortalece pelo fato de muitas casas de Umbanda, assim como o Terreiro Sete Flechas e Jurema, cultuarem à Jurema concomitantemente aos costumes umbandistas.

Assim sendo, é necessário diferenciar tais práticas religiosas e suas especificidades, considerando seu contexto histórico cultural que as subsidia. Vale ressaltar que as informações podem se alterar conforme a prática religiosa de cada terreiro, bem como a maneira que os conhecimentos foram repassados pelas gerações.

A Umbanda no Brasil surgiu no ano de 1908, quando o Caboclo das Sete Encruzilhadas manifestou sua presença através do médium Zélio Fernandino, na cidade do Rio de Janeiro. Já o Catimbó-Jurema (assim denominado de forma específica a religião que cultua a Jurema em sua origem) é remanescente da tradição religiosa dos índios que habitavam o litoral da Paraíba, Rio Grande do Norte e no Sertão de Pernambuco, cujos pajés eram grandes conhecedores do além, não se tendo conhecimento com exatidão há quantos anos já existe no Brasil.

No que tange a forma de culto, o Catimbó-Jurema tem como marco principal o culto à Jurema, árvore da caatinga e do agreste que tem sua casca utilizada para a fabricação de uma bebida que concede força, sabedoria e contato com seres do mundo espiritual. Dessa maneira, conforme explanado por historiadores e repassado pelos ancestrais, o uso da árvore desencadeia uma experiência religiosa com o mesmo nome. Além disso, a religião “se explica” através dos cânticos e é organizada espiritualmente pelos “Mestres”, espíritos conhecedores da Jurema sagrada, extremamente sábios e os quais fazem e consomem da bebida fruto da árvore jurema, o licor de jurema. 

Ademais, a prática juremeira é singular quanto aos seus elementos próprios, fazendo uso do cachimbo de Jurema ou Angico, a maracá, a conectividade com o tronco/árvore Jurema, os mestres e os encantados, bem como os guias que trabalham na Jurema não costumam historicamente dar passes ou atendimentos, entretanto, como em cada casa é diferente, pode haver passes e atendimentos em alguns locais de trabalho destas entidades juremeiras.

Já na Umbanda é historicamente retratado o trabalho através das incorporações espirituais para a prática do amor e da caridade. Esse trabalho sempre foi e deve ser feito para expandir a luz divina e viabilizar, auxiliado sempre do mundo espiritual (desencarnados) e material (encarnados), que necessitam de auxílio através de passes, consultas e também através do mundo espiritual.

Em resumo, a Umbanda e o Catimbó de Jurema são religiões diferentes, que trazem consigo grandes similaridades no que tange o culto aos ancestrais. O trabalho com o mundo espiritual, o contexto histórico político-cultural, especialmente no que tange aos indígenas, entretanto, se diferem na forma de manifestação espiritual e realização dos trabalhos e rituais. Porém, elas podem se interligar para construção de um bem maior, assim como acontece em nosso terreiro.

Logo, em nosso terreiro, que é de Umbanda, não há de fato a prática de Catimbó de Jurema mas sim a prática do culto à Jurema, o qual ultrapassa o tronco sagrado da árvore jurema, voltando-se também para a ciência sagrada, que contempla os mistérios (passíveis de conhecimento através do estudo) do universo e da vida em si, através da grande sabedoria dos mestres, do estudo da cabala e até mesmo dos próprios pontos de jurema. Assim como os diversos mistérios existentes na Umbanda, todos passíveis de desvendá-los, a Jurema Sagrada é um “pau de ciência” que todos querem saber.. portanto, que o desejo de entender os mistérios sagrados através do estudo nos levem a desvendar alguns desses mistérios ao longo de nossa caminhada espiritual.

Mylene de Ogum Rompe Mato.




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