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segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Sagrado e Profano

 Sagrado e Profano

A criação e separação de “sagrado” e “profano” é um feito ocidental e cristão, que surgiu na igreja católica, juntamente com os estados soberanos da época. Foi-se criado o “sagrado” (certo) e o “profano” (errado), de acordo com as ideologias da igreja e do estado, justamente para ter-se um controle social, no qual era-se usada a fé das pessoas para que elas pudessem seguir o que era adequado e ditado pela religião e pela política daquele tempo. É necessário ter-se em mente, nos dias atuais, que o que é sagrado para uma religião, pode ser profano para outra cultura. Assim, o que é sacro está intimamente ligado ao que aquela religião acredita e cultua, tendo cada religião sua própria identidade e ideia do que se enquadra em sagrado e profano. 

Em sua essência gramatical, portanto, o termo "profano" refere-se a algo que não é sagrado ou que não é relacionado à religião. O conceito se opõe ao de sagrado, que é tipicamente associado a divindades, rituais e espaços religiosos. No contexto religioso, o profano pode ser visto como o mundo cotidiano, aquele que não possui conotações espirituais e que pode ser associado a valores seculares ou "mundanos". Ou seja, o mundo em que vivemos. Para algumas pessoas, o sagrado está associado a uma divindade ou a um ser supremo. É algo que está além da compreensão humana e que é reverenciado e adorado

Para outras, o sagrado pode estar ligado a valores morais e éticos, como a justiça, a bondade e o amor ao próximo. E, ainda, há quem acredite que o sagrado pode ser materializado em objetos, lugares, rituais, símbolos e até mesmo pessoas. O sagrado na Umbanda é comumente referido aos Orixás, entidades, oferendas e todas as manifestações de Deus (Olorum) em nossa matéria. Logo, o oposto disso seria profano, banal, que não nos conecta com a espiritualidade e nem nos leva à evolução pessoal. Cabe a nós sabermos que não há separação entre o mundo espiritual e o carnal.

O princípio da dualidade, da polaridade e da correspondência nos esclarece que o que há embaixo, também haverá em cima, em graus diferentes. Portanto, não há um muro que separe nós humanos dos espíritos compassivos e muito menos de Deus - que é tudo e está em tudo -, portanto, o sagrado está especialmente em nós mesmos, que também somos partes de Deus e fomos criados por Ele. Na Umbanda, o profano não é visto como algo que deve ser evitado, até mesmo porque não há como separar através de uma barreira física/espiritual o profano do sagrado. Logo, todos nós transitamos durante o profano em nossa encarnação, através da própria realidade que vivemos, e é nesse espaço que devemos praticar a fé, o amor e a caridade.

Um exemplo de como funciona a concepção entre sagrado e profano para nós, umbandistas, é o fato de acreditarmos em sua manifestação nas forças da natureza com os ventos de Oyá, a presença divina de Iemanjá no mar, de Xangô nas pedreiras de Oxalá nas grandes campinas ensolaradas ou da Jurema Sagrada na árvore Jurema. Tudo isso, para nós, não são apenas elementos, mas o sagrado se manifestando em suas mais diversas formas, assim como, para os cristãos, a principal manifestação sagrada seria a encarnação de Deus em seu filho Jesus Cristo.

Todos esses elementos citados acima não deixam de ser apenas eles mesmos em nosso dia a dia profano. Uma pedra será apenas uma pedra, um tridente será apenas um tridente, um arco e flecha será apenas uma arma para muitas pessoas, porém, quando determinados objetos e elementos são vistos com os olhos de quem os cultua, cada um deles passará de uma realidade mundana, para uma realidade de um cosmo sagrado.

Em outras manifestações religiosas ocidentais talvez seja mais fácil distinguir o que é o sagrado e o que é o profano, pois o sagrado costuma ser associado a algo inalcançável pelos mundanos que vivem em um plano profano. Porém, em religiões que cultuam os Orixás, guias e mestres, por exemplo, o plano sagrado mistura-se com nossa realidade profana, pois o orixá se faz vivo em nosso dia a dia, desde o acordar até o adormecer, é quem nos dá o chão para andar, quem nos guia e nos levanta quando caímos. Por mais corruptíveis que possamos ser, o sagrado faz parte de nós, pois nós somos a própria experiência de Deus e toda nossa existência e o que conhecemos está manifestada em fé, que é sagrada por si só.

Portanto, o sagrado desempenha um papel fundamental na vida das pessoas e das comunidades. Ele fornece um senso de significado e propósito, e ajuda a estabelecer uma conexão com algo maior do que nós mesmos. É importante pontuar que a conexão com o sagrado é intimista e pessoal, devendo ser cultivada dia após dia, pois, quando bem praticada, promove nosso crescimento pessoal e espiritual, sendo forte de força em momentos de dificuldades e incertezas e, acima de tudo, nos mostrando a direção.


Camila de Iemanjá, Isabela de Iansã, Mylene de Xangô e João Pedro de Omolu


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