Identidade
dos Espíritos
O
Capítulo XXIV “Identidade dos espíritos”, na sequência da segunda parte do
Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, estuda as provas possíveis de identidade,
modo de se distinguirem os bons dos maus espíritos, a questão sobre a natureza
e a identidade dos Espíritos.
O
assunto da identidade dos espíritos não é fácil. Pelo contrário, é
controvertida, inclusive para os espíritas. Os espíritos muito evoluídos, que
se purificam e se elevam na hierarquia, têm suas características distintivas
apagadas de acordo com a sua evolução ou no percurso do caminho da perfeição e
os nomes que tiveram na Terra passam a ser insignificantes. Com efeito, os
espíritos formam grupos/famílias de acordo com suas vibrações e/ou simpatia e
podem apresentar-se como personagens pertencentes a tal família. Por exemplo, o
nosso anjo guardião pode se apresentar com São Pedro, mas pode ser que não seja
o próprio apóstolo Pedro, mas sim um espírito desconhecido que pertence à
família espiritual do Apóstolo Pedro. O que interessa é o ensinamento passado
pelo espírito.
Na
realidade, a necessidade de nomes e identificação do espírito é para nós,
encarnados, para que possamos fixarmos as ideias. Como esclarece Kardec “a
questão do nome é secundária, podendo-se considerar o nome como simples indício
da categoria que ocupa o espírito na escala espírita”, pois os espíritos
superiores formam um todo coletivo e o que nos importa são seus ensinamentos e
não a pessoa deles. Contudo,
fica complicado quando um Espírito inferior se apodera do nome, passando-se por
um bom espírito. Muita cautela há de se ter e percepção das minúcias deste
espírito que não pretende boas coisas.
Para a
comprovação da identidade de espíritos contemporâneos se torna mais fácil, pois
os sinais são mais seguros e conhecidos. O próprio Espírito pode atender ao
pedido de identificação e dar provas de sua identidade, mas o faz de acordo com
sua conveniência. Então, é inteligente que observemos sua linguagem, citação de
fatos, particularidades de suas vidas que poderão, inclusive, ser comprovadas
depois. As provas da exatidão da identidade aparecem com o decorrer das
manifestações e é de bom tom esperá-las, observando com cuidado e atenção as
comunicações do espírito.
Kardec cita um meio para pedir que o espírito se identifique: fazê-lo afirmar “em nome de Deus todo poderoso” quem é. Contudo, existem espíritos que, de certo, poderão afirmar hipocritamente e sem escrúpulos em nome de Deus ser o espírito que não é. Todo cuidado é pouco em tais circunstâncias. Conhecer a identidade do espírito, como já dito acima, é uma questão secundária, mas conhecer ou distinguir o bom do mal espírito é de grande importância, pois ele vai nos trazer conhecimento.
Então,
cabe aos médiuns observar atentamente as linguagens e comunicação utilizada,
além das mensagens trazidas, tal como ensina Kardec “a linguagem dos Espíritos
está sempre em relação com o grau de elevação a que já tenham chegado”. A
bondade, afabilidade, o querer o bem e dizer coisas boas são características de
bons espíritos, sempre prezando pelo bem estar dos encarnados, lamentam as
fraquezas e criticam com moderação para a evolução e aprendizado do ser humano
assistido.
Com
relação à crítica, os bons espíritos nunca se ofendem com ela porque eles
mesmos a aconselham e não temem ser examinados, sinal de humildade. Com relação
a esse tema, Kardec cita São Luís de forma bem oportuna:
“Qualquer
que seja a confiança legítima que vos inspirem os Espíritos que presidem aos
vossos trabalhos, uma recomendação há que nunca será demais repetir e que
deveríeis ter presente sempre na vossa lembrança, quando vos entregais aos vossos
estudos: é a de pensar e meditar, é a de submeter ao cadinho da razão mais
severa todas as comunicações que receberdes; é a de não deixardes de pedir as
explicações necessárias a formardes opinião segura, desde que um ponto vos
pareça suspeito, duvidoso ou obscuro”.
Seguem
os princípios que Kardec enumera para reconhecer a qualidade dos espíritos,
sendo que tais instruções foram passadas da experiência e ensinamentos dos
espíritos, mas devemos completá-las com as respostas dadas pelos próprios
espíritos. São elas:
1.
bom-senso para avaliar o espírito;
2.
observar as linguagens e ações dos espíritos;
3. os
bons espíritos apenas fazem e dizem o bem;
4. os
espíritos superiores usam linguagem digna, nobre, direta, elevada de amor,
simples e modesta sem demonstrar superioridade;
5. não
julgar o espírito pela qualidade da forma material ou correção do estilo;
6. os
pensamentos do espírito são sempre os mesmos, em qualquer tempo e lugar, não se
contradizendo;
7. os
bons espíritos só dizem o que sabem;
8. os
bons espíritos fazem com que coisas futuras sejam pressentidas quando
convenham, nunca determinam datas; as “adivinhações” são coisas dos espíritos
levianos;
9. os
espíritos superiores são diretos e simples, sem que o outro se esforce para
entender;
10.
não ordenam nem se impõem os bons espíritos e se não são escutados apenas se
retiram;
11. os
bons espíritos são discretos e não se lisonjeiam;
12.
não se importam com a forma os bons espíritos;
13.
desconfiem-se dos nomes ridículos ou extremamente venerados adotados pelos
espíritos;
14. os
bons espíritos agem com escrúpulo ao aconselhar;
15.
tem muita reserva com relação aos assuntos que traz qualquer comprometimento;
16. os
espíritos superiores somente aconselham e prescrevem o bem, o amore e a caridade
e somente prescrevem o racional;
17. os
espíritos inferiores manifestam indícios materiais e até provocam no médium
raiva e agitação excessiva, além de trazer ainda preconceitos e até “manias”
que tinham neste mundo, o que se percebe pela linguagem, justamente porque
ainda não se desvincularam completamente da matéria;
18. os
maus espíritos aproveitam, muitas vezes, para dar conselhos inapropriados e
infiéis;
19. o
que é verdadeiro é a inalterável pureza de sentimentos morais dos espíritos e
não dos elementos ou vestimentas/enfeites utilizados;
20.
devemos conhecer o espírito e não apenas interrogá-lo, pois só a virtude pode
purificá-lo e aproximá-lo de Deus;
21.
para os bons espíritos o gracejo é fino e vivo, mas não trivial;
22.
estudando o caráter do espírito é possível reconhecer a natureza e o grau de
confiança que devem ter;
23. para julgar qualquer espírito ou homem, em primeiro lugar deve-se julgar a si mesmo sempre com “retidão de juízo”.
Feitas
essas considerações, respondendo questões, foi muito bem pontuado no capítulo a
questão da necessidade de nós, espíritos encarnados, termos o nome do espírito
desencarnado que nos auxilia. Foi dito que Deus autoriza ao bom espírito
utilizar o nome de sua família espiritual já que há entre eles a mesma
solidariedade e analogia de pensamentos. Nesse aspecto, esses espíritos
superiores quanto mais elevados são, mais se confundem com a comunhão de
pensamentos e a personalidade é indiferente.
Na
Umbanda não é diferente e o cuidado deve ser muito para reconhecer os bons e
maus espíritos.
No
caso de nossa casa, as incorporações somente são permitidas pelo nosso guia
chefe, Caboclo Sete Flechas, no próprio Terreiro e nas giras específicas de
desenvolvimento ou atendimento, ou ainda em trabalhos específicos (como
defumações solicitadas por entidades espirituais), justamente porque nesses
momentos há toda a proteção da espiritualidade para a realização dos trabalhos
e incorporações.
Tal
como esclarecido, os espíritos, como nós, “tem o seu livre arbítrio para o bem,
tanto quanto para o mal; porém, nem a uns nem a outros a justiça de Deus
deixará de atingir”.
Sejamos
reflexivos, prudentes e não nos deixemos nos enganar, pois “os espíritos só
enganam os que se deixam enganar”. Sejamos médiuns humildes, verdadeiros e
cautelosos. Orai e vigiai. Sempre com o verdadeiro compromisso da Umbanda:
manifestação do espírito para o amor e caridade.
Muito
Axé a todos
Girlei
de Iemanjá.
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