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quinta-feira, 28 de março de 2024

Insegurança no Desenvolvimento Mediúnico

 INSEGURANÇA NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO MEDIÚNICO

    Muitas pessoas ao irem pela primeira vez em uma gira de Umbanda sentem-se admirados com a energia que esse momento proporciona e frequentemente saem das sessões renovados e gratos, aos guias e médiuns, pelo auxílio prestado. Com o passar do tempo algumas pessoas vão buscando mais informações sobre o culto, visando compreender as experiências pessoais e também as rotinas do Terreiro, neste momento não é incomum se perguntarem sobre a sua própria mediunidade. Em alguns momentos os recém-chegados em um Terreiro podem criar muita expectativa sobre a incorporação, vendo-a como o ápice do desenvolvimento mediúnico, este texto tem como objetivo desmistificar essa ideia. 
    Somos seres espirituais vivendo uma experiência material, a encarnação. Desta forma, podemos ter contato com o plano espiritual através de diversas formas de mediunidade. No entanto, para que este contato ocorra de forma equilibrada, ele deve ser realizado com seriedade e preparo. Como o Caboclo Sete Flechas nos alerta: “Umbanda é coisa séria para gente seria”. 
    Uma vez que decidimos trabalhar a nossa mediunidade devemos nos lembrar de manter constante a busca pelo conhecimento. Um bom médium, frequentemente, é uma pessoa curiosa, é importante perguntar sobre aquilo que não se conhece e procurar compreender o fundamento de cada ação dentro do Terreiro. Também vale lembrar que as ações fora do Terreiro refletirão no desenvolvimento mediúnico, “orai e vigiai”. A prática do amor e caridade devem ser constantes, não somente em dias de gira, mas sim em todos os dias na vida do umbandista.
    Lembrando sempre da humildade, não existe tarefa mais importante que outra, todas as tarefas dentro do Terreiro são fundamentais para que o trabalho aconteça de forma correta. Muitos se comparam com os outros e por vezes acreditam que estão atrasados de alguma forma, mas não é possível estar atrasado na sua própria vida. Outros podem acreditar que já aprenderam tudo, mas se já soubéssemos de tudo não estaríamos neste plano em busca de aprendizado e evolução. Sendo assim, quando nos sentimos inferiores ou superiores a alguém deixamos de olhar para nós mesmos e é nestes momentos em que as dúvidas se instauram. Então se você está chegando agora ou já está nesta caminhada há anos busque se recordar do momento em que seu coração disse “é aqui que eu quero estar”, pois assim se sua função hoje é: limpar as cadeiras dos consulentes, lavar os banheiros, limpar o jardim, organizar a comida, auxiliar no sistema de consulentes, tocar atabaque, bater palmas durante a gira, manter os materiais de trabalho dos guias limpos, fazer a defumação, limpar a tronqueira, acender as velas do congar, fazer o café dos pretos velhos, cuidar as vendas, cambonar, incorporar, fazer um estudo ou seja qual for a tarefa que precisa fazer hoje, quando for realizá-la você a fará com amor.
    Lembre-se que todo pensamento emanado refletirá no trabalho daquele dia, então evite reclamar ou fazer comparações. Saiba que seu trabalho é útil e importante, mas mantenha em sua mente que todos seus Irmãos e Pais também têm um importante trabalho a ser feito. Somos todos iguais perante a espiritualidade, porém quanto mais sabemos mais seremos cobrados. Desta forma, agora que você lê estas palavras você toma ciência de que deve fazer seu melhor o tempo todo. Agora você pode estar se perguntando, como fazer sempre o melhor se nem sempre estou bem para isto? Pois bem, ninguém está nesse plano por ser perfeito, não é mesmo?! Se aqui estamos é para nossa evolução e nosso crescimento, desta forma não há outra alternativa para nós… É preciso buscar pelo autoconhecimento, submergir em si mesmo, olhar para nosso lado sombra e abraçá-lo, mas também compreender sua potência e admirar a si mesmo.
    Talvez vocês que estão aqui, em um Terreiro, precisem muito mais de aprender do que outras pessoas que não estão”, me disse o Exu das Sete Encruzilhadas em uma conversa sobre para onde caminharia a Umbanda. Ainda nesse mesmo dia ele me ensinou que quando não confiamos em nós mesmos o nosso processo de desenvolvimento mediúnico pode demorar mais que esperamos, ou seja, precisamos ter equilíbrio para que possamos viver o terreiro, precisamos nos conhecer e reconhecer quem somos.  Tudo isto que foi dito para alguns pode até ser um processo tranquilo, mas a grande maioria relata momentos de dúvidas e dificuldades, afinal esse caminho que nós abrimos para o desenvolvimento vai nos “testar” muitas vezes. 
    Quando nos propomos a entrar em um Terreiro o fazemos de livre vontade, e a permanência nele também ocorre da mesma forma. Os desafios que nós enfrentamos são puramente humanos e reflexo de nós mesmos, ou seja, quanto mais lutamos contra a mudança mais dolorosa ela pode ser. Então, você que está lendo este texto, não importa em qual momento do seu caminho esteja, saiba que a insegurança é comum o que fará a diferença, para cada um, é o emprego que se dá a este momento. Busque se tornar alguém melhor a cada dia, nunca deixe de buscar conhecimento, esclareça suas dúvidas com os guias que ali se manifestam, com os irmãos mais velhos e com os Pais e Mães da casa.
       O desenvolvimento mediúnico é um caminho de várias etapas e quando você passa por diversas destas etapas não significa que está mais evoluído que um irmão que ainda não teve as mesmas experiências. Não significa que, caso um dia você seja desafiado a deixar uma função que a muito tempo estava exercendo, você esteja sendo punido pela espiritualidade. Muito pelo contrário, a espiritualidade trabalha de diversas formas em nossas vidas, é preciso ficar atento para não se deixar levar pela vaidade, o caminho para isto muitas vezes será individual, mas lembrem-se que estamos ali pelo mesmo propósito, que deve ser a máxima para nós “Amor e Caridade”.
Axé

Jéssica de Obaluaê

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